Museu do Prado


Num edifício de estilo neoclássico, construído no final do século 18, em Madrid, está o Museu Nacional do Prado, o mais importante da Espanha e um dos principais museus do mundo. A construção, parte de um complexo assinado pelo lendário arquiteto Juan de Villanueva, foi projetada inicialmente para abrigar o Gabinete de História Natural. O "Museu Real de Pintura e Escultura", como foi chamado no começo, foi fundado em 1819 pelo rei Fernando VII com obras colecionadas por seus antepassados nobres. Nesta época, a criação de museus para abrigar as coleções reais era atitude comum na maioria dos países da Europa. O Museu do Prado já nasceu uma instituição sólida, guardando tesouros de valor inestimável. Protegeu suas obras e sobreviveu, sem muitos estragos, à Guerra da Independência, ainda durante sua construção, à Guerra Civil Espanhola e à Segunda Guerra Mundial.
El GRECO (1540-1614) – “O cavaleiro da mão no peito”, 81 x 66 cm. A mão mais popular da pintura espanhola
A história do Museu do Prado começa um pouco antes de sua criação, parte de uma série de reformas promovidas na cidade de Madrid pelo Rei Carlos III, da Casa de Bourbon, que pretendia transformá-la num centro urbano tão belo e moderno como as demais capitais europeias. Desde que se tornara capital espanhola durante o reinado de Felipe II, Madrid havia sofrido um repentino e desordenado crescimento urbano e populacional. Engenheiros e arquitetos foram mobilizados e o centro das reformas se deu na abertura do Prado dos Jerónimos, que recebeu este nome devido à Igreja e ao Convento de San Jerónimo el Real, que hoje estão atrás do museu. As imediações do Prado passaram a constituir uma área muito bem arborizada, rica em fontes monumentais, como Cibeles, Apolo e Netuno, inspiradas nos temas clássicos.
Um conjunto de prédios imponentes, que seriam destinados às ciências, foi erguido ao longo do Prado dos Jerónimos. O projeto de Juan de Villanueva previa um gabinete de história natural, um jardim botânico e um observatório astronômico. clusivamente para aquilo que foi projetado e permanece conservado até hoje. O Edifício Villanueva, sede do Museu do Prado, começou a ser construído em 1785, mas as obras ficaram paralisadas durante a Guerra da Independência, no início do século XIX, quando o prédio serviu de quartel para a cavalaria e paiol para os exércitos de Napoleão. Depois do conflito, boa parte do material de construção havia sido saqueada pela população que necessitava reconstruir suas casas.

FRA ANGELICO – “A Anunciação”, 194 x 194 cm
E desta forma conturbada se iniciou o reinado de Fernando VII, neto de Carlos III. Foi ele quem decidiu criar um museu para abrigar as coleções de arte da monarquia espanhola, atendendo assim aos insistentes pedidos da Real Academia de Belas Artes e de sua segunda esposa, Maria Isabel de Bragança, considerada a verdadeira fundadora do museu. Esse foi o passo inicial para a retomada das obras no Gabinete de História Natural, seguindo o projeto de Villanueva, que deixara, além de plantas, uma maquete de 4 metros de comprimento. A construção foi concluída 10 anos depois e, ao todo, levou 45 anos para ficar pronta. Infelizmente Maria Isabel não viveu para ver a inauguração, que aconteceu em 19 de novembro de 1819. Inicialmente a instituição se chamou Museu Real de Pintura e Escultura. A decoração da fachada - formada por uma galeria de 14 arcos adornados com esculturas e medalhões - durou mais cinco anos e nela se destaca um grande friso sobre a porta oeste, que está de frente para o Passeio do Prado. Este local especificamente passou a ser chamado de "Porta de Velázquez" depois da colocação de uma estátua em homenagem ao centenário do pintor, e lá existe ainda uma escultura de Maria Isabel de Bragança recebendo os visitantes. Há ainda estátuas de Goya e Murillo.

RAFAEL SANZIO (1483-1520) “A Sagrada Família” (A pérola), assim chamado por Felipe V, quando a contemplou pela primeira vez. 144 x 115 cm

SANDRO BOTTICELLI (1445-1510) “A história de Nastágio” (quadro III) 138 x 83 cm
Quando abriu as portas, a galeria de quadros exibia cerca de 300 obras, apesar de já possuir mais de 1500 no acervo. Os espaços ainda estavam sendo preparados para recebê-las. No princípio, o museu só abria uma vez por semana e o público visitante era bastante seleto, pois era necessário permissão especial da Corte para visitá-lo. Mesmo depois da criação do museu, as obras continuaram a ser propriedade de El Rey.

CORREGGIO (1493-1534) "A Virgem e o Menino e São João" - 48 x 37 cm

Francisco de GOYA (1746-1828) "O guarda-sol" 104 x 152 cm
Com a morte de Fernando VII o tesouro do Museu Real quase foi dividido junto com outros bens que compunham a herança destinada às duas filhas do monarca, Isabel e Luisa Fernanda. Um acordo proposto pelo então diretor da instituição, o Duque de Hijar, evitou a partilha naquilo que cabia ao acervo do Prado. Por iniciativa da regente Maria Cristina, pouco depois deste episódio, a coleção passou a ser vinculada à Coroa Espanhola e não à figura de um monarca. A monarquia dos Bourbon chegou ao fim em 1868, quando foi expulsa da Espanha a Rainha Isabel II. Os bens da coroa se nacionalizaram e o museu assumiu seu nome definitivo: Museu Nacional do Prado.

