Mimese, invenção e cópul(ação), ato contínuo de tradução da realidade em objeto estético
Texto sobre a série "BIOMAS", inaugurada no dia 28 de Abril, no Clube monte Líbano de São Paulo.
Texto sobre a série "BIOMAS", inaugurada no dia 28 de Abril, no Clube monte Líbano de São Paulo.
Escrito pela crítica de Arte e literata Rita Alves.
Adentrar a série "Biomas", de Antonio Peticov, permitirá a percepção mais pelos sentidos que pela razão em cada uma de suas criações. É válido compreender sua obra como se retirássemos uma película dos olhos que nos permitisse ver mais limpidamente o que há a nossa frente e que nos passa despercebido; Como se retirássemos a máscara da natureza e adentrássemos ao que de fato ela é. A arte, o "ser" em seu estado nú.
No entanto, a linha de análise que traço aqui é justamente a inversa: A capacidade do artista de colocar sobre a realidade algumas camadas de imaginação, a distorção permitida pelo ato da recriação, a possibilidade de inventar um universo paralelo e latente, em que o cérebro e as mãos se coordenam como divindades e as tintas a matéria original, elemento primeiro da formação do novo gene, do "ser" obra, objeto estético em constante transição.
A partir de paisagens que se repetem: árvore, montanha, rio, chuva, o artista implementa a criação divina com seu acervo de memória, com sua paisagem interior: livros transformados em falésias, barcos que navegam rios de tintas, precipitações multicor, feixe de plantas transformadas em pincéis, seres "não vivos" que se agrupam em molhos e são espectadores (ativos) da transformação contínua da tela, que adentra não apenas aos nossos olhos, mas ao mais profundo das certezas objetivas da realidade, desorganizando nosso repertório lógico sistematicamente construido por imposições e condicionamentos visuais e sociais.
Ouso questionar o dístico que acompanha o pintor ao longo de sua trajetória: delírio e onirismo. O "delírio" não é casual, mas cuidadosamente estudado, o pintor visita incansavelmente fontes de pesquisa, num acesso voraz de necessidade de conhecer todas as possibilidades físicas da realidade. O "onírico" é viagem consciente ao interior não só de si mesmo, mas de cada formação molecular, em última instância, de cada átomo que permite reagrupá-los de modo que satisfaça a sua necessidade visual, exigente espéculo, resultado do conhecimento adquirido no labor de folhear páginas de livros e de amalgamar as tintas em suas infinitas combinações.
Rita Alves
Historiadora, Literata, Crítica de Arte e Literatura.
Historiadora, Literata, Crítica de Arte e Literatura.
Vice Presidente do Instituto Orlando Villas Bôas
Membro do Centro de Estudos Fernando Pessoa
Diretora de Comunicação da G-Onze -Organização para o Desenvolvimento da Arte e da Cultura
Nenhum comentário:
Postar um comentário