As Vanguardas Artísticas

Por Paula Regina Buonaducci Molina (Mestre em História da Arte - ECA/USP)

Expressionismo, Cubismo, Futurismo, Dadaísmo e Surrealismo
Max Beckmann - “Carnaval” (1920), ost 1862 x 918 cm. Tate Gallery, Londres
Da agitação do começo do século XX, temos o aparecimento das vanguardas artísticas, entre eles o expressionismo, que tinha como idéia a dissolução da forma convencional, o uso abstrato da cor, a emoção vigorosa, a psique do desconhecido, o uso dos símbolos e o enaltecimento da alma humana. O expressionismo tenta refletir um mundo interior de significado, logo o desespero e a neurose de um povo derrotado, transfigurado em uma ideia de reforma social.
Berlim era o símbolo da Alemanha, colidindo em todos os cantos da cidade com teatros, cinemas, cabarés, desempregados, miséria, tumulto, prazeres. Esta é a essência do expressionismo, recoberto de pessimismo e revolta, transforma-se em um movimento indefinível, ao qual aspiravam por uma nova realidade e um mundo pacífico.
O vocábulo Expressionismo é uma criação da estética alemã, vinculada a Revista Der Sturm (A Tempestade). Os precursores deste movimento apareceram no século XIX, sendo Van Gogh, Ensor e Munch, mas o movimento acabou firmando-se com dois grupos, Die Brücke (A Ponte), de Dresden, em 1905 e o Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul), de Munique, em 1909. Os representantes do primeiro grupo possuíam uma inquietude e uma sensibilidade por vezes doentia ou até mesmo mórbida, atormentados por problemas religiosos, sexuais, políticos, sociais e morais, firmavam-se principalmente por sua agressividade e politização. Este grupo era bastante diferente dos "cavaleiros azuis" que tinham uma visão espiritualizada do universo, com manifestações especialmente por meio da cor.
O grupo "A Ponte" manifestava grande entusiasmo pela escultura tribal africana e oceânica, xilogravuras medievais e desenhos de crianças, observando um imediatismo e dinamismo superiores ao observado pela academia contemporânea européia. O grupo "O Cavaleiro Azul" anunciava a amplitude do seu gosto estético ao publicar um Almanaque "Der Blaue Reiter", de 1912, com aproximadamente 150 ilustrações.
O expressionismo cinematográfico possuiu a sua própria estética marcada pela atmosfera política e crise social. O cinema foi um dos meios utilizados para levar a massa à conscientização da situação alemã, a uma atitude frente ao problema que era a revolução. Esta arte chamou-se agit-prop, na qual o teatro proletário teve grande importância apesar das intervenções da polícia nas representações, onde os operários acabam por proteger os atores.
Bela Balazs, em sua reflexão sobre o cinema alemão, a miséria é mostrada com crueldade, e destas formas apareceram os irracionalistas, que encontravam-se no expressionismo, sob a forma de uma revolta sentimental, humanista e pacifista, havendo uma ligação com o movimento operário. Por causa dessas várias correntes, apareceram seitas, algumas de extrema-direita que exaltavam o heroísmo, a partir disto começa a nascer o nazismo.
Com o nascimento do nazismo, os expressionistas passam a ser perseguidos, sendo muitos mortos e outros exilados, pois os nazistas acreditavam que o expressionismo era o sintoma do desmoronamento cultural, o reflexo da anarquia política.
Os nazistas acabam com o expressionismo criando a arte nazi que será a arte eterna do povo alemão, com temas campestres e medievais, refletindo um novo conteúdo político. A arte nazi será conhecida por exaltar o imperialismo, o nacionalismo, o pangermanismo, o culto a violência e força, e o racismo.
Kracauer acreditava que os filmes alemães "revelavam o que ocorria em camadas quase inacessíveis da mente humana", tendo por base esta ideia é possível fazer um resgate histórico-social, por meio desta produção artística.
O homem em sua individualidade concreta forjada por esta sociabilidade histórica refletiu a sua angústia e os seus problemas sociais no cinema expressionista.
A arte expressionista possui a consciência do declínio e da morte, associada paralelamente ao desespero mais profundo, ao cinismo, ao utopismo mais absurdo, sendo isto refletido nas obras de arte.
