Os Minipaíses da Europa

Mônaco, Luxemburgo, San Marino, Andorra e Liechtenstein - parecem países de brinquedo, mas são realmente estados livres. O povo de um território, organizado politicamente sob um único governo, constitui uma realidade histórica e geográfica. A esta realidade corresponderá uma soberania que as demais nações terão de respeitar. E isto nem sempre aconteceu com os cinco minipaíses europeus, que sofreram constantes violações de suas fronteiras. Assim ocorreu com Mônaco, região que, em dois mil anos de história, por diversas vezes mudou de dono; assim foi com com Luxemburgo, cujo nome remonta aos tempos de Carlos Magno; assim sucedeu com Liechtenstein, surgido da divisão do Sacro Império Romano-Germânico; assim ocorreu com Andorra, submetido à frança e Espanha, e assim aconteceu com San Marino, o mais antigo estado da Europa. No entanto, eles sempre acabaram reconquistando a sua autonomia. E, tendo preservado até hoje a sua realidade histórica e geográfica, podem reivindicar para si aquela divisa que os luxemburgueses exibem com orgulhosa altivez: "Queremos continuar sendo aquilo que somos."

Vista de Mônaco, vendo-se em primeiro plano o Museu Oceanográfico, fundado em 1910 por Alberto I, para guardar as coleções resultantes das suas campanhas oceanográficas. Jacques Cousteau foi seu diretor por vários anos, a partir de 1957



Antes de alcançar a tranquilidade que o caracteriza, o Luxemburgo viveu, através de sua longa história, inúmeros acontecimentos que deixaram marcas ainda hoje visíveis no comportamento do povo, nas obras de arte, nas lendas. Situado entre a Bélgica, a Alemanha e a França, Luxemburgo, por sua pequena extensão e por sua situação geográfica, foi invadido inúmeras vezes. Ocupado no passado pelos romanos (que ao chegarem ali encontraram a tribo dos treveros, um povo etnicamente identificado com os belgas), pelos celtas e pelos belgas, o país foi no século XX invadido pelos alemães que, desrespeitando a sua tradicional neutralidade, o ocuparam durante as duas Guerras Mundiais. A presença de civilizações tão diferentes não criou um povo descaracterizado, antes forjou criaturas determinadas, criativas, amantes da paz, das tradições e da fantasia. Ali o fantástico e o real vivem tão juntos e se misturam com tanta frequência que entre os nomes dados ao país figuram expressões como Terra dos Castelos Mal-Assombrados e Terra do Era Uma Vez. 

 Vista de Esch-sur-Alzette,
circundada pelo rio Süre


Luxemburgo é um minúsculo país do oeste da Europa cuja história remonta a meados do século X, quando o Conde Sigefredo adquiriu, em 963, o Castelo de Luxemburgo, pertencente a Wilker, abade de São Máximo de Trévere. O primeiro Conde de Luxemburgo, um descendente de Sigefredo, assumiu este título em 1060. O condado passou, em 1136, para a família de Namur e, em 1247, para a de Limburgo. Em 1308, Henrique IV de Luxemburgo (1275-1313) elegeu-se imperador do Sacro Império Romano; seu continuador, Carlos IV (1316-1378) ampliou as possessões da casa luxemburguesa e em 1354 elevou o condado à categoria de ducado. Depois de anexado aos países Baixos, Luxemburgo foi dominado pela Áustria dos Habsburgos (1477) e pela Espanha (1555-1556), quando o Imperador Carlos V abdicou. No início do século XVIII o Luxemburgo, tal como a Bélgica, retornou ao domínio austríaco, mas em 1795 a expansão do império napoleônico mão o esqueceu, transformando-o num departamento do território francês.

Vista do Castelo Viandes. Os castelos de
Luxemburgo são muito procurados pelos turistas


Com a queda de Napoleão, em 1815, o Congresso de Viena elevou o país à categoria de grão-ducado, entregando-o a Guilherme I, rei dos Países Baixos. Tendo perdido a maior parte de suas terras originais em 1839, quando foram anexados pela Bélgica, restaram a Luxemburgo somente 2.586 km2 que foram declarados território neutro pelo Tratado de Londres de 1867. Desrespeitada pela Alemanha, essa neutralidade foi abandonada em 1949 pelo grão-ducado, que passou a fazer parte da OTAN.

