Museu de História da Arte de Viena

O Museu de História da Arte de Viena é um dos primeiros e mais importantes da Europa, sendo inaugurado em 1891. Mas, sua história começa séculos antes, na formação das coleções particulares de nobres (gabinetes de arte e curiosidades) que, reunidas no museu, somam cerca de 1.400 pinturas somente no acervo da Galeria de Quadros. Possuir e manter coleções de arte era um hábito que representava quase que um pré-requisito para aqueles que assumiam posições importantes como a de Governador ou Imperador, ou mesmo para os que ostentavam títulos de nobreza. Era uma confirmação da posição social de um aristocrata, até para aqueles que colecionavam por real amor à arte e por consciência da necessidade de proteção aos bens culturais.
JAN VERMEER (1632-1675) - O Artista e seu estúdio, osm - 120 x 99,5 cm
A tendência do colecionismo de pinturas e objetos de arte se acentuou no início do século XVIII, mas já no século XVI era uma prática na dinastia dos Habsburgo, o que fica evidente na observação do gosto expresso nas obras renascentistas e barrocas expostas na Galeria dos Quadros. A predileção pelos retratos é demonstrada no conjunto formado pelas obras do Imperador Maximiliano I (1459-1519), que tinha o objetivo de documentar a genealogia, as figuras ilustres da política dos Habsburgo e os ideais imperiais. A coleção de Maximiliano foi continuada por seu bisneto, o Arquiduque Fernando (1529-1595), que era grande apreciador de arte e também reuniu em seu castelo, em Ambras, um número incontável de retratos, evidentemente para detalhamento genealógico, alguns com extraordinário valor artístico, como os retratos de Carlos IX, feitos por Clouet. O primeiro a desenvolver gosto pelos mestres do Renascimento, porém, foi seu irmão, o Imperador Maximiliano II, o mais provável responsável pela compra de "Diana e Calisto", de Ticiano.
Auguste RENOIR (1841-1919) - Após o banho, ost - 92,7 x 73 cm
O mais dedicado à sua coleção foi, sem sombra de dúvidas, o Imperador Rodolfo II. Em sua casa em Praga ele procurou não só reunir a mais numerosa coleção entre seus contemporâneos, mas também a mais bela e mais bem selecionada. De gosto bastante refinado, soube reconhecer obras-primas, principalmente italianas e alemãs. No Museu de História da Arte encontram-se preciosidades desta coleção, como telas de Ticiano, Corregio e Parmigianino. Um dos prediletos de Rodolfo era o alemão Dürer. Cinco obras do artista que pertenceram ao imperador estão na Galeria dos Quadros, havendo outras na Galeria Uffizi e no Museu do Prado. Infelizmente, por causa da destruição provocada pela Guerra dos Trinta Anos, a coleção foi dispersa, mas a maioria das telas está hoje novamente reunida no Museu de Viena.
Pieter BRUEGEL (1523-1569) - Caçadores na neve, osm - 117 x 162 cm

