A História da Cidade de São Paulo

São Paulo, que no dia 25 deste mês comemora 457 anos de sua fundação, é a maior cidade do Brasil e uma das maiores do mundo, respondendo por mais da metade da economia nacional. Possui uma área urbanizada de 1.700 quilômetros quadrados e tem um eixo Leste-Oeste que alcança 80 km de extensão urbana. Uma das mais antigas cidades do país em ordem cronológica, São Paulo possui características de cidade nova, pois seu desenvolvimento é recente, começou a crescer a partir da Segunda metade do século XIX. Até então estava relegada, no dizer de Francisco Prestes Mais, "a uma existência humilde e vegetativa". Mas uma série de fatores, incluindo-se a privilegiada situação geográfica e o clima ameno, contribuiu para transformar a antiga São Paulo de Piratininga na megalópole de hoje.

Cena de fundação de São Paulo segundo o pintor Oscar Pereira da Silva - Arquivo SMC


O processo de ocupação e exploração do Brasil pelos portugueses, no século XVI, determinou o surgimento de São Paulo. De início, os colonizadores fundaram e se estabeleceram, em 1553, na Vila de Santo André da Borda do Campo, que ficava situada em algum ponto da área metropolitana atual e que de certo modo foi a origem da cidade. Mas a vila de Santo André era constantemente atacada pelos índios, o que motivou um grupo de jesuítas, entre eles José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, a subirem a Serra do Mar, chegando ao planalto de Piratininga onde encontraram "ares frios e temperados como os de Espanha... Uma terra mui sadia, fresca e de boas águas". Em termos de segurança, o local onde acamparam, no topo da colina que se erguia sobre a planície do Tamanduateí, cercada pelos rios Tamanduateí e Anhangabaú, era perfeito: garantia proteção contra ataques e ampla visibilidade dos caminhos que levavam até lá.
      
          A subida da serra, pelo caminho conhecido posteriormente como Trilha dos Tupiniquins, onde hoje passa aproximadamente a Via Anchieta, começou em fins de 1533 e levou dias. Com a ajuda do índio Tibiriçá, cacique dos guaianases que, convertido à religião católica adotou o nome de Martim Afonso, os jesuítas erigiram um colégio, "um limitado aposento e, contíguo a ele uma igreja". Para orago desta e como nome da aldeia, escolheram São Paulo, justamente por causa do primeiro sacrifício incruento do Altar, realizado no dia 25 de janeiro de 1554, data que a Igreja celebra a conversão daquele santo. O local do povoado era fácil de ser defendido dos ataques dos povos indígenas hostis e por duas vezes se mostrou inexpugnável.

O conglomerado urbano cresceu lentamente cercado por toscas paliçadas, recebendo depois a população da extinta vila de Santo André. A conselho do Pe. Manoel da Nóbrega, esta vila foi extinta em 1560 por Mem de Sá, que mudou o pelourinho e a população para a vila de São Paulo de Piratininga. A vila era cercada por muros de barro socado, um processo chamado de taipa-de-pilão, que delimitava o núcleo urbano em meio às plantações e à selva ao redor. No interior, a igreja ficou maior e o número de casas aumentou, construídas com paredes de barro e cobertas com folhas de palmeiras e depois com telhas. A população era formada por índios amigos ou escravizados, colonos portugueses e padres jesuítas. Depois de muitas gerações, com miscigenação de portugueses e índios, se formou o primeiro paulista autêntico, o mameluco, imprescindível no desbravamento realizado pelos bandeirantes durante todo o século XVII.

O isolamento comercial e o solo inadequado ao cultivo de produtos de exportação, condenaram a vila a ocupar uma posição insignificante durante séculos na América Portuguesa. Por todo o século XVI, São Paulo constituiu uma espécie de "boca do sertão", sendo a única, entre todas as vilas brasileiras, localizada sobre o planalto. Durante muito tempo ela ficou limitada ao que hoje de denomina "Centro Velho de São Paulo" ou triângulo histórico, em cujos vértices ficam os conventos de São Francisco, de São Bento e do Carmo. Até o século XIX, nas ruas do triângulo (atuais Direita, XV de Novembro e São Bento), concentravam-se o comércio, a rede bancária e os principais serviços de São Paulo.

