Edvard Munch - Um olhar moderno

As moças na ponte, óleo sobre tela 100 x 90 cm, de 1927.
Acervo do Museu Munch - Oslo

Por esse movimento na história da arte, que se desenvolveu particularmente bem na metade do século XX, Munch foi uma dádiva de Deus.

(Ângela Lampe e Clément Chéroux)

A exposição Edvard Munch: The Modern Eye, na Tate Modern, em Londres, é mais que uma retrospectiva contendo obras primas do pintor em ordem cronológica. Pretende situar Munch mais como um artista modernista do século XX e reflete muito o interesse da Tate Modern na releitura do modernismo frente a uma perspectiva contemporânea.
Na apresentação do catálogo da mostra, