Não é nada fácil para a imagem, como também para a vida de uma cidade
que nunca para, que quer sempre ser diferente e que nunca descansa no seu
passado. (Franz Hessel)
Situada às margens dos rios Spree e Havel, Berlim é a
capital e um dos dezesseis estados da Alemanha. Existem mais de 40 lugares no
mundo que possuem o nome Berlim, mas a maior e mais conhecida mundialmente é
essa Berlim que um dia, depois da Segunda Guerra Mundial, foi dividida por um
imenso e vergonhoso muro. Situada no nordeste da Alemanha, é o centro da área
metropolitana de Berlim-Brandemburgo, com uma população de cinco milhões de
pessoas.
O Portão de Brandemburgo ao anoitecer
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Documentada oficialmente no século XIII, Berlim foi
mencionada pela primeira vez em 1237, e esse ano acabou sendo aceito como a
data de sua fundação. Isso porque em 1937, um ano depois das Olimpíadas de
1936, os nacionais socialistas comemoraram os 700 anos da cidade. Berlim foi
sucessivamente a capital do Reino da Prússia (1701-1918), do Império Alemão
(1871-1918), da República de Weimar (1919-1933) e do Terceiro Reich
(1933-1945).
Após a Segunda Guerra Mundial, a cidade foi dividida: Berlim
Oriental se tornou a capital da Alemanha Oriental em poder dos Russos, e,
enquanto Berlim Ocidental se tornou um exclave cercada pelo muro de Berlim,
entre os anos de 1961 e 1989, enquanto a cidade de Bonn tornou-se a capital da
Alemanha Ocidental. Após a reunificação alemã em 1990, a cidade recuperou o
seu status como capital da República Federal da Alemanha.
Um dos mais influentes centros mundiais de cultura, com
inúmeros museus, Berlim é hoje uma cidade cosmopolita, bastante procurada pelos
turistas. Possui um significativo parque industrial e mantêm algumas das mais
importantes universidades do mundo, além de possuir importante arquitetura
contemporânea, cujo tema foi objeto de uma reportagem na edição nº 139 de A
Relíquia.
História
Pintura de Charles Meynier (1768-1832) Napoleão em Berlim,
vendo-se ao fundo o Portão de Brandemburgo
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Alguns séculos a.C., a região onde hoje se situa Berlim
começou a ser habitada por diversas tribos que se estabeleceram nas margens dos
rios Spree e Havel. No século VI d.C., diversas tribos eslavas construíram
fortificações nas atuais zonas suburbanas de Spandau e Köpenick. Por volta do
século XI, Albrecht, guerreiro saxão da Casa dos Ascânios, derrota as tribos
eslavas, ma ramificação étnica e linguística dos povos indo-europeus e torna-se
o primeiro Markgraf (conde) de Brandenburgo. Por essa altura, estabeleceram-se,
nas margens do rio Spree, imigrantes de outras regiões, nomeadamente do vale do
Reno e da Francônia. Com a morte, em 1319, do último governante ascânio, Brandenburgo
foi disputada pelas casas de Luxemburgo e Wittelsbach, o que originou lutas
sangrentas. Em 1414, os habitantes de Berlim, cansados de tanto sofrimento,
solicitaram o auxílio do imperador do Sacro Império Romano-Germânico que lhes
enviou, como protetor, Frederico de Hohenzollern, dando origem a 500 anos de
domínio da Casa de Hohenzollern. O primeiro imperador do Sacro Império foi
Carlos Magno, coroado em 25 de dezembro de 800, mas a linha contínua de
imperadores começou com Oto o Grande em 962. O último imperador foi Francisco
II, que abdicou e dissolveu o império em 1806 durante as Guerras Napoleônicas.
Bem antes disso, em 1432, Colônia, que se originou da cidade
romana de Colonia Claudia Ara Agrippinensis, e Berlim, consolidaram uma aliança
de 1307. Em 1486, Berlim tornou-se sede do eleitorado de Brandemburgo. Com a
subida, de Frederico Guilherme I ao trono de Brandemburgo, em 1640, a cidade de Berlim
desenvolveu-se enormemente. Na segunda metade desse século, Berlim foi
fortificada e abriu-se um canal ligando os rios Spree e Oder.
No início do século XVIII, Frederico III de Hohenzollern,
sucessor de Frederico Guilherme, transforma Brandemburgo num reino, tendo sido
coroado como Frederico I da Prússia. Berlim passa, então, à categoria de
capital prussiana, vendo nascer as Academias de Belas Artes e da Ciência.