Rua Direita, início do século passado

São Paulo saiu da obscuridade no decorrer do século XVII e início do XVIII, quando se transformou na verdadeira capital do bandeirismo. Em 1681, a cidade foi considerada cabeça da Capitania de São Paulo. Mas até o final do século XVIII continuava a ser o quartel-general de onde partiam as "bandeiras", expedições organizadas para prender índios e procurar minerais preciosos nos distantes sertões. Mas essa fase não lhe trouxe riqueza alguma, pelo contrário, causou perda de pessoas jovens e valorosas de sua população. Os bandeirantes, avançando pelo Vale do Paraíba, até a garganta do Embaú, única passagem pela serra da Mantiqueira, atingiram as regiões de São João del Rey, Ouro Preto e Sabará, onde descobriram ouro em grande quantidade. Isso atraiu portugueses e aventureiros de todo o Brasil para a ocupação da região das minas. Como conseqüência houve um esvaziamento temporário da região de São Paulo em função da corrida do ouro. Mas logo os paulistas foram expulsos das Minas Gerais na Guerra dos Emboabas. Com a derrota, São Paulo voltou a ser uma capitania independente, separando-se do Rio de Janeiro, ao qual tinha sido anexada. Com a perda do controle das minas, os paulistas passaram a abastecer a região aurífera com gêneros alimentícios e outros produtos, iniciando um período caracterizado pelo movimento constante de tropas de mulas por todo o Brasil, o tropeirismo. São Paulo era passagem obrigatória das tropas que vinham de Sorocaba com destino a Minas, Rio de Janeiro e o Nordeste do país.



Em 1711 a vila tinha sido elevada à categoria de cidade, tornando-se a capital administrativa de vasta área do país, pois a Capitania de São Paulo chegou a abranger Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e os Estados Meridionais até o Rio Grande do Sul. A área inicial da cidade ampliou-se com a abertura de duas novas ruas, a Líbero Badaró e a Florêncio de Abreu. Com a Independência do Brasil, proclamada às margens do rio Ypiranga, no início do século XIX, a cidade firmou-se como capital da província. Em 1825 inaugurou-se o primeiro jardim público da cidade, o atual Jardim da Luz, iniciativa que já demonstrava uma preocupação urbanística. Em 1827 conheceu nova função, a cultural, com a inauguração da Academia de Direito, que logo passou a receber estudantes de todo o país. Nem por isso cresceu em área, até 1872 sua população girava em torno de 30 mil habitantes, enquanto outras 10 cidades brasileiras estavam na sua frente.

Depois da Independência, o cultivo do café que enriquecia a região fluminense desde o século anterior, avança para o território paulista, pelo Vale do Paraíba. A cultura cafeeira tomará praticamente todo o Estado de São Paulo durante 100 anos, criando uma riqueza que permitirá o rápido e espetacular crescimento da cidade, que se transformou na capital dos fazendeiros enriquecidos pelo ouro-verde e no principal centro comercial da província, graças também à ligação ferroviária com o porto de Santos (São Paulo Railway -1867). A necessidade de escoamento da produção de café levou à implantação de outras estradas de ferro, que além de levar as sacas de café, traziam novidades e produtos do exterior para uma classe abastada de fazendeiros. Traziam também os imigrantes, sobretudo italianos, depois do fim da escravidão. Em 1890 a população já era de 65.000 habitantes, passando a 240.000 em 1900, o que dá uma idéia do crescimento vertiginoso de São Paulo. A partir daí a cidade, completamente integrada ao novo ciclo-econômico, possui bancos, escritórios, lojas comerciais e casas de exportação, iniciando grandes transformações urbanas. Perde o perfil colonial, ocorrendo uma renovação arquitetônica seguindo padrões europeus. Surgiram as primeiras linhas de bonde e a iluminação a gás.

O movimento de chegada dos imigrantes torna-se intenso, atingindo o número de 2,74 milhões de estrangeiros em 1914, principalmente italianos, espanhóis e alemães. As duras condições encontradas pelos colonos no interior fizeram com que eles, atraídos pelas inúmeras oportunidades, se dirigissem para a cidade, o que provocou o desenvolvimento de muitos núcleos urbanos. A expansão urbana criou diversos bairros identificados pelo tipo da comunidade imigrante. As mais importantes realizações urbanísticas do final do século XIX foram a abertura da Av. Paulista (1891) e a construção do Viaduto do Chá (1892), que rompeu a barreira do Vale do Anhangabaú e possibilitou o surgimento de bairros de elite na parte nova da cidade. Na parte político-administrativa, o poder municipal ganhou nova fisionomia com a criação do cargo de Prefeito Municipal, cujo primeiro titular foi o Conselheiro Antônio da Silva Prado. Desde o período colonial São Paulo era governado pela Câmara Municipal, que reunia funções legislativas, executivas e judiciárias. Com a nova lei os poderes se separaram.
Em 1911 a cidade ganha o seu Teatro Municipal, obra do arquiteto Ramos de Azevedo.