Governador do sul da Holanda por cinco anos, o Arquiduque Ernesto era irmão de Rodolfo II. Durante esses anos que atuou junto à Coroa Espanhola, familiarizou-se com os pintores flamencos e foi responsável pela aquisição das obras de Pieter Brugel que constam da coleção do irmão. Seu sucessor no governo e também irmão, Alberto VII, tratou de continuar a ligação entre o Império Austro-Húngaro e os Países Baixos. Com inigualável gosto para arte, teve seu nome diretamente ligado ao pintor Peter Paul Rubens, de quem foi grande incentivador. Enquanto Ernesto era ligado aos artistas que já estavam na história, Alberto era patrocinador dos contemporâneos.
Essas duas visões da arte foram reunidas em uma pessoa só, na figura do governador dos Países Baixos, o Arquiduque Leopold Wilhelm. Ao mesmo tempo em que incentivava novos artistas com encomendas, acompanhava o mercado de arte adquirindo obras dos mestres do Renascimento. Na verdade, ele é o principal responsável pela criação da galeria imperial dos quadros, que mais tarde seria a Galeria de Quadros do Museu de História da Arte. Foi pelo intermédio de Leopold Wilhelm que se formou a coleção de Fernando III, de Praga, com obras adquiridas nos Países Baixos.
RAFAEL (1483-1520) - Madona no Prado, Painel em madeira medindo 113 x 88,3 cm
Quando o Arquiduque Leopold Wilhelm renunciou ao seu governo, em 1656, voltou para Viena levando consigo seu magnífico acervo, que possuía obras de Giorgione, Lotto, Palma e Veronese, só para citar alguns dos venezianos de sua predileção. Na ocasião, mandara fazer um inventário, que relacionava cerca de 1400 pinturas. As coleções de Praga e de Viena tornaram-se uma só quando chegou ao poder o Imperador Leopoldo I (1640-1705), sobrinho e único herdeiro do Arquiduque. Leopoldo I não deixou de fazer novas aquisições para enriquecer o acervo, e a sua principal fonte continuou a ser os Países Baixos.
A coleção vienense ganhou novas características quando o Imperador José II contratou o perito em história da arte Christian Von Mechel, para reorganizar os quadros segundo critérios históricos e didáticos, medida bastante plausível se considerado o período, o Iluminismo.
A maior novidade, porém, ficou por conta da abertura da galeria ao público, em 1781, doze anos antes do Louvre. Era a primeira vez que as obras de arte estavam à disposição, fora das igrejas, de quem quisesse ver. Essa iniciativa tornou a coleção de pinturas imperiais numa verdadeira instituição cultural e criou a consciência de que ela precisava ser dirigida por pessoas especializadas, estudiosos no assunto. A idéia se concretizou com a fundação do Museu de História da Arte, que já possuía, desde esta época, instalações à disposição da pesquisa.
A Galeria de Quadros é uma das nove coleções pertencentes ao Museu de História da Arte, mas ainda há outras que foram confiadas a vários museus independentes, que abrigam e conservam as obras de arte reunidas durante séculos. Abrange peças desde a antigüidade grega, romana e egípcia até a arte barroca, e está dividida na sede principal em Viena e nos museus subsidiários do Castelo de Ambras e no Museu Lipizzaner, em Innsbruck, e nos palácios de Hofburg e Schönbrunn, também em Viena. Desde 2006 fazem parte do complexo o Museu de Etnologia e o Museu Austríaco do Teatro.
VELÁZQUEZ (1599-1660) - A Infanta Margarida, ost - 127 x 107,3 cm
Após a Primeira Guerra Mundial, a Áustria se tornou uma República e todas as coleções imperiais passaram a pertencer ao povo, e foram redistribuídas. As pinturas barrocas austríacas e as do século XIX foram transferidas para o Belvedere. As pinturas francesas e alemãs do século XIX foram instaladas no Museu de História da Arte. As obras do romantismo e do expressionismo alemão, do realismo e impressionismo francês ficaram no Stallburg. Os retratos estão no Castelo de Laxenburg. As esculturas, a arte grega e romana, a arte aplicada e as coleções oriental e egípcia também estão no Museu de História da Arte de Viena, que possui laboratório próprio de restauração desde o século XIX.
No tocante à arquitetura, o Museu de História da Arte é um típico edifício público, construído na Ringstrasse, uma elegante avenida larga traçada no lugar das antigas muralhas da cidade. Foi construído por Gottfried Semper e Karl von Hasenauer em estilo renascentista italiano para abrigar a vasta coleção imperial dos Habsburgos. O projeto é de 1862, mas as obras só tiveram início em 1871 e término em 1880. Depois, houve o período de decoração e instalação dos quadros, sendo a inauguração realizada em 17 de outubro de 1891. Em prédio idêntico e localizado em frente está o Museu de História Natural, formando um grandioso complexo arquitetônico.
Durante a Segunda Guerra Mundial muitas pinturas foram escondidas. Depois do fim do conflito, a maioria não pôde voltar ao seu antigo lugar, pois os museus ficaram bastante danificados. Também houve muitos furtos e há telas desaparecidas até hoje. Em fins da década de 40, a Áustria estava numa situação política delicada e bastante indefinida. Durante este período, seleções de obras primas participaram de exposições itinerantes por outros países da Europa Ocidental e América. As pinturas só foram recolocadas no Museu de História da Arte em meados da década de 50. A instituição tem a maior coleção de trabalhos de Pieter Brüegel no mundo, além de obras-primas de Rubens, Rembrandt, Rafael, Vermeer e Dürer.
As exposições organizadas pelo Museu começaram a ser cada vez mais frequentes, separadas por Escolas e acompanhadas de catálogos cuidadosamente preparados. O perfil do visitante também havia mudado, a maioria agora era de turistas e não mais os apreciadores de arte local. Desde então, os museus no mundo inteiro tem assumido uma postura educacional de disseminação da arte e cultura.
CANALETTO (1697-1768) -Vista do desembarcadouro da Alfândega, em Veneza. Ost 45,7 x 63,5 cm

