Panorama de Saint-Malo, antigo reduto de piratas
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Outro motivo de atração das
terras da Bretanha é o seu povo. Os bretões estão entre os últimos sete povos
descendentes dos celtas. Expulsos das Ilhas Britânicas por ocasião das invasões
saxônicas, eles vieram para este lado do continente trazendo consigo sua
língua, suas lendas, seus heróis, suas canções. E até hoje procuram manter suas
tradições e até há poucos anos, sua firme atitude de não abrir mão da língua e
dos costumes trazia-lhes problemas com o governo francês. Mas atualmente tudo
isso ficou para trás e toda a nação francesa se orgulha de possuir em suas
terras um povo com tão grande passado histórico.
Antes de se chamar Bretanha, essa
região fazia parte da Armórica, nome dado na Antiguidade à região da Gália que
incluía a península da Bretanha e o território entre os rios Sena e Loire, até
um ponto indeterminado no interior. Este topônimo baseia-se na expressão
gaulesa are mori (à beira-mar). Plínio o Velho, na sua História Natural, indica
que Armórica era o nome antigo para a Aquitânia, dizendo que a fronteira sul da
Armórica chegava até aos Pirineus. Tomando em conta a origem gaulesa do nome,
esta asserção é perfeitamente lógica e correta, uma vez que Armórica não
denomina um país, mas antes é uma palavra que identifica um tipo de região
geográfica - uma região à beira-mar. Esta utilização permite deduzir que os
Romanos contataram inicialmente populações costeiras e partiram do princípio
que o nome Armórica dizia respeito a toda a região, tanto litoral quanto
interior. A região passou a se designar Bretanha com a chegada dos bretões e
muitos designam-na, também, de Pequena Bretanha, por oposição à ilha de onde
vieram.
Vista de
Locronan, na Finisterra
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Na verdade, a união da Bretanha
com a França deveu-se apenas a uma série de acontecimentos fortuitos dos quais
nada participou o povo bretão. Tudo começou quando Ana, filha do Duque
Francisco II da Bretanha, casou-se com Luís XII, rei de França. Muito embora o
contrato de casamento assegurasse a independência do ducado, quando o duque de
Angoulême subiu ao trono da França em 1515, sob o nome de Francisco I, decidiu
incorporar a Bretanha definitivamente à Coroa francesa, obtendo o apoio de um
magistrado bretão chamado Louis de Déserts, que em 1532 convocou os Estados
bretões para um Conselho em Vannes a fim de votar pela união definitiva. Os
delegados, alguns comprados, outros enganados, acabaram por admitir que seria
melhor aceitar, em bons termos, o que mais tarde poderia ser imposto sem
maiores delongas. Dessa maneira, no dia 13 de agosto de 1532, o rei fazia
publicar em Nantes o Edito da União, concordando com a exigência dos Estados em
conservar um Parlamento próprio e manter invioláveis os direitos e privilégios
da Bretanha.
Parlamento
da Bretanha em
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Descendentes dos celtas, os
bretões chegaram à península por volta do século V a.C. Quinhentos anos mais
tarde, César invadiu a Gália com suas legiões e os derrotou. Durante
quatrocentos anos eles viveram sob o domínio dos romanos. No século V da nossa
era, chegou uma nova leva de celtas fugidos da Grã-Bretanha, que havia sido
invadida pelos saxões. Trouxeram com eles seus trovadores, sacerdotes, bardos e
druidas. E mais suas canções, que falam do Rei Artur e de seus cavaleiros, que
na floresta de Huelgoat se sentavam em torno da Távola Redonda, enquanto em
Paimpont, na antiga Broceliândia, o Mago Merlim e a Feiticeira Morgana se deleitavam
com as canções dos trovadores. E trouxeram Parsifal, e mais Tristão, que viveu
aquele amor tão trágico com Isolda em terras da Cornualha.
Com relação aos druidas, embora a
visão cristã os mostre como sacerdotes, os textos clássicos os apresentam na qualidade
de filósofos, embora eles presidissem rituais, o que pode soar conflitante.
