Estreito de Gibraltar: Rota das Civilizações

Imponente, sentinela avançada a vigiar a única entrada natural que existe para o Mediterrâneo, Gibraltar é, certamente, o mais famoso pedaço de rocha que existe na Terra.

ortal de entrada do oceano Atlântico para o mar Mediterrâneo, o estreito de Gibraltar sempre foi visto, desde a época dos fenícios, romanos e cartagineses, como um local de maior importância no relacionamento entre os povos da África e da Europa. Separando os dois continentes por distâncias que em alguns pontos mal chegam aos quinze quilômetros (a máxima é a existente entre o rochedo de Gibraltar, possessão inglesa, na Europa, e o monte Acho, na Ceuta espanhola, do lado africano). Foi pelo estreito de Gibraltar que o cartaginês Aníbal levou os seus exércitos à Espanha no intuito de chegar a Roma por terra atravessando os Pirineus. E foi através dele que o general muçulmano Tarik Ibn Zeyad pôs os pés na península Ibérica, no ano 711, dando início a uma ocupação que duraria vários séculos. E foi em homenagem a Tarik que o rochedo recebeu o nome de Gabel al Tarik - montanha de Tarik -, o qual, com o passar do tempo, acabou por transformar-se em Gibraltar.
Dada a importância estratégica do estreito, várias cidades foram surgindo às suas margens: Algeciras, Tarifa, La Línea, Ceuta, Tanger e Gibraltar. A entrada desta última, como cabeça-de-ponte para a invasão moura, parece ter conferido ao local uma constante herança guerreira. Foi uma das praças fortes mais importantes do mundo, tendo um papel preponderante na Primeira e na Segunda Guerras Mundiais, sendo, ainda hoje, uma estratégica base militar britânica. Foi de seu porto que saiu a maioria dos navios que foram combater os argentinos nas ilhas Malvinas.
A marca registrada do local, o rochedo - chamado simplesmente the rock pelos habitantes -, é a grande vedete da região, com sua imponência e seus 425 metros de altitude. Ele se acha presente em qualquer panorama, seja da Espanha, seja do Marrocos. Por suas encostas esparrama-se uma vegetação rala, sendo que no lado oriental sobressaem vários paredões de concreto para a coleta de água pluvial, testemunhos de sua deficiência em água potável.
Dentro do rochedo, além da base militar, existe a caverna de Saint Michael, que penetra dezenas de metros pelo interior, com vários conjuntos de estalactites e estalagmites, artisticamente iluminados por refletores multicoloridos. Já a cidade de Gibraltar, situada fora do rochedo, tem como grande atrativo o fato de ser um porto franco, delícia dos marroquinos de Tanger, que ali vão se abastecer de produtos encontrados a preços exorbitantes no lado africano.
Três das "portas" do Mediterrâneo são espanholas. Em frente ao rochedo, do outro lado da baía de Algeciras, fica a cidade que lhe dá o nome. Chamada pelos romanos de Julia Trasducta, Algeciras é, hoje, o grande porto europeu do estreito, canalizando todas as ligações marítimas com a África.
A vinte quilômetros de Algeciras, encontra-se Tarifa, o ponto mais meridional da península Ibérica. Seu nome também deriva do conquistador Tarik. Por ser ponto de união entre a Costa do Sol e a Costa da Luz, que segue até a fronteira com Portugal, Tarifa se orgulha de suas praias que, segundo os espanhóis, são banhadas pelas águas dos dois mares.


O grande rochedo 


Do outro lado do estreito, na costa africana, ficam a Ceuta espanhola e a Tanger marroquina. Ceuta possui uma longa história de dois milênios. Inúmeras culturas por ali passaram, tornando-a cada vez mais frequentada, agitada e próspera. Mercadores genoveses, venezianos, catalões ou mersalheses estabeleceram um ativo intercâmbio comercial nesse final de linha da rota africana. O apogeu de Ceuta deu-se entre os séculos XII e XIV e ficou marcado pela construção de diversos monumentos, inúmeras mesquitas e uma importante universidade.
Tanger é a principal cidade do estreito, palco de conferências entre potências européias e cenário de um imenso mercado onde se encontra qualquer tipo de produto à venda, Tânger ganhou uma reputação digna de romance, explorada pelo cinema e pela literatura. As magníficas mansões passaram a ter novos proprietários: os príncipes árabes, que investem na cidade os seus petrodólares. Ali eles se sentem junto ao seu idioma e costumes tradicionais. E bem mais próximo ao consumismo europeu, que tanto os atrai.


O farol de Cabo Espartel, nas proximidades de Tanger, a primeira luz a indicar aos navegantes a entrada do estreito


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