Michelangelo teria pintado o cérebro na Capela Sistina

Fonte: O Globo

Bem à mostra, mas nunca percebido por 500 anos, um raro desenho de anatomia de Michelangelo acaba de ser "descoberto" por dois professores da Universidade Johns Hopkins no painel do teto da Capela Sistina, informa Nicholas Bakalar em notícia publicada pelo jornal americano "The New York Times". Michelangelo era um dedicado estudante de anatomia e, com entusiasmo, dissecou diversos corpos ao longo da vida. Poucos de seus desenhos de anatomia, no entanto, sobreviveram. Este recém-descoberto, do cérebro e do tronco cerebral humanos, teria sido desenhado no pescoço de Deus. Mas nem todos os historiadores da arte conseguem enxergá-lo ali.

Não é a primeira figura de um órgão humano que pesquisadores encontram - ou, ao menos, imaginam ter encontrado - nos afrescos da Capela Sistina. Em 1990, num estudo publicado na "Journal of the American Medical Association", um médico descreve o que ele vê como a representação do cérebro humano em "A Criação de Adão", o famoso painel que apresenta Deus tocando o dedo de Adão. Um outro médico, da Universidade de Baylor, publicou um estudo numa revista médica em 2000 sugerindo que Michelangelo teria incluído o desenho de um rim num outro painel do teto da Capela Sistina.

A última descoberta, descrita na "Journal of Neurosurgery", estaria localizada sobre o altar, em "A separação da luz e da escuridão", outro painel da série de nove que formam o Gênesis.

Deus, num manto vermelho, é apresentado de baixo para cima, e parece se elevar aos céus. Seus braços estão levantados por cima da cabeça e seu rosto virado para cima, deixa a mostra o pescoço e a barba. E é aqui que os autores do estudo, o ilustrador de medicina Ian Suk e o neurocirurgião Rafael J. Tamargo, acreditam que Michelangelo ocultou um desenho da parte interna do cérebro e do tronco cerebral.

Na visão de Tamargo, o pescoço de Deus é retratado de forma diferente de outros desenhados mais ou menos na mesma posição. Normalmente, afirma, o pescoço é liso, mas em "A separação da luz e da escuridão" são vistas linhas bastante diferentes daquelas da anatomia externa normal do pescoço. Irregularidades que, ele acredita, não podem ser acidentais.

Mas o desenho está mesmo lá ou são apenas os autores enxergando padrões inexistentes? A interpretação, diz Tamargo, é "subjetiva".

- Suk e Tamargo fizeram o dever de casa corretamente - afirma Gail L. Geiger, professor de história da arte na Universidade de Wisconsin. - Acho seu estudo bastante convincente.

Mas Joanna Woods-Marsden, professora de história da arte da Universidade da Califórnia, se disse ultrajada.

- Minha reação inicial ao olhar as ilustrações é de que se trata de um completo nonsense - sustenta.

Alguns detalhes parecem embasar a posição dos autores. A barba de Deus, normalmente comprida, aparece neste painel curta, como a expor o pescoço. A luz da pintura fornece mais pistas. O afresco é iluminado de baixo para cima, mas no pescoço de Deus, a luz incide diretamente. Os autores insistem que Michelangelo, um mestre na representação da luz, só pode ter feito isso de forma intencional, para chamar atenção para essa parte. Nem todos concordam.

- Não quero desencorajar ninguém, mas, algumas vezes, um pescoço é apenas um pescoço - diz Brian Curran, da Universidade da Pensilvânia.

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