National Gallery

Paris tinha o Louvre, Madrid tinha o Prado, sem falar da italiana Uffizzi, e a Grã-Bretanha, no início de 1800, se ressentia de não possuir um museu que tivesse uma coleção de nível mundial, em exposição permanente, de pinturas dos grandes mestres. Orgulho nacional e o objetivo de proporcionar a todos a oportunidade de apreciar as melhores pinturas da Europa Ocidental, foram os principais motivos da criação da National Gallery em Londres.
Fundada em 1824, a Galeria Nacional é hoje um dos mais importantes museus da Europa e um dos mais conhecidos do mundo. Localiza-se na Trafalgar Square, no centro de Londres, e abriga uma preciosa coleção de mais de 2.300 pinturas, que datam desde a metade do século XIII até o início do século XX. É um museu público e as visitas ao acervo permanente são gratuitas. A Galeria guarda algumas das obras mais importantes, raras e emblemáticas da História da Arte, de artistas como Leonardo da Vinci, Botticelli, Caravaggio, Rembrandt, Jan van Eyck, Rubens, Vermeer, Renoir, Monet, Van Gogh, Toulouse-Lautrec, Gauguin, Degas, Manet, Berthe Morisot e Picasso.


A História
Sandro BOTTICELLI - Vênus e Marte, óleo sobre madeira, 69 x 174 cm
A National Gallery nasceu em abril de 1824, quando a Câmara dos Comuns ofereceu 57 mil libras para a compra de toda a coleção de arte que pertencia ao banqueiro John Julius Angerstein, um total de 38 pinturas que seria o núcleo da coleção nacional. A primeira exposição aconteceu em Pall Moll, Londres, na residência do então já falecido Julius Angerstein.
Em 1828, o mecenas Sir George Beaumont doou sua coleção, condicionado à existência de um edifício adequado para exposição e uma correta conservação. A esse generosa oferta se seguiu a do reverendo Holwell Carr (1830), que cedeu 55 pinturas, fazendo a mesma exigência de Beaumont. Entre as pinturas doadas por Beaumont estão "A paisagem de outono com uma vista de Het Steen pela manhã" de Rubens e "O pátio do canteiro" de Canaletto, enquanto o legado de Holwell Carr inclui "São Jorge e o dragão" de Tintoretto e "Mulher se banhando em um regato" de Rembrandt, entre ou-tros.
Aos três acervos acima citados, se juntaram centenas de outras pinturas já pertencentes ao Estado. Enquanto isso, severas críticas à conservação inadequada da coleção levaram à decisão de construir um edifício adequado para guardar o acervo, que viria a aumentar posteriormente, e também mais apropriado para receber seus muitos visitantes. Em 1931 o Parlamento concordou em construir um novo prédio e o local escolhido foi Trafalgar Square. O projeto arquitetônico coube a Wiliam Wilkins, que foi influenciado pelos templos clássicos que tinha visto na Grécia e na Itália.
Quando o prédio da National Gallery foi inaugurado em 1838 pela Rainha Vitória, a coleção era exibida em apenas cinco salas no piso principal da ala oeste, pois uma parte do edifício era ocupada pela Royal Academy of Arts. Essa situação perdurou até 1869, quando a Royal Academy foi transferida para um prédio na Piccadilly, deixando o espaço para a Galeria Nacional. Em 1876, o arquiteto E.M. Barry foi encarregado de fazer um projeto para acrescentar uma nova ala.
A National Portrait Gallery, que abriu em 1857, muda-se para os fundos da National Gallery em 1896, e, paralelamente, a Tate Gallery foi criada em 1897 para acomodar as pinturas britânicas da Galeria Nacional e a coleção de Sir Henry Tate.* A National Gallery praticamente não expõe obras de artistas britânicos; estas se encontram na Tate Gallery e na Royal Academy, enquanto o Museu Britânico se concentra em objetos antigos.

A guerra fecha a Galeria
CORREGGIO - Vênus com Marcúrio e Cupido, ost 155 x 92 cm
 Escondam-nos em caves ou em grutas, mas nem um só quadro sairá desta ilha. (Winston Churchill) Devido ao perigo iminente da Segunda Guerra Mundial, numa quarta-feira, 13 de agosto de 1939, a Galeria Nacional fechou as suas portas ao público. As obras de arte foram transferidas para locais seguros e secretos. A maioria foi levada para uma pedreira de ardósia em Manod, no País de Gales, mas cerca de 100 dos quadros menores foram guardados em Gloucestershire. Outros, muito poucos, foram deixados em casas particulares ou edifícios públicos fora da cidade, evidentemente. Toda esta operação foi concluída com sucesso em somente onze dias. O último carregamento saiu de Trafalgar Square um dia antes de ser declarada a guerra. Com a queda da França, se cogitou a hipótese de transferir as obras para o Canadá, mas o Primeiro Ministro Churchill vetou o plano dizendo: "Escondam-nos em caves ou em grutas, mas nem um só quadro sairá desta ilha." Duas bombas atingiram a National Gallery, mas ao final da guerra, nenhuma pintura fora afetada.
Em 1991 o arquiteto Robert Venturi projetou a Ala Sainsbury, que foi construída num terreno vazio junto à galeria. Esta ala abriga hoje toda a coleção do Princípio da Renascença. Em 1975 a Extensão Setentrional criou doze novas salas, abrindo espaço extra para exposições e em 2006 foi concluída a expansão da Ala Leste, com a abertura da entrada Sir Paul Getty, permitindo pela primeira vez a entrada do público diretamente da Trafalgar Square, no nível da rua.