Druidas eram pessoas encarregadas das tarefas de aconselhamento, ensino,
jurídicas e filosóficas dentro da sociedade celta. O druidismo procurava buscar
o equilíbrio, ligando a vida pessoal à fonte espiritual presente na Natureza, e
dessa forma reconhecia oito períodos ao longo do ano sendo quatro solares
(masculinos) e quatro lunares (femininos), marcados por rituais especiais. A
sabedoria druídica era composta de um vasto número de versos aprendidos de cor
e conta-se que eram necessários cerca de 20 anos para que se completasse o
ciclo de estudos dos aspirantes a druidas. De sua literatura oral (cânticos
filosóficos, fórmulas mágicas e encantamentos) nada restou, sequer em tradução. O que ainda
existe, está nas lendas e nas tradições dos descendestes do povo celta. O que
sobrou do que seriam seus rituais, foram conservadas no meio rural e incluem a
observância do Halloween, rituais de colheita, plantas e animais, baseados nos
ciclos solar, lunar e outros. Tradições que seriam partilhadas pela cultura do
povo.
Os monólitos de Carnac
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As lendas populares vivem em
todas as casas da Bretanha. E uma das mais interessantes é a que explica a
origem dos monólitos de Carnac. Segundo ela, em meados do século III d.C.,
Cornélio, um santo bispo que estava sendo perseguido por soldados romanos,
passou pelos campos de Carnac, onde os camponeses estavam semeando o trigo. Ele
parou por um instante e lhes disse: "Preparem a foice que amanhã será o
dia da colheita." Incrédulos, os camponeses pararam seu trabalho para
interpelar o santo homem. Mas Cornélio já ia longe. No dia seguinte, o trigo
havia crescido e estava maduro. No momento em que os camponeses iniciavam a
colheita, chegaram ao local os soldados de Roma e perguntaram se haviam visto
passar por ali um velho. Eles responderam que sim, mas que fora por ocasião da
semeadura. Desanimado, os soldados ficaram ali parados e, lentamente, foram se
transformando em blocos de pedra. E até hoje se encontram espalhados pelos
campos de Méne, Kermario e Kerlescan, que circundam Carnac.
O Castelo de Fougeres com suas doze torres |
Pode ser que os arqueólogos que
têm tentado descobrir a razão daquela multidão de menires e dolmens que se
encontram na região da Bretanha os vejam ligados a um povo misterioso e místico
que ali viveu há cerca de cinco mil anos. Os bretões, porém, preferem a lenda,
pois ela explica com bem mais poesia a existência desses estranhos monumentos.
Menires e dolmens são monumentos megalíticos, que em arqueologia designa o
conjunto de construções de grandes blocos de pedras, típicas das sociedades
pré-históricas, edificadas essencialmente no período neolítico (por vezes
também idade do Cobre e Bronze) com objetivos simbólicos e religiosos e
principalmente funerários.
Os monólitos de Carnac
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A Bretanha é uma das mais belas
regiões da França e, devido a isso, tornou-se um dos seus mais importantes
centros turísticos. No verão, vindos de todas as partes da Europa e de outros
continentes os visitantes chegam aos milhões, invadindo seus balneários,
bisbilhotando suas relíquias centenárias, vasculhando. Para cada um deles há
sempre um abrigo, uma nova história, uma canção antiga. Muitas das velhas
camponesas são capazes de lembrar dezenas de canções da Idade Média, que
permanecem vivas dentro das casas da Bretanha. Se alguém, em qualquer porto ou
cidade, perguntar a um bretão êtes-vous français, monsieur?, ele certamente
responderá: Non, monsieur, je suis breton.
Vista de Morlaix
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Existem duas maneiras de iniciar
um roteiro turístico pela Bretanha. Uma é partir de Nantes, a antiga capital,
ultrapassar o charco da Grande Brière e seguir os caprichos da costa até
Finisterra, a mais bela paisagem da Bretanha. A outra é penetrar terra adentro,
passando por Rennes, até chegar à costa norte, ao Monte St. Michel.
