Paulo Pasta e Elida Tessler na
Fundação Iberê Camargo
Ao
lado dos curadores Tadeu Chiarelli e Glória Ferreira, os artistas apresentam
dois grandes momentos das suas produções. Mostras serão inauguradas
juntas no dia 6 de junho e exibidas ao público de 7 de junho a 18 de agosto
Após iniciar o calendário
de 2013 com a mostra William Kentridge: Fortuna e com Iberê Camargo: O Carretel – Meu
Personagem, assinada pelo curador
Michael Asbury, a Fundação Iberê Camargo dá sequência a sua programação com
dois grandes nomes da arte contemporânea brasileira. Dia 7 de junho abrem
juntas para visitação a exposição de obras mais recentes do pintor,
desenhista, ilustrador e professor Paulo Pasta, que terá como curador Tadeu
Chiarelli, e a panorâmica dos últimos 20 anos de produção de Elida
Tessler, artista conhecida por entrelaçar palavras a objetos, com curadoria de
Gloria Ferreira.
Infusão
luminosa
Paulo Pasta. A pintura é que é isto, com curadoria de Tadeu Chiarelli, apresenta 34 trabalhos (25 pinturas
e 9 desenhos) da produção mais recente de Paulo Pasta, entre 2008 e 2013. Ao
longo dos anos, sua pintura vem adquirindo mais fluidez, como se perdesse a
opacidade e ganhasse mais luminosidade, sem deixar de lado a característica
marcante em seu trabalho, a indefinição com as formas e as cores. “Minha
pintura sempre guarda para si uma indefinição, como uma espécie de segredo,
algo que possa instigar o olhar. Como se ela pudesse
produzir o instante”, diz.
A pintura de Paulo Pasta possui uma fisicalidade notória, e não apenas
por suas dimensões e cores, mas também pela intensificação de todos os
elementos que a constitui, tornando sua presença um pedido de convivência por
parte do espectador, o que vai além de uma simples contemplação. Nos trabalhos Dia e Noite, que
serão exibidos no 4º andar da Fundação Iberê Camargo, há um aspecto
atmosférico que ele imprime, principalmente, por meio do uso das cores. “Nunca uso a cor pura. O tom se desdobra em
vários outros tons, criando uma atmosfera de infusão luminosa. Parece que sempre
estou pintando estados da consciência”, conta o artista, expoente da chamada
Geração 80 de pintura no Brasil.
Para o curador Tadeu
Chiarelli, nas obras que formam Paulo Pasta. A pintura é que é isto
compreende-se como as estruturas simples concebidas pelo artista estão ali para
dar suporte à cor, suporte precário que mal consegue contê-la nas áreas
predeterminadas. “É no jogo entre o caráter tíbio dos limites das áreas de cor
e a potência dessa última, que, parece, se encerra o poder de suas pinturas
atuais”. Segundo Chiarelli, embora pareçam tender sempre a uma estruturação
prévia que privilegia o estático e se constituam a partir de cores quase nunca
primárias, frente a elas percebe-se que determinadas áreas do quadro pulsam,
como se quisessem escapar do plano em direção ao espaço tridimensional.
Paulo Pasta - Cruz Púrpura Laranja 2010 |
Influências
de Volpi e Iberê
No catálogo da mostra, o
curador destaca pontos de contato entre a pintura de Paulo Pasta e do
consagrado pintor brasileiro Alfredo Volpi, cuja marca pessoal era o tema das bandeirinhas e dos casarios. De acordo com ele,
as estruturas de Pasta tendem a se repetir de uma tela para outra, sofrendo,
com o tempo, delicadas mudanças em sua morfologia. “É a escolha das cores,
sempre em tons rebaixados, que se modifica de uma obra para outra, que
singulariza cada uma das obras produzidas pelo artista”, diz.
Sobre a
Fundação Iberê Camargo, artista diz ser um
museu feito para um pintor, pensado enquanto luz e espaço para abrigar a
pintura. “Se a minha pintura não tiver a luz adequada, ela não vive”. Estar
próximo da obra de Iberê e do prédio erguido em sua homenagem faz Paulo Pasta
lembrar a influência que o artista teve em sua vida. “Iberê representou para mim a possibilidade da existência da
pintura, de uma relação profunda e verdadeira com ela”.
