A visão geográfica de nossos antepassados pode, no mínimo, causar surpresa a olhos pós-modernos. Para eles, a Terra era chata e circular e a Grécia ocupava seu centro. O Mediterrâneo, fonte de vida daquele povo, era conhecido como Mar. E como Oceano era conhecido um fluxo d´água que, acreditava-se, circundava a Terra e supria todos os rios e o Mar, além de ser o local de onde se levantavam e no qual se deitavam os astros.
Ao norte daquelas terras estava um povo que vivia livre de velhice, trabalho ou guerra: os hiperbóreos. Ao sul viviam os etíopes, que também eram tão apreciados pelos deuses que chegavam a ter o privilégio de sua companhia em cerimônias e banquetes. Os Campos Elíseos estavam na parte ocidental da Terra, e para lá iam os mortais escolhidos para gozar da imortalidade.
Os deuses regiam a vida dos gregos. Com características bem humanas, como a raiva e a inveja, não se cansavam de atormentar ou favorecer a quem bem entendessem, levando à ruína seus desafetos e a fortuna a seus escolhidos. O Monte Olimpo, sua moradia, era considerado o centro da Hélide, nome que os gregos deram a sua terra. Por sua vez, o ponto mais importante deste lugar era o palácio de Zeus, ou Júpiter, onde todos se reuniam. Mas os deuses não viviam exclusivamente no Olimpo: havia também os que habitavam a terra, a água ou as profundezas do mundo.
Avançados como eram, os gregos não poderiam deixar de se preocupar em explicar a criação do mundo. Acreditavam, aliás, em uma versão que muitas vezes coincide com os textos bíblicos. Antes de existir mares, céu ou terra, havia o Caos, que consistia em uma massa informe onde se encontravam as sementes de todas as coisas. Quando Deus e a Natureza intervieram, tudo foi para seu lugar e a terra passou a boiar sobre a água. Assim, um deus, não se sabe qual, pôde criar rios, montanhas, florestas que foram ocupados pelos seres vivos.
É desta época, uma das primeiras lendas da ser mitologia. Conta ela que, tornando-se necessária a criação de um animal superior que dominasse a Terra, Prometeu, da raça dos Titãs, gigantes filhos da Terra e do céu, surgidos do Caos, tomou um pouco de terra e, misturando-a com a água, fez o Homem à semelhança dos deuses. E o fez de forma que, ao contrário dos outros animais, que têm o rosto voltado para baixo, pudesse levantar a cabeça e olhar para o céu. Por fim, para assegurar a hegemonia de sua criação, dotou-a do artifício do fogo. Para tanto, ergueu-se ao céu com a ajuda de Minerva e roubou de Hefestos um pouco do fogo do Sol.
Da ira divina contra o roubo do fogo celeste nasceria a primeira mulher, com o destino de castigar os homens. Pandora recebeu uma qualidade de cada deus, a beleza, a graça, a dança, mas Hermes colocou em seu coração a traição e a mentira. Assim munida, desceu à Terra. Foi então oferecida como esposa a Epimeteu, irmão de Prometeu, que a aceitou de bom grado, embora advertido pelo irmão para ser cauteloso com os presentes de Júpiter. Tomada de incontrolável curiosidade por uma caixa que Epimeteu mantinha em casa, Pandora a abriu e acabou por liberar todos os males que não haviam sido usados na confecção do mundo, contaminando os homens com a velhice, a doença, a paixão. O único artigo que sobrou na caixa foi a esperança, originando a lenda de que esta não nos deixa nunca.
Criada a Terra, sua primeira Era foi a Idade do Ouro, um tempo de fartura e plenitude, quando Júpiter proporcionou aos humanos uma primavera eterna e a soberania da verdade e da justiça. Estes tempos foram sucedidos pela Idade da Prata, na qual o ano foi dividido em estações e as primeiras provações, como o frio e a necessidade de plantar e colher, foram impingidas aos homens. A idade do Bronze foi início da degradação humana e culminou na Idade do Ferro, a pior de todas, que assistiu ao nascimento do crime, da guerra, da ganância e ao abandono dos deuses, dos quais só um restou, Astréia, deusa da pureza.
Numa passagem quase idêntica a das Escrituras, Júpiter, o pai dos deuses, furioso com o rumo que suas criaturas tomavam, decidiu dar um fim ao mundo e recomeçá-lo com uma nova raça. O caminho escolhido, como já se pode prever, foi um dilúvio avassalador, que cobriu a terra e dizimou os seres vivos. O monte Parnaso foi o único cume a ultrapassar as águas, salvando dois mortais, Deucalião, filho de Prometeu, e sua esposa, Pirra. Mas também há outra versão segundo a qual, alertado por Prometeu, o casal construiu uma arca e sobreviveu à inundação de nove dias e nove noites. De qualquer forma, sabendo que os sobreviventes haviam levado uma vida digna, Zeus ordenou o fim do cataclismo e a vida pôde recomeçar.
Prometeu ainda pagaria por seu amor à humanidade, sua criação. Pelo roubo do fogo e por ter salvado do dilúvio dois humanos, foi condenado por Zeus a ficar acorrentado num rochedo do Cáucaso, onde um abutre lhe bicaria eternamente o fígado, que devorado durante o dia, se regenerava à noite. Somente após trinta anos de suplício, Zeus concedeu a liberdade e a imortalidade a Prometeu, tornando-o um deus. Enviou o herói Héracles, ou Hércules para os romanos, que matou o pássaro e rompeu os grilhões do prisioneiro. A humanidade, agradecida, ergueu templos em louvor a seu benfeitor e criou o hábito de usar anéis para celebrar o fim da servidão.
Por Joana Faro
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