"Pompeia - A Exposição"

Vida e Morte nas sombras do Vesúvio


Uma espetacular exposição está acontecendo no megaespaço Discovery Times Square, em Nova York :  "Pompeia - A Exposição". A cidade de Pompeia existia há 700 anos antes de ser extinta, em apenas 24 horas, na manhã de 24 de agosto do ano de 79 d.C., quando o Vesúvio começou a vomitar cinzas, lama e gases nocivos, sem aviso prévio. As ruínas ficaram esquecidas por 16 séculos, até meados do século 18, quando um agricultor foi a cavar um poço de água e encontrou os destroços da cidade.

"A exposição pretende captar o último suspiro da antiga cidade de Pompeia, antes de ter sido enterrada sob cinzas vulcânicas, lama e pedras quando o Vesúvio entrou em erupção há 2.000 anos", diz Judith Harris, consultora e curadora da exposição. "Oferece um panorama completo da vida em uma cidade antiga. Nenhuma escavação arqueológica mostra a realidade da vida àquela época como Pompeia", completa Judith.



O Evento
O sol radiante que nascia prenunciava mais um belo dia de verão na maravilhosa baía de Nápoles. Muito embora os nobres e os ricos comerciantes ainda dormissem, os primeiros raios iluminavam o movimento matutino da cidade de Herculano, mercadores anunciando seus produtos, camponeses chegando com frutas e hortaliças frescas, cheiro de pão fresco no ar. A cidade acordava preguiçosamente, uma pérola encravada no meio de belos jardins, pomares e plantações verdejantes que se perdiam nas faldas do Vesúvio.

Do outro lado da montanha, mais à direita, a população de Pompéia também se levantava para mais um dia de trabalho, muitas pessoas dirigindo-se para a Via dell' Abbondanza, o novo e provisório centro de compras. A cidade era um grande canteiro de obras, ainda estavam trabalhando na reconstrução depois do terremoto que há 14 anos atrás atingira toda a baía de Nápoles, sendo Pompéia a mais atingida. Ninguém, nas duas cidades, dava muita importância a uma montanha ali ao lado, esquecendo que aquela elevação em particular tinha uma cratera no meio.

Erguendo-se imponente sobre as duas cidades o vulcão Vesúvio estava inativo há séculos. De repente, naquela radiosa manhã de 24 de agosto do ano 79 d.C., o Vesúvio acordou. Com uma tremenda explosão, entrou em erupção. Durante as 11 horas seguintes a coluna de fumaça, cinza e lapilli atingiu 20 quilômetros de altura, escurecendo todo o céu. O dia virou noite. A primeira erupção atingiu Herculano, matando todos que se encontravam na cidade. O vento soprava para o sudeste e Pompéia recebeu uma chuva de pedra-pomes, cinzas e fragmentos de lavas, cuja espessura crescia 15 centímetros por hora. Por volta de meia noite as cinzas e os gases jogados na estratosfera começaram a cair novamente nas faldas do vulcão, formando nuvens incandescentes, com avalanches letais caminhando a uma velocidade de 300 quilômetros por hora e atingindo a temperatura de centenas de graus Celsius. Começou a chover às 5 horas da manhã de 25 de agosto. Pouco depois das seis horas outra nuvem incandescente sufocou Pompéia. Nesse meio tempo a chuva formou um rio de lama, caminhando em direção a Herculano, enterrando toda a área. O fato é que, primeiro Herculano, depois Pompéia, num piscar de olhos sumiram do mapa.



A Mostra
São impactantes as cenas com que os visitantes se deparam durante a visita.  Cópias de corpos que os pesquisadores reconstituíram a partir de restos de esqueleto de moradores enterrados vivos fazem parte das peças dessa intrigante exposição - um homem agachado cobre sua boca, um cachorro acorrentado parece contorcido, uma família de quatro pessoas se amontoa... alguns foram surpreendidos nas atividades do dia-a-dia.