Elida Tessler: Gramática Intuitiva
A mostra
da artista Elida Tessler será uma panorâmica dos últimos 20 anos de sua
produção. Esta é a segunda exposição
individual da artista em
Porto Alegre. A primeira foi em 1988, no MARGS, no qual ela
apresentou exclusivamente trabalhos em desenho. “De alguma forma, estou me
reapresentando ao público de minha cidade natal”. Segundo Elida, esta será a
primeira vez que ela mesma poderá ver uma quantidade tão grande de trabalhos
seus juntos, dialogando entre si. Frequentemente, ela realiza proposições para
lugares específicos, de acordo com as características arquitetônicas do local.
A mostra Elida Tessler:
gramática intuitiva, no terceiro andar da instituição, apresenta 14
instalações com curadoria de Gloria Ferreira e marca o encontro entre ela e
e Elida, que teve início como colegas de Doutorado em 1989, em Paris. Desde então,
elas vem mantendo uma conversa em exposições no Brasil e no exterior e em
atividades acadêmicas. “Para mim, esta curadoria veio dar forma a um intenso e
precioso diálogo, concebido em torno de dois eixos principais: a relação entre
arte e literatura, incluindo a presença da palavra no contexto das artes
visuais, e a questão da passagem do tempo e seus registros cotidianos”, conta
Elida.
A artista tem utilizado o
termo “gramática intuitiva” informalmente há alguns anos, quando percebeu que
para realizar os trabalhos, criava regras preliminares, com a intenção de
sublinhar palavras específicas em suas leituras literárias. Para a concepção de
O homem sem qualidades caça palavras (2007), por exemplo, Elida
estabeleceu a regra de rasurar todos os adjetivos no livro, assumindo o que
estava sendo sugerido pelo próprio título do romance do autor austríaco Robert
Musil,O Homem Sem Qualidades. O trabalho reúne 134 telas de algodão cru
com formato correspondente àquelas das revistas de passatempo. Em cada tela, há
40 adjetivos retirados do romance de Musil. Além dos adjetivos, Elida também
realizou outros trabalhos que envolveram o uso de substantivos, verbos,
advérbios e gerúndios.
Diálogo entre o visível e o dizível
Segundo a curadora Glória
Ferreira, ao criar diferentes imagens que dão suporte a seu jogo com a
linguagem, Elida Tessler dialoga com a tradição da relação entre o visível e o
dizível, entre a imagem e a linguagem. “A gramática, com sua longa história,
com suas regras de regulação, é como que desfeita, tornando-se intuitiva,
embora a partir de regras traçadas a priori pela artista na construção
das obras. As palavras incorporadas em objetos chamam atenção para si mesmas, como
puros significantes, obstruindo qualquer possibilidade de sintaxe passível de
transmitir um significado completo e compreensível da mensagem verbal”. Desta forma, palavra e objeto se cruzam em sentidos
diversos em uma relação entre arte e vida.
Para a exposição, Elida criou
um trabalho inédito no qual faz uma referência especial ao livro de Iberê
Camargo Gaveta dos Guardados e ao de Gonçalo M. Tavares, Biblioteca.
“Tenho particular apreço por livros e bibliotecas. Guardo na memória o ato de
buscar as referências nos fichários do Instituto de Artes da Ufrgs desde os
meus tempos de estudante”. Há alguns anos, Elida encontrou alguns pacotes
contendo as fichas catalográficas que seriam descartadas após a digitalização.
“Certamente o trabalho assumiria uma espécie de homenagem à biblioteca”.
O trabalho resultou em um
móvel de madeira, evocando a gaveta do fichário original, apresentado de forma
circular, aludindo a um determinado ciclo de tempo. As fichas foram
classificadas em ordem alfabética pelo sobrenome do autor, sem distinguir as
áreas de conhecimento: música, teatro, artes visuais, arquitetura, literatura,
física, filosofia entre outras. Além das letras do alfabeto, um dos separadores
indica uma nova possibilidade de classificação, com a palavra impressa em
latim: et cetera.
