Antecipando-se aos portugueses, os espanhóis encontraram no Novo Mundo, no século XVI, grandes tesouros de ouro, prata e pedras preciosas. A apropriação dessas riquezas não foi, a princípio, fruto da mineração, mas da dominação do México e do Peru, onde os potentados indígenas viviam em palácios ricamente adornados com valiosíssimos objetos, o mesmo ocorrendo nos templos dedicados a seus deuses. Cidade-fortaleza, Cartagena, também chamada de Cartagena das Índias, foi edificada na Colômbia, à beira do mar das Antilhas, para servir de abrigo às frotas que, enviadas pelos Reis Católicos, deveriam transportar em seu regresso à Espanha os preciosos metais acumulados durante séculos pelos habitantes da porção noroeste da América do Sul. Após trezentos anos de lutas contra flibusteiros de várias nacionalidades, Cartagena - berço da independência da Colômbia - se converteria numa pitoresca cidade debruçada sobre o mar, onde não faltam atrativos para os visitantes, os quais podem admirar, além de velhas fortalezas ou muralhas arruinadas, os vestígios da arquitetura colonial espanhola com suas típicas casas pintada de branco.
A ocupação espanhola da parte noroeste da América do Sul na primeira metade do século XVI teve como resultado quase que imediato a localização de imensas riquezas minerais concentradas sobretudo no Peru e regiões vizinhas. Ouro, prata e pedras preciosas passaram a ser arrecadadas pelos colonizadores mediante a violenta espoliação dos tesouros conservados pelos povos indígenas durante centenas de anos. A remessa do produto dessa pilhagem para a Espanha exigiu a utilização de um porto abrigado e bem fortificado, aonde os navios chegados da Europa pudessem, a salvo da fúria do mar, descarregar as mercadorias que de lá traziam - e que consistiam principalmente de alimentos, roupas e armas - e receber, de volta, os metais preciosos destinados a abarrotar os reais cofres espanhóis.
Na região costeira, banhada pelo mar das Antilhas e compreendida entre os rios Madalena e Atrato, habitavam os índios turbacos, temidos pela sua ferocidade. O nobre Pedro Heredia firmou, em 1532, na cidade de Medina do Campo, as capitulações - que eram uma espécie de contrato - para a conquista e posse da área situada entre as desembocaduras daqueles dois rios. Comandando uma pequena frota, ele desembarcou num local ao sul da foz do Madalena e fez edificar aí o primitivo núcleo da cidade de Cartagena no dia 20 de janeiro de 1533. Foi batizada em homenagem a Cartagena, na Espanha. A fim de que fosse evitado qualquer tipo de confusão com o burgo de igual nome situado na própria metrópole, nas proximidades de Múrcia, a cidade fundada na Colômbia ficou sendo conhecida, durante muito tempo, pela denominação de Cartagena das Índias.
A primeira preocupação dos colonos, logo depois do desembarque, consistiu em erigir sólidas fortificações destinadas a protegê-los dos ataques dos selvagens e, também, das incursões dos corsários franceses e ingleses que, já naquela época, costumavam pilhar os navios que encontravam e atacar os mais desenvolvidos pontos da costa habitados pelos espanhóis. Para esse fim foram construídos no século XVI os primeiros fortes, que receberam os nomes de El Roquerón, La Caleta, Ponta de Icacos e Manga, iniciando-se ainda o de São Felipe, que se tornaria, com posteriores acréscimos, a mais notável obra de arquitetura militar edificada pela Espanha em terras americanas.
Cartagena constituiu assim uma vasta série de fortificações sob cuja proteção se desenvolveu um núcleo urbano florescente, dotado de um entreposto comercial onde eram armazenadas as mercadorias chegadas da Península Ibérica. Nas viagens de retorno esses navios eram carregados com os metais preciosos retirados das minas, dos palácios e dos templos sul-americanos pertencentes à coroa espanhola.
No século XVII surgiu nova mercadoria - o escravo negro. Trazido da Guiné, ele começou a ser desembarcado em grande quantidade em Cartagena, onde, depois de vendido, tomava o rumo de Guaiaquil, Callao e Lima, para ser usado nos rudes trabalhos das minas ou da construção de cidades, fortalezas, estradas e palácios destinados aos conquistadores. Pedro de Claver, missionário jesuíta que atingiria a santidade por seu trabalho em favor de um tratamento humano em relação aos escravos, acabaria entrando para a história do país como Apóstolo dos Negros. Falecido em 1654, seu corpo está sepultado na capela da igreja de Cartagena que leva o seu nome.
