MITRA

Uma virgem dá a luz a uma criança pura, em 25 de dezembro, anunciada previamente, por um anjo. O menino protagoniza milagres grandiosos, ganha inimigos, seguidores e discípulos, promove sacrifício a um Deus que ninguém conhece e convida seus apóstolos para um banquete, que culmina com a sua morte e ascensão ao paraíso.
Não.. não é ele novamente, já falamos sobre Apolônio, na edição passada. Seria Jesus, claro. Novo erro. Falo de Mithras, divindade Persa.


Ou seria Indiana? Egípcia, sua mãe era Isís, com o menino deus nascido precisamente no dia 25, início do solstício de inverno! Mas, poderia ser filho da deusa romana Irene, ainda não reconhecida com a Santa Maria Mãe de Deus? Pois bem, investiguemos juntos então, esta confusa curiosidade histórica:

Esqueçamos outros nomes atribuídos a Mitra, pelos Celtas, civilizações pré-históricas, pré-colombianas, orientais e africanas. As estórias sobre o seu nascimento e carreira, são as mesmas em todas. A primeira referência na historiografia greco-romana ao culto do menino-deus, que se tornou mais um messias, na antiguidade, acha-se na obra de Plutarco, informando-nos que os piratas da Cilicia, já celebravam ritos secretos a Mitra, em 67 a.C. Apesar de que, já existiam citações desde 1400, antes de Cristo. No século V a.C, já era parte do panteão do Zoroastrismo persa, até seu culto se alastrar pelo mundo helenístico, com a dominação de Alexandre, O Grande. Em Roma, as provas iniciais, matérias da introdução desta expansão mitraica, datam de 40 anos após a morte de Jesus, achadas em Carnuntum, na Panónia Superior. Em 80, o autor Estácio já curtia a nova religião, em sua obra, Tebaida.


O imperador romano Cômodo, adepto e iniciado, assegurou vida longa ao culto, para todos os demais sucessores, por 300 anos. Causou uma boa expansão desde a Numídia até a Inglaterra, com seus templos em Carrawburgh e Rudchester. Lembro-me que o mais destacados de todos, foi soterrado de forma conveniente, com a construção da Basílica de São Clemente. Sobreviveram até hoje, porém em sua cripta, os bancos e o altar do Mithraeum.


O início do fim chegou com Aureliano desejando enfraquecer politicamente o culto. Sangrado por Constantino que- a exemplo do recuo da nossa Princesa Isabel, no Brasil, ante a pressão abolicionista- achou logo uma saída para se “converter” e apoiar o cristianismo, frente a o mitraísmo, reduzindo as tensões internas do império.


Aquela, teve a “visão” de logo assinar a Lei Áurea, enquanto ele, teve a sua “visão” divina. O cristianismo angariava a cada minuto, inúmeros adeptos; não pela mensagem do Cristo, mas pela máquina publicitária usada pelos seus sacerdotes, oferecendo a participação feminina nos ritos, fato proibido no mitraísmo, que excluía totalmente a participação das mulheres, nas cerimônias e ainda ofereciam um bônus extra: o pobre não precisaria mais imolar seus poucos animais de seu sustento, em sacrifícios sangrentos, podendo trocá-los por outras necessidades. Acho que até eu já estaria me convertendo, se vivesse nas difíceis condições daqueles tempos... ufa! Mulheres reunidas e um dinheirinho sem sair do bolso... era tentador demais ser cristão. Ainda demorariam um pouco mais a criarem o “dízimo” só para não assustarem o povo. Depois, voilá! O céu seria o limite, se chegando até bem perto dele em 1517, com a lucrativa “Taxa Camarae”, do santo, (aqui deveria levar uma vírgula ou aspas? Deve ser vírgula, me confundo ainda com a nova ortografia, pontuações... tá bom) Papa Leão X.


Abolida formalmente em 391, a religião ainda se arrastou agonizando, sorrateiramente em locais remotos e no Oriente, até o século V.

