A 1ª Missa de Vitor Meirelles


Considerado um tesouro icônico brasileiro, o quadro A Primeira Missa no Brasil, de Victor Meirelles, passará a ser exposto ao lado da Primeira Missa no Brasil de Cândido Portinari, obra recém adquirida para o acervo do Museu Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro. Óleo sobre tela, que mede 270 x 357 cm, foi realizado pelo catarinense Meirelles em dois anos de trabalho - entre 1858 e 1860. Inspirada na carta de Pero Vaz de Caminha, a obra habita o imaginário dos brasileiros e já ilustrou livros didáticos, notas de dinheiro, selos e capas de cadernos de várias gerações.
Pintado no exterior, o quadro foi exibido pela primeira vez no Salão de Paris, em 1861, mas apenas no ano seguinte pode ser visto em no Brasil, na Exposição Geral da Academia Imperial. A obra, restaurada recentemente, deixou o MNBA pela primeira vez em 2007 para percorrer capitais no sul do país. No ano passado, representou a arte brasileira no festival Europália, na Bélgica.

O Artista
De uma época em que o reconhecimento para o pintor dependia de sua carreira acadêmica, Victor Meirelles de Lima precisou abandonar seu estilo minucioso, de pintura íntima e pouco pomposa para trabalhar sobre as telas de grandes dimensões. D. Pedro II foi um dos poucos bons mecenas de nossa história e durante o Segundo Reinado a Academia Imperial de Belas Artes se consolidou e revelou os maiores mestres da arte brasileira. Os prêmios de viagens com pensão do governo brasileiro eram o principal incentivo para jovens artistas que vinham para o Rio de Janeiro, oriundos de diversas partes do país.
Assim também foi com Victor Meirelles de Lima, nascido em Desterro, atual Florianópolis, no estado de Santa Catarina, ano de 1832. Seus pais eram pessoas humildes, mas perceberam desde cedo o talento do filho para o desenho. Com a contribuição de amigos da família, que ajudaram a pagar seus estudos, Victor Meirelles veio para o Rio de Janeiro em 1846. Na Academia Imperial de Belas-Artes fez a cadeira de pintura histórica com Manuel Araújo Porto Alegre. Em 1952, conquista o primeiro lugar com a tela "São João no Cárcere" e ganha bolsa para continuar seus estudos na Itália, nas cidades de Roma e Florença, onde há uma obra de arte em cada esquina.
Da Europa envia grandes quantidades de trabalhos para o Brasil, se transfere para Paris em 1956 e lá pinta sua obra prima: "A Primeira Missa no Brasil", com base no texto da carta de Pero Vaz de Caminha e na gravura homônima de Theodor De Bry, do livro "Grandes Viagens", que contém cenas vivenciadas pelos grandes navegadores do século XVI. Atualmente, o original desta gravura pertence a um colecionador brasileiro. Somente 10 anos depois da partida o artista retorna ao Brasil, recebe a Ordem da Rosa e é convidado a lecionar pintura na Academia, onde tem a oportunidade de passar a sensibilidade que muitas vezes não pode emprestar à seus quadros, os mais famosos feitos por encomenda do governo brasileiro. É o caso de "Combate Naval do Riachuelo" e "Passagem do Humaitá" cenas da Guerra do Paraguai requisitadas pelo Visconde de Ouro Preto, então Ministro da Marinha. Para executá-las, Victor Meirelles realizou diversos estudos, feitos in loco, tendo sido necessário assistir a várias batalhas. Essas e outras obras do gênero, executadas pelos mais famosos artistas brasileiros eram encomendadas intencionalmente pelo governo, para exaltação, glorificação e legitimação do Estado Imperial.
Pertencente ao acervo do Museu Histórico Nacional, "Combate Naval do Riachuelo" na verdade é uma cópia do original, feita pelo próprio autor, pois a primeira versão, apresentada na Exposição da Filadélfia, em 1876, foi destruída por acidente durante a viagem de volta dos Estados Unidos. Inconformado, o artista executou uma segunda versão, considerada superior à primeira, em 1882. Afastada das galerias do museu desde 1985, por causa de um processo bastante avançado de deterioração, a obra só foi restaurada a partir de 1991 e sua recuperação custou 30 mil dólares, patrocinados por uma empresa estatal. Outras obras famosas de Victor Meirelles são: "Batalha dos Guararapes", "Juramento da Princesa Isabel" e "Moema", que integra o acervo do Museu de Arte de São Paulo, o Masp.
Victor Meirelles foi afastado da Academia com a Proclamação da República e desde então passou a enfrentar sérias dificuldades. Faleceu em 1903, no Rio de Janeiro, na mais completa pobreza e totalmente esquecido. Quase meio século depois, em 1952, é inaugurado o Museu-Casa de Victor Meirelles, em Florianópolis, na mesma construção do século XVIII em que o pintor nasceu, onde estão expostos óleos, desenhos e aquarelas além de uma coleção de títulos sobre a vida e a obra de um dos maiores pintores românticos brasileiros.

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