Consagrado como um dos mais importantes artistas da
atualidade, Lucian Freud põe em relevo a arte do retrato, fio condutor de seu
trabalho. Nesta mostra organizada pelo MASP e British Council, o centro é sua
obra gráfica, expressa em 44 gravuras acompanhadas por seis pinturas e 28 fotos
do artista e seus modelos no ateliê, clicadas por seu assistente David Dawson,
que virá para abertura da mostra e fará palestra aberta ao público na
quinta-feira, 27. A
exposição fica em cartaz de 28 de junho a 13 de outubro, no MASP.
Lucian Freu no seu atelier |
A mostra LUCIAN FREUD: Corpos e Rostos, que traz pela primeira
vez ao Brasil um dos principais artistas do pós-guerra, tem foco em sua
produção gráfica e apresenta dois períodos marcantes em sua carreira como
gravurista: o primeiro deles na década de 1940, quando ainda jovem fez um
pequeno número de gravuras experimentais e, depois de um longo intervalo, um
segundo momento a partir da década de 1980, quando criou uma sucessão de obras
extraordinárias usando a técnica da água-forte. Estes trabalhos mais recentes
incluem uma ampla seleção de nus e retratos e foram descritos como "uma
conquista paralela à suas pinturas".
Com curadoria de Richard Riley e Delphine Allier e
colaboração de Teixeira Coelho, a exposição traz ainda ao público brasileiro
seis óleos: um autorretrato do começo de sua carreira e cinco pinturas de
diferentes décadas, incluindo Girl with Roses, de 1947-48. E se completa com a
exibição de 28 fotos tiradas por David Dawson, seu assistente, amigo e
fotógrafo oficial que além de registrar os movimentos do artista e seus modelos
no ateliê, costumeiramente servia ele próprio de modelo para Lucian Freud, que
nasceu em 1922 na Alemanha e naturalizou-se inglês em 1939.
Em suas fotos Dawson buscava imprimir a mesma dramaticidade
das pinturas de Lucian Freud, jogando com a luz e os objetos em cena em
registros do artista e das pessoas que ele retratava, como será visto nesta
exposição. "As fotografias pessoais de David Dawson, assistente de Freud
por mais de vinte anos, trazem uma visão única da vida do artista",
observa Richard Riley, chefe de Exposições e Artes Visuais no British Council e
curador desta mostra que integra o Transform, programa de arte da instituição.
Palestra com David Dawson
No dia 27 de junho, às 15h, David Dawson dará uma palestra
gratuita sobre seu trabalho como assistente e fotógrafo oficial de Lucian Freud
no Grande Auditório do MASP.
David Dawson - Desenho com giz, começo de uma gravura
|
Serviço Educativo
Como para as demais exposições temporárias e mostras de
obras do acervo realizadas pelo MASP, Lucian Freud: Corpos e rostos tem um
programa educativo elaborado especialmente para atender aos visitantes,
professores e alunos de escolas públicas e privadas. As visitas orientadas são
realizadas por uma equipe de profissionais especializados. Informações:
3251.5644, ramal 2112.
Lucian Freud, por Teixeira Coelho:
Lucian Freud praticou o que se pode descrever como humanismo
incômodo. "Pinto o que vejo, não o que você quer que eu veja",
costumava dizer aos que o censuravam por um verismo que julgavam exagerado. De
fato, Lucian Freud mostrava um comprometimento total com seus modelos,
persistentemente buscando apreender toda sua verdade, que ele via como algo
invasivo e perturbador, não tranquilizador. Essa persistência o levava a gastar
18 meses de trabalho com uma modelo, sete noites por semana, para chegar à obra
final.
Outra persistência sua foi com o figurativismo, que não
abandonou em nenhum momento. Essa insistência chegou mesmo a causar escândalo
quando, em 1976, uma exposição na Hayward Gallery de Londres organizada pelo
também artista R.B.Kitaj defendeu o que este chamava "Escola de
Londres", reunindo artistas como o próprio Lucian Freud, Frank Auerback,
Francis Bacon, Leon Kossof e outros que faziam do figurativismo um elemento de
resistência contra o abstracionismo dominante. Abstracionismo, com Lucian
Freud, só aquele acidentalmente feito por seus pincéis quando os limpava nas
paredes de seu ateliê, sobrepondo mancha de tinta a mancha de tinta...
