Autenticidade de Uma Obra: Como definir

 
Uma discussão sempre presente nas diversas teorias de restauro é a definição de autenticidade de um monumento. São exemplos típicos as críticas a Viollet-le-Duc, acusado de produzir obras não autênticas e, conseqüentemente, de criar o conceito de "Falso Histórico".
Em todo o caso, as reflexões atualmente produzidas parecem consolidar o princípio de que a preservação do patrimônio histórico em uma escala geral baseia-se no reconhecimento cultural. Porém, este direcionamento é insuficiente para dotar de substância metodológica o que se designa autenticidade.

A palavra "Autenticidade" surge no preâmbulo da Carta de Veneza, ao abordar o dever que representa para humanidade a transmissão, às gerações vindouras de obras monumentais. Obras comprovadamente genuínas, legítimas do ponto de vista histórico e arquitetônico.
Convém remontar às raízes etimológicas para perceber que o substantivo "Autentica", termo grego de onde provém "autenticidade"; significa aquele que faz coisa por sua própria mão, aquele que mata outro ou a si próprio se mata ou aquele que detém autoridade.
É neste último conceito que, por via latina, a questão da autoria, a palavra "autenticidade" chega à cultura ocidental, originando então o binômio de discussão entre o verdadeiro e o falso.

A autenticidade trata da aplicação de critérios, preliminarmente incertos imprecisos e passíveis de questionamento, acerca do fundamento de uma identidade. Esse conceito constitui, portanto, um elemento fundamental que é intrínseco do valor próprio do patrimônio.


Conceitos de autenticidade

Na realidade, não existe apenas um único conceito de autenticidade, mas, vários tipos de autenticidades. Por exemplo, existe autenticidade dos materiais, da estética, histórica, dos processos construtivos, do espaço envolvente, etc... Todos, simultaneamente, servem como suporte a qualquer ação de conservação, avaliando-se caso - a - caso a importância relativa que cada um deve assumir.

Por autenticidade dos materiais subentende-se o respeito e a manutenção dos materiais originais, sendo em geral aceito que um edifício patrimonial e os seus materiais constituintes formem um todo que deve ser respeitado.  Qualquer remoção ou alteração desses materiais constitui numa inevitável perda de valor artístico e histórico do conjunto.

No caso onde há necessidade de substituição das partes faltantes ou degradadas, estes elementos devem integrar-se harmoniosamente no conjunto e, simultaneamente, serem distinguíveis do original por forma a que o restauro não falsifique a obra.

A autenticidade estética de um edifício está relacionada com a preservação das idéias originais de sua concepção inicial e as alterações e eventualmente tenham sido introduzidas ao longo dos tempos. É importante frisar que não é a unidade de estilo o que se busca nas ações de conservação, mas o respeito pelas contribuições de toda as épocas patentes num dada construção.

Por autenticidade histórica compreende-se a manutenção dos valores históricos associados aos edifícios em estudo, sendo vedadas quaisquer intervenções capazes de alterar ou falsificar tais evidencias.

A autenticidade dos processos construtivos diz respeito à preservação de todas as evidências num edifício relativas a forma como foi construído, especificamente no que se refere às tecnologias utilizadas e as particularidades da sua execução. Esses valores aparecem intimamente ligados à autenticidade dos materiais.

A autenticidade do espaço envolvente tem a ver com a relação entre o edifício e o local em que se encontra implantado. Um edifício histórico não deve ser encarado isoladamente, mas antes inserido no seu contexto natural, rural ou urbano num conjunto que deve ser preservado. As situações em que as preocupações de conservação incidam apenas sobre uma das vertentes daquele conjunto podem originar, no limite, a completa descaracterização do que se pretendia conservar.


A relação da autenticidade ao patrimônio

Na reabilitação do patrimônio histórico é importante adequar as condicionantes com os determinantes históricos e sociais. As atuações dos projetos de intervenção deverão basear-se na legitimidade cultural de defender ativamente os valores que constituem a memória das comunidades.

A defesa do Patrimônio edificado implica num somatório de esforços para responder às exigências cada vez maiores do desenvolvimento moderno, sempre com o objetivo de equipar os valores existentes sem os desfigurar. Em suma, é mister preparar o futuro sem destruir o passado, integrando as repercussões das atividades no tecido social da cidade.

Os documentos teóricos tais como cartas patrimoniais produzidas ao longo dos anos, adotadas internacionalmente indicam posturas e enquadramentos para se trabalhar da forma mais consciente possível e com responsabilidade nas obras de restauração.  Assim sendo, o projeto deve respeitar a autenticidade da obra, baseado nas convenções internacionais. 

Em suma, foi comentado neste artigo o caminho que teoria da restauração indica para o leitor que busca compreender o âmago da questão relativa à autenticidade. È necessário reconhecer a liberdade criadora constatada em todos os monumentos que constituem o patrimônio da humanidade. A importância dessas obras se evidencia pelo seu valor histórico, artístico e arquitetônico pois elas são capazes de identificar e agregar uma determinada coletividade.


Jornalista Teresa Cristina M. de Oliveira

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