Edifícios imponentes surgem por todos os lados, se destacando a Zeughaus e o
palácio de verão (Charlottemburg), cuja matéria foi publicada na nossa edição
de agosto passado.
No tempo de Frederico Guilherme I, filho de Frederico I da
Prússia, a população de Berlim alcançava os 90 000 habitantes. O rei seguinte,
Frederico II, a transformou numa cidade cultural. Quando da sua morte, nos
finais do século XVIII, a população de Berlim atingia os 150 000 habitantes.
O Museu Bode (Bodemuseum) (Ilha dos Museus)
abriga coleção
de escultura européia
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No início do século seguinte, Napoleão Bonaparte vence os
prussianos, ocupa Berlim e leva para Paris a Quadriga que encima a Porta de
Brandemburgo, orgulho da cidade. Com a derrota de Napoleão, a quadriga volta a
ser colocada no mesmo local, com grande júbilo da população. Inicia-se, nesta
época, a industrialização de Berlim. Berlim enche-se de edifícios grandiosos
concebidos, na maior parte, por Karl Friedrich Schinkel. Em 1850 Berlim já
tinha 300 000 habitantes.
Em 1861, Otto Von Bismarck, ao ser nomeado chanceler,
inicia, a partir de 1864, uma política visando posicionar a Prússia na
liderança de todos os estados de língua alemã em detrimento da Áustria. Para
concretizar seu plano, a Prússia declarou, sucessivamente, guerra à Dinamarca,
à Áustria e à França, assumindo o controle da Confederação da Alemanha do Norte
(associação que englobava 22 estados e cidades livres) e das províncias da
Alsácia e da Lorena. Em 18 de janeiro de 1871, Bismarck proclama o Império
Alemão, tendo por capital Berlim, e Guilherme da Prússia como imperador
(Kaiser). A abolição das barreiras comerciais e as indenizações pagas pela
França permitiram um enorme desenvolvimento industrial, com o consequente
aumento populacional da cidade de Berlim e uma melhoria significativa das
infraestruturas urbanas.
No início do século XX, a cidade atingia 1,9 milhão de
habitantes, duplicando esse número em 20 anos. A Primeira Guerra Mundial não
teve um reflexo muito grande sobre a estrutura da cidade. Mas a Segunda Guerra
Mundial sim. Hitler desejava demolir e reconstruir Berlim, no projeto conhecido
como Welthauptstadt Germânia (Germânia, a capital do Mundo). O arquiteto
proposto para esta nova cidade foi Albert Speer, porém o projeto nunca seria
finalizado. Em 1939 com a invasão da Polônia, iniciava-se a Segunda Guerra
Mundial que se estenderia até 1945, quando a Alemanha é derrotada pelos Aliados
e Berlim é invadida pelo exército Vermelho da Rússia. Berlim sofreu inúmeros
bombardeamentos, especialmente no último ano da guerra, ficando a maioria dos
edifícios em ruínas.
Após o fim da guerra, as tropas americanas, britânicas,
francesas e soviéticas, reunidas em Potsdam, dividem a cidade em quatro
setores. A partir daí Berlim viu-se no centro da Guerra Fria e foi a
protagonista de uma de suas maiores crises, conhecida como o Bloqueio de Berlim
(24 de junho de 1948 - 11 de maio de 1949), desencadeada quando a União
Soviética interrompeu o acesso ferroviário e rodoviário às zonas de ocupação
americana, britânica e francesa. Em 1949 nasce, nos territórios controlados
pelos soviéticos, a RDA - República Democrática Alemã, tendo por capital a zona
oriental de Berlim. Os restantes setores de Berlim ficam, assim, a constituir
um exclave dentro do território da RDA. Para evitar a fuga dos berlinenses para
os sectores ocidentais, o governo comunista construiu, em 1961, o muro de
Berlim com cerca de 150 km
de extensão, dividindo a cidade.
A partir de 1989, as mudanças políticas que ocorrem na
Europa Oriental levaram à queda do muro de Berlim e à abertura das fronteiras
entre a RDA e o restante do território da Alemanha (RFA).
Em 1990,
a Alemanha reunifica-se e Berlim volta a ser a capital,
depois de Bonn ter sido capital provisória da parte ocidental da Alemanha desde
os finais da guerra. Desta data em diante a cidade passa por uma completa
transformação urbanística, com a reconstrução e reabilitação de edifícios
históricos e a edificação de novos bairros.