Bartolomé E. MURILLO (1617-1682) "Os meninos da concha" (detalhe). 104 x 124 cm.
Somente um décimo do acervo, que conta com cerca de 30 mil obras, está exposto nos dois prédios, o edifício Villanueva e a Casa del Buen Retiro. O restante está distribuído por outros museus, instituições e organizações públicas ou armazenado em salas climatizadas nas dependências do museu. Além da coleção real, o acervo é formado pelas obras do Museu da Trindade, doadas ao Prado no final do século XIX. Trata-se de um conjunto que apresenta basicamente temática religiosa, formado por expropriações dos bens eclesiásticos, como forma de amortização das dívidas do clero com o reino. Aquisições, doações e legados também ajudaram a diversificar e aumentar o número de peças.

Jacopo TINTORETTO ( 1518-1594) “O Lavatório” (detalhe) - 210 x 533 cm
Esculturas, gravuras, móveis, arte decorativa, moedas e medalhas enriquecem a coleção, mas a grande maioria do acervo é formada por pinturas. O Prado mantém 100 telas e 490 desenhos de Goya, 50 telas de Velásquez, 50 de Rivera, 34 de El Greco, 40 de Murillo e ainda várias de Zurbarán. Além de reunir o que há de mais importante da escola espanhola, o Museu do Prado possui uma significativa coleção de arte italiana, incluindo Fra Angelico, Rafael, Tintoretto, Bellini, 37 telas de Ticiano, e também da escola flamenca; são 84 quadros de Peter Paul Rubens, 24 de Van Dyck, telas de Van der Weyden, somando-se ainda trabalhos de Rembrandt e Jan Breughel.

REMBRANDT (1606-1669) “Artemisa”, 142 x 153 cm
Entre as galerias mais visitadas está a ala de Velázquez, as salas destinadas à El Greco e ao misterioso Bosch, chamado El Bosco, autor do triplico Jardim das Delícias. Uma das principais atrações é o salão dos Retratos de Goya, que foi diretor da Academia das Artes em 1785 e nomeado pintor da corte em 1786. Colaborador dos franceses durante as invasões napoleônicas, Goya, odiado pelo povo, teve de sair da Espanha durante a Guerra da Independência, que começou em 1808. Mas a tela Dois de Maio, que representa o massacre do povo espanhol na data do levante contra as tropas francesas, o quadro Três de Maio de 1808 e a série de pinturas com o tema "Desastres" revelam que, secretamente, o pintor estava do lado de seus compatriotas.

Diego VELÁZQUEZ (1599-1660) “O conde-duque de Olivares’, 313 x 239 cm
Devido à grandiosidade do acervo, o Museu do Prado foi ampliado três vezes no último século e, recentemente, em 1971 e em 1985, incorporou dois edifícios vizinhos, Casón del Buen Retiro e Palacio de Villahermosa. O Casón del Buen Retiro abriga as obras do século XIX, uma coleção de mais de 3 mil pinturas e grande quantidade de esculturas. Lá esteve guardado, protegido por um espesso vidro a prova de balas, um dos maiores tesouros do Prado. Em 1981 foi entregue ao museu o conjunto de obras intitulado "Legado Picasso" e entre elas encontrava-se Guernica, tela símbolo do massacre à cidadezinha espanhola durante a Guerra Civil. Em 1992 este legado foi depositado no Museu de Arte Contemporânea da Rainha Sofia. Seja no Prado ou em seu local atual, Guernica está exatamente onde Picasso pediu, em testamento, que ela estivesse: numa Espanha democrática.
O Museu do Prado está entre um dos mais visitados do mundo, sendo necessário se disponibilizar ingressos antecipadamente durante a alta temporada de turismo. Além de apresentar ao público os tesouros de seu acervo em exposições permanentes, o Prado realiza exposições temporárias de muito sucesso como, por exemplo, uma de Ticiano, com 65 pinturas do artista provenientes de diversas instituições e coleções particulares européias e americanas, o maior conjunto reunido desde 1935.

C. de LORENA – “Embarque em Ostia de Santa Paula Romana” - 211 x 145 cm
Segundo Francisco Javier S. Cantón, ex-diretor do museu, "no Prado não estão representados todos os pintores, mas sim toda a cultura da Europa". E o conselho que ele deu aos espanhóis - "É necessário sempre voltar ao museu... as motivações são demasiadas" - vale também para os todos os viajantes do mundo. O museu tem duas entradas, a porta de Velázquez e a Porta de Goya, nomes não oficiais, dados pelo povo, mas que pegou. A entrada pela porta de Goya permite uma visita mais ordenada e mais lógica das coleções. Depois da grande rotunda, três caminhos se abrem ao visitante: a galeria italiana, a galeria espanhola e a galeria flamenca. É só escolher.

Fonte: Museu do Prado - Fotos: reproduções/ A Relíquia


Serviço
Museu do Prado - Paseo de Prado, s/n.
Entradas: Goya (norte) e Murillo (sul).
Visitas: de terça a sábado, das 9h às 19h. Domingos e feriados, das 9h às 14h.
Informações: O museu tem ainda biblioteca, loja, restaurante, livraria e um café.

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