Lucian Freud - Esther |
Lucian Freud
Filho de pais judeus, Ernst Ludwig Freud, arquiteto, e de
Lucie Brasch, era neto de Sigmund Freud, o pai da psicanálise. Em 1934, para
escapar do antissemitismo nazista, Ernst Freud levou sua família para Londres.
Em 1938, Sigmund Freud se juntou a eles. Lucian obteve a cidadania britânica no
ano de 1939. Durante esse período estudou na escola Dartington Hall, em Totnes,
Devon, e posteriormente na Bryanston School.
Freud estudou brevemente na Central School of Art em
Londres, depois, com grande sucesso, na Cedric Morri's East Anglian School of
Painting and Drawing em Dedham, e também na Universidade londrina de Goldsmiths
de 1942 a
1943. Desde então, ele serviu como marinheiro mercante no comboio atlântico em
1941 antes de ser invalidado do serviço em 1942.
Sua primeira exposição individual na Lefevre Gallery em
1944, apresentou o agora celebrado The Painter's Room. No verão de 1946, ele
viajou até Paris antes de ir para Itália e lá ficar por vários meses. Desde
então morou e trabalhou em Londres.
As primeiras pinturas de Freud são frequentemente associadas
com o surrealismo e por apresentar pessoas e plantas em justaposições incomuns,
mas a partir da década de 1950 ele começou a pintar retratos, geralmente nus,
para a quase completa exclusão de tudo o mais, e começou a usar um impasto mais
espesso. Com o uso dessa técnica, ele limpava seu pincel a cada pincelada. As
cores nessas pinturas são tipicamente emudecidas. Os retratos de Freud
geralmente apenas representavam os modelos, as vezes nus no chão ou na cama,
mas as vezes o modelo é justaposto com algo mais, como em Menina com um cão
branco e Homem nu com chapéu. Os temas de Freud são geralmente de pessoas nas
suas vidas; amigos, família, amores, crianças. Nas palavras do artista "o
assunto do tema é autobiográfico, tudo sempre tem a ver com esperança e memória
e sensualidade e envolvimento, mesmo."
"Eu pinto gente - diz Freud - não pela maneira que elas
se parecem, não exatamente a despeito do que elas são, mas como elas por acaso
se parecem." Freud pintou um bom número de amigos artistas, incluindo
Frank Auerbach, e também Henrietta Moraes, uma musa para muitos artistas do
bairro londrino de Soho.
Freud era um dos mais conhecidos artistas britânicos que
trabalhava com um estilo tradicional representativo, e recebeu o Prêmio Turner
no ano de 1989. De acordo com o jornal Sunday Telegraph de 1 de setembro de
2002, Freud teria cerca de 40 filhos, reconhecendo todos quando se tornam
adultos. Depois de seu romance com Lorna Garman, ele se casou com sua sobrinha
Kitty (filha do escultor Jacob Epstein e da socialite Kathleen Garman) em 1948,
mas seu casamento acabou depois de quatro anos quando ele iniciou um romance
com Lady Caroline Blackwood, escritora. Eles se casaram em 1957.
Lucian Freud - Jovem com rosas
|
Sua pintura After Cezanne, que é notável pelas suas formas
incomuns, foi comprada pela Galeria Nacional da Austrália por 7,4 milhões de
dólares. A sua parte superior esquerda desta pintura foi 'grafitada'.
Lucian Freud foi professor visitante na Slade School of Fine
Art de 1949 a
1954, na Universidade de Londres. Apesar de internacionalmente conhecido como
um dos mais importantes artistas do século XX, há poucas oportunidades de ver
as pinturas e gravuras de Lucian Freud na Grã-Bretanha. Em 1996, houve uma
grande exibição de 27 obras e 13 gravuras na Abbot Hall Art Gallery em Kendal,
cobrindo todo os períodos da obra de Freud. Isso foi notavelmente seguido por
um grande retrospectivo na Tate Britain em 2002. Durante o período de maio de 2000 a dezembro de 2001,
Freud pintou a rainha Isabel II do Reino Unido.
Morreu em julho de 2011, aos 88 anos.
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