Além de todas as fichas da
biblioteca do Instituto de Artes, a artista criou 40 fichas catalográficas
correspondendo a trabalhos realizados por ela a partir de obras literárias,
mimetizando a forma de apresentação gráfica das fichas originais. “Nos tempos
atuais, quando tanto se discute a substituição do ‘objeto livro’ pelo ‘livro
eletrônico’, e por esta via, as aceleradas transformações que estamos vivendo,
este trabalho propõe uma reflexão sobre o descarte e a memória das coisas”.
Elida Tessler - O homem sem qualidades, 2007 |
OS
ARTISTAS E CURADORES
Paulo
Pasta vive e trabalha em São Paulo. É doutor em
artes plásticas pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Lecionou pintura
nesta instituição e é professor licenciado da Faap. Participou de várias
exposições coletivas, nacionais e internacionais, bem como de mostras
individuais em museus, galerias e instituições. Em 2012, a editora WF Martins
Fontes, publicou seu livro de ensaios A Educação pela Pintura. Teve uma sala
especial na 22ª Bienal de São Paulo (1994) e foi premiado no Salão Nacional
(1989) e no Panorama da Arte Brasileira do MAM (1997). Em 2000, foi um dos onze
artistas brasileiros selecionados para a Mostra do Redescobrimento: Brasil
500 Anos, que inaugurou em
São Paulo e foi também exibida em Portugal.
Tadeu
Chiarelli é professor titular junto
ao Departamento de Artes Plásticas da ECA-USP e diretor do Museu de Arte
Contemporânea da Universidade de São Paulo, desde 2010. Foi curador-chefe do
Museu de Arte Moderna de São Paulo entre 1996 e 2000. Em 1999, publicou a
coletânea de artigos Arte
Internacional Brasileira, pela Lemos Editorial. Tem livros
publicados sobre a obra de Leda
Catunda (Cosac Naify) e Nelson Leirner (Takano). Tem no prelo o livro
sobre a crítica de arte de Mário de Andrade, baseado em sua tese de
doutoramento, defendida na USP em 1996.
Elida
Tessler é artista plástica e
professora do Departamento de Artes Visuais e do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais do
Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Realizou
doutorado em História da Arte Contemporânea na Université de Paris I -
Panthéon-Sorbonne (França), e Pós-Doutorado na EHESS-Ecole des Hautes
Etudes en Sciences Sociales e junto ao Centro de Filosofia da Arte - UFR de
Philosophie - Université de Paris I- Panthéon – Sorbonne. É pesquisadora do
CNPq, desenvolvendo pesquisa em torno das questões que envolvem arte e
literatura, relacionando a palavra escrita à imagem visual. Manteve durante 16
anos em Porto Alegre ,
ao lado de Jailton Moreira, o Torreão, espaço de trabalho, formação e intervenções de arte contemporânea.
Glória Ferreira é doutora em História da Arte pela
Universidade de Paris I - Sorbonne, professora colaboradora da EBA/UFRJ,
crítica e curadora. Entre suas curadorias recentes destaca-se Arte como questão
– anos 70 (2007) e, entre suas publicações, coorganizou as coletâneas Clement
Greenberg e o debate crítico (1997) e Escritos de artistas 1960/1970 (2006);
organizou a coletânea Crítica de arte no Brasil: temáticas contemporâneas
(2006) e Arte contemporáneo brasileño: documentos y críticas / Contemporary
Brazilian Art: Documents and Critical Texts (2009) e é coautora do livro Sobre
o Ofício do Curador (2010).
SERVIÇO
Exposição Paulo Pasta. e Elida Tessler:
Abertura:
06 de junho, para convidados. Vsitação:
de 07 de junho a 18 de agosto. De terça a domingo, das 12h às 19h e quinta, das
12h às 21h.
Local: Fundação Iberê Camargo - Av.
Padre Cacique, 2000, Porto Alegre - RS
ENTRADA FRANCA: As empresas Gerdau, Itaú, Vonpar e De Lage Landen garantem a
gratuidade do ingresso.
INFORMAÇÕES: 3247.8000
ou pelo site www.iberecamargo.org.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário