Invisibilidade

Ricardo Kimaid

Se olharmos para a agenda de realizações ocorridas esse ano, privilegiando as artes plásticas, com exceção da exposição Impressionismo: Paris e a modernidade, Obras-Primas do Acervo do Museu d'Orsay de Paris, França no CCBB, com a maravilhosa coleção de obras impressionistas ainda em andamento, constataremos que as abordagens das demais foram voltadas especificamente para o que chamam de arte contemporânea.
Aliás, não tão somente esse ano, mas também os últimos cinco anos ou mais, as principais feiras e as bienais, entre os demais eventos de maior importância, não reservam o menor espaço para a arte moderna ou a arte acadêmica, para contemplar o público mais exigente, culturalmente falando, mostrando acervos ou coleções importantes, quer sejam particulares, de centros culturais ou de museus.
Negar às novas gerações, o conhecimento sobre a arte precedente a sua época, é torná-la invisível aos olhos dos leigos. Faz parecer um procedimento de discriminação cruel com a arte e artista que movimentaram durante décadas nosso mercado doméstico de arte, uma vez que nos países europeus ainda se preservam tradições.
Quando acenam com eventos pinçando obras de artistas consagrados pelo seu histórico  no secular cenário das artes plásticas, se o fizessem mais repetidamente, poder-se-ia fazer melhor avaliação comparativa sobre a real preferência do público apreciador.
A maior prova disso está nas intermináveis filas que diariamente invadem os espaços onde ocorre a mostra dos modernistas do fim do século XIX e início do século XX no CCBB. Grande parte desses visitantes é jovem, e nota-se que por parte deles há um manifesto de grande interesse em conhecer o histórico sobre os artistas impressionistas: sua obra e sua vida.
Nota-se que, existindo troca entre a obra de arte e o espectador, atinge-se o aspecto crucial que acaba por definir o verdadeiro sentido do que seja arte em toda sua magnitude. Por que tão pouco se investe nessa alternativa?
Eventos dessa envergadura deveriam estar sendo exibido no Museu Nacional de Belas Artes, e repetidamente.
À bem da verdade, nossos museus vivem as moscas, não sei se por falta de verbas, ou despreparo em suas administrações. O fato é que seus dirigentes deveriam relacionar-se com os demais museus mundo a fora, trocando seus acervos temporariamente com exposições diversas, o que, com certeza, dariam maior vitalidade às suas agendas de realizações culturais.
Contribuindo para esse descaso, não temos uma imprensa devidamente preparada para pinçar nas agendas de exposições, o que seria de melhor relevância para apresentar ao público. Ficamos então, ao sabor da mídia, que, sem sair dos seus assentos, não postam realizações que não venham sublinhadas pelas grifes eleitas por suas veiculações.
Por vezes me aventuro em comparecer a algumas dessas feiras para ver se encontro algo de real e novo que justifique a presença de quem aprecia realmente artes plásticas, e saio com a triste constatação que não existe mais espaço para piorar o que já é ruim demais.
Fico imaginando a dificuldade que as colunas da imprensa dedicadas às artes plásticas têm em fazer matérias sobre alguns ícones da pintura brasileira. Nomes como Visconti, Belmiro de Almeida, Castagneto, Fachinetti, Panceti, Guignard, entre tantos outros artistas que construíram para a verdadeira academia de arte. A falta de preparo de seus editores colide com a realidade dos fatos, e, com isso, estão condenando nossos ícones da pintura brasileira ao esquecimento, e lentamente apagando-os da memória cultural do país.
Lamentável!!!
Aos leitores desta revista, ensejo de boas festas, e um feliz ano novo que se aproxima; mais humano, menos virtual. Saúde e Paz para todos.

Ricardo Kimaid
tel. 21 2273-3398

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