Galeria de Arte Moderna e Contemporânea da Índia

Por Maria Helena Avena


A Índia é de fato o país dos contrastes, onde o moderno e o antigo convivem harmoniosamente, com a população transitando entre os dois "mundos" com mestria. Apresentamos nesta matéria uma das faces da Índia ainda desconhecida do grande público: a Galeria Nacional de Arte Moderna - GNAM, em Nova Delhi.

A Galeria foi fundada em 1954, pelo então vice-presidente da Índia, Dr. S. Radhakrishnan, estando localizada na capital da Índia, com filial em Mumbai e Bangalore. Em Delhi, está situada num local privilegiado, em frente ao famoso monumento "Portão da Índia", num edifício que era um antigo e magnífico palácio residencial pertencente ao Marajá de Jaipur, conhecido como "Casa de Jaipur", projetado pelo arquiteto inglês Sir Arthur Bloomfield, em 1936.

Embora a ideia da Galeria Nacional tenha surgido em 1949, só foi oficialmente inaugurada por S. Radhakrishnan, em 1954, na presença do primeiro-ministro Jawaharlal Nehru. Sua coleção rica e variada é composta de mais de 17 mil objetos de arte - pinturas, esculturas, gravuras e fotografias.

Um famoso historiador de arte alemã, Hermann Goetz (1898-1976), foi o primeiro curador da galeria e acrescentou novas instalações, como serviços de restauração de arte, Biblioteca e um Centro de Documentação.

A Galeria abriga obras de arte que contam a trajetória da arte indiana moderna, através da transformação pictórica da linguagem, uma rica coleção de pinturas do século XIX ao começo do século XX. Sua coleção é composta de obras de artistas como Thomas Daniell, Raja Ravi Verma, Abanindranath Tagore, Rabindranath Tagore, Tagore Gaganendranath, Bose Nandalal, Roy Jamini, Amrita Sher-Gil, bem como pintores estrangeiros, além de esculturas de vários artistas. Algumas das mais antigas obras, ali expostas, datam de 1857.



"New Wings" - a nova ala da Galeria



"0 Mahatma", por Ram Sutar



"Um peixe em mármore" de Pradeep Kumar



                                         Obra de Anish Kapoor



A galeria é uma síntese poderosa de valores estéticos ocidentais e os elementos conceituais da arte indiana, de meios e sensibilidades diferentes, de uma história longa e vibrante repleta de arte, filosofia e cultura, tradição desse país milenar. Em janeiro de 2009, o GNAM orgulhosamente inaugurou três novos blocos New Wings (novas asas), aumentando os espaços existentes em quase seis vezes. O objetivo da direção, ao fazer essa ampliação, foi mostrar a arte dentro de espaços modernos, para criar um entendimento mais claro e melhor das suas coleções. Juntamente com instalações modernas para exposições, laboratórios de conservação, auditório, biblioteca e parte acadêmica, uma cafeteria e loja do museu, o GNAM , segundo seu atual Diretor Rajeev Lochan, pretende tornar a visualização e compreensão da arte moderna e contemporânea indiana uma alegre e enriquecedora experiência em todos os níveis de audiências.



Arte contemporânea



Anish Kapoor - Reflect an Intimate Part of The Red



Coleção permanente



                             Arpana Caur "Her" 1982 / 1999


                                Nicholas Roerich, Himalayan Landscape



"Three Girls", por Amrita Sher-Gil, 1935



Nicholas Roerich "Icy Sphinx"



A partir da década de 1990, os artistas indianos começaram a modificar as formas com que apresentavam seus trabalhos. Pintura e escultura permaneceram importantes, embora na obra de artistas de renome, como Subodh Gupta, Ramachandran Narayanan, Vivan Sundaram, Jitish Kallat, Panda Jagannath, Atul e Dodiya Anju, TVSantosh, Chaturvedi Shreya, Kher Bharti e Thukral, os seus trabalhos foram radicalmente em novas direções.