 Castelo de Visenden (luxemburgo)

Luxemburgo significa pequena fortaleza, castelo. É uma monarquia constitucional, a Câmara dos Deputados eleita por sufrágio universal, e o Conselho de Estado composto por 21 membros nomeados em caráter vitalício pelo soberano constituem o parlamento. O primeiro-ministro e o gabinete são escolhidos pelo grão-duque. É um país altamente industrializado, um dos maiores produtores de aço do mundo. O país tem duas línguas oficiais (francês e alemão) e mais uma terceira, o luxemburguês (letzeburgish), uma mistura de francês, alemão e holandês, usada por quase toda a população.






San Marino


 Vista de San Marino

Física, econômica e politicamente diferente de Luxemburgo, San Marino, o único remanescente dos estados independentes que existiram na Itália antes da unificação de 1861, é uma pequena república - a menor do mundo com os seus 61 km2 - que tem como centro geográfico o monte Titano, nos Apeninos.


A história da sua fundação se perde no tempo e chegou até nós mais como uma lenda do que como um fato real. Diz a tradição que no ano 301 Marino, um entalhador da Dalmácia, fugindo à perseguição que o Imperador Diocleciano movia aos cristãos, refugiou-se em uma gruta no monte Titano. Protegido no alto do rochedo, Marino começou a ser conhecido na região por causa dos milagres que fazia. Em pouco tempo começaram a chegar ali pessoas que, desejosas de viver sob a sua santa proteção, acabaram por formar uma comunidade, núcleo da atual Serenissima Repubblica di San Marino.

 A Guarda do Palácio de San Marino desfilando por uma estreita rua medieval


Localizado no seio de um país que sempre participou das convulsões européias, San Marino é uma república sui generis, que se considera um prolongamento da república romana. Governados por dois capitães-regentes, eleitos em cada semestre por um Conselho de 60 membros, os 30 mil habitantes de San Marino vivem da agricultura, dos mais de dois milhões de turistas que os visitam anualmente e da confecção de selos para colecionadores.



Castelo de Vaduz (luxemburgo)


Mônaco


Apesar de dispor de uma área bem menor do que San Marino - apenas 1,5 km2 -, o Principado de Mônaco é o minipaís mais famoso da Europa. Sua posição geográfica privilegiada, em plena Cote d'Azur, próximo da fronteira com a Itália, é um dos fatores que mais contribuem para sua escolha como ponto de encontro internacional. 

 O Palácio Real de Mônaco


O Grande Prêmio Automobilístico, os congressos internacionais, o Festival de Televisão e o Cassino de Monte Carlo mantêm sua agitação incomum.


O Príncipe Albert II, descendente da antiga dinastia dos Grimaldi, governa o principado fundado por seus antepassados - nobres italianos expulsos de Gênova que conquistaram a fortaleza de Mônaco em 8 de janeiro de 1297. O regime de governo é o de uma monarquia constitucional hereditária.


Geograficamente o país divide-se em três áreas principais: La Condamine, o distrito comercial; Monte Carlo, sede do famoso cassino; e Mônaco, a capital, situada em um alto promontório. O turismo e o jogo são suas principais fontes de renda e ocupam grande parte de seus habitantes. Para manter sempre crescente o número de visitantes, o principado é constantemente modernizado: amplia-se o porto e aumentam-se as praias aterrando o Mediterrâneo. A poderosa Sociedade dos Banhos de Mar, que centraliza toda a atividade turística do país, for transformada numa companhia cujo maior acionista é o estado. Estreitamente ligado à França - o francês é, inclusive, a língua oficial do principado -, Mônaco atravessa uma fase de grande desenvolvimento econômico.






Liechtenstein

 O castelo da família real de Liechtenstein


Da mesma forma que Mônaco, Liechtenstein também é um principado. Sua origem remonta à falência dos condes de Hohenems. Esses nobres eram tão maus administradores que, mesmo pertencendo à nobreza austríaca, foram obrigados a vender suas propriedades para pagarem suas dívidas. E era justamente de duas propriedades como as de Schellenberg e Vaduz que a família dos Liechtenstein, elevada pela corte austríaca à dignidade de príncipes, estava precisando com urgência. Porque somente os príncipes possuidores de um território de tamanho razoável podiam participar do Conselho do Sacro Império Romano-Germânico.


Criado em 1719, o principado de Liechtenstein viveu na dependência do império austríaco durante quase um século. Foi por intervenção de Napoleão que esse minipaís se tornou livre e soberano, integrando a confederação do Reno entre 1807 e 1814; de 1815 a 1866 participou da confederação germânica. Depois da Segunda Guerra Mundial, Liechtenstein estabeleceu com a Suíça uma união aduaneira, monetária e postal. O alemão é a língua oficial do país, e a maioria dos habitantes professa a religião católica.


