Heitor Moniz no "Segundo Reinado" nos conta que: "um dia, na França, saindo da casa de Victor Hugo, ouviu sobre Dom Pedro estas palavras do grande romancista político: "Felizmente não temos na Europa um monarca como Vossa Majestade....". Volta-se o imperador e pergunta com aquela sua vivacidade habitual: "Por quê?". E Victor Hugo tranquilamente, com o sorriso a lhe aflorar nos lábios: "porque, se houvesse, não existiria um só republicano...".
Diferente do temperamento de seu genitor, o Imperador Pedro I, durante tão longo e benfazejo reinado, Pedro II era o símbolo da honestidade, da honradez, do democrata, um homem probo, o rei filósofo! É bem verdade que se encontrava alquebrado e senil, sem ter a idade tão avançada, pois as preocupações, os trabalhos, as canseiras naquele meio século de governo lhe havia roubado a saúde. Encontrava um pouco de paz e sossego nas viagens à Petrópolis.
Ainda Heitor Moniz se refere à figura do excelente Imperador: "com seu grande espírito de justiça, a sua profunda honestidade e o coração magnânimo, que batia no seu peito, terá sido um rei completo".
Com a guerra do Paraguai, muito longa, os militares se imiscuíram na esfera civil, com ideias positivistas e maçônicas. A república já nasceria eivada de mentiras, de conchavos e logo teria início o leilão de cargos públicos, os apadrinhamentos, a corrupção que se instalaria endemicamente em todo o canto. Hoje, a corrupção é quase uma instituição...
Aquela sentinela sempre vigilante que tudo acompanhava, fiscalizava, orientava e agia com o poder Moderador, deixou de existir, bem como o famoso "livro preto", caderninho de anotações que D. Pedro carregava consigo, onde tomava nota de tudo que necessitava de reparo, de punição, de elogio, enfim, de ser observado, por isso era tão temido aquele caderno de notas.
Sua fama no exterior era tão grande e boa que Magalhães de Azevedo nos conta que cansou de ouvir esta pergunta: "...Mas porquê destronaram e velho Imperador D. Pedro II, tão bom e tão sábio?". "E de uma feita escutou mesmo: "- Pois nós se cá o tivéssemos e ele quisesse deixar-nos, o faríamos prisioneiro para que não se pudesse ir embora!"
" A mediocridade logo tomaria conta de tudo, sendo os cargos ocupados, não raro, por elementos de péssimo caráter, índoles baixíssimas, formação precária, ou seja, por uma "gentinha", duma boçalidade
gritante. Os efeitos não tardaram a aparecer: o povo não sabia o que era inflação, pois havia deflação no sábio governo do velho Imperador, impostos foram se multiplicando, que hoje já perdemos a conta de quantos são, as crises foram se sucedendo uma a outra, o povo passou a viver de sobressaltos.
A democracia foi golpeada naquilo que havia de mais sagrado, ou seja, a liberdade de expressão, a continuidade, a paz, a estabilidade. Os golpes de Estado, um após outro, renúncias, "impeachment", o governo tornou-se instável. A disparidade entre as classes sociais tornou-se vergonhosa, pornográfica, poucos com muito, muitos com quase nada! A cultura e o ensino se deterioram a ponto de hoje existiram universitários "semi-analfabetos", a escola faz de conta que ensina, o aluno, que aprende, o ensino, um verniz que a nada resiste, pois nem a língua pátria se sabe mais...
Mas voltemos à página triste da partida do velho Imperador. Na calada da noite, feito "negro fugido", partiu o pequeno préstito e o povo " a tudo assistiu bestificado", conta a história.
A Imperatriz e a Princesa Isabel coberta de véus, o Imperador cambaleando, dirigiram-se para o exílio. A medida do embarque prematuro assim ocorreu, pois os republicanos bem sabiam que, a luz do dia o clamor popular seria inevitável. Dom Pedro II era respeitado por todos e sua aparência, agora frágil, doente e velho inspiravam veneração. A Princesa Isabel tornou-se, para a população negra, quase uma santa que havia remido uma raça do cativeiro, mesmo que para isso perdesse o trono e a coroa.
Por Pe. Benedito A. Jahnel
Nota
A reportagem “O Império Leiloado”, sobre o primeiro Leilão de Arte do Brasil feito com os bens da Família Imperial banida pela República, publicada na Edição Extra Salão de Arte, em agosto passado, teve uma grande repercussão. Leitores do jornal A Relíquia e profissionais do mercado de arte de todo o Brasil elogiaram bastante a matéria. Recebemos inúmeros e-mails e cartas sobre o assunto, que se fossem publicados, ocupariam diversas páginas. O artigo acima é de autoria do Padre Benedito A. Jahnel, e poderia perfeitamente servir de complemento à referida reportagem.
O Editor
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