A Tradição mora em Londres

Fotos por Litiere C. Oliveira

Se a capital da Itália foi o berço da civilização romana e séculos depois o centro mundial das artes, papel assumido mais tarde por Paris, que criou diversos estilos de arte e movimentos culturais, Londres nunca esteve na vanguarda da criação artística, exceção feita à jardinagem. Mas a capital do Reino Unido conserva e cultiva suas tradições como nenhuma outra cidade do mundo, e guarda preciosas obras de arte nos museus, palácios e igrejas.

Um dos maiores símbolos da Londres Imperial, a Tower Bridge - Ponte da Torre -
que une as margens do Tâmisa, começou a ser construída em 1886 e foi concluída
em 1894. Ela mede 240 metros de comprimento e entre as torres neogóticas a parte central
levanta-se para permitir a passagem de navios com altura até 50 metros sobre o nível do rio
Londres possui uma história de cerca de dois mil anos e já foi o centro de um império “onde o sol nunca se punha”. A história de Londres começou quando a cidade foi fundada por volta de 43 d.C. com o nome de Londinium, no tempo em que as tropas do exército romano, lideradas pelo imperador Cláudio tomaram posse da Inglaterra. Esta fase durou cerca de 25 anos até a pilhagem pelos icenos, tribo celta, liderada pela rainha Boadiceia. Londres foi reconstruída, possibilitando um rápido desenvolvimento. nos anos seguintes. Acredita-se que se tenha tornado a capital da Britânia no século II, substituindo a antiga capital, Colchester.

Londres nasceu na margem do rio Tâmisa, onde os romanos construíram um porto fluvial, e nas primeiras décadas do século III, foi erguido o chamado Muro de Londres ao redor da cidade, muro este que serviu como limite da cidade por séculos. De acordo com os historiadores, foi no ano de 410 que a Inglaterra deixou de ser governada pelos romanos e passou ao domínio dos.bárbaros. Sua população nessa época era de aproximadamente 45.000 a 60.000 habitantes. Pouca coisa sobreviveu da Londres romana: pedaços da muralha e ruínas de algumas escassas obras da arquitetura romana.

O Big Ben, um dos símbolos da Inglaterra
Após a queda do Império Romano, a cidade romana foi praticamente abandonada e uma cidade anglo-saxônica com o nome de Lundenwic foi estabelecida a cerca de um quilômetro da velha Londinium romana, na área que hoje se chama Covent Garden. Lundenwic prosperou até 851, quando as invasões dos vikings destruíram a cidade. Em 800 a.C Londres tinha apenas 10 mil habitantes. Em 880, Alfredo expulsa os vikings, transfere o povoado de Lundenwic para dentro das antigas muralhas romanas, que passa a se chamar Ealdwic ("old city" ou "velha cidade”). Daí em diante, Londres se torna um importante centro comercial e começa a desenvolver seu auto-governo original. Em 1016, o rei dinamarquês Canuto, o Grande, conquista a Inglaterra. A dinastia saxã foi restaurada em 1043, por Eduardo, o Confessor.

Após a batalha de Hastings, em 1066, os normandos conquistam a Inglaterra, colocando um fim na dinastia anglo-saxã. Guilherme I é coroado rei inglês na recém acabada Abadia de Westminster*. No período de 1485 a 1603 a Inglaterra passou a ser governada pelos Tudor, e entre 1603 e 1714 pelos Stuart. Entre 1665 e 1666 Londres sofreu a grande epidemia da peste bubônica que matou por volta de 70.000 pessoas (20% da população). De 2 a 5 de setembro de 1666 Londres foi quase totalmente destruída por um incêndio, tendo passado por um grande processo de reconstrução que obedeceu (em parte) ao plano idealizado por Sir Christopher Wren (1632-1723), arquiteto respondável também pela construção da magnífica Catedral de Saint Paul e mais 50 igrejas.