As coleções
MICHELANGELO - A Virgem e o Menino com São João e anjos, osm 105 x 76 (obra inacabada)
Inicialmente, o museu era visitado pela elite inglesa, mas depois da construção do novo edifício para albergar uma coleção riquíssima, toda a alta sociedade internacional foi atraida. Prontamente o Eatado fez questão de alargar o número de visitantes e permitiu a entrada a todas as classes sociais sem cobrança de ingresso.
Embora o objetivo da National Gallery tenha sido sempre proporcionar a todos a oportunidade de apreciar as melhores pinturas da Europa Ocidental, o próprio edifício oferece vários tipos de belezas decorativas e esculturais. No seu interior, o edifício conserva ainda o típico estilo inglês do século XIX, confinando-se a uma elegância rude e por vezes austera. Em algumas salas, inclusive, as paredes ainda estão cobertas de damasco e os tetos conservam os ricos lustres de cristal. Algumas das melhores surpresas encontram-se no chão do museu, os mosaicos de Anrep. Destaque também para a cúpula da sala 36.
Já vimos que as bases da coleção foram os acervos de Angerstein e Beaumont, seguida pela doação do Reverendo Carr. Várias doações e aquisições importantes feitas posteriormente foram fundamentais para o grande sucesso da galeria. Como, por exemplo, a doação de Wynn Ellis, que inclui muitas pinturas holandesas, e as aquisições de pinturas flamengas e holandesas da Coleção Peel feitas pelo diretor William Boxoall.
Entre as pinturas destacam-se "A Avenida em Middelharnis" de Hobbema e "O chapéu de palha" de Rubens. A maior doação ocorreu em 1910, os 192 quadros da coleção Salring. Em 1918 a doação da coleção Hugh Lane incluía 33 quadros impressionistas, entre eles "Os chapéus-de-chuva" de Renoir.
Outra aquisição importante aconteceu durante a Primeira Guerra Mundial, em março de 1918, quando Paris estava sob ameaça dos bombardeios alemães. A valiosa coleção do falecido pintor Edgar Degas estava à venda na França. O diretor da National Gallery, Sir Charles Holmes, montou uma verdadeira operação de guerra para comprar as obras de arte. Ele se disfarçou para não ser reconhecido e faz uma viagem por mar "com uma escolta de contratorpedeiros e um dirigível prateado a vigiar desde o ar" e chegou a Paris, onde comprou no leilão de Degas diversas obras-primas impressionistas, entre elas "A Campanha Romana" de Jean-Baptiste-Camille Corot.
Diversas outras doações e aquisições enriqueceram a galeria. "A Virgem e o Menino com Santa Ana e São João Baptista", de Leonardo da Vinci, foi adquirida em 1962 com a ajuda do Art Fund e de doações públicas. "A Madona dos Cravos" de Rafael foi comprado em 2004 com a ajuda do Heritage Lottery Fund, The Art Fund, Wolfson Foundation, American Frends of the National Gallery, George Beaumont Group e Sir Christopher Ondaatje. Em 2006 a doação de Simon Sainsbury incluía dois quadros de Monet: "Cena na neve em Argentuil" e "Nenúfares, Sol Poente"; e um de Paul Gauguin: "Taça de fruta e caneca de cerveja em frente a uma janela".
A coleção da National Gallery está organizada em ordem cronológica, a partir de obras criadas por volta de 1250 ("Margaritone de Arezzo) a pinturas do século XX (Monet). Não existe a preocupação de oferecer uma visão meditada da pintura européia ocidental, nem de sugerir uma progressão organizada de um ponto a outro. O itinerário é feito pelo próprio visitante, que pode fazer o roteiro a partir de qualquer sala, em qualquer direção, escolhendo as obras de arte que quiser apreciar. Em algumas situações, os quadros produzidos na mesma cidade ou país são pendurados em conjunto, para mostrar o que ocorria em determinado lugar durante um certo período. O mesmo pode acontecer com obras produzidas na mesma época, mas em locais diferentes. Versões diferentes com o mesmo tema também podem ficar lado a lado, mas sempre obedecendo a ordem cronológica, como por exemplo as duas versões de "A agonia no jardim", uma de Giovanni Bellini e a outra do seu cunhado Andréa Mantegna. O quadro de Mantegna é um cenário quase escultural, enquanto Bellini mostra interesse no naturalismo.

