Arte & Apropriações

Por Ricardo Kimaid (rkimaid@uol.com.br)

A apropriação de objetos e fotos tem sido usada indiscriminadamente pelos artistas contemporâneos, forma de eximi-los de criatividade, e principalmente do fazer, nivelando por baixo a nova ordem, empulhadas pelo mercado.
Com alguma ressalva, considero ilegítimas as "apropriações", pois, como bem ilustra o Aurélio, ato de apossar-se de algo que não lhe pertence, para distorcê-los ou transformá-los, reivindicando o feito como obra de sua autoria. Resumindo, apropriação indébita!
Inúmeros artistas reinventaram Duchamps no que diz respeito à técnica de utilizar-se de objetos e fotos existentes circulantes em nosso cotidiano, assiná-los e locupletar-se dos proventos obtidos por esses embustes. Mais adiante, Andy Warhol utilizou esse tipo de artimanha no manuseio de fotos de figuras e objetos muito populares para esses fins; Mickey Mouse, Marilyn Monroe, Coca Cola e até a banana estão contidas nesse repertório, e logo em seguida, o mais novo "gênio" das aberrações, Damien Hirst.
Trazendo para âmbito doméstico, sempre copiando as tendências da "Célula mater" do mercado americano, recentemente Cildo Meireles reinventou o reinventado fazendo uso de objetos do cotidiano em sua íntegra, como por exemplo, trena de madeira embalada em caixa de acrílico, troca de cifras da moeda norte americana para zero dólar, entre outras banalidades. Encerrando exemplário, cito o novo "Best-seller" das apropriações: Vik Muniz, que usa figuras expoentes na mídia como Mona Lisa e Che Guevara, aplicando sobre essas imagens artifícios que alteram sua textura e originalidade, assumindo como obra de sua inventiva.
Penso que esses pseudo-artistas deveriam pagar direitos autorais aos reais criadores de tudo o que está sendo apropriado por eles; ao criador do bidê, assinado por Duchamps; ao fotógrafo de Marilyn Monroe por sua foto usada por Warhol, e até para as instituições de preservação ambiental pelo uso do tubarão, por Damien Hirst. É isso que chamam de Arte?
A legitimidade de uma apropriação prende-se ao fato do artista apropriar-se de algo criado por ele. Cito um exemplo: em recente evento, uma exposição das obras da artista plástica Marcela Gontigio, vê-se que a mesma apropria-se de fotos tiradas por ela, a artista fotógrafa, e abastece suas criações com cortes e recortes dessas fotos; é válido e pertinente.
O endosso do mercado de arte, hoje manipulado por interesses exclusivamente financeiros, permitiu que tais mixórdias tomassem vulto e caracterizasse como uma nova realidade a ser seguida por todos que almejam pertencer à casta dos artistas contemporâneos.
Enquanto isso, muitos dos reais valores são subjugados e condenados ao anonimato, sem ter chances de mostrar ao público qual é o verdadeiro significado da palavra Arte.

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