Hercule Florence

É incontestável a importância de Hercules Florence para a fotografia, ele foi o primeiro homem, em todo o mundo, a fazer uso corrente da palavra até então totalmente desconhecida: fotografia. Em 15 de agosto de 1832, Florence vislumbrou pela primeira vez a possibilidade de fazer uma foto. Nessa ocasião ele percebeu que o sol descolore certos objetos. A partir dessa observação ele desenvolveu seu processo de capturar imagens utilizando uma câmara escura e em 1833, obteve as primeiras imagens: Rótulos de Farmácia e Diplomas da maçonaria.
Antoine Hercule Romuald Florence (Nice, 29 de fevereiro de 1804 - Campinas, 27 de março de 1879), mais conhecido como Hercule Florence, foi um inventor, desenhista, polígrafo e pioneiro da fotografia franco-brasileiro. Graças ao trabalho incansável e obstinado do jornalista e professor Boris Kassoy, seu nome passou a disputar a paternidade da fotografia. Kassoy realizou, entre 1972 a 1976, uma das mais ardorosas pesquisas e reconstituições de métodos, técnicas e processos já realizadas no Brasil para levar uma pessoa do anonimato ao pódio da história: Hércules Florence, como ficou internacionalmente conhecido a partir da publicação do livro de Kassoy: "1833: a Descoberta Isolada da Fotografia no Brasil" (editora Duas Cidades, 1980). A verdadeira história da fotografia no Brasil começaria, portanto, em 1832, quando Hercule Florence, realiza as primeiras imagens fotográficas no país. Ele sempre demonstrou grande interesse não só pela imagem, mas também pelo som, tendo publicado um trabalho, Zoophonie, após passar quatro anos estudando sons de animais na selva amazônica. Mas foi na fotografia, sua grande paixão, que Hercule Florence passou a ser considerado pioneiro, ao lado de Niepce, Daguerre, Talbot, Steinheil e Bayard.
Desde pequeno Hércules Florence demonstrou possuir notável talento para o desenho. Ao ler Robson Crusoé, de Daniel Defoe, apaixonou-se pela vida no mar. Em 1820, com apenas 16 anos, tornou-se grumete e conheceu diversos países da Europa. Em 1824 chegou ao Brasil a bordo da fragata Maria Thereza, aportando no Rio de Janeiro. Quando a fragata levantou âncora, um mês depois, seguiu seu destino sem o jovem Florence, que se fixaria no Brasil por toda a vida. Obteve emprego como caixeiro numa casa de roupas, logo se transferindo para o estabelecimento de outro francês, Pierre Plancher, proprietário de uma livraria e uma tipografia.

Expedição Langsdorff
Um ano depois Florence ficou fascinado com a perspectiva de realizar uma viagem pelo interior do Brasil. Sua grande aventura teve início quando foi informado de que um naturalista alemão, o Barão Georg Heinrich von Langsdorff, pretendia empreender uma expedição científica por várias províncias do país, incluindo a Amazônia, e necessitava de um desenhista. Florence conseguiu ser admitido no cargo pelo seu talento artístico e pelos seus conhecimentos de cartografia. Juntamente com Aimé Adrien Taunay completou a dupla de desenhistas incumbida de realizar a documentação iconográfica ao logo do extenso trajeto da expedição. Deve-se a Florence o relato completo dessa aventura, percorrida ao longo de 13.000 quilômetros entre os anos de 1825 a 1829, assim como a maior parte da documentação iconográfica. Nela se percebe sua preocupação em registrar com rigor científico a natureza e os índios das regiões visitadas. Essa coleção de imagens é de valor inestimável para os estudos antropológicos e etnográficos, conforme é atestado por cientistas brasileiros e estrangeiros.
Após seu retorno da expedição, contraiu núpcias com Maria Angélica A. M. Vasconcelos, filha de importante político paulista, fixando residência na pacata vila de São Carlos (Campinas).

Poligrafia e Fotografia
Na Província de São Paulo, Hercule Florence decidiu então criar seu próprio método de impressão, a Poligraphie, e em 1832, já se encontrava estabelecido comercialmente oferecendo ao público seus escritos e desenhos, além de manter, ao mesmo tempo, uma loja de tecidos. Observando o descolorimento que sofriam os tecidos de indianas expostos à luz do sol e informado pelo jovem boticário (e futuro botânico de nomeada) Joaquim Correia de Melo das propriedades do nitrato de prata, deu início às suas investigações sobre fotografia. Suas primeiras experiências com a câmera obscura datam de janeiro de 1833 e encontram-se registradas no manuscrito Livre d'Annotations et de Premier Matériaux. Mais de 150 anos depois, o exame detalhado desse manuscrito por Boris Kossoy levou-o a comprovar o emprego pioneiro de Florence da palavra "photographie", pelo menos cinco anos antes que o vocábulo fosse utilizado pela primeira vez na Europa.
Florence foi ainda pioneiro da imprensa em Campinas ao fundar, em 1836, O Paulista, primeiro jornal do interior da Província de São Paulo. A proliferação em Campinas de bilhetes falsos de banco induziu-o a inventar um novo método de impressão para evitar falsificações, sobre o que publicou um folheto de 14 páginas. Em 1843 a Academia de Ciências e Artes de Turim declarou que o seu invento tinha algo de novo, com propriedades contrabalançadas com defeitos, mas que merecia a proteção do Governo de Sardenha. Em 1847, Florence descreveu o emprego dos "Typo-sílabas", ideia precursora da taquigrafia. Florence enviuvou em 17 de janeiro de 1850, mas quatro anos depois casou-se novamente, desta vez com Carolina Krug, de origem alemã, com a qual teve sete filhos. O casamento ocorreu em 4 de janeiro de 1854. Florence já contava então 50 anos. Em 1860 inventou a "pulvografia", a impressão por meio do pó. Em 1877 foi eleito membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. No fim da sua vida, dedicava-se à agricultura.

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