O Vale do Reno romântico

O Rio Reno, um dos mais importantes acidentes geográficos da Europa Central, foi o berço da civilização romano-germânica e principal fator de progresso de uma das regiões mais bonitas e ricas do mundo. As legiões romanas ali chegaram 58 anos antes da era cristã, erguendo cidades ao longo das margens do rio, as quais, após cinco séculos de ocupação, se tornaram as bases de uma formação política, econômica e cultural que iria repercutir intensamente no desenvolvimento histórico dos países por ele banhados.


O Reno foi fortificado pelos imperadores romanos, pois era uma vala natural entre as Gálias das tribos bárbaras do leste. Assim edificaram Constantia, Augusta Rauracorum (próximo a Basiléia), Argentoratum (Estrasburgo), Colonia Nemetum (Spira), Mangutiacum (Mainz) Castra Bonnensis (Bonn), Colonia Agrippinensis (Colônia), entre outras.

Depois das invasões bárbaras e do desmoronamento do Império do Ocidente, as tribos germânicas da margem direita do Reno agruparam-se, formando pequenas federações como as dos alemães, suevos, francos e saxões. Esta situação manteve-se mais ou menos estável até o advento de Carlos Magno, que dominou toda a bacia do Reno, chegando mesmo a pensar em fazer um canal que ligasse esse rio ao Danúbio. Depois dele criou-se uma infinidade de pequenos estados. Mais tarde, duas partes do Império Alemão se chamaram respectivamente, de Alto e de Baixo Reno. O primeiro era formado por uma parte do Palatinado do Eleitor, os Arcebispados de Spira, Estrasburgo e Basiléia, a Alsácia e o Margraviato de Baden. O segundo compreendia os Arcebispados de Colônia, Treves (Trier) e Mogúncia, o Landgraviato de Hessen e o restante do Palatinado do Eleitor.

Pelo Tratado de Vestfália, de 1648, a França ficou de posse da Alsácia que, juntamente com Lorena - também obtida por cessão pelo Tratado de Viena, de 1738 -, sempre foi um ponto de discórdia entre franceses e alemães desde os tempos darolíngios.

Hoje, a bacia do Reno abrange dois terços da suíça, o Principado de Liechtenstein, parte da Baviera e dos Estados de Baden-Württemberg e de Hessen, dos departamentos franceses correspondestes à Alsácia, Lorena e Alto Mosela, o Grão Ducado de Luxemburgo, Os Estados do Sarre, da Renânia-Palatinado, Renânia do Norte-Vestfália, parte de Baixa Saxônia e a maior parte dos Países Baixos.

Vindo dos Alpes, o Reno, após atravessar as serras da Floresta Negra e dos Vosges, começa a receber seus principais afluentes, atravessando a típica região das ardósias. Mais abaixo; passa pela região montanhosa de Bergisches Land, cheia de castelos medievais e construções que ainda remontam à época dos romanos; segue para o vale do rio Wupper, e, finalmente, a região do Ruhr.

Depois de receber o Mosela, o Reno, sempre descendo, se alarga numa fértil planície, até Andernach. Daí em diante, entre em um desfiladeiro que se propaga por cerca de 50 quilômetros até Boon. Ao lado estão as sete montanhas no alto das quais se encontram castelos datados do século XII. Logo depois o Reno entra definitivamente na sua grande planície aluvial, que se estende até o mar do Norte.




 Vista Panorâmica do Rio Reno com um castelo medieval em primeiro plano


A Basílica de São Carlos, em Koblenz


O castelo Pfalz que era usado pelos "Cacavleiros Bandidos" como posto de pedágio na Idade Média


Depois de deixar a Floresta Negra, o Reno passa por Friburgo - cidade irmã da nossa Nova Friburgo -, uma antiquíssima cidade arcebispal e célebre centro universitário da Floresta Negra. Sua universidade data de meados do século XV e é um magnífico conjunto de edifícios construídos no estilo gótico, assim como sua catedral. Mas só quando chega a Spira é que começa o trecho que se convencionou chamar "o Reno Romântico." A catedral da cidade possui quase mil anos e se mostra como uma nobre basílica romana, cuja cripta principal é considerada a de maior beleza entre todas as igrejas da Alemanha. No seu panteão repousam os corpos de nove imperadores alemães.

Mais adiante o Reno chega a Mogúcia, na desembocadura do Meno. Mogúcia foi erguida há dois mil anos pelos romanos, sendo durante muitos séculos a menina-dos-olhos do Império Alemão. Berço da arte de imprimir, foi ali que Gutenberg criou a primeira impressora. Possui uma imponente catedral - a de São Martinho, sede dos arcebispos e arquichanceleres do antigo Império.

Seguindo seu curso, o Reno passa pela região de Rheingau, famosa pelo seu vinho. Passando por Bingen e pela confluência com o Nahe, o rio entra na sua região mais lendária: a dos velhos castelos e ruínas. Entre os mais famosos estão Maüsathurm (Torre das ratazanas), o primeiro a surgir; Rheinstein, Ehrenbreitstein, uma inexpugnável fortaleza que domina o rio de uma altura de 120 metros; Falkenburg, Soonek, Furstenberg, o Bacharach, com sua torre da época dos Templários e mais adiante o Pfalzgrafenstein, erguido para a cobrança de pedágio na Idade Média, entre tantos outros.

Na confluência do Reno com o rio Mosela, está a cidade de Koblenz, onde praticamente nasceu a Alemanha. Em sua colegiada carolíngia de São Castor firmou-se em 836 o tratado sobre a divisão do Império de Carlos Magno, que foi ratificado em Verdun sete anos mais tarde. Depois de passar por Boon, o Reno chega a Colônia - a Colonia Agrippina fundada pelos romanos. Na Idade Média a cidade deveu seu poder e influência à Igreja. O bispado fundado por Constantino no século IV foi elevado a arcebispado por Carlos Magno. Até o século XII os arcebispos construíram em sua cidade mais de 150 igrejas, conventos e colegiados, convertendo-a num esplendoroso centro da vida religiosa, espiritual e cultural, até hoje mantido.

Em 1164 o Imperador Frederico Barba-Ruiva presenteou a cidade com a Relíquia dos Três Reis Magos, que o Arcebispo Rinaldo de Dassel havia trazido de Milão. Quando a antiga catedral já não podia mais receber a multidão de peregrinos que queria venerar as relíquias, iniciou-se a construção da nova catedral - a atual - que durou mais de seiscentos anos e não foi totalmente concluída. Ao deixar Colônia, o Reno perde o seu romantismo, pois segue por uma feia região industrial até descansar na placidez monótona das terras baixas do norte.

Legendas

Vista panorâmica do rio Reno com um castelo medieval em primeiro plano

A Basílica de São Carlos, em Koblenz

O castelo Pfalz que era usado pelos "Cavaleiros Bandidos" como posto de pedágio na Idade Média

A Catedral de Colônia, em estilo gótico, uma das maiores do mundo. Acima, a nave central e o coro da catedral

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