Vamos às curiosidades históricas, evocando as semelhanças e vagas lembranças do mitraísmo, ante o cristianismo – afinal, foram apenas “sincretizadas” (eu não falei usurpadas), pela Igreja, em sua agressiva estratégia de marketing cristão, com as mesmas eficientes técnicas, reeditadas dezesseis séculos depois, pelo Doutor Goebbels, Ministro da Propaganda durante o regime nazista:

-Até o ano 680, não usava-se a figura de Cristo crucificado, como símbolo, apenas a imagem do cordeiro. Mitra, chamado de “Bom Pastor” e “Cordeiro de Deus”, ainda expressões herdadas dos antiquíssimos cultos da fertilidade, deve ter se revoltado bastante com isso, em seu túmulo ou nos céus.

-Mitra era um viajante que ensinava, um mediador entre os homens e Deus, salvador da humanidade, exemplo de vida e princípios, tinha doze apóstolos e concedeu vida imortal aos seus seguidores, através do batismo.

-O mitraísmo, possuía uma eucaristia, onde os fiéis comiam do touro sacrificado, o símbolo do culto, exatamente para relembrar Mitra, quando proferiu em sua última refeição, uma ceia, as seguintes palavras:


“Aquele que não comer do meu corpo ou não beber do meu sangue, neste touro imolado, de forma a tornar-se um comigo e eu com ele, não conhecerá a salvação”.


Estranhamente, lembra vagamente, bem longe e mero acaso, o escrito nos evangelhos, atribuídos as palavras da boca de Jesus.


Ressalto com historiador, que a ideia do banquete sagrado é tão antiga quanto a raça humana, existindo em todas as eras e entre todos os povos.

-Havia uma complexa cerimônia de iniciação, com sete estágios que o candidato deveria cumprir, em uma série de provas, antes de ser aceito como adepto, para assim, poder participar dos rituais. Neste, haviam o batismo e uma refeição sagrada, onde era servido pão e água ou vinho, entre incensos e cânticos sacros, geralmente aos domingos.

-A maior concentração de templos e seguidores do mitraísmo em Roma, era na cidade de Ostia. Isso mesmo, não errei minha digitação ou seja, não é “hóstia”.
- Após suas mortes, coincidentemente, os corpos de Mitra e Cristo foram depositados em tumbas de pedra, ambos desaparecendo do local e tendo ao fim de três dias, ressuscitados, para ascensão aos céus, de onde só retornariam no final dos tempos, para o julgamento dos vivos e dos mortos. Quase esqueci: a ressurreição de Mitra,era celebrada na Páscoa.


-Mitraítas desenhavam a cruz em círculo, simbolizando o sol. Cada canto da cruz, representava os quatro períodos do ano solar, dois dos pontos, o dia e a noite e os restantes, o movimento do astro rei. No cristianismo, a cruz tornou-se um ícone do sofrimento e de resistência, embora mantendo o símbolo do sol, ainda.


-Com a oficialização do cristianismo no Império Romano, os chefes cristãos ocuparam os cargos públicos, dos sacerdotes pagãos. O Papa cristão virou Pontíficie e as vestes sacerdotais, eram cópias das que usavam os Magos do culto Mitráico. Claro exemplo, o uso da “mitra” e da “casula”.

Encerro mais um dos meus textos, observando aos leitores que, a reconfortante imagem do arquétipo “Mãe” é primordial a existência humana, podendo assumir várias formas, como deusas, uma mãe gentil, avó ou uma igreja. A associação dessas imagens, geram a solicitude e simpatia maternas, o crescimento, a nutrição e a fertilidade.Ciente do espaço da coluna e da quantidade disponível de informações, para quem queira pesquisar mais sobre o assunto, confirmo ter alcançado meu objetivo, que é o de ter apresentado curiosas verdades sobre as semelhanças entre as duas principais religiões da Antiguidade, lembrando a existência histórica de mais um Messias esquecido e poder considerar sobre como, a violenta, opressiva, politizada e manipuladora dominação cristã, colaborou em apagar a memória, identidade e a religiosidade dos povos, subjugados por seus cruzados, inquisidores e evangelistas – defendendo e provando, como sempre faço, mais uma vez, que a História, mesmo renegada, jamais perdeu seus registros. Próxima edição: Antigos Guerreiros Samurais. Aventurem-se, insones da boa cultura!


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