Portão de
Brandemburgo
Símbolo da cidade de Berlim, considerado como um Arco do
Triunfo para os alemães, o Portão de Brandemburgo (em alemão: Brandenburger
Tor), é um dos poucos lugares que une a história da Prússia e da Alemanha. É o
único remanescente de uma série de outras entradas de Berlim, e poucas pessoas
sabem que as portas de Brandemburgo foram construídas sobre outras portas
antigas que foram demolidas em 1788. Sua construção foi ordenada pelo rei
prussiano Frederico Guilherme II e executada pelo arquiteto Carl Gotthard
Langhans em 1791 Três anos depois, a quadriga de Johann Gottfries Schadow foi
instalada sob o portão, mas ali permaneceu pouco tempo. As tropas francesas de
Napoleão Bonaparte invadem Berlim, atravessando as portas de Brandemburgo em
Outubro de 1806. Em Dezembro do mesmo ano, para simbolizar a dominação
francesa, Bonaparte manda a quadriga para Paris. Em 1814, após a vitória sobre
Napoleão, a quadriga foi instalada novamente no Portão de Brandemburgo. A
quadriga recebeu uma cruz de ferro e uma águia prussiana, e passou a significar
a vitória (antes era um símbolo da paz).
Frederico III coroa a si mesmo como rei
e faz Berlim a
capital do reino da Prússia
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Em 1868, derrubaram o velho muro de proteção da cidade, que
circundava Berlim, e construíram dois pequenos pavilhões sobre colunas,
projetados por Johann Heinrich Stack, com aproximadamente a metade da altura
das portas. A quadriga foi retirada mais uma vez, em 1950, pelas autoridades
soviéticas, e praticamente destruída. Em 1958 foi concluída a refundição da
escultura e finalmente instalada no alto das portas de Brandemburgo, mudando-se
a direção dos cavalos, que antes galopavam em direção a Berlim ocidental, e
foram postos de frente para a "Pariser Platz" (do lado soviético). A
inversão gerou vários atritos entre ambos os lados.
O Reichstag
O Reichstag após o bombardeio dos aliados a Berlim em 1945.
Antes, sofreu um incêndio
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Projetado pelo arquiteto Paul Wallot, o Reichstag foi
construído entre 1884 e 1894 no estilo Renascença Italiana, no governo do
Imperador Guilherme II. A espetacular cúpula viria a ser composta de aço e
vidro, técnica avançada para a época. Com o fim da Primeira Guerra Mundial e a
renúncia do Kaiser, a República foi proclamada da sacada do Reichstag no dia 9
de novembro de 1918. Até 1933, o Reichstag foi a sede do parlamento da
República de Weimar.
Um mês após a nomeação de Adolf Hitler para o cargo de
Chanceler, no dia 27 de fevereiro de 1933, o prédio foi incendiado. Durante os
doze anos do Terceiro Reich, o Reichstag não foi usado para sessões
parlamentares. O Reichstag foi também bastante danificado durantes os
bombardeios na Segunda Guerra Mundial, ficando praticamente em ruínas. Depois que
Berlim se tornou novamente a capital do país, a reconstrução e a ampliação do
Reichstag foi entregue ao arquiteto inglês Sir Norman Foster, sendo
reinaugurado em 1999.
Potsdamer Platz
Localizada a cerca de um quilômetro do Portão de
Brandemburgo e do Reichstag, a Potsdamer Platz tem esse nome em homenagem à
cidade de Potsdam. Na verdade, nunca foi uma praça e seu nome origina-se da
antiga porta Potsdamer Tor. È uma importante interseção de tráfego no centro de
Berlim, onde em 1838 foi fundada a estação ferroviária Potsdamer Bahnhof. Foi
totalmente devastada durante a Segunda Guerra Mundial e abandonada durante o
período da Guerra Fria, dividida pelo muro. Após a queda do Muro, a praça foi
reconstruída e tornou-se um dos mais reluzentes símbolos da nova Berlim.
Hitler desejava demolir e reconstruir Berlim.
Foto da
maquete do projeto conhecido como
Welthauptstadt Germânia (Germânia, a capital
do Mundo),
do arquiteto Albert Speer
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Ilha dos Museus
A vila dos Museus é um lugar de encanto e magia. E, de vez em
quando, até nos deixa boquiabertos, quando acabamos de subir a escada de
entrada do Altes Museum e nos encontramos, de repente, na enorme rotunda que
abrange dois andares, construída pelo velho mestre Karl Friedrich Schinkel. Um
panteão no centro de Berlim. Ou, virando a esquina, quando nos sentamos por um
momento nos degraus reconstruídos do altar de Pergamon e, refletindo, pensamos
na batalha dos gigantes contra os deuses gregos, representada nos antigos
altos-relevos do altar. A apenas poucos metros, passamos respeitosamente pelo
portão de Ishtar, azul cintilante, antigamente o portão de entrada da Babilônia
de Nabucodonosor.
