Cidade histórica de Serro, Minas Gerais fundada à beira da Estrada Real |
O objetivo da aventura é fotografar locais e paisagens de acordo com 91 pinturas do artista Funchal Garcia, que depois serão exibidas lado a lado com as fotos numa exposição no Espaço Ernani Arte e Cultura.
Vários pontos de partida e chegada deram origem ao caminho que é conhecido como Estrada Real, um conjunto de trilhas estrategicamente intercruzadas ligando São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. No início do século XVII, mais de cem anos depois de Cabral, é que o Brasil começou a ser realmente descoberto. Os bandeirantes, principalmente portugueses e paulistas, num movimento intensivo de exploração dos sertões brasileiros, estavam em busca das riquezas da nossa terra, mas talvez não chegaram a imaginar que, por aqueles caminhos abertos à facão, fariam o percurso de volta anos depois trazendo na bagagem ouro, diamantes e muita história para contar.
O primeiro trecho da Estrada Real é o Caminho do Ouro, que ligava Ouro Preto à Paraty, principal porto de escoamento da produção aurífera das Gerais, e tinha ainda um ramo que saía de São Paulo e passava por Taubaté e Aparecida. A ordem oficial para sua abertura, em plena Mata Atlântica, partiu do Governador Geral Salvador de Sá, em 1660. O Caminho do Ouro, na região de Cunha, abrigava a casa de registro do ouro, a famosa Casa dos Quintos, instituída em 1703, onde eram cobrados os impostos sobre o comércio do metal. Essa via estreita, cercada de mato, também foi responsável pela formação de cidades como Caxambu, São João Del-Rey, Carrancas, Prado, Congonhas do Campo, Sabará. Aberta sobre uma antiga trilha dos índios Guaianás pelos bandeirantes, a Estrada Real, pavimentada com pedras assentadas a custa de sangue e suor dos escravos, até hoje conserva alguns trechos intactos, dando acesso a uma região que seria, em poucas décadas, a maior área produtora de ouro do mundo.
O Caminho do Ouro foi largamente utilizado até cerca de 1750. Uma nova estrada, o Caminho Novo, começou a ser aberta em 1711 por ordem do rei de Portugal, a fim de encurtar o tempo da viagem entre o Rio de Janeiro e Vila Rica, pela Serra dos Órgãos. As obras, porém, só ficaram prontas em 1767. A trilha que partia de Paraty passou então a se chamar "Caminho Velho". No fim do século XVIII este trecho da Estrada Real, que transpunha a Serra do Facão, é quase que totalmente abandonado, provocando a decadência econômica de Paraty e de povoados vizinhos, que permaneceram praticamente isolados até o Ciclo do Café.
No início do século XIX o velho Caminho do Ouro passa a ser utilizado pelo tráfico ilegal de escravos e pelo escoamento da produção cafeeira do Vale do Paraíba, mas é abandonado mais uma vez depois da inauguração da Estrada de Ferro D. Pedro II, em 1864.
Surgido da necessidade de uma via de escoamento mais rápida e segura para o ouro, que levasse toda produção das Minas ao porto do Rio de Janeiro, o Caminho Novo foi fruto de uma decisão estratégica da metrópole.
Passava por Itamarati, atual Petrópolis, Cebola (Inconfidência), Juiz de Fora, Ouro Branco, Vila Rica (Ouro Preto) e depois da descoberta dos diamantes, na região da Serra do Espinhaço, seguia por Mariana, Itambé, Conceição do Mato Dentro, Vila do Príncipe (Serro), São Gonçalo do Rio das Pedras e atingia o Tijuco, município de Diamantina. Nessas cidades, ainda hoje é possível ver os claros vestígios deixados pelo Ciclo do Ouro e do Diamante na riqueza artística das igrejas, na arquitetura das casas, onde a história foi escrita na trilha dos bandeirantes, escravos, tropeiros, conspiradores além, é claro, dos inconfidentes. Por volta de 1789 o comandante de policiamento do Caminho Novo era o alferes Joaquim José da Silva Xavier, líder da Inconfidência Mineira, mais conhecido como Tiradentes.
A Estrada Real foi durante quase dois séculos o caminho oficial da Colônia e do Império. Durante o Reinado de D. Pedro II, teve sua importância comercial substituída pelo progresso trazido pelas primeiras ferrovias. Hoje, o caminho foi redescoberto, desta vez por praticantes de caminhada e pesquisadores. O turismo ecológico e histórico promete refazer, a pé ou a cavalo, o trajeto de mais de mil quilômetros, divididos em diversos trechos.
Informações: horacioernani@gmail.com
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