"A Exposição: Vida e Morte na sombra do Vesúvio" também narra a vida na vibrante cidade mercantil, antes e após a erupção do Vesúvio. Salas coloridas e afrescos de jardim, pisos de mosaico, cerâmica e joias de ouro estão entre os artefatos apresentados. Localizada na costa ocidental da Itália, em um solo rico, a cidade de Pompeia produzia uvas para vinho, trigo e outras culturas.

Sua posição privilegiada à beira mar e com rios que cortavam a cidade possibilitou a exportação de mercadorias por todo o Império Romano, bem como trazer itens importados, tais como lâmpadas, cerâmica e azeite do norte de Itália, França e Espanha.

Um documentário recria o que os habitantes da cidade poderiam ter sentido quando tentavam escapar da fúria do vulcão. Em uma das salas, uma tela de cinema se eleva e uma porta dupla abre para revelar uma cena fúnebre de 20 "corpos" petrificados, em poses de seus momentos finais.



Seus 25.000 habitantes foram prósperos cidadãos: fazendeiros, banqueiros, capitães de navios e comerciantes, e a cidade ostentava cerca de 200 bares, pousadas e restaurantes, em torno de 33 padarias, e Thermoplia, as "lojas de fast-food" que acondicionavam os alimentos quentes nos grandes vasos de terracota.

O intenso calor do vulcão provou ser um ótimo conservante, pois os arqueólogos encontraram os restos de cerca de 1.100 pessoas. Um forno de uma padaria, com 81 pães carbonizados, também foi descoberto nas ruínas, e uma cópia em gesso do original carbonizado está em exibição na mostra.

Mas, a parte mais dramática e perturbadora da exposição são as cópias dos corpos. Os moldes foram feitos primeiramente pelo arqueólogo Giuseppe Fiorelli no final de 1800. Cinzas vulcânicas e pedras-pomes encapsularam os corpos em Pompeia.

A técnica utilizada era a introdução de gesso líquido nas cavidades ósseas que permaneceram após a decomposição dos corpos, para refazer as dimensões das pessoas, postura e expressão, uma vez que o gesso solidificado resulta quase como se tivesse sido feita uma escultura. Essa técnica reconstituiu, entre outros, uma família encontrada em uma sala do andar de baixo de uma das casas, usando bracelete de ouro. A poeira que se instalou no corpo do filho mais novo, uma criança, "era tão fina que pode se ver as pestanas... e a maneira que o manto das vestes subiu durante a destruição", disse Harris.


Uma pintura de detalhes de um anjo em uma parede do jardim

Um fato considerado "misterioso" e preocupante pelos arqueólogos é um elenco de 32 esqueletos, encontrados juntos, incluindo várias crianças. Eles estavam entre os vários esqueletos completos descoberto em 1982 na praia da cidade de Herculano, quatro quilômetros ao norte de Pompeia e destruída no mesmo dia. Em 2002, cerca de 350 esqueletos foram encontrados, refutando a teoria de que a maioria dos habitantes de Herculano tinha escapado.

A ironia da aniquilação da cidade é que o rico solo vulcânico proporcionava aos seus moradores uma vida próspera, disse Kristin Romey, consultor da exposição arqueológica local. Moradias de dois andares eram ricamente decoradas. Algumas tinham água encanada e banheiras de hidromassagem.

Outra peça preciosa da exposição é uma belíssima fonte de mosaico no interior de um muro pintado e decorado com vidros coloridos e conchas. Um afresco evoca um exuberante jardim de flores de lótus e pombas bebendo em um bebedouro feito em verde, azul e amarelo.


Uma fonte de mosaico, descoberto após a erupção vulcânica do Monte Vesúvio

Os antigos romanos também gostavam de exibir artefatos eróticos em tudo, desde lâmpadas a estatuária de jardim. Pompeia abrigou 41 locais de prostituição e um bordel público no meio da cidade, uma estrutura de dois andares com cinco celas - pequenas esparsas, quartos estreitos -, contendo afrescos eróticos em cada andar.

Um deles, recriado na exposição, tem pichação no muro que se traduz em: "Aqui eu vim, fiz sexo, então fui para casa." É discretamente escondido atrás de outras exposições. O amor dos habitantes pelo "grafite" não tinha limites. Eles deixaram rabiscos nas paredes da cidade, de todos os tipos, desde observações sobre as próximas eleições até proclamações de amor.