Foto antiga da Praça da Sé
Diversos fatores, inclusive a capitalização de recursos provenientes da exportação de café e o excesso de mão-de-obra habilidosa do imigrante, esboçaram a formação de um parque industrial sem precedentes. O processo de industrialização se acelera após 1914, durante a Primeira Guerra Mundial. O aumento da população e das riquezas é acompanhado pela degradação das condições de vida dos operários que sofrem com salários baixos, jornadas de trabalho longas e doenças. Só a gripe espanhola dizimou oito mil pessoas em quatro dias. Os operários, que se organizaram em associações, promoveram greves como a de 1917, que paralisou toda a cidade por muitos dias. Nesse mesmo ano foi inaugurada a Exposição Industrial de São Paulo no luxuoso Palácio das Indústrias. Era tão grande o otimismo, que o prefeito da época, Washington Luis, declarou: "A cidade é hoje alguma coisa como Chicago e Manchester juntas". O século XX, em suas manifestações econômicas, culturais e artísticas, passa a ser sinônimo de progresso. Trens, bondes, eletricidade, automóveis, a cidade cresce, se agiganta.

A industrialização ganha novo impulso a partir dos anos 20, com a crise do café. Surge em 1922 o grande movimento modernista idealizado por Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Luís Aranha e muitos artistas. A cidade ampliou sua área urbana, atingindo os limites dos rios Tietê e Pinheiros e no centro iniciou-se o processo de verticalização. O automóvel torna-se comum na cena urbana, transformando praças e espaços públicos em estacionamento. Com a queda da bolsa de Nova York e a Revolução de 30, alterou-se a correlação de forças políticas que sustentava a "República Velha". Os conflitos que surgiram entre a elite política, representantes dos setores agro-exportadores e o governo federal, provocaram a Revolução Constitucionalista de 1932, que transformou a cidade em uma praça de guerra.

A derrota de São Paulo restringiu por algum tempo sua participação no cenário político nacional, mas por outro lado floresceu as instituições científicas e educacionais. Em 1933 foi criada a Escola Livre de Sociologia e Política e em 1934 o interventor do Estado, Armando de Salles Oliveira, inaugurou a Universidade de São Paulo. Nesse período se registrou grandes realizações urbanísticas e como testemunha de sua verticalização foi erguido em 1934, aquele que seria o maior "arranha-céu" do país, o Edifício Martinelli com 25 metros de altura e 26 andares. A década de 40 foi marcada por uma intervenção urbanística sem precedentes com o prefeito Prestes Mais colocando em prática o seu "Plano de Avenidas", mostrando a preocupação em abrir espaço para os automóveis, atendendo aos interesses da indústria automobilística que se instalou em São Paulo em 1956. São Paulo também se transformou num dos maiores centros financeiros do mundo, um ativo centro cultural e um destacado centro político com influência em todo o Brasil.



Av. Paulista no início do século passado
Em 1954, São Paulo comemorou o 4ª Centenário de sua fundação com muitos eventos, inclusive a inauguração do Parque Ibirapuera. O Rio Tietê é retificado em seu percurso urbano e recebe avenidas expressas em suas margens. A cidade começa a inchar em sua periferia como conseqüência do imenso movimento migratório iniciado nos anos 30, principalmente dos estados do Nordeste do país. Na década de 50 inicia-se o fenômeno de "desconcentração" do parque industrial de São Paulo que começou a se transferir para outros municípios da Região Metropolitana e do interior. Nos anos 60, inicia-se um processo de perda da qualidade ambiental e dos padrões urbanos vigentes. Em 1969 foram iniciadas as obras do metrô.

A população da metrópole paulistana atingiu 16 milhões de habitantes e esse crescimento populacional veio acompanhado do agravamento das questões sociais e urbanas, o preço do seu gigantismo. Hoje a sociedade e os poderes públicos estão empenhados em humanizar a cidade, melhorar a qualidade de vida de seus habitantes, reorganizar o espaço urbano, continuar a crescer de forma equilibrada. Mas, isso não é mais história...

Fontes: Prodam (Prefeitura SP), Afonso E. Taunay (São Paulo nos primeiros Anos), São Paulo: Crise e Mudança e Sérgio Milliet, Roteiro do Café - Prefeitura de SP), Antonio Rodrigues Porto (Hist. Urbanística da Cidade de São Paulo), Francisco Prestes Maia, Kurt Peter Karfeld, Barsa, sites www.spsitecity.com.br.
São Paulo, que no dia 25 deste mês comemora 457 anos de sua fundação, é a maior cidade do Brasil e uma das maiores do mundo, respondendo por mais da metade da economia nacional. Possui uma área urbanizada de 1.700 quilômetros quadrados e tem um eixo Leste-Oeste que alcança 80 km de extensão urbana. Uma das mais antigas cidades do país em ordem cronológica, São Paulo possui características de cidade nova, pois seu desenvolvimento é recente, começou a crescer a partir da Segunda metade do século XIX. Até então estava relegada, no dizer de Francisco Prestes Mais, "a uma existência humilde e vegetativa". Mas uma série de fatores, incluindo-se a privilegiada situação geográfica e o clima ameno, contribuiu para transformar a antiga São Paulo de Piratininga na megalópole de hoje.

O processo de ocupação e exploração do Brasil pelos portugueses, no século XVI, determinou o surgimento de São Paulo. De início, os colonizadores fundaram e se estabeleceram, em 1553, na Vila de Santo André da Borda do Campo, que ficava situada em algum ponto da área metropolitana atual e que de certo modo foi a origem da cidade. Mas a vila de Santo André era constantemente atacada pelos índios, o que motivou um grupo de jesuítas, entre eles José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, a subirem a Serra do Mar, chegando ao planalto de Piratininga onde encontraram "ares frios e temperados como os de Espanha... Uma terra mui sadia, fresca e de boas águas". Em termos de segurança, o local onde acamparam, no topo da colina que se erguia sobre a planície do Tamanduateí, cercada pelos rios Tamanduateí e Anhangabaú, era perfeito: garantia proteção contra ataques e ampla visibilidade dos caminhos que levavam até lá.

A subida da serra, pelo caminho conhecido posteriormente como Trilha dos Tupiniquins, onde hoje passa aproximadamente a Via Anchieta, começou em fins de 1533 e levou dias. Com a ajuda do índio Tibiriçá, cacique dos guaianases que, convertido à religião católica adotou o nome de Martim Afonso, os jesuítas erigiram um colégio, "um limitado aposento e, contíguo a ele uma igreja". Para orago desta e como nome da aldeia, escolheram São Paulo, justamente por causa do primeiro sacrifício incruento do Altar, realizado no dia 25 de janeiro de 1554, data que a Igreja celebra a conversão daquele santo. O local do povoado era fácil de ser defendido dos ataques dos povos indígenas hostis e por duas vezes se mostrou inexpugnável.



Viaduto do Chá sobre o Anhangabaú

O conglomerado urbano cresceu lentamente cercado por   toscas paliçadas, recebendo depois a população da extinta vila de Santo André. A conselho do Pe. Manoel da Nóbrega, esta vila foi extinta em 1560 por Mem de Sá, que mudou o pelourinho e a população para a vila de São Paulo de Piratininga. A vila era cercada por muros de barro socado, um processo chamado de taipa-de-pilão, que delimitava o núcleo urbano em meio às plantações e à selva ao redor. No interior, a igreja ficou maior e o número de casas aumentou, construídas com paredes de barro e cobertas com folhas de palmeiras e depois com telhas. A população era formada por índios amigos ou escravizados, colonos portugueses e padres jesuítas. Depois de muitas gerações, com miscigenação de portugueses e índios, se formou o primeiro paulista autêntico, o mameluco, imprescindível no desbravamento realizado pelos bandeirantes durante todo o século XVII.

O isolamento comercial e o solo inadequado ao cultivo de produtos de exportação, condenaram a vila a ocupar uma posição insignificante durante séculos na América Portuguesa. Por todo o século XVI, São Paulo constituiu uma espécie de "boca do sertão", sendo a única, entre todas as vilas brasileiras, localizada sobre o planalto. Durante muito tempo ela ficou limitada ao que hoje de denomina "Centro Velho de São Paulo" ou triângulo histórico, em cujos vértices ficam os conventos de São Francisco, de São Bento e do Carmo. Até o século XIX, nas ruas do triângulo (atuais Direita, XV de Novembro e São Bento), concentravam-se o comércio, a rede bancária e os principais serviços de São Paulo.