A Catedral de Saint Paul, 2ª maior igreja do mundo, que lembra a de São
Pedro de Roma, foi construída entre os anos 1675 e 1708.A sua enorme cúpula,
com 110 metros de altura, pode ser vista de uma extensa área de Londres
A City tradicional
A City, como também é conhecida, é uma cidade cosmopolita, centro financeiro da Europa, contando hoje com mais de dez milhões de habitantes. A parte mais visitada da metrópole é a Central London, onde se localiza a Abadia de Westminster, o Palácio de Buckinghan, o Parlamento e a torre do Big Ben, e descendo o rio Tâmisa a Catedral de São Paulo, a Torre de Londres, onde as joias da Coroa ficam guardadas e a Ponte da Torre. Contudo, o maior encanto da capital londrina são seus centenários ritos e tradições.

A Tower Bridge está localizada ao lado da Torre de Londres. No fim do século XIX, a parte leste de Londres (o East End) tinha crescido consideravelmente e uma nova travessia sobre o Tâmisa se mostrava fundamental para a cidade. O projeto vencedor foi o do arquiteto Horace Jones, que consistia numa ponte cuja pista era levantada por duas básculas. O projeto foi revisado em conjunto com John Wolfe-Barry. Com a morte de Jones, Wolfe-Barry deu às torres um estilo mais aproximado ao Vitoriano Gótico. Elas se parecem com fortes escoceses da Idade Média e suas básculas abrem como uma ponte levadiça de um castelo. A construção da ponte começou em 1886. Elas foram revestidas por granito e pelas pedras de Portland (usadas em larga escala após o Incêndio de Londres) para corresponder à exigência de que a ponte ficasse parecida com a Torre de Londres. A ponte foi inaugurada em 1894, com a presença do então Príncipe de Gales, Eduardo VII.

O Big Ben, um dos maiores símbolos da Inglaterra, fornece as horas aos habitantes desde 1859. Em toda a sua história, só parou oito vezes: seis por problemas mecânicos, uma vez por causa de uma bomba alemã na Segunda Guerra Mundial e outra, por decisão das autoridades, durante os funerais de Winston Churcill. Uma das tradições londrinas está ligada ao magestoso relógio que simboliza a pontualidade britânica. Toda vez que a Câmara dos Comuns está reunida, é acesa uma luz no alto da torre do Big Ben para conhecimento da Rainha, que pode ver a luz dos seus aposentos no Palácio de Buckinghan.

É exatamente em Buckinghan que acontece um importante ritual militar, a Troca da Guarda do Palácio, que independente de ser um espetáculo para o turiata, representa a manutenção da monarquia e dos valores britânicos. A mais antiga formação militar contínua do mundo, criada há mais de 300 anos, a Guarda da Rainha compreende cinco regimentos: os Granadeiros, identificados por uma pluma branca à esquerda do chapeu de pele de urso e botões espaçados ; os Escoceses, com botões em carreiras de três e que não usam pluma; os Galeses têm plumas verdes e brancas e os botões em carreiras de cinco; os Irlandeses usam plumas azuis à direita e botões em carreira de quatro e os Coldstreams têm uma pluma vermelha à direita e botões emparelhados na túnica. A cerimônia acontece todos os dias, no verão, e em dias intercalados, no inverno, sempre às 11:30 horas.
Dizem que ir a Londres e não assistir a Troca da Guarda da Rainha é como ir
a Roma e não ver o Papa. Uma das grandes atrações da cidade que acontece
em frente ao Palácio de Buckinghan
Outra grande tradição mantida pelos ingleses refere-se à passagem de qualquer membro da Família Real, inclusive a Rainha, pela área da City. Deve-se pedir permissão ao prefeito de Londres, o "Lorde Mayor", que então vai ao encontro do solicitante real nos limites do território e lhe entrega a espada símbolo do seu cargo como prova de fidelidade à Coroa, garantindo-se uma passagem segura.

Existem muitas outras tradições que são cultuadas em Londres, como por exemplo os ônibus de dois andares, os modelos das cabines telefônicas, os táxis que continuam sendo fabricados nos moldes antigos, as centenas de milhares de pubs que continuam encerrando suas atividades às 23 horas e os restaurantes que fecham meia hora depois. Resta mencionar mais um ritual inglês cheio de charme e elegância: o hábito de tomar o chá das cinco.


*Leia matéria sobre a Abadia de Westminster na edição de novembro e a reportagem sobre a Torre de Londres na edição de outubro de 2012.

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