Liberdade ou libertinagem?

Ricardo Kimaid
rkimaid@uol.com.br


O fato gerador da polêmica criada entre as OABs do Rio e São Paulo, tendo como escopo "liberdade de expressão", está chamando mais atenção por sua discussão, do que o fato que originou essa polêmica, por ocasião da abertura da 29ª. Bienal em São Paulo. Concordo com a OAB de São Paulo, que se deva estabelecer parâmetros toleráveis, quando o ultraje aos direitos e respeito ao próximo forem tão acintosos.
Há muito que as Bienais não despertam mais interesse aos que deveriam ser seu público alvo; amantes e apreciadores da arte e da cultura. Essa 29ª. Bienal é mais um quadro triste de nossa contemporaneidade. E, como na anterior, a pichação está se tornando um meio de manifestação crescente da indignação dos poucos presentes, que insistem em vislumbrar algo que se aproveite nesse painel insólito promovidos por elas.
Prova disso foi a manifestação liderada por Ivald Granato que quase motivou o adiamento de sua inauguração, quando reuniu centenas de artistas colocando suas obras na calçada, em frente ao prédio. Talvez, por conta disso, esse fato se torne mais representativo do que a própria Bienal possa almejar.
Exposição com cativeiro de urubus, ou a com execução sumária de personagens politicamente famosas, entre outras bizarrices, dá o tom do que se pode esperar dessa Bienal, e deixar muito claro que a mesma tornou-se um veículo patrocinador de cartas marcadas, e de interesses escusos. Muito recentemente o secretário municipal de cultura de São Paulo decretara que a Fundação Bienal estava morta, o que aconteceria se não fosse o Ministério da Cultura e o Governo de São Paulo em ano eleitoral, de onde sairam esses R$ 30 milhões que foram arrecadados e gastos na sua organização. Que dinheiro mal gasto, sem retorno nenhum, nem financeiro, nem cultural.
Que espécie de público pode-se esperar atingir, senão um grupinho pertencente a uma confraria de séquitos lunáticos? O que esperam acrescentar ou contribuir culturalmente para as gerações que estão em formação, apresentando esses tipos de mixórdias?
Posso assegurar que, em quase toda sua totalidade, as pessoas que conheço, que lidam com arte, apreciam e colecionam arte, profissionais das artes plásticas entre outros, não mais frequentam, como sequer tomam conhecimento das Bienais, não só daqui como as existentes mundo afora.
A decadência verificada em suas últimas edições, prende-se ao fato de que, seguidas e questionáveis mostras, não condizem mais com os preceitos fundamentais da instituição Bienal.
A desmensurada tentativa de inovar ou trazer novas perspectivas de mercado, atropelou todos os critérios, críticos e analíticos, destruindo os conceitos que outrora qualificavam as Bienais como um evento formador de opinião, um referencial qualitativo no currículo dos artistas participantes e um brinde ao público apreciador.
Hoje, são eventos de inventivas vazias de corpo, alma e estética, cujo desfecho é previsível, não visíveis somente aos olhos dos seus protagonizadores, que teimam em não querer enxergar essa triste realidade.

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