O primeiro passo para quem quer
organizar uma feira de arte é abrir uma empresa e fazer o projeto, lógico , não
necessariamente nessa ordem. Depois, o responsável precisa conseguir
patrocínio, o mais difícil, mas se os organizadores forem amigos, coligados ou
tiverem influência junto ao prefeito da sua cidade, podem conseguir dinheiro da
prefeitura. É difícil, mas há exemplo, como dinheiro que veio da
Secretária de Turismo, que nada ganha
com o evento, porque o aumento da ocupação hoteleira e do fluxo de turistas não
sofre nenhuma alteração, visto que quem frequenta esse tipo de evento é gente
do mercado de arte, que viria à feira de qualquer jeito, com ou sem dinheiro da
prefeitura. Dinheiro meu, seu, nosso, dinheiro do povo, dado sem licitação para
viabilizar a realização de um evento privado que visa o lucro. Nem dinheiro de
imposto a prefeitura ganhou, pois isentou de tributos a feira.
No entanto, não é fácil conseguir
dinheiro da prefeitura. O prefeito de sua cidade, para liberar a verba, pode
exigir que você aceite, como sócios, alguns investidores indicados, como uma
dupla de empresários conhecidos. Isso é muito importante nessa receita: o
ingresso, depois de tudo organizado e com o dinheiro da prefeitura na mão, de
investidores coligados ao prefeito, que colocam mais dinheiro e entram no
negócio. Junto aos novos sócios vem uma série de benesses, como a liberação de
impostos municipais e estaduais, espaço expositivo a preço de banana ou de
graça mesmo, entre outras coisas mais.
Com os novos sócios caindo de
paraquedas no negócio já estruturado, atraindo mais a atenção da mídia, fica
faltando o toque final para tudo dar certo. Você convoca uma coletiva de
Imprensa, imprensa que engole qualquer história mesmo, e comunica que, em
função da importância do projeto para a cidade e para o mercado de arte, e blá,
blá, blá, além do dinheiro da prefeitura, os investidores, conscientes do
potencial de lucro da feira foram convidados e aceitaram participar do projeto.
Não pode dizer que os investidores foram impostos pelo prefeito. Pronto, agora
é só tocar o negócio, convidar as galerias de arte e conseguir novos
patrocinadores, porque aí fica mais fácil.
Mas, há mais um detalhe de suma importância: mesmo existindo
outras feiras de arte no Brasil, você não deve dizer que o formato da sua é
igual ou parecido com o dessas outras feiras. Você pode até copiar o formato de
uma feira mais tradicional de São Paulo, por exemplo, mas nunca vai admitir
isso. Vai dizer que viajou o mundo todo, que visitou os mais importantes
eventos desse tipo na Europa e nos Estados Unidos, para então elaborar um
projeto original e maravilhoso baseado no que essas grandes feiras
internacionais têm de melhor. Que beleza!
Outro item fundamental na receita
para fazer uma feira de arte diz respeito aos organizadores, que devem ser do
mercado de arte, de preferência artistas plásticos desconhecidos, cujas obras
ninguém ouviu falar, ou então curadores anônimos de exposições que ninguém viu,
ou autores de livros que ninguém leu. Não importa, uma boa assessoria de
imprensa enfeita o pavão, a mídia divulga e essas pessoas do nada viram
celebridades.
Essa é apenas um das receitas para se organizar uma
feira de arte no Brasil. A mais fácil!
Existem outras, mais trabalhosas, como você colocar dinheiro do seu
próprio bolso, conseguir patrocínio direto ou através da Lei Rouanet, investir
em publicidade, pagar os impostos devidos, escolher um bom local com um aluguel
que compense o custo-benefício, convencer as galerias a pagarem bem pelos
espaços etc. Mas, é claro que qualquer um vai preferir a primeira receita,
quase uma fórmula mágica. (L.C.O.)
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