Eliseu Visconti no MNBA


Chega ao Rio de Janeiro a retrospectiva da obra de um dos mais importantes pintores brasileiros

Passados sessenta e três anos depois da ultima retrospectiva do artista nos seus espaços, o Museu Nacional de Belas Artes/IBRAM/MinC recebe a exposição Eliseu Visconti - A modernidade antecipada, ampliada, com cerca 250 obras, entre pinturas, desenhos, cerâmicas e documentos do artista. Das obras expostas, muitas nunca foram vistas pelo público, nem mesmo pelos especialistas em história da arte brasileiros. Elas pertencem a 15 instituições e a 80 colecionadores particulares. O maior acervo de obras do artista pertence ao MNBA.
Artista com grande presença na transição do Brasil imperial para o Brasil moderno, Eliseu Visconti antecipou a modernidade na arte brasileira, sem, no entanto, romper com suas origens nem com os artistas que o antecederam. Assim, a presente exposição tem por propósito redimensionar o legado de Visconti na história, situando-o como agente capital de tal modernização. A produção de Eliseu Visconti é apresentada em toda sua extensão, desde o início de sua carreira, em 1888, época em que ainda fazia parte da Academia Imperial de Belas-Artes, até o seu falecimento, em 1944. Em seus quase 80 anos de vida, acompanhou de perto a imensa transformação que conduziu o país de Império a Estado Novo, do escravismo ao trabalhismo, da arte romântica à arte moderna. Sua extensa obra reflete de maneira vibrante o testemunho do artista.
A retrospectiva é dividida por períodos e temas, em consonância com os trabalhos desenvolvidos pelo pintor e designer. Entre eles estão paisagens, cenas de família, retratos, nus, temas históricos, painéis decorativos e objetos de design, além de desenhos e aquarelas. Dentre as pinturas, destacam-se na exposição 25 autorretratos, dentre os mais de 40 que Visconti criou em seus 60 anos de produção. Formalmente Visconti manteve-se na produção figurativa, sendo considerado o mais expressivo representante da pintura impressionista no Brasil.
A exposição conta ainda com memorabilia variada (cadernos de apontamentos, documentos, fotografias e estudos), cenografia do ateliê do artista (cavalete, pincéis e paleta) e cronologia ilustrada.
Dentre os destaques da exposição Eliseu Visconti - A modernidade antecipada está a obra "Sonho místico", que volta ao Brasil depois de mais de 100 anos fora do país. Pintada em 1897 a tela participou em 1910 da mostra do Museu Nacional de Belas Artes de Santiago, sendo adquirida pela instituição chilena. Outro exemplo é "A convalescente" (1896), uma raridade: recém-localizada pela curadoria em uma coleção privada, estava há décadas sem ser exposta, assim como "Deveres" (1910).
O visitante terá ainda a possibilidade de acompanhar o processo artístico de Visconti na composição das obras "Maternidade" (1906) e "Recompensa de São Sebastião" (1897), por meio de estudos e variantes pouco conhecidos, e ainda apreciar "Gioventù" (1898), considerada a "Mona Lisa" brasileira, ganhadora da medalha de prata na Exposição Universal de Paris em 1900.
A mostra tem curadoria dos historiadores de arte Rafael Cardoso e Mirian Seraphim, e de Tobias Stourdzé Visconti, neto do artista e responsável pelo Projeto Eliseu Visconti, criado em 2005 para preservar e divulgar a memória do pintor.

No alto, “Sonho Místico” (1987). Museu Nacional de Belas Artes do Chile
Sobre Eliseu Visconti
Eliseu d'Angelo Visconti nasceu em Salerno, Itália, em 1866, vindo menino para o Brasil. Estudou no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro e na Academia Imperial de Belas Artes, onde foi discípulo de Victor Meirelles, Rodolfo Amoedo e Henrique Bernardelli. Com os novos ares da proclamação da República, passou a lutar contra as normas de ensino vigentes, herdadas da missão artística francesa.
Venceu em 1892 o primeiro concurso da República para o prêmio de viagem ao estrangeiro, da Escola Nacional de Belas Artes, seguindo no ano seguinte para a França. Ingressa na École Guérin, onde foi aluno de Eugène Grasset, considerado uma das mais destacadas expressões do art nouveau. Freqüenta também a Academia Julian, tendo como mestres Bouguereau e Ferrier. De temperamento inquieto e espírito aberto às inovações, Visconti mostra, em importantes trabalhos do período de sua formação na França, influências dos movimentos simbolista, impressionista e art nouveau.
Realizou sua primeira exposição individual em 1901, na Escola Nacional de Belas Artes, onde, além das telas a óleo, expôs trabalhos de arte decorativa e de arte aplicada às indústrias, resultado de seu aprendizado com Grasset. Sua produção nesse campo situa-o como introdutor do art nouveau nas artes gráficas no Brasil. Desenhou selos, ex-libris, cerâmicas, tecidos, papéis de parede, cartazes e luminárias.
Aquela primeira exposição de Visconti, que teve boa acolhida apenas entre os críticos da época, seria em parte responsável pelo convite que lhe fez o Prefeito Pereira Passos para executar os trabalhos de decoração do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, realizados em Paris.
De volta ao Brasil, outra luminosidade e outras cores exerceriam influência sobre ele. Tem início sua fase de paisagens de Teresópolis, cheias de atmosfera luminosa e transparente, de radiosa vibração tropical. Para o renomado critico Mário Pedrosa, Visconti é "o inaugurador da pintura brasileira, o seu marco divisório. Nasce uma nova paisagem na pintura do Brasil".
Três meses após ser golpeado na cabeça em um assalto ao seu ateliê, falece o artista em 15 de outubro de 1944, aos 78 anos de idade.

“Gioventu” (1898), considerada a "Mona Lisa" brasileira
Serviço

Exposição: Eliseu Visconti - A modernidade antecipada
Local: MNBA - AV. Rio Branco, - Rio de Janeiro
Visitação: Até 17 de junho de 2012
Horário: Terça a sexta-feira, das 10h/18h. Sábados, domingos e feriados, das 12h/17h

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