Monarquia constitucional e hereditária, o Principado de Liechtenstein é formado por 157 km2 de tranquilidade, localizados na margem direita do rio Reno, entre os Alpes suíços e austríacos. Sua capital, Vaduz, não tem nada em comum com as outras capitais européias: a pequena cidade conta com 6.000 habitantes. Durante o inverno todo o principado é recoberto por uma espessa camada de neve, o que o torna um lugar privilegiado para a prática de esqui, sendo a paisagem de suas montanhas brancas uma garantia de repouso. Com a chegada da primavera, floresce o edelvais, transformando todo o Liechtenstein num campo florido. O desenvolvimento industrial levou o país a um lugar de destaque na fabricação de aparelhos de alta precisão, mas seus habitantes desconhecem a poluição. Nas suas onze pequenas cidades o que mais conta ainda é o ser humano.






Andorra


Andorra é um pequeno país europeu localizado num enclave nos Pirineus entre o nordeste da Espanha e o sudoeste da França. Antes isolado, o principado é hoje um país próspero principalmente devido ao crescimento do turismo e por seu status de paraíso fiscal. Atualmente, a população andorrana está listada como tendo a maior expectativa de vida do mundo, com média de 83,52 anos.


Vista de Adorra


O principado é o único país do mundo cuja única língua oficial é o catalão, embora represente apenas 0,22% do total de catalanófonos da Europa. No seu território também são falados o castelhano, o português e o Francês, nesta ordem de números de falantes. Andorra é o sexto menor país da Europa, maior apenas que Liechtenstein, San Marino e Mônaco. A sua capital é a cidade de Andora, a Velha, também conhecida como Andorra la Vella.


O principado de Andorra foi durante séculos um território essencialmente agrícola e de pastoril, onde a prática da caça era frequente. Segundo algumas lendas, Carlos Magno foi seu fundador. O primeiro soberano conhecido de Andorra foi um nobre espanhol, o Conde de Urgel, que dominou a região no século IX, passando-a então para diocese de Urgel. No século XI, o bispo de Urgel, na impossibilidade de governar Andorra sozinho, pediu então a um nobre espanhol, o senhor de Caboet, que defendesse a região. Um nobre francês, o conde de Foix, herdou através de casamento os encargos do espanhol. O conde francês e o bispo lutaram por Andorra, até que, finalmente, em 1278 encerraram suas disputas através de um tratado que os tornava governantes conjuntos.


Andorra permaneceu sob controle do bispo de Urgel, exceto durante a Revolução Francesa, quando revolucionários declararam a independência do país. Em 1806, os habitantes locais pediram a Napoleão Bonaparte que devolvesse ao território o estatuto de principado. Durante 700 anos, o principado prestou vassalagem ao bispo de Urgel e ao monarca francês (depois, com o regime de república na França, ao presidente).
Igreja de Santo Estevão, em Andorra la Vella


No dia 6 de julho de 1934, o russo Boris Skossyreff foi proclamado Rei Borís I de Andorra pelo Governo local. No dia 14 de julho, a Guarda Civil espanhola entrou em Andorra, prendeu e expulsou Skossyreff, que passou por Barcelona, Madri, e finalmente foi mandado para Portugal.


A imigração, controlada através de um sistema de quotas, restringe-se aos nacionais da França e da Espanha que pretendam trabalhar em Andorra. Antes de 1933, o país não possuía qualquer constituição formal, tendo, à época, todas as moções e propostas submetidas a delegados permanentes (representantes dos dois chefes de estado) para aprovação.


Em 1976 foi criada uma organização política, tecnicamente ilegal, o Partido Democrático de Andorra, que forneceu as bases de um sistema democrático. Em 1982 foi nomeado um Conselho Executivo chefiado pelo Primeiro-Ministro. Tal ato provocou a separação entre os poderes legislativo e executivo. Em Julho de 1991 foram estabelecidos laços formais com a Comunidade Europeia. Em maio de 1993 foi adotada uma nova Constituição, concedendo a independência ao país em todos os aspectos, menos o da segurança externa, que continuou sob a responsabilidade da França e da Espanha. Em 1994, Andorra tornou-se um membro de pleno direito das Nações Unidas e do Conselho da Europa.


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