A Pedra do Dragão de Lucerna

O Museu Histórico de Lucerna possui, em seu acervo, um objeto no mínimo curioso: uma pedra proveniente de uma cabeça de dragão que possui virtudes medicinais.
Pedra de dragão de Lucerna. Diâmetro: 6 cm
A região de Monte Pilatos nas cercanias de Lucerna, na Suíça, é rica em fábulas e lendas. Conta-se que o espírito do procurador romano Pôncio Pilatos está encantado num pequeno lago no maciço montanhoso; outras narrações falam de monstros como os dragões e serpentes alados. O nome mais antigo de Monte Pilatos, Fränckmünt, quer dizer Fractum montem, devido a sua forma pedregosa. Nas cavernas, que o povo todavia chama de abrigo de dragões, se encontram, de vez em quando, esqueletos ou fósseis de animais gigantes desaparecidos cujos restos, na imaginação do povo, não podiam ser senão ossos de dragões.
A história da pedra do dragão de Lucerna, pedra fabulosa que diziam existir na cabeça de dragões, nos dá uma visão do que foi a medicina popular nos séculos anteriores. João Leopoldo Cysat (1601-1663), escreveu extensamente sobre estas famosas pedras de dragão em sua obra Beschreiburg dess berühmbten Lucerner – oder 4 – Wadstättersees (Descrição do célebre lago de Lucerna ou dos Quatro Cantões).
O cirurgião e escrivão Martin Schryber (1476-1531), de Lucerna, tinha um devedor que não podia saldar sua dívida em Rothenburg, o camponês Rudolf Stempflin, dono da valiosíssima pedra. Stempflin contou ao cirurgião Schryber que um dia um dragão expelindo chamas havia levantado voo do Rigi em direção ao Monte Pilatos, e que o dragão quase o havia roçado ao passar. O camponês desmaiou um instante, e quando recobrou os sentidos, descobriu a pedra de dragão no solo, num coágulo de sangue. As virtudes medicinais da pedra esférica no caso de hemorragias ou de envenenamento eram extraordinárias, pos isso Stempflin sempre negou-se a vendê-la, mesmo ao preço mais elevado. Contudo, o camponês continuava a dever para Martin como antes. Até que, por fim, o tribunal decidiu atribuir a pedra de dragão ao cirurgião, como forma de pagamento.
Em 1519, ano da peste, a pedra do dragão, chamada também de “bola da peste”, desenvolveu seu maravilhoso poder a tal ponto que Martin resolveu certificar-se da eficácia de sua pedra por uma comissão da cidade de Lucerna. Com o passar dos anos, a pedra rendeu muito ao astuto cirurgião.
Com o passar do tempo, médicos e cientistas voltaram sua atenção para a pedra de dragão. Félix Platter, amigo de Renward Cysat, avô de João Leopoldo, pôs em dúvida as virtudes terapêuticas da “bola da peste”. João Jacob Scheuchzer (1672-1733), de sua parte, a considerava “uma estranha e preciosa maravilha da natureza”. No mapa da Suíça, estabelecido por Scheuchzer em 1712, a pedra do dragão de Lucerna figura entre as maiores curiosidades deste país. O eminente médico e naturalista Moritz Anton Kappeler (1685-1768) zombava das fabulosas propriedades da pedra e da sua fantástica história. No século XIX certos cientistas diziam que a famosa pedra não era outra coisa senão um meteorito colorido artificialmente. Em 1860, por fim, Augusto Feierabend, de Lucerna, conseguiu provar, graças a ser peso específico, que se tratava de argila cozida. Mas como a pedra de dragão não deve sofrer o menor dano, dificilmente poderemos nos certificar da veracidade desta hipótese. A superfície, em todo o caso, é artificial. A pedra do dragão cumpriu sua missão de remédio milagroso. Hoje, está emprestada ao Museu da Farmácia, em Basiléia, onde está exposta.

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