Por Monique Cardoso


Os departamentos do museu
Galeria de Pinturas, proveniente das mais antigas coleções privadas dos nobras. Possui cerca de 1.400 pinturas, especialmente de mestres venezianos (Ticiano, Veronese, Tintoretto, e outros), mas também flamengos como van Eyck, Rubens e van Dyck.
Coleção Egípcia e do Oriente Próximo, uma das maiores do mundo para obras das antigas dinastias do Egito. Iniciada em meados do século XIX, cresceu com aquisições, doações e novos achados em escavações. Sua seção sobre o Oriente Próximo conta com raridades do sul da Arábia.
Antigüidades Gregas e Romanas, originária do acervo dos Habsburgos, é também ela uma das mais importantes do mundo. Cobre um período desde a Idade do Bronze em Chipre (3.000 a.C) até achados eslavos do primeiro milênio antes da era Cristã. Possui peças raríssimas de camafeus e tesouros datando da Grande Migração do início da Idade Média.
Museu de Éfeso, com achados nas escavações empreendidas por arqueólogos austríacos nas ruínas de Éfeso, e outros provenientes da Samotrácia.
O Tesouro Secular, com peças do mais alto nível em ourivesaria, com mais de um milênio de história. Particularmente importantes são as insígnias do Sacro Império Romano e do Império Austríaco, incluindo a coroa imperial. É a maior coleção mundial de objetos da realeza européia medieval, além de contar com uma multiplicidade de outros itens em jóias e uma seção inteiramente dedicada a objetos ligados ao culto, o Tesouro Eclesiástico, com vestimentas litúrgicas, relicários, objetos de altar, etc.
Coleção de Esculturas e Artes Decorativas, com obras escultóricas, de artes aplicadas, tapeçarias, e instrumentos científicos, além de objetos naturais.
Gabinete de Numismática, com mais de 700 mil peças em moedas, medalhas, papel-moeda, ordens e outros itens.
Coleção de Instrumentos Musicais Antigos, contando com peças antigas ou que foram usadas por importantes músicos e compositores. Tem o mais importante instrumentarium de peças da Renascença.
Coleção de Armas e Armaduras, a mais bem documentada coleção deste gênero no Ocidente, sendo todas as suas peças, sem exceção, ligadas a algum acontecimento histórico notável.
Museu de Carruagens e Departamento de Uniformes, com carruagens da antiga coleção da corte austríaca, com cerca de 100 exemplares, e uma seção com os uniformes usados por seus condutores e por oficiais da corte.
Museu Lipizzaner, preservando a história da afamada Imperial Escola Espanhola de Montaria, com pinturas, aquarelas, gravuras, fotos, uniformes, equipamentos de montaria e treinamento dos cavalos Lipizzaner, além dos estábulos com seus cavalos.
O Castelo de Ambras, localizado em Innsbruck, é um importante monumento histórico por si mesmo, e busca reconstituir o modo de vida do Arquiduque Ferdinando II, generoso patrono das artes, com seções de retratos, armas, esculturas e outras peças da coleção daquele ilustrado príncipe.
A Biblioteca do museu, com mais de 240 mil volumes entre incunábulos, livros, mapas e gravuras que datam desde o século XV, é ainda um centro de pesquisas e constantemente expande seu acervo e moderniza seus recursos com material audiovisual em vários meios. Seu Arquivo possui 25 mil entradas relacionadas a itens da coleção do museu, além de manuscritos, obituários, fotos, jornais, posters e outros objetos.

Um comentário:

  1. Muito obrigado pelas excelentes explicações.
    gosto muito de museus. Me deslumbra as telas, pinturas, objetos etc. no Brasil, não temos muitas oportunidades, como na Europa. Que tem belíssimos museus.

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