Uma estátua de mármore de Vênus, a deusa romana da beleza e do amor

Hoje, cerca de 3,5 milhões de pessoas vivem na sombra do Vesúvio, que continua a ser o único vulcão ativo na Europa continental. A última erupção foi em 1944.

A exposição tem o apoio do Comisssariado di Soprintendenza Archaeologica Napoli e Pompei, uma autoridade governamental responsável pelas escavações, e organizado pela Running Productions. Uma parcela dos rendimentos da exposição será destinada para ajudar a preservação da cidade de Pompeia.





SERVIÇO:
"Pompeia - A Exposição
Vida e Morte nas sombras do Vesúvio"

Local: Discovery Times Square.
Endereço: 226 West 44th Street, entre a  Broadway e a 8th Avenida - New York. Aberto todos os dias das 10 às 20h.  
Até 5 de setembro de 2011.




                                                                         

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Vesúvio: o perigo continua



O Vesúvio é um vulcão misto, que se encontra em margens de placas destrutivas (margens convergentes), geralmente associados a arcos insulares e a cadeias de montanhas litorais. O magma, rico em sílica, tem essencialmente origem no material da própria placa. As lavas produzidas são muito viscosas e solidificam rapidamente, formando um relevo vulcânico com vertentes abruptas. É um vulcão que produz explosões com grande quantidade de cinzas e lava espessa (do tipo vulcaniano); outras eclodem com magma fluido, poucas cinzas, mas muitos gases explosivos, projetando materiais sólidos. Segundo Scarth o Vesúvio é do tipo Pliniano, porque a sua lava é muito fragmentada e espalha-se por uma grande área, atingindo grande espessura (pode exceder os 100 km³ de volume). A coluna de gases e cinzas pode ter alguns quilômetros de altura.

O Vesúvio entrou em erupção várias vezes na história, sendo que a erupção mais famosa foi a de 79. Seguiram-se outras em 472, em 512, em 1631, seis vezes no século XVIII, oito vezes no século XIX (com destaque para a de 1872), em 1906, em 1929 e em 1944. Não houve nenhuma erupção desde 1944. Na erupção de 79, o vulcão enviou cerca de 4 km³ de cinzas e rochas, tendo estas coberto as cidades de Pompéia e Herculano. Neste ano as erupções foram tão grandes que toda a Europa do sul esteve coberta por cinzas; em 472 e em 1631, as cinzas de Vesúvio caíram em Constantinopla (agora chamada Istambul), a mais de 1609 km de distância. É o único vulcão do continente europeu que há quase 19 séculos manifesta atividade regular.


A população que vive nas proximidades do Vesúvio está permanentemente sob a ameaça do vulcão. Nápoles, com os seus dois milhões de habitantes, está ameaçada por uma erupção súbita do Vesúvio ainda mais devastadora do que a que soterrou Pompéia e Herculano no ano 79 depois de Cristo - segundo um novo estudo. O Vesúvio, que ameaça diretamente Nápoles, é atualmente o vulcão mais vigiado do mundo: todas as suas vibrações e emissões gasosas são registradas e é observado permanentemente por satélite. Desde a última erupção, mais de 600.000 pessoas reinstalaram-se nas encostas do vulcão, muitas vezes em casas construídas sem autorização. Prevê-se que a sua evacuação, em caso de erupção, demore duas semanas.


É incrível como pode aquele povo viver tranqüilo sabendo que de uma hora para outra pode ocorrer uma catástrofe. O governo italiano formou uma comissão cujo objetivo é traçar um plano de emergência para o caso de o Vesúvio voltar a entrar em atividade. O principal ponto do plano é evacuar 700 mil pessoas que moram nas áreas de maior risco num período de sete dias.

As equipes que monitoram as atividades do Vesúvio afirmam que ele pode entrar em erupção a qualquer momento. Autoridades italianas estão oferecendo o equivalente a R$ 90 mil para os moradores da encosta do vulcão irem para um local mais seguro, mas poucas pessoas demonstraram interesse em deixar suas casas. 



Por Litiere C. Oliveira

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