Mosaico

Liberdade de saber
Quando já temos tudo de que aparentemente necessitamos, um outro desejo nos assola, um outro objeto de amor; e a ele nos dirigimos não movidos por necessidades práticas, mas simplesmente pela admiração, um estado de ânimo que abre a nossa mente para investigar não aquilo de que precisamos, mas aquilo que admiramos e diante do que nos colocamos como que perplexos e tomados por um sentimento de ignorância infinitamente maior do que tudo que já sabemos. Trata-se de um espanto proveniente de que sentimos que tudo que sabemos é nada frente ao que há para saber. A ignorância filosófica é, portanto, o fundamento da liberdade de saber; pois se trata de um conhecimento que procuramos movidos pela admiração, que é algo como uma espontaneidade gratuita quando comparado à necessidade, à urgência de saber aquilo de que precisamos para viver. Quando submetidos à necessidade, somos menos que homens, somos escravos; quando movidos pela admiração, quase superamos a condição humana, pois nos colocamos na via de um saber divino: mesmo que não o alcancemos, nossa dignidade está em buscá-lo.
Fonte: Revista Cult.

Erro Gráfico
Terror de revisores e escritores, vacilos de impressão comprometem o entendimento e foram responsáveis por episódios constrangedores ao longo da história. Esse tipo de incidente é tão antigo que Goethe (1739-1832) chegou ao requinte de dar estatuto estético e lingüístico às falhas de composição: - Cada vez que vejo um erro tipográfico, penso que algo novo foi inventado - decretou o autor de Fausto.
Hoje, com os programas de correção ortográfica e a profissionalização de revisores vigilantes, problemas do gênero passaram a ocupar margem de erro bem menor que a do passado.Está para ser inventado, no entanto, avanço tecnológico que evite o erro involuntário e acidental. Mesmo páginas revistas várias vezes deixam escapar mazelas. É pouco provável que softwares evitassem hoje o deslize da livraria Garnier com a segunda edição de Poesias Completas, de Machado de Assis, em 1902. Naqueles tempos, as obras da editora eram impressas na França. Na página VI do prefácio, o tipógrafo francês teve a infelicidade cósmica de trocar a letra “e” por um “a” do verbo "cegar" do trecho "a tal extremo que lhe cegara o juízo..." Assim, no mais-que-perfeito do indicativo, o resultado foi uma cegada. Com a inicial “a”, é claro.
Fonte: Revista Língua Portuguesa.

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