Pedra de dragão de Lucerna. Diâmetro: 6 cm |
A história da pedra do dragão de Lucerna, pedra fabulosa que diziam existir na cabeça de dragões, nos dá uma visão do que foi a medicina popular nos séculos anteriores. João Leopoldo Cysat (1601-1663), escreveu extensamente sobre estas famosas pedras de dragão em sua obra Beschreiburg dess berühmbten Lucerner – oder 4 – Wadstättersees (Descrição do célebre lago de Lucerna ou dos Quatro Cantões).
O cirurgião e escrivão Martin Schryber (1476-1531), de Lucerna, tinha um devedor que não podia saldar sua dívida em Rothenburg, o camponês Rudolf Stempflin, dono da valiosíssima pedra. Stempflin contou ao cirurgião Schryber que um dia um dragão expelindo chamas havia levantado voo do Rigi em direção ao Monte Pilatos, e que o dragão quase o havia roçado ao passar. O camponês desmaiou um instante, e quando recobrou os sentidos, descobriu a pedra de dragão no solo, num coágulo de sangue. As virtudes medicinais da pedra esférica no caso de hemorragias ou de envenenamento eram extraordinárias, pos isso Stempflin sempre negou-se a vendê-la, mesmo ao preço mais elevado. Contudo, o camponês continuava a dever para Martin como antes. Até que, por fim, o tribunal decidiu atribuir a pedra de dragão ao cirurgião, como forma de pagamento.
Em 1519, ano da peste, a pedra do dragão, chamada também de “bola da peste”, desenvolveu seu maravilhoso poder a tal ponto que Martin resolveu certificar-se da eficácia de sua pedra por uma comissão da cidade de Lucerna. Com o passar dos anos, a pedra rendeu muito ao astuto cirurgião.
Com o passar do tempo, médicos e cientistas voltaram sua atenção para a pedra de dragão. Félix Platter, amigo de Renward Cysat, avô de João Leopoldo, pôs em dúvida as virtudes terapêuticas da “bola da peste”. João Jacob Scheuchzer (1672-1733), de sua parte, a considerava “uma estranha e preciosa maravilha da natureza”. No mapa da Suíça, estabelecido por Scheuchzer em 1712, a pedra do dragão de Lucerna figura entre as maiores curiosidades deste país. O eminente médico e naturalista Moritz Anton Kappeler (1685-1768) zombava das fabulosas propriedades da pedra e da sua fantástica história. No século XIX certos cientistas diziam que a famosa pedra não era outra coisa senão um meteorito colorido artificialmente. Em 1860, por fim, Augusto Feierabend, de Lucerna, conseguiu provar, graças a ser peso específico, que se tratava de argila cozida. Mas como a pedra de dragão não deve sofrer o menor dano, dificilmente poderemos nos certificar da veracidade desta hipótese. A superfície, em todo o caso, é artificial. A pedra do dragão cumpriu sua missão de remédio milagroso. Hoje, está emprestada ao Museu da Farmácia, em Basiléia, onde está exposta.
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