Os acervos dos cinco grandes museus da Ilha dos Museus, cada
um de notável exclusividade, nos levam através de 6000 anos de cultura. Juntos,
eles são sem dúvida "o mais importante complexo de museus do mundo",
como disse Neil MacGregor, diretor do British Museum: o Altes Museum, com a
coleção antiga; a Alte Nationalgalerie, com pinturas e esculturas do século
XIX; o Pergamonmuseum, com a coleção antiga, com o Museu da Ásia Menor e o
Mueseu de Arte Islâmica; o Bodemuseum, que desponta no lado norte do rio Spree
parecendo um navio a vapor, com sua proa arredondada e enorme cúpula, abriga a
mais significante coleção sobre o desenvolvimento da escultura européia. E,
finalmente, o Neus Museum, durante dezenas de anos uma dolorosa ruína da
guerra, que tinha sido o mais inovador museu por ocasião da sua abertura em 1859. A ilha dos Museus,
desde 1999, é considerada patrimônio cultural da UNESCO.
Catedral de Berlim
Catedral de Berlim, uma bela construção em estilo neo-barroco.
Igreja da Corte e Igreja Memorial dos Hohenzollern
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Construída no local onde existia uma antiga igreja fundada
em 1297 pelo convento da Ordem Dominicana, essa catedral evangélica
curiosamente fica ao lado do "Jardim das Delícias". A catedral foi
construída entre 1745 e 1750 e depois remodelada entre 1816 e 1820, no estilo
classicista, para depois ser demolida em 1893 e ceder lugar à atual Catedral de
Berlim, uma bela construção em estilo neo-barroco que foi concluída em 1905. É
desde então catedral do protestantismo prussiano, Igreja da Corte e Igreja
Memorial dos Hohenzollern. Durante a Segunda Guerra Mundial foi bastante
castigada pelos bombardeios.
Muro de Berlim
Foto rara: o início da construção do Muro de Berlim na
década de 1960.
O muro separou as duas Alemanhas por mais de um quarto de
século
e 80 pessoas morreram tentando atravessá-lo
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A instalação de uma barreira física, construída pela
República Democrática Alemã durante a Guerra Fria, que circundava toda a Berlim
Ocidental, separando-a da Alemanha Oriental, começou a ser instalada em 13 de
agosto de 1961. Inicialmente formada com cercas de arame farpado, foi
transformada numa gigantesca muralha. Antes da construção do Muro, 3,5 milhões
de alemães orientais tinham evitado as restrições de emigração do Leste e
fugiram para a Alemanha Ocidental.
A queda do Muro de Berlim em 1989.
Um movimento popular uniu
os alemães dos dois lados do muro
e começaram a derrubar a construção
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O muro separou as duas Alemanhas por mais de um quarto de
século e 80 pessoas morreram tentando atravessá-lo. O primeiro foi Rolf Urban,
de 47 anos e o último Chris Gueffroy, um jovem com apenas 20 anos de idade. A
barreira tinha 302 torres de observação, 127 redes metálicas eletrificadas com
alarme e 255 pistas de corrida para ferozes cães de guarda. Os números
registram ainda 112 pessoas feridas e milhares aprisionadas na tentativa de
atravessar o muro.
Na noite do dia 9 de novembro de 1989, um movimento popular
uniu os alemães dos dois lados do muro e começaram a derrubar a construção.
Mais tarde, equipamentos industriais foram usados para remover quase toda a
estrutura. A queda do Muro de Berlim abriu o caminho para a reunificação, que
foi formalmente celebrada em 3 de outubro de 1990. Além da manutenção de alguns
trechos, percurso que o muro fazia quando estava erguido está marcado no chão
da cidade de Berlim.
Pedaços do muro foram mantidos
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A arquitetura contemporânea de Berlim
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Obra do artista brasileiro Romero Britto em frente ao o2
World,
centro comercial e da lazer
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O editor de A Relíquia em frente ao Checkpoint Charlie, um
posto militar entre as duas Alemanhas durante a Guerra Fria. Virou atração
turística
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