São Paulo saiu da obscuridade no decorrer do século XVII e início do XVIII, quando se transformou na verdadeira capital do bandeirismo. Em 1681, a cidade foi considerada cabeça da Capitania de São Paulo. Mas até o final do século XVIII continuava a ser o quartel-general de onde partiam as "bandeiras", expedições organizadas para prender índios e procurar minerais preciosos nos distantes sertões. Mas essa fase não lhe trouxe riqueza alguma, pelo contrário, causou perda de pessoas jovens e valorosas de sua população. Os bandeirantes, avançando pelo Vale do Paraíba, até a garganta do Embaú, única passagem pela serra da Mantiqueira, atingiram as regiões de São João del Rey, Ouro Preto e Sabará, onde descobriram ouro em grande quantidade. Isso atraiu portugueses e aventureiros de todo o Brasil para a ocupação da região das minas. Como conseqüência houve um esvaziamento temporário da região de São Paulo em função da corrida do ouro. Mas logo os paulistas foram expulsos das Minas Gerais na Guerra dos Emboabas. Com a derrota, São Paulo voltou a ser uma capitania independente, separando-se do Rio de Janeiro, ao qual tinha sido anexada. Com a perda do controle das minas, os paulistas passaram a abastecer a região aurífera com gêneros alimentícios e outros produtos, iniciando um período caracterizado pelo movimento constante de tropas de mulas por todo o Brasil, o tropeirismo. São Paulo era passagem obrigatória das tropas que vinham de Sorocaba com destino a Minas, Rio de Janeiro e o Nordeste do país.

Em 1711 a vila tinha sido elevada à categoria de cidade, tornando-se a capital administrativa de vasta área do país, pois a Capitania de São Paulo chegou a abranger Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e os Estados Meridionais até o Rio Grande do Sul. A área inicial da cidade ampliou-se com a abertura de duas novas ruas, a Líbero Badaró e a Florêncio de Abreu. Com a Independência do Brasil, proclamada às margens do rio Ypiranga, no início do século XIX, a cidade firmou-se como capital da província. Em 1825 inaugurou-se o primeiro jardim público da cidade, o atual Jardim da Luz, iniciativa que já demonstrava uma preocupação urbanística. Em 1827 conheceu nova função, a cultural, com a inauguração da Academia de Direito, que logo passou a receber estudantes de todo o país. Nem por isso cresceu em área, até 1872 sua população girava em torno de 30 mil habitantes, enquanto outras 10 cidades brasileiras estavam na sua frente.

Depois da Independência, o cultivo do café que enriquecia a região fluminense desde o século anterior, avança para o território paulista, pelo Vale do Paraíba. A cultura cafeeira tomará praticamente todo o Estado de São Paulo durante 100 anos, criando uma riqueza que permitirá o rápido e espetacular crescimento da cidade, que se transformou na capital dos fazendeiros enriquecidos pelo ouro-verde e no principal centro comercial da província, graças também à ligação ferroviária com o porto de Santos (São Paulo Railway -1867). A necessidade de escoamento da produção de café levou à implantação de outras estradas de ferro, que além de levar as sacas de café, traziam novidades e produtos do exterior para uma classe abastada de fazendeiros. Traziam também os imigrantes, sobretudo italianos, depois do fim da escravidão. Em 1890 a população já era de 65.000 habitantes, passando a 240.000 em 1900, o que dá uma idéia do crescimento vertiginoso de São Paulo. A partir daí a cidade, completamente integrada ao novo ciclo-econômico, possui bancos, escritórios, lojas comerciais e casas de exportação, iniciando grandes transformações urbanas. Perde o perfil colonial, ocorrendo uma renovação arquitetônica seguindo padrões europeus. Surgiram as primeiras linhas de bonde e a iluminação a gás.

Museu Nacional do Ipiranga

O movimento de chegada dos imigrantes torna-se intenso, atingindo o número de 2,74 milhões de estrangeiros em 1914, principalmente italianos, espanhóis e alemães. As duras condições encontradas pelos colonos no interior fizeram com que eles, atraídos pelas inúmeras oportunidades, se dirigissem para a cidade, o que provocou o desenvolvimento de muitos núcleos urbanos. A expansão urbana criou diversos bairros identificados pelo tipo da comunidade imigrante. As mais importantes realizações urbanísticas do final do século XIX foram a abertura da Av. Paulista (1891) e a construção do Viaduto do Chá (1892), que rompeu a barreira do Vale do Anhangabaú e possibilitou o surgimento de bairros de elite na parte nova da cidade. Na parte político-administrativa, o poder municipal ganhou nova fisionomia com a criação do cargo de Prefeito Municipal, cujo primeiro titular foi o Conselheiro Antônio da Silva Prado. Desde o período colonial São Paulo era governado pela Câmara Municipal, que reunia funções legislativas, executivas e judiciárias. Com a nova lei os poderes se separaram.
Em 1911 a cidade ganha o seu Teatro Municipal, obra do arquiteto Ramos de Azevedo.

