Joshua & Jabulani - por Ricardo Kimaid

Por Ricardo Kimaid
rkimaid@uol.com.br

Corre pela Internet uma história muito interessante, sobre um fato ocorrido na porta do Metrô de Nova York. Um jovem, trajando calca jeans, camiseta e boné, sacou um violino da caixa, e começou a tocá-lo para a multidão que por ali passava. As pessoas seguiam seus rumos indiferentes ao que acontecia, e por um longo período ninguém sequer parou para contemplar as melodias que o jovem oferecia ao publico, ou se perguntar quem seria ele. O músico era apenas Joshua Bell, um dos maiores violinistas do mundo, que portava um “Stradivarius” de 1713, cujo valor supera a casa de U$ 3 milhões, e acabara de se apresentar em Boston, no Synphony Hall, com ingressos vendidos pela bagatela de U$ 1.000.
Essa experiência foi gravada no Metro em vídeo, e foi encomendada pelo jornal Washington Post, cuja finalidade seria um debate sobre valor, contexto e arte. A conclusão que se chegou é de que estamos acostumados a dar valor às coisas que estão contidas num contexto: Bell, no Metro, era uma mera obra de arte sem moldura, um artefato sem etiqueta de grife.
Esse vídeo traz “Serenade”, de Schubert, tocado como fundo musical, pelo violino de Bell. Fantástico!
Independente de o fato ser verídico, vale para ilustrar uma triste e verdadeira constatação quanto à escolha dos valores pela humanidade; os menos atentos, que são consumidores induzidos e conduzidos, e os que se sensibilizam pelo conteúdo, colocando em plano secundário, embalagem e o clamor proveniente das instituições que detém o poder financeiro. Lamentável, mas real!
Esse fato requer uma profunda reflexão: será que um dia a humanidade acordará para enxergar como se tornou um joguete nas mãos dos mais poderosos e espertos?
O maior exemplo da força desse poder está hoje diante nosso nariz: A Copa do Mundo. Um torneiozinho mambembe de futebol, cujo título se alcança com sete joguinhos, pára uma nação! Alguém já parou para avaliar a mobilização fomentada por essa mídia massificante, que monopoliza todos os meios de comunicação, compradas a peso de ouro para promover uma euforia insana, subjugando qualquer ação que contrarie os interesses dessa loucura?
São milhares de jornalistas, jornais, emissoras de televisão, rádios e todos meios de comunicação a massacrar-nos com superficialidades como, por exemplo, jabulanis e vuvuzelas entre outras inexpressivas matérias, colocando de lado as prioridades que conflitam com nossa realidade. Minha gente já imaginou toda essa força trabalhando para resgatar as instituições em estado falimentar de nosso país?
O ser humano esta perdendo o poder crítico, o poder de avaliação, o poder de pensar. Não tem tempo: está indo ou vindo, com o celular na mão e o pensamento voltado para as conquistas materialistas que estão ao seu alcance. Não mais sabe distinguir o valor intrínseco de seus semelhantes; ele vale pelo que têm e não pelo que é. Não mais contempla o céu, o mar ou a natureza. Não observa o que há de belo em sua volta, pois são detalhes imperceptíveis aos olhos de sua ignorância.

Um comentário:

  1. Tão verdade... e triste...
    Compartilho o seu ponto de vista...
    É preciso 'mudar' o ser humano...
    Possível?

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