A partir de 1543 Cartagena sofreu constantes ataques de corsários ou piratas de origem francesa e inglesa, alguns dos quais, como ocorreu em 1586 com Francis Drake, conseguiram vencer a resistência oposta pelas fortalezas e ocupar a cidade, de onde só saíram depois de completado o saque total e após o recebimento de pesado resgate que foi pago em ouro, prata e pedras preciosas, além de grande quantidade da rica moeda da época. Contudo, algumas investidas fracassaram, sendo a mais famosa delas a derrota que D. Blas de Lezo infligiu ao almirante inglês Edward Vernon em 28 de abril de 1741. A cidade sofreu um ataque de grande escala pelas tropas coloniais britânicas e norte-americanas, lideradas pelo almirante Vernon (1648-1757). Os atacantes chegaram a Cartagena com uma frota massiva de 186 navios e 23.600 homens, incluindo 12 mil de infantaria. Contra eles, estavam seis navios espanhóis e menos de três mil homens. Esta ação ficou conhecida como Sítio de Cartagena de Índias. O cerco foi interrompido devido ao início da estação chuvosa tropical, depois de semanas de intenso combate em que os grupos de desembarque britânicos foram repelidos com sucesso pelas forças espanholas e indígenas, lideradas pelo comandante General Blas de Lezo, que acabaria por morrer na batalha.
Durante todo o período colonial Cartagena manteve sua posição de principal porto não só da Colômbia como de toda a costa norte da América do Sul, apesar de suas comunicações com o interior serem feitas através de estradas rústicas e mal construídas, fato que contribuía para retardar as ligações entre o porto e as ricas zonas de mineração do Peru, do Equador e da Bolívia.
Ao iniciar-se o século XIX - e aproveitando o período das guerras napoleônicas na Europa, que afetaram profundamente a Espanha - os patriotas residentes em Cartagena proclamaram, em 11 de novembro de 1811, sua independência política. A reação das forças coloniais espanholas, fortalecidas alguns anos após com a derrota final de Napoleão, não tardaria. Em 1815, a cidade era retomada, e só seis anos depois conseguiriam os colombianos libertá-la, definitivamente, do domínio espanhol.
A independência da Colômbia não trouxe para Cartagena as vantagens que seria de esperar. Ao contrário, já em 1840 se notava sua decadência, e até mesmo seu porto - que fora sua principal fonte de riqueza e progresso - começou a ser suplantado, a partir daquele ano, pelo de Barranquilla, cidade mais ao norte, localizada às margens do rio Madalena e que se tornaria o principal porto colombiano até nossos dias.
A Cartagena dos dias de hoje é uma cidade que conseguiu recuperar grande parte de seu primitivo fastígio, graças, sobretudo, à exploração dos campos petrolíferos localizados no Vale do Madalena. O petróleo surgiu ai, em grande quantidade, a partir de 1917. Um oleoduto construído em 1926 liga Barrancabernia (zona da extração do óleo) ao porto de Cartagena e está fixado o ponto de atracação dos petroleiros. Capital do Departamento de Bolívar, em Cartagena estão estabelecidas várias refinarias de petróleo, fábrica de fertilizantes, salinas e diversas indústrias.
Os antigos fortes de Cartagena foram transformados em monumentos nacionais, destacando-se entre eles o de São Fernando que, localizado na extremidade da praia de Boccachica, guardou, ao longo dos séculos, a entrada da baía de Cartagena; o forte de São Felipe de Barajas, construção de 1657; o de La Tenaza; o de São Sebastião del Pastelillo e outros menos importantes.
Para o turismo, que é uma de suas principais fontes de receita, Cartagena dispõe de excelente infraestrutura hoteleira. Além dos bairros antigos - onde ainda se encontram restos das velhas muralhas da cidade e uma série de construções que remontam à época colonial, tais como o Convento da Popa, localizado na colina do mesmo nome e da qual se descortina impressionante vista da velha cidade - o visitante pode apreciar ainda a Igreja de São Pedro Claver, com seus pátios e galerias anexos e a capela onde morreu e está sepultado o santo; o Clube Naval, junto ao Forte de Santa Cruz e a Escola Naval da Colômbia, situados ambos na ilha de Manzanillo; a Torre do Relógio - um dos monumentos típicos da cidade - cuja Porta do Relógio, em sua parte inferior, era elemento constituinte da antiga muralha; a praça dos touros e o estádio de beisebol (um dos esportes mais populares do pais); as várias edificações coloniais ainda existentes na Praça da Carretas e entre as quais se distingue o Palácio da Inquisição (sede do Santo Ofício) com seu portal todo executado em pedra lavrada, e as estátuas de Cristóvão Colombo - o descobridor do continente e de quem o país tomou o nome - e D. Blas de Lezo, o herói que derrotou uma das mais fortes expedições de piratas ingleses. Além disso, há ainda a curiosa Casa do Pirata. A independência do país (1811), de que Cartagena foi palco, é lembrada pelo Parque do Centenário.
Os cafés são muito frequentados. Convém lembrar que a Colômbia, além de possuir a melhor qualidade de café, é também, depois do Brasil, o maior produtor mundial de grãos. A maioria dos edifícios públicos mais modernos da cidade apresenta características arquitetônicas inspiradas em motivos coloniais, contrastando com os arranha-céus construídos nas partes mais novas de Cartagena. No entanto, os visitantes preferem apreciar as antigas residências locais, com seus inúmeros vestígios de uma época já bastante remota. Cartagena é a cidade mais associada a piratas no caribe, e no mundo. O centro histórico de Cartagena, conhecido como a cidade fortificada, foi declarado Patrimônio Nacional da Colômbia, em 1959, e Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, em 1984. No ano de 2007, sua arquitetura militar foi reconhecida como a quarta maravilha da Colômbia.
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