Reprodução em cartão postal de uma tela de Benedito Calixto retratando o Porto de Santos com veleiros ancorados em frente ao trapiche em 1882 |
Por esse trabalho, foi premiado com a bolsa de estudos e a viagem para Paris, feita em 1883. Lá teve a oportunidade de estudar no ateliê Raffaelli e na Academia Julien, onde foi aluno de Gustave Boulanger, Jules Lefebvre e Robert Fleury. Dois anos depois, retorna ao Brasil e fixa-se na cidade de Santos. Retrata esplendidamente a cidade que escolheu para viver e pintar. Suas marinhas ganham grande notoriedade pela riqueza de detalhes. O então recente e grandioso Porto de Santos, principal porta de entrada do Brasil, obtém atenção especial de Benedito. Paralelamente, dedica-se ao magistério.
Benedito Calixto desenvolveu o conjunto de sua obra no momento de transição entre os séculos XIX e XX. Cada tela sua é de suma importância para a documentação histórica da iconografia da cidade de Santos e seus arredores, como Itanhaém e São Vicente, que já despontavam como balneário preferido dos paulistas. Nas telas de Calixto as ruas da cidade ainda são repletas de casarios remanescentes da arquitetura colonial, cenários muitas vezes irreconhecíveis nos dias de hoje. Telas panorâmicas revelam a natureza em toda sua plenitude. Era comum o pintor se utilizar da fotografia para ajudar a manter a fidelidade de suas telas mas, apesar desse comprometimento com o realismo, o aspecto emocional prossegue mantido, devido à forte relação afetiva que existia entre Benedito e sua cidade, suas praias, criando um paradoxo entre a modernização civilizadora da topografia e a força da natureza.
Um segundo momento importante da carreira do artista é a pintura histórica. Realiza inúmeros trabalhos por encomenda do Estado. Apaixonado pela história paulista, pesquisa e escreve sobre o passado e esse envolvimento se reflete em seus quadros, que passam a contar, plasticamente, uma parte dessa história. Padre Anchieta, Martim Afonso e os índios povoam seus pensamentos, e o pintor chega a realizar teatralmente reconstituições de cenas históricas para ter uma visão mais profunda daquilo que deseja reproduzir em tela. Muito se comprova hoje em dia com a simples observação dessas telas, como o provincianismo e a vida pacata que se gozava em São Vicente, Santos e até mesmo em São Paulo, que na época já era a maior cidade do país.
Como "abandonara" as rédeas curtas do academismo, na época em que voltou de Paris sem completar seu ciclo de estudos, Benedito Calixto não realizou muitas exposições nem inscreveu seus trabalhos com insistência nos salões de arte. Naqueles em que sua obra se fez presente, sempre teve seu trabalho reconhecido e foi agraciado com medalhas e títulos em honra ao mérito. A maior parte das exposições aconteceu depois de sua morte, em 1927. Antes disso, no ano de 1924, o pintor recebeu do Papa Pio IX a Comenda e a Cruz de São Silvestre, por serviços prestados à Igreja por meio da sua arte.
Arte Sacra
Muitas igrejas do litoral paulista e de municípios vizinhos foram decoradas com telas pintadas por Benedito Calixto. A arte sacra foi uma de suas paixões por ser também muito ligado às questões religiosas. Dentre as obras que mais se destacam e valem a pena ser vistas de perto estão os murais das catedrais de Santos e Ribeirão Preto e a decoração das igrejas de Santa Cecília, Consolação e Santa Ifigênia, em São Paulo. As últimas obras do artista foram 14 telas feitas na Matriz de São João Batista, em Bocaina. Uma curiosidade sobre essa obra é que ela deveria ter sido realizada na Matriz de Jaú, mas a insistência do vigário José Maria Alberto Soares, que estabeleceu longa e intensa correspondência com o pintor, trouxe o trabalho para sua cidade. Suas cartas relatavam a limitação financeira da paróquia mas reiteravam o desejo de ter telas do pintor em suas modestas instalações. A eloqüência e tenacidade das palavras do vigário promoveram uma verdadeira comunhão entre ele e o artista. Sensibilizado, Benedito Calixto resolveu atender aos apelo do padre José Maria e em setembro de 1923 dirigiu-se para Bocaina a fim de realizar este, que seria seu último trabalho.
Pelas comemorações dos 150 anos de seu nascimento, a Fundação Benedito Calixto lançou em setembro último, no Jockey Clube de São Paulo, o livro "Benedito Calixto - um pintor à beira mar", que reúne belas imagens de reproduções de telas suas e diversos ensaios para a compreensão de sua obra. Criada para catalogar e desenvolver pesquisas sobre a vida do pintor, a fundação já fez um levantamento de 700 obras autênticas, entre pinturas e desenhos. A última descoberta foi na ocasião do lançamento do livro, uma família da cidade de Amparo que possui 11 quadros de Calixto.
Benedito Calixto de Jesus é apontado como um dos maiores pintores oitocentistas do Brasil e o valor histórico de sua obra é considerado imensurável. Talvez porque não visse as artes plásticas como uma linguagem autônoma, mas uma das inúmeras formas que existem de se contar uma história, de se tecer uma narrativa situada no contexto de uma época.
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