Rijksmuseum, o Museu do Reino


PIETER JANSZ SAENREDAN (1597-1665) - "A velha prefeitura de Amsterdã",
osm, 64,5 x 83 cm. O nome do artista e a data do quadro estão no toldo da casa

A história das coleções de arte que formaram o Rijksmuseum, na cidade de Amsterdã, Holanda, está intrinsecamente ligada à história da formação do mapa geopolítico da Europa nos últimos dois séculos. Assim como o domínio político das terras de Flandres e dos Países Baixos, a administração desse magnífico acervo mudou de mãos muitas vezes. 

Diferentemente de uma grande parte dos museus antigos da Europa, o edifício do Rijksmuseum - que significa museu do reino - foi construído exclusivamente para esse fim. Mas a coleção de obras de arte da Casa de Orange é tão antiga quando a própria dinastia. A idéia de reunir tudo e expor ao público esse acervo rico tanto pelo valor artístico quanto pelo valor histórico, tomou forma em 1800, quando era inaugurada a Galeria Nacional de Arte, que ocupava o antigo Palácio de Verão, Huistem Bos, nas imediações de Haia. Nesta época a Holanda pertencia à República da Batávia, que estava sob domínio francês desde 1795 como reflexo da revolução francesa e Guilherme V, refugiado na Inglaterra.
Por conta da situação política, a maioria das obras de arte da Casa de Orange foi levada para o Louvre, outras peças foram leiloadas e cerca de 200 obras - principalmente quadros históricos - foram salvas e formaram a base do acervo do Rijksmuseum, que aos poucos, mas regularmente, foi sendo aumentado.

AN BRUEGEL (1568-1625) - "Vaso com flores", óleo sobre madeira, 113 x 86 cm

Em 1808, o Reinado da Holanda, com capital em Amsterdã, estava sob comando de Luis Bonaparte, irmão de Napoleão. Neste ano ele fundou o Grande Museu Real, situado no Palácio Real, antiga Câmara Municipal, uma construção do século XVII. A inauguração se deu com a abertura de uma grande exposição com telas da Casa de Orange e 65 novas aquisições. Porém, o domínio francês chegou ao fim em 1815 e o Rei Guilherme I pode voltar ao trono para governar o Reino Unido dos Países Baixos. Muito interessado em manter e ampliar programas culturais deu especial atenção ao museu de Amsterdã, que recebeu nesta época sua denominação atual: Rijksmuseum. As obras confiscadas e recolhidas ao Louvre foram devolvidas e, com o aumento da coleção, aumentou a preocupação com um edifício que pudesse abrigá-la. O local escolhido foi o Trippenhuis, antiga residência de Trip, um rico comerciante de ouro do século XVII, que abrigou o museu por setenta anos. Nesse longo período foi realizado um concurso que contou com a participação de 21 arquitetos que expuseram projetos para o edifício que viria a abrigar o Rijksmuseum. Demorou muito para a planta vencedora ser aprovada e o prédio, dez anos para ser concluído. Oficialmente, a inauguração se deu em 1885.

JAN VAN DE CAPPELLE (1626-1679)
"A Armada saúda a embarcação governamental", osm 64 x 92,5 cm

Em estilo neo-gótico, a nova sede do museu do reino atendia plenamente suas funções originais. Um dos exemplos da expansão urbana do século XIX, o prédio foi feito em terracota vermelha segundo uma lógica medieval com toques formais pertencentes à Renascença. A fachada é decorada com estátuas, relevos e placas de cerâmica. O piso e as abóbadas de mosaico e as suntuosas pilastras rememoram os tempos de glória.
A principal atração, porém, são as maravilhosas pinturas da arte holandesa. Mas também há quadros estrangeiros, tapeçaria, gravuras, esculturas, pratas e cerâmicas. As telas estão dispostas em ordem cronológica, o que põe lado a lado, pintores considerados secundários e grandes mestres. Grandes nomes conquistaram lugar de destaque nas galerias do Rijksmuseum, como é o caso de Frans Hals, Vermeer, Rembrandt, Pieter de Hooch, Jan Steen, Willem van de Velde. Entre os estrangeiros, El Greco, Rubens, Goya, Murillo e Van Dyck.

GERARD DOU (1613- 1675) -
"Escola noturna" (detalhe), osm 53 x 40,3 cm

A intenção de focar a evolução dos artistas não poderia, porém, ser mais clara do que nas telas que o Rijksmuseum possui de um dos filhos mais famosos da Holanda. São mais de 20 quadros de Rembrandt, entre os quais: Jeremias Lamentando a Destruição de Jerusalém; A Mãe de Rembrandt; A Negação de São Pedro; Autorretrato; e o maior quadro do artista, A Ronda Noturna, que tem uma sala só para si. Todas as fases desse mestre podem ser analisadas só com o acervo do Museu do Reino, isso sem considerar os desenhos, mais de 100, que estão guardados na coleção de gravuras.

Outro ponto bastante procurado é o conjunto das famosas cerâmicas azuis esmaltadas de Delft. Conhecidas no mundo inteiro, as cerâmicas de Delft são o resultado do grande interesse que os holandeses tinham na porcelana chinesa. E da tentativa - fracassada, diga-se de passagem - de reproduzir tais peças, Delft se tornou um dos maiores centros de produção porcelana da Europa, assumindo características bastante próprias. As peças se tornaram então exclusivas e atraentes. 

JACOB VAN RUISDAEL (1628-1682)
"O moinho de vento em Wijk bij Duurstede",
ost 83 x 101 cm

Ambos surgiram na mesma época, mas, ao contrário do Louvre, que conserva uma tradição real e aristocrática, o Rijksmuseum já nasceu segundo uma concepção mais moderna de museu, o que se deve ao ímpeto das organizações municipais típicas da sociedade mercantil holandesa. Esse espírito cívico sempre esteve presente em todas as organizações sociais holandesas e está bem claro na mais famosa coleção de arte do país, que continuou recebendo doações e se tornando cada vez mais completa, mesmo durante a Segunda Guerra Mundial enquanto estava sendo escondida em diversos locais para que permanecesse preservada e bem conservada, como está até hoje.


FRANCESCO GUARDI (1712-1793) - "Regata no Grande Canal", ost 56,5 x 32,5 cm




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