Aquela época era um momento complexo porquanto existiam um número de correntes artísticas que afetavam a sociedade indiana e pareciam se multiplicar. Muitos artistas procuraram novas formas de expressão. Por exemplo: Ranbir Kaleka e Raqs Media Collective produziram obras contemporâneas utilizando uma variedade de formas de mídia, incluindo vídeo e internet. Narayanan Ramachandran criou um novo estilo de pintura chamado Third Eye Series, etc.

Esta evolução coincidiu com o surgimento de novas galerias, interessados em promover uma ampla gama de formas de arte, como a Nature Morte em Delhi e seu parceiro Bose Pacia Gallery (Nova York e Calcutá), entre outras.

Além disso, Talwar Gallery, em Nova Delhi e Nova York, representavam uma lista de diversos artistas internacionalmente reconhecidos da Índia e da Diáspora, sustentando que o artista está geograficamente localizado e não a arte.

No Reino Unido, em abril de 2006, a Galeria de Arte Noble Sage foi aberta para se dedicar exclusivamente à arte contemporânea da Índia, Sri Lanka e Paquistão. A Noble Sage, ao invés de olhar para a Mumbai, Delhi e escolas Baroda, viu a sua galeria como uma oportunidade para potencializar a arte contemporânea do Sul da Índia, particularmente o trabalho decorrente da Escola de Madras.

A arte contemporânea indiana tem influência de todo o mundo. Como muitos artistas indianos imigram para o oeste, a arte de alguns artistas tem sido uma forma de expressão que fundem seu passado com os dias atuais na cultura ocidental.

Acredita-se que a arte moderna deve se comunicar com o público em geral e motivá-los através de alguma grande ideia ou mensagem por trás da obra. O aumento do discurso sobre a arte indiana, em Inglês, facilitou a comunicação entre as diversas regiões do próprio país e isso foi percebido nas escolas de arte, não só na Índia, como em diversos lugares do mundo.

A abordagem crítica tornou-se mais rigorosa e críticos como Geeta Kapur, K. Panikkar Shivaji, Dave Parul Mukherji, R. Siva Kumar Sinha Gayathri, Anil Kumar HA e Jayaram Suresh, entre outros, contribuíram para repensar a prática da arte contemporânea na Índia.

A última década testemunhou também um aumento nas revistas de arte como Art Índia (Bombaim), Art & Deal (Nova Delhi), editada e publicada por Siddharth Tagore.

O GNAM é composto de vários setores: o que cuida da preservação e restauração das obras de arte e documentos expostos; o departamento de publicação, com cerca de 340 publicações, 35 cartazes, postais, etc.; o departamento que produz e adquire filmes sobre artistas, e um setor cultural que organiza campos de férias anuais de formação artística para crianças e outras atividades educacionais. A Galeria tem uma exposição permanente, além de uma programação variada de mostras ao longo do ano, sendo o mais importante espaço para a arte moderna e contemporânea indiana.


Leia a entrevista com o Diretor da Galeria de Arte Moderna e Contemporânea da Índia, Dr. Rajeev Lochan:

A Relíquia – O que é a Galeria Nacional de Arte Moderna (GNAM)?

Rajeev Lochan – É a primeira instituição no país que abriga arte moderna e contemporânea indiana. Fundada em 1954 como uma instituição moderna proeminente de uma nova nação independente, o GNAM reafirma o seu papel, hoje, de recolher e preservar ativamente a construção de uma instituição de front-ranking que abriga obras de arte que contam a trajetória da arte moderna indiana, através da transformação de uma linguagem pictórica.

Um comentário:

  1. Muito interessante. Já tinha visitado a página online da galeria e, agora encontro essa matéria. Parabéns pelo pioneirismo de divulgar a arte indiana (sobretudo a moderna) no Brasil.
    Lúcio Rezende

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