Existem diversas formas de se ver o Expressionismo, como é o caso da manifestação da crise com pólos distintos que são a subjetividade doentia e a intensa participação social. Mas, em todos os casos, o expressionismo foi um "movimento de muita dinamicidade, a ponto de, ao liberar energias de forma tão febril, criar uma impressão inicial de caos absoluto. O expressionismo nada mais é que uma prospecção de estados fronteiriços e posições extremas, que frequentemente implicam crises de indecisão e gestos hiperbólicos dirigidos simultaneamente em direções contrárias", afirma Roger Cardinal.
Os expressionistas trabalham com o êxtase, sendo que este está muitas vezes intrinsecamente ligado à agonia, isto porque a oposição e contrastes são frequentes, como a felicidade e a tristeza, a harmonia e o tumulto, estes elementos são responsáveis pela criatividade, buscando obcecados argumentos na vida urbana e campestre. No entanto, o valor principal para um expressionista é a individualidade, apesar de demonstrarem um grande entusiasmo pela ação coletiva. A verdade é que eles vivem pelas sensações, constituindo-se pelas experiências.
Para Argan "o expressionista nasce não em oposição às correntes modernistas, mas no interior delas, como superação de seu ecletismo, como discriminação entre os impulsos autenticamente progressistas, por vezes subversivos, e a retórica progressista, como concentração da pesquisa sobre o problema específico da razão de ser e da função da arte. Pretende-se passar do cosmopolitismo modernista para um internacionalismo mais concreto, não mais fundado na utopia do progresso universal (já renegada pelo socialismo científico), e sim na superação dialética das contradições históricas, começando naturalmente pelas tradições nacionais".
A obra expressionista, antes de qualquer coisa é uma obra que possui um fator de expressão dramático e visível, presentes nas verdadeiras fontes do sentimento que são os impulsos emocionais e instintivos do homem. Entre as várias afirmações, podemos citar algumas como, por exemplo:
Emoções são às vezes tão fortes, que se pode trabalhar sem sentir que está trabalhando. (Van Gogh)
Eu sempre escrevi meus trabalhos com todo meu corpo e minha vida, não sei o que querem dizer com problemas intelectuais. (Nietzsche)
Os efeitos de minha arte sobre as pessoas simples eram sempre muito gratificantes; mesmo os quadros mais complexos e profundos pouco a pouco lhes eram parecendo evidentes. (Emil Nolde)
Meu objetivo é sempre capturar a magia de realidade e transferir para a pintura - tornar o invisível visível por meio da realidade. Pode parecer paradoxal, mas na verdade o que forma o mistério de nossa existência é a realidade. (Max Beckman)
O expressionismo é apaixonado, movido por um impulso criativo originário de uma verdade individual, pois acredita que a subjetividade é a prova do real. Logo, o seu ponto de partida é a própria existência, mas nem sempre essa verdade com o eu é agradável, gerando um tumulto com o mundo que o cerca. Justamente pelo movimento expressionista ser uma explosão psíquica, acaba por deixar traços no mundo externo.
A arte para o expressionista possui uma expressão intensa, fazendo com que o artista exiba toda a sua vulnerabilidade, por isso o aparecimento do fantástico e do idealístico na obra expressionista.
O expressionista tem grande relação com o horror, em que a guerra teve um papel fundamental, baseado na estética do sentimento espontâneo, temos o fenômeno internacional transcendendo na sensibilidade individual. Toda esta ideologia expressionista de emancipação dos fatos possui como base à essência dos sentimentos subjetivos radicados na pureza natural, assim sendo de aspectos incontestáveis.
Mas é no pós-guerra que o mito da sensibilidade individual começa a se desfazer para uma renovação coletiva, havendo uma evolução no conceito de que "a expressão seria um impulso psíquico espontâneo para um modelo de significado universal irrestrito".
O grande denominador de um expressionista é a fidelidade instintiva a uma certeza interna, associada a uma necessidade de expressão desta certeza. Para o expressionista vale a pena lutar pelo sentimento individual e o instinto de ultrapassar as aparências.

