O poder da mídia


Por Ricardo Kimaid

O mundo se curva sob o poder da mídia, que dia a dia vai ditando os caminhos comportamentais do ser humano, desnutrindo-o dos valores éticos, estéticos e morais, em benefício único de seus patronos. O Marketing pesado nas mãos da mídia inescrupulosa transforma sofismas em fatos reais; são gênios nos truques das ilusões.
Hoje, é mais importante se investir no trato com o invólucro e na criação da grife, do que se preocupar com a qualidade do que se produz. A bem da verdade, o homem está desaprendendo a pensar e não se dá conta disso. O bombardeio que a mídia impõe não lhe deixa espaços para raciocinar; incrusta-lhe no cérebro uma nova ordem, desarma-o e reprograma-o.
Pior do que a mentira é a frieza com que a mídia sabota a verdade. Geralmente a mentira é um recurso usado como autodefesa, injurio, ou simplesmente para criar uma fantasia e vivê-la. A verdade tornou-se refém da mídia, força que a torna surda às objeções ou contestações dos lúcidos.
A cartelização na mídia é um perigo letal contra a cultura, pois a torna mais poderosa. Mas, pior que o cartel é o monopólio, que concentra, sem restrições, o poder absoluto. Como por aqui não existem leis de mercado, e se existir, como as demais leis não são respeitadas, o terreno é fértil para os "espertos".
Por sentir-se impotente para lutar contra essa força, o homem é dominado pelo conformismo: se não posso com ele, junto-me a ele. Será isso, minha gente: se não pudermos ser contra tudo de vil que nos é imposto por esse poder, teremos que fazer parte de suas vísceras? Teremos que assistir os BBB da vida que invade nossos lares como uma nova realidade?
No assunto que me diz respeito, o mercado de arte brasileiro, essa situação reflete muito bem os danos promovidos por esse poder. Exemplo disso vê-se num catálogo de leilão, de onde tirei para fazer uma simples comparação, dois lotes que serão apregoados: o primeiro, um óleo de Portinari, de 1957, representando "Favela", uma bela peça que retrata a pobreza de forma poética, rica em cores, palheta e técnica do mestre, digna de representar o artista em qualquer coleção internacional, com uma estimativa de venda em torno de R$ 1.200 milhão. O segundo, um tríptico de Adriana Varejão, pela mesma cotação, com nada mais a acrescentar, uma mera reprodução de volutas renascentista pintadas.
Significa que o mais importante ícone da pintura Brasileira, com acervo encerrado, representado nos mais importantes Museus do mundo, tem o mesmo valor que uma artista debutante, jovem, e em plena produtividade? Que história essa moça tem para justificar esse descalabro? Ora, vamos colocar ordem na casa!
Particularmente, desconfio das notícias que vem lá de fora sobre essas transações milionárias. Estranha coincidência: quem vende é brasileiro, e quem compra também. Por que pagar comissão de leilão, transporte, seguros e impostos de importação se a transação poderia ser realizada aqui, direta com o artista ou seu galerista? Estranho, não é?
A criação de gênios e mitos, que surgem num passe de mágica, com valorização meteórica, completamente abstidos de históricos que os amparem, é uma explícita contestação da cultura que outrora abrangia esse mercado. Criou-se um gigantesco hiato entre a ficção e a realidade, e esse hiato afasta cada vez mais as novas gerações do palpável, do elo de ligação com as gerações que construíram o patrimônio cultural brasileiro e a sua evolução.
Pense um pouco, minha gente, pois pensar não dói!
Encerro recorrendo à imprensa para ter maior acuidade com os ecos vindos lá de fora. As notícias sem averiguações podem criar situações irreais, e formar opiniões distorcidas da realidade, conduzindo o público a formar conceitos errôneos de avaliações.

rkimaid@uol.com.br / www.rembrandt.com.br

Um comentário:

  1. Realmente, o homem está desaprendendo a pensar.Há uma manipulação das massas pela mídia.

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