Diversos fatores, inclusive a capitalização de recursos provenientes da exportação de café e o excesso de mão-de-obra habilidosa do imigrante, esboçaram a formação de um parque industrial sem precedentes. O processo de industrialização se acelera após 1914, durante a Primeira Guerra Mundial. O aumento da população e das riquezas é acompanhado pela degradação das condições de vida dos operários que sofrem com salários baixos, jornadas de trabalho longas e doenças. Só a gripe espanhola dizimou oito mil pessoas em quatro dias. Os operários, que se organizaram em associações, promoveram greves como a de 1917, que paralisou toda a cidade por muitos dias. Nesse mesmo ano foi inaugurada a Exposição Industrial de São Paulo no luxuoso Palácio das Indústrias. Era tão grande o otimismo, que o prefeito da época, Washington Luis, declarou: "A cidade é hoje alguma coisa como Chicago e Manchester juntas". O século XX, em suas manifestações econômicas, culturais e artísticas, passa a ser sinônimo de progresso. Trens, bondes, eletricidade, automóveis, a cidade cresce, se agiganta.

 A industrialização ganha novo impulso a partir dos anos 20, com a crise do café. Surge em 1922 o grande movimento modernista idealizado por Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Luís Aranha e muitos artistas. A cidade ampliou sua área urbana, atingindo os limites dos rios Tietê e Pinheiros e no centro iniciou-se o processo de verticalização. O automóvel torna-se comum na cena urbana, transformando praças e espaços públicos em estacionamento. Com a queda da bolsa de Nova York e a Revolução de 30, alterou-se a correlação de forças políticas que sustentava a "República Velha". Os conflitos que surgiram entre a elite política, representantes dos setores agro-exportadores e o governo federal, provocaram a Revolução Constitucionalista de 1932, que transformou a cidade em uma praça de guerra.

A derrota de São Paulo restringiu por algum tempo sua participação no cenário político nacional, mas por outro lado floresceu as instituições científicas e educacionais. Em 1933 foi criada a Escola Livre de Sociologia e Política e em 1934 o interventor do Estado, Armando de Salles Oliveira, inaugurou a Universidade de São Paulo. Nesse período se registrou grandes realizações urbanísticas e como testemunha de sua verticalização foi erguido em 1934, aquele que seria o maior "arranha-céu" do país, o Edifício Martinelli com 25 metros de altura e 26 andares. A década de 40 foi marcada por uma intervenção urbanística sem precedentes com o prefeito Prestes Mais colocando em prática o seu "Plano de Avenidas", mostrando a preocupação em abrir espaço para os automóveis, atendendo aos interesses da indústria automobilística que se instalou em São Paulo em 1956. São Paulo também se transformou num dos maiores centros financeiros do mundo, um ativo centro cultural e um destacado centro político com influência em todo o Brasil.



 Em 1954, São Paulo comemorou o 4ª Centenário de sua fundação com muitos eventos, inclusive a inauguração do Parque Ibirapuera. O Rio Tietê é retificado em seu percurso urbano e recebe avenidas expressas em suas margens. A cidade começa a inchar em sua periferia como conseqüência do imenso movimento migratório iniciado nos anos 30, principalmente dos estados do Nordeste do país. Na década de 50 inicia-se o fenômeno de "desconcentração" do parque industrial de São Paulo que começou a se transferir para outros municípios da Região Metropolitana e do interior. Nos anos 60, inicia-se um processo de perda da qualidade ambiental e dos padrões urbanos vigentes. Em 1969 foram iniciadas as obras do metrô.

A população da metrópole paulistana atingiu 16 milhões de habitantes e esse crescimento populacional veio acompanhado do agravamento das questões sociais e urbanas, o preço do seu gigantismo. Hoje a sociedade e os poderes públicos estão empenhados em humanizar a cidade, melhorar a qualidade de vida de seus habitantes, reorganizar o espaço urbano, continuar a crescer de forma equilibrada. Mas, isso não é mais história...


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