Fazenda com a característica casa medieval |
Depois da região do charco de La Grande Brière , o
lugar mais atrativo que se segue é Carnac, com seus dolmens e menires, e
também, com suas praias, entre as melhores da Bretanha. Próximo a Carnac fica
Saint-Anne d'Auray, onde se encontra a imagem milagrosa de Santa Ana da
Bretanha, a padroeira dos bretões. Esta imagem foi descoberta no século XII,
mas durante a Revolução Francesa foi quase que totalmente queimada. O que
restou dela foi envolvido com uma capa de ouro. Ela leva verdadeiras romarias a
Auray todos os anos. Durante a Revolução de 1789, a Bretanha foi um dos
mais ferrenhos redutos da realeza.
Concarneau e Pont-Aven são as
atrações seguintes. Esta última é uma vila de pescadores que ficou famosa pela
escola de pintura que Gauguin ali criou em 1888. Naquela época existiam na
aldeia quatorze moinhos e quinze casas. Hoje existe somente um moinho, que foi
transformado num restaurante.
Lavadeiras
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Em direção à costa norte,
encontra-se Quimper, antiga capital da Cornualha e uma das cidades mais ricas
de história na Bretanha. Na estrada que leva de Quimper a Locronan, ainda se
pode ver velhas casas de madeira do século XVI. Mas a maior atração de Quimper
ainda é a sua catedral, erguida no século XIII no mais puro estilo gótico.
Locronan é considerada a joia da Finisterra, com sua praça inteiramente cercada
por casas de pedra em estilo renascentista, uma fonte medieval, uma velha
igreja, que com o passar dos séculos ficou quase que totalmente coberta pelo
musgo e onde repousam os restos de São Ronan, um eremita irlandês que viveu no
século V e ao qual a cidade deve o seu nome. Em seguida vem a cidade de Brest,
a segunda maior cidade da Bretanha. Brest já existia no século IV e seu
principal monumento é um castelo construído pelos condes de Leon.
A religiosidade do povo bretão na comemoração
do dia de
Santo Ivo, o padroeiro da Bretanha
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A costa norte da península possui
algumas cidades bastante interessantes, como Trégastel, onde se pode ver a
rocha do Rei Gradlon, que tem o mesmo nome do soberano que, segundo a lenda,
atirou do alto dela a filha que se encontrava possuída pelo demônio. E ainda
Dinard, Cancale e St. Malo, antigo reduto de piratas. Com seu passado glorioso,
Saint-Malo conserva numerosos monumentos históricos e construções
inventariadas. Dentre os mais visitados, a catedral Saint-Vincent, o Castelo
Ducal, as Muralhas da cidade encerrada, o forte Nacional, o forte do Petit Bê,
o túmulo de Chateaubriand, a torre Solidor, os muros galo-romanos de Aleth, os
penhascos de Rothéneuf.
Algumas das figuras de trinta santos bretões
do antigo Calvário de Pleyben,
próximo à igreja do povoado de Guimiliau, na Finisterra
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Algumas das figuras de trinta santos bretões
do antigo
Calvário de Pleyben,
próximo à igreja do povoado de Guimiliau, na Finisterra
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Algumas das figuras de trinta santos bretões
do antigo Calvário de Pleyben,
próximo à igreja do povoado de Guimiliau, na Finisterra
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Muitas outras atrações esperam o
visitante na Bretanha. Com a sua estrutura granítica, a Bretanha enfrenta o mar
que investe sobre suas costas selvagens, enquanto o seu povo conta sua história
através de lendas e canções medievais. Nas pradarias e nos campos cultivados do
interior as cercas e as camélias florescem enquanto em algumas terras do
litoral agredidas pelo sal e pelo vento não desponta um fio de erva. E nas praias
quentes do sul, em julho e agosto, como um prêmio para os visitantes que chegam
aos milhares, o perfume das camélias e das mimosas adoça o forte cheiro do mar.
Barcos de pescadores ancorados ao lado de um farol
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