Roteiro de visita
RENOIR - Remando no Sena, ost 71 x 92 cm

Se o visitante não dispõe de muito tempo, a sugestão é que ele procure apreciar as obras-primas mais importantes da Galeria, como por exemplo: "A Virgem dos Rochedos", de Leonardo da Vinci; "O Casal Arnolfini", de Jan van Eyck; "Os Embaixadores", de Hans Holbein, o Jovem; "Vênus no espelho", de Diego Velázquez e "Os Girassóis" de Vincent van Gogh (não confundir com o quadro do Museu Van Gogh, em Amsterdã, que é muito parecido). Diversas outras pinturas podem ser acrescentadas a essa lista. O museu fornece mapa com a localização das obras de arte.

Ala Sainsbury - 1250 a 1500
Quem dispõe de tempo, o que seria ideal, deve começar a visitação pela Ala Sainsbury, onde são exibidas as pinturas mais antigas da Europa, do período Pré-Renascentista. O estilo que mais se desenvolveu na pintura de 1250 a 1500 foi o naturalismo, o movimento no qual se faziam representações realistas de pessoas e lugares. Pode-se observar uma diferença entre os rostos estilizados e dobras de tecido nas primeiras obras italianas, que foram influenciadas pela arte bizantina, e as espantosas ilusões naturalistas criadas pelos artistas holandeses do século XV.

Ala Oeste - 1500 a 1600
Neste período, os artistas deparavam-se com o desafio em relação ao que fazer depois de terem dominado a técnica de criar ilusões na pintura. À medida que as antiguidades greco-romanas eram descobertas, tornava-se evidente que os escultores e pintores podiam imaginar corpos perfeitos que podiam elevar o espírito e inspirar a mente. A busca de uma beleza ideal suavizava o realismo. Em Florença e Roma surgiu um movimento para criar formas idealizadas que procuravam melhorar a natureza, com todos os seus caprichos e falhas. Os maneiristas procuravam criar obras estilizadas, artificiais e até discordantes, pois pretendiam ultrapassar a perfeição.

Ala Norte - 1600 a 1700
Neste século, se verifica os efeitos que o surgimento do protestantismo no norte da Europa teve na arte, e as estratégias em oposição adotadas por parte da igreja católica, particularmente na Itália e na Espanha. Os protestantes rejeitavam a utilização de imagens, os católicos tornaram as imagens numa parte ainda mais central da sua prática religiosa. A Igreja pediu aos artistas que dessem vida de forma intensa às histórias bíblicas. Estas obras dramáticas e dinâmicas dominaram a arte do século XVII na Itália, França e no sul dos Países Baixos, denominando-se pintura barroca. Iria influenciar ainda artistas do norte da Europa.
Na sala 15 da Ala Norte, o visitante vai estranhar ao ver uma pintura de Turner, artista inglês do século XIX. É uma marinha com uma vista dramática do um porto, intitulada "Nascer do sol através da névoa e Dido construindo Cartago". A pintura está ali por exigência de Turner, pois uma cláusula no seu testamento diz que a pintura só seria doada à National Gallery com a condição de ficar exposta ao lado da pintura de Cláudio de Lorena, "Porto com embarque da Rainha de Sabá e paisagem com o casamento de Isaac e Rebeca".

Ala Leste - 1700 a 1900
Nas salas dessa ala, a mudança mais visível é o fato destas não serem dominadas por pinturas italianas e dos Países Baixos, assim como diminue sensivelmente o número de obras religiosas. Ocorreram inovações significativas na arte britânica e francesa deste período. O século XVIII começou com um afastamento em relação ao drama emocional e às formas sólidas do período barroco. Depois da morte de Luís XIV, em 1715, uma atmosfera moderada começou a impregnar a cultura na corte francesa. As pinturas rococó de casais enamorados escondidos em paisagens de sonho virou moda. As pinturas históricas e bíblicas deram lugar às pinturas de paisagens. Na segunda metade do século XIX, Cézanne, Seurat e Van Gogh estavam entre os pintores mais radicais, cada um deles desenvolvendo novos meios de ver o mundo e utilizando utilizando nova aplicação da tinta que muitos dos seus contemporâneos consideravam chocantes e extremamente modernos. Os pintores realistas recusavam-se a pintar cenas da antiguidade. Surgiu o grupo dos Impressionistas, que desafiaram tudo, desde o tema à aplicação da tinta, até ao local onde faziam as exposições. Suas obras inspiraram uma geração de novos pintores a ir ainda mais longe, derrubando formas visuais de maneira a serem cada vez mais abstratos.
Em 1997, a National Gallery e Tate Gallery concordaram que as obras de artistas estrangeiros pintadas antes de 1900 faria parte da coleção da primeira, enquanto as feitas no século XX seriam expostas basicamente na segunda. A formosa "Faa Iheihe" obra tardia de Gauguin pintada no Tahiti em 1898, foi uma das peças que, em virtude desse acordo, saiu da Tate para A Galeria Nacional. Em contrapartida (e aí a Tate levou vantagem), o "Retrato de Greta Moll" de Matisse, a "Fruteira Garrafa, e Violino", de Picasso e "Ophelia entre as flores" de Redon, todas elas posteriores a 1900, foram para a Tate.

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