Cubismo

"Les Demoiselles d'Avignon" (1906) de Picasso pode ser considerada como o protótipo do cubismo

Para chegarmos ao cubismo alguns aspectos foram anteriormente discutidos, tais como a característica do impressionista em apenas se preocupar com o visual e não o intelectual. Outra particularidade foi a questão da realidade com Seurat, que visava o absoluto entendimento sobre a pintura, em seguida o aspecto da forma, que esteve presente desde a iniciativa de Cézanne de se distanciar dos impressionistas e assim chegar à definição de uma pintura.
Para Micheli "o esforço de Cézanne de reproduzir a forma plástica das coisas a fim de dar uma ideia de seu peso e substância levava-o inexoravelmente a olhar os objetos já não de um único, mas de vários pontos de vista. Só assim ele conseguia apreender melhor os planos e os volumes".
As influências de Cézanne logo foram vistas por Picasso, Braque e Léger. A obra "Les Demoiselles d'Avignon" (1906) de Picasso pode ser considerada como o protótipo do cubismo. "L'Estaque" (1907) na seqüência, foi a obra de Braque.
Questionamentos sobre a tradição da arte ocidental, interesse pela arte não-ocidental, busca pela geometria e ciência foram as condições primeiras do caminho percorrido pelos cubistas, grupo surgido por volta de 1905, tendo como líderes Picasso e Braque.
O caráter revolucionário do movimento vinha dos escritores como Apollinaire e André Salmon, com poesias e críticas fervorosas sobre as ideias simbolistas, enquanto os artistas Metzinger e Gleizes procuravam explicar teoricamente a nova pintura. As discussões tinham como ponto de partida o trabalho intelectual de Picasso e Braque com a preocupação passada por ambos no aspecto da representação de suas obras. Para Argan "Picasso representa a força de ruptura e Braque o rigor do método".
No decorrer dos trabalhos de Braque e Picasso, ambos buscavam criar uma observação da realidade, o pictórico tornou-se plástico nas telas, os espaços tiveram uma preocupação com o cartesiano e a objetividade tornou-se mais profunda e rigorosa.
O cubismo foi marcado por duas fases: a primeira foi chamada de cubismo analítico que preocupou-se com a profundidade, com planos volumétricos, simples e largos, assim apareceram novos conceitos de espaço e forma; a segunda fase foi o cubismo sintético em que a imagem teve liberdade de perspectiva na sua reconstituição, o importante estava nas partes do objeto, partindo da abstração para a representação.
A arte cubista era uma arte de fazer experiências, observamos isto com o papier-collé, quadro-objeto, o sintético e o analítico, as teorias sobre uma nova realidade. Golding afirma que "o cubismo foi uma arte de experimentação... defrontando-se destemidamente com a realidade e produzindo uma nova espécie de real. Criara e desenvolvera um gênero completamente original e antinaturalista de figuração, o qual, ao mesmo tempo, desvendara os mecanismos da criação pictórica e, no decorrer desse processo, contribuíra substancialmente para destruir barreiras artificiais entre abstração e representação".
"A partir desse momento, a liberdade do artista não tem mais limites. A síntese não mais ocorrerá através do ato criativo que filtra a multiplicidade do real para revelar depois seus caracteres essenciais. Ou seja, antes ocorrerá a síntese, será um dado pré-constituído, será enfim uma pura síntese plástica a priori", afirma Micheli.
Para Chipp "o que diferencia o cubismo das velhas escolas de pintura é que ele não é uma arte de imitação, mas uma arte de concepção que tende a elevar-se às alturas da criação". Quando falamos de criação, falamos da realidade construída, do cientificismo, da geometrização e dos instintos que levaram a uma idealização estética.

Futurismo

Carlo Carrà - Funeral do anarquista Galle, ost 1911(Futurismo) - Moma, Nova Iorque

Por sua vez, a origem do futurismo está envolta em um contexto repleto de ideias de mudanças e dos mais diversos sentimentos, por isso detectamos na sua raiz marcas dos anarquistas, comunistas, sindicalistas e nacionalistas, desta forma o movimento tinha tanto artistas como operários mantendo uma característica plástica como revolucionária.
O berço do futurismo foi a Itália, em 1909, com o Manifesto do Futurismo redigido por Filippo Tommaso Marinetti em que enfatizava o fim do passado e festejava a velocidade e a energia mecânica do futuro. Era um rompante da tradição clássica italiana para um mundo novo, com uma nova visão de vida.
Para Argan, o futurismo significa: "O movimento é velocidade, a velocidade é uma força que concerne a duas entidades: o objeto que se move e o espaço em que ele se move. A sensação que recebe de um corpo em movimento resulta da percepção do corpo e das coisas que estão paradas no espaço circundante, mas parece mover-se com a mesma velocidade do corpo em direção contrária".
A propaganda era uma arma muito difundida entre os futuristas, assim a nova liderança política que eram os fascistas aproveitaram-se, pois se identificavam com o nacionalismo e a ideia de mudança na realização dos fatos. Quanto à questão artística nada tinham em comum.
"A beleza agora só existe na luta. Uma obra que não seja de caráter agressivo não pode ser uma obra-prima...Queremos glorificar a guerra - a única higiene do mundo -, o militarismo, o patriotismo, o ato destrutivo dos anarquistas, as belas ideias pelas quais um indivíduo morre, o desprezo pelas mulheres...Lançamos da Itália para o mundo esse nosso manifesto de violência irrefreável e incendiária, com o qual fundamos hoje o Futurismo", relata Marinetti em seu manifesto.
Em 30 de abril de 1911, ocorreu a primeira grande mostra de pintura futurista em Milão com os principais artistas do movimento, Boccioni, Russolo e Carrá. No futurismo não se podia generalizar quanto à produção artística, cada artista diferenciava-se dos demais, apesar dos mesmos interesses.
Giacomo Balla aproximava-se dos estudos fotográficos e possuía padrões abstratos; Carrá ainda mantinha referências ao cubismo; Severini continha o divisionismo cubista em suas obras; Russolo abria caminho para os conceitos de movimento e energia e Boccioni proporcionava em seus trabalhos o mais profundo das ideias futuristas que eram os temas presentes em uma metrópole, além do seu caminho percorrido na escultura.
Boccioni teorizou a poética figurativa, personificou o movimento, encontrou sentido nas contradições, dos antigos valores recriou novos conceitos em um pensamento consciente que conduziu a uma formação de estado de espírito plástico, por isso foi considerado o representante do futurismo.
O futurismo inicialmente tinha como concepção política de tendência socialista, mas depois as manifestações dos futuristas em alguns momentos tomaram um caráter mais agressivo e provocativo. Segundo Micheli "o fermento intelectual, as ideias, as buscas da recém-surgida cultura de uma sociedade italiana moderna, liberta do ponto morto em que parecia ter encalhado o desenvolvimento do Risorgimento, dispersavam-se novamente naquela que Croce veio a chamar de 'uma orgia de irracionalidade'".
Não era apenas o caráter político, mas o conceito de modernidade que marcou a identidade dos futuristas. "O futurismo foi um movimento polêmico, de batalha cultural; foi o movimento sintomático de uma situação histórica; um amontoado de ideias e de instintos, dentro do qual, ainda que não distintamente, exprimiam-se algumas exigências reais da nova época: a necessidade de ser moderno, de aprender a verdade de uma vida transformada pela era da técnica, a necessidade de encontrar uma expressão adequada aos tempos da revolução industrial", afirma Micheli.
O futurismo chegou ao seu fim com a I Guerra Mundial, mas Lynton afirma que "como o futurismo estava profundamente envolvido no cubismo, suas conquistas foram também conquistas para o cubismo. Sem a atividade dos italianos, o cubismo jamais teria desempenhado um papel tão grande na arte moderna".

Dadaísmo

Raoul Hausmann - “The Spirit of our Times” (1919) - MNAM, Paris

O dadaísmo floresceu em Zurique em 1915, após o início da I Guerra Mundial, por um grupo de jovens intelectuais contrários à guerra que se encontravam no Cabaré Voltaire, entre eles Hugo Ball, Emmy Hennings, Janco, Tristan Tzara, sendo este responsável pelos manifestos fundamentais sobre o dadaísmo. Já em Berlim iniciou em 1918, tendo uma característica diferente de Zurique, isto porque os dadaístas de Berlim provocaram uma genuína revolução, confrontando a arte, o pensamento, os sentimentos, a política e a sociedade nesta empreitada pela transformação.
Nesta época de turbulência, o dadaísmo procurava estabelecer uma ordem e por outro lado quebrar a ordem. Foi assim, que apareceu uma série de revistas com as opiniões dos integrantes deste segmento artístico.
Em 1918, o dadaísmo está no seu ápice em Berlim, ocorrendo o "Primeiro discurso dadá na Alemanha", o qual manifesta a sua simpatia pelo dadaísmo internacional, nascido dois anos antes em Zurique. A ideia deste discurso estava em contradizer ao expressionismo, futurismo, cubismo, arte abstrata, chegando à superioridade do dadaísmo. Huelsenbeck disse como "o manifesto é uma fonte literária na qual se podem injetar muitas das nossas sensações e diversos dos nossos pensamentos".
O dadaísmo buscava corrigir a arte que havia se destruído pelas várias tendências artísticas erradas, sendo que assim fundou-se o Clube Dadá. Era a busca de uma total participação e contestação de todos os valores, a começar pela arte. Inclusive, o nome Dadá é casual, escolhido abrindo-se um dicionário por acaso.
Até pouco tempo, contestava-se a quem atribuir as honras do legítimo nascimento do dadaísmo, a Richard Huelsenbeck ou Raoul Haussmann, utilizando-se sempre as siglas "R. H." para não acarretar um erro.
Richter afirma: "é que os dois R.H., juntamente com Baader - a antiinibição personificada - unha e carne com Grosz e os irmãos Herzfelde, formavam a tropa de choque propriamente dita do movimento Dadá berlinense: Huelsenbeck como emissário do Dada original de Zurique, e portanto representante da religião dadá; Haussmann como personalidade ilustre do Dadá artístico, dotado de um egocentrismo sombrio, documentado em inúmeras oportunidades; Baader como um saco cheio de dinamite, e os três outros na qualidade da ala esquerda. Em uma questão específica os Dióscuros R.H. e R.H. estavam de acordo: Dadá era a antiarte".
Apesar da proclamação da antiarte, muito do que Haussmann fazia ainda lembrava em muito a arte abstrata tão desprezada e, somente depois que começa a utilizar-se de colagens e fotomontagens, que tem o surgimento de uma nova arte, levando a uma nova imagem do mundo.
Era um momento de transformação e agitação, tendo uma função social que fez com o público despertar, mas em relação ao cultural, significava uma rebelião, o "Antitudo, o entusiasmo que dominava a maioria dizia respeito ao próprio EU, que, livre de culpa e penitência, encontrava a partir de si próprio as suas leis, sua forma e sua confirmação...porque as circunstâncias favoreciam e até mesmo provocavam a mais livre das rebeliões", afirma Richter.
O Dadá possuía um caráter totalmente anárquico, o qual refletia na vida real, mas com esta expulsão da arte para o lixo, acabou-se atenuando a luta contra as condições sociais alemãs, pronunciando o nazismo, e contestando a economia e a industrialização. Mesmo assim, o pano de fundo sempre foi a arte.
As manifestações deste grupo são sempre desconcertantes, desordenadas e escandalosas. O Dadaísmo é um contra-senso, isto porque nega a arte, sendo um movimento artístico, é a pura ação, onde não se valoriza a obra, mas sim a si próprio. Isto tudo teve como o estopim a guerra, que acarretou uma série de problemas psicológicos e sociais à sociedade daquela época.
Para Argan, o dadaísmo "propõe uma ação perturbadora, com o fito de colocar o sistema em crise, voltando contra a sociedade seus próprios procedimentos ou utilizando de maneira absurda as coisas a que ela atribuía valor. Renunciando às técnicas especificamente artísticas, os dadaístas não hesitam em utilizar materiais e técnicas da produção industrial".
Os pontos que mais fortaleciam os dadaístas em Berlim eram: o elevado número de mortes durante a guerra, o insucesso de uma revolução, a oposição reprimida, a pressão pelos comunistas, o sucesso do Dadá em Zurique e, por fim a falta de liberdade que tanto aguçava os ânimos para as oportunidades.
Os dadaístas berlinenses tinham tudo para continuar a sua luta, principalmente por terem Haussmann e Baader, como amigos e aliados frente aos entusiasmos para um levante ou o desencadeamento de uma situação revolucionária. Contrariando a todos aqueles que se opunham, continuando um caminho ativo do grupo Dadá e, muitas vezes, com apresentações agressivas.
Mas, por volta de 1922, o Dadá começa a ter as suas primeiras perdas, e assim a esmorecer, onde alguns de seus personagens perdem a sua consciência com a comunidade, outros abandonam, até a volta de todos aos seus antigos afazeres.

Surrealismo

"Metamorfose de Narciso" de Salvador Dali (1937). Assunto tradicional do Surrealismo, o mito grego de Narciso que lida com um aspecto da psicanálise, de grande interesse para Dali e antes dele para Freud. (Tate Gallery, Londres)

Logo em seguida, aparece o Surrealismo, que teve como ponto de partida o ano de 1924, com a reunião de um grupo em torno de André Breton que tinha como preceitos, os conceitos ligados ao inconsciente, aos sonhos e a fantasia. Não havia regras ou formas estéticas, os surrealistas buscavam o sentido mais puro do espírito e o que este proporcionaria ao poeta ou ao artista.
Contudo, os surrealistas buscaram parte de seus valores éticos e morais, no Marquês de Sade, escritor do século XVIII que serviu de inspiração para o teatro, o cinema, a literatura e as artes plásticas. Segundo Fernando Peixoto "seu pensamento, embora com certo nível extremista, é igualmente um grito de revolta eloqüente. Um grito desesperado e angustiado, o incontrolável extremo de um individualismo absoluto que limita bastante o alcance ou o significado de suas ideias, a ânsia de libertação, gigantesco protesto em favor do homem livre, a denúncia de uma civilização fundamentada nos instintos planejadamente reprimidos, baseada na hipocrisia, no preconceito, na corrupção, na injustiça, na divisão social e na feroz crueldade".
Para os surrealistas a influência do Marquês de Sade antecipou a Psicologia moderna com Freud, por meio dos estudos sobre o sonho e os caminhos explorados no inconsciente.
De acordo com as informações proporcionadas por Sade e Freud, André Breton definiu: "Surrealismo é automatismo psíquico puro por meio do qual nos propomos exprimir tanto verbalmente quanto por escrito ou de outras formas o funcionamento real do pensamento, é o ditado do pensamento com a ausência de todo controle exercido pela razão, além de toda e qualquer preocupação estética e moral".
Desta forma, o Surrealismo passa a ser visto como uma arte do inconsciente, projetando muitas vezes uma ideologia subversiva, reprimida nos seus mais profundos anseios, assim ao chegar a sua produção permite ao criador demonstrar desde seus instintos animais, aos sexuais, aos sociais, expondo os desejos do indivíduo como os da sociedade.
O surrealismo como as demais vanguardas artísticas tinham como ambição mudar a História, especialmente no campo político, apesar de ter como meta à mudança na vida, partindo da vida muda-se o mundo, desígnios presentes nas palavras de Marx,Goethe, Rimbaud e muitos outros.
Breton e os surrealistas participaram do Partido Comunista buscando concretizar parte de suas aspirações, mas acabam por deixar o partido por não ser bem este o caminho a se tomar e, desta maneira continuam no que é essencial para a existência humana, que é o sonho.
O Surrealismo foi um movimento bastante amplo, no campo da literatura, tendo como antecedentes Baudelaire, Rimbaud, Allan Poe, Apollinaire que influenciaram diretamente nas teorias de André Breton presentes no Manifesto do Surrealismo, Segundo Manifesto do Surrealismo, Posição Política do Surrealismo, Prolegômenos a um Terceiro Manifesto do Surrealismo ou não, Do Surrealismo em suas Obras Vivas e outros textos. Em todos Breton difundia com destreza a posição do homem na vida, sobre a liberdade, a loucura, a lógica, enfim os sentidos da vida humana.
Nas artes plásticas notamos importantes representantes, entre eles podemos citar Max Ernst com experiências automatistas que elucidavam em alucinações nascidas dos sonhos, o inconsciente passa a ser um dos alicerces para a produção de seu trabalho. Nas reuniões com o grupo de surrealistas permitiam a libertação do subconsciente e, assim a evasão dos medos e rejeições ao contarem os seus sonhos.
Max Ernst cria a frottage, que era uma técnica "para além da pintura", a liberação de todos os sentidos e a descoberta daqueles que ainda permaneciam escondidos ao se defrontarem com a realidade. Para Ulrich Bischoff "a frottage é mais que uma técnica, é um processo artístico em que tanto o conteúdo como o conceito criam um mundo novo".
Marc Chagall apresentou um mundo imaginário e sobrenatural, onde o espírito e o corpo estavam separados, criando assim um mundo figurativo, constituindo uma série de metáforas, início do seu surrealismo que por meio de ciências ocultas buscou a intelectualidade. O mundo de Chagall era rodeado de ideias místicas que transformavam os motivos em símbolos representativos de uma realidade invisível, isto porque os acontecimentos da sua infância e a rigorosa ausência da arte figurativa no judaísmo perseguiram sua mente, alternando as suas fases analíticas e sintéticas.
Como afirma Argan, "a pintura de Chagall é fábula, mas a fábula é problemática...a fábula não é uma tradição que se transmite por inércia, mas é a expressão viva da criatividade do povo. Sendo uma força popular, pode ser uma força revolucionária".
Salvador Dali é outro artista que teve em seu trabalho a presença provinda dos sonhos e do sexualismo. Gala, a sua mulher, foi a grande responsável por parte de sua produção, pois como Dali mesmo afirma, só conheceu os prazeres do amor com Gala, desta forma acabará de entrar por um mundo freudiano que o levou ao obscuro caminho dos sonhos.
Os trabalhos de Dali envolviam os acontecimentos da Guerra Civil Espanhola, as torturas, a degradação, o sofrimento e a morte, sentimentos que transbordavam em suas telas. Com Luis Buñuel formata a ideia do O Cão Andaluz.
E assim, no cinema Luis Buñuel produz o primeiro filme surrealista em 1929, O Cão Andaluz, sendo este um grito sobre a tragédia humana com seqüências enlouquecidas e enlouquecedoras para o observador. No seu L'âge d'or, Buñuel se aprofunda na temática surrealista da psicanálise com discussões sobre o homem e a mulher e as alegorias do inconsciente.
A década de 30 na Europa foi marcada pelo surrealismo, influenciando todos os grupos de artistas. Com a II Guerra Mundial, grande parte do grupo surrealista parte para os EUA e, em 1940, chega ao fim um dos movimentos artísticos mais importantes da História.



Para ver mais imagens, acesse o álbum de fotos do Jornal A Relíquia.

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