Programa Cultural


 Por Ricardo Kimaid

Uma boa dica para aqueles que gostam de fazer um bom programa cultural, é visitar Tiradentes, pequeno município situado nas cercanias de São João Del Rei, a pouco mais que 300 km do Rio de Janeiro ou Belo Horizonte. Um lugarzinho aprazível que preserva a arquitetura urbana desde a sua fundação, sob competente e rigorosa fiscalização do IPHAN. Com uma população em torno de 3.500 moradores, Tiradentes fica pequena para alojar os visitantes por ocasião dos festivais que lá são promovidos, sendo que alguns fazem parte do calendário nacional e se tornaram tradicionais, como o do Cinema e Gourmet, por exemplo. Não vou me alongar dando dicas interessantes, nem descrevendo os encantos do local, por serem tantos que não caberiam no meu espaço, mas afianço que será uma agradável surpresa para quem gosta desse tipo de programa.

 Minha última visita a Tiradentes, em janeiro passado, juntou, como se diz na gíria, "fome com  vontade de comer". Fui convidado para a inauguração do Instituto Mário Mendonça, idealizado e fundado pelo artista plástico que leva seu nome, sonho antigo que se tornou realidade. O artista, grande amigo de longa data, o qual tive oportunidade de representá-lo no mercado de artes, não somente pela amizade, mas principalmente pela qualidade de seu trabalho nas artes plásticas, conseguiu me surpreender pelo feito, fruto de muito desprendimento, tempo, dedicação e perseverança. O Instituto, um sítio espetado no Centro Histórico de Tiradentes, tem uma acanhada fachada, homogênea às demais vizinhas, no mais tradicional estilo colonial e barroco mineiro, aliás uma tendência predominante nas construções locais.

Ao entrar pela sede principal do IMM, o clima do ambiente nos remetem para aquele Brasil do século 18: casas com pé direito elevado, com eiras e beiras, pilares de pedras brutas nas bases sustentando paredes, ora de pau-a-pique, ou tijolos de barro artesanais, telhado colonial e piso em tábuas largas sobre amplos porões; conjuntos que configuram o habitat da época. Seus cômodos foram transformados em galerias expondo coleção de obras de arte de importantes artistas brasileiros e internacionais.

Saindo pelos fundos desse prédio, deparamos com um imenso jardim em planos, com diversos prédios harmoniosamente distribuídos: uma bela capela (Mário é católico fervoroso), um pequeno Paço, museu, galerias, biblioteca e, por fim, a casa de Mário e as demais de hóspedes, tudo obedecendo o mesmo estilo de época. Compondo o cenário, foi inaugurado simultaneamente uma mostra de esculturas de Ricardo Carvão; belíssimas peças que, entremeadas aos prédios, adornavam o ambiente com a altivez que o evento merecia.

Hoje, o Instituto Mario Mendonça faz parte do roteiro turístico e cultural de Tiradentes. Vale a pena conhecer, não somente pelos atrativos desse lugarejo, mas principalmente para conhecer a obra desse grande artista e sua trajetória no mundo das artes, onde permanente retrospectiva ilustra sua carreira artística, obra essa que o elevou a fazer parte do acervo do Museu do Vaticano com uma de suas telas, entre as inúmeras obras que figuram em coleções particulares e acervos de museus e centros culturais, no Brasil e no exterior. Os católicos praticantes, certamente conhecem as suas Vias Sacras que habitam nas importantes igrejas e catedrais do Rio de Janeiro.
  
A grandeza daqueles que se preocupam em preservar algum patrimônio histórico está intimamente ligada à sua formação cultural. Apesar de Mário ser um artista moderno, valoriza a cultura e suas raízes, porque, para ele, mais importante do que ser moderno é se tornar eterno. Honra a que se faça a todos que cultivarem essa prática, e particularmente a você, Mario Mendonça. Parabéns pelo grande feito!

rkimaid@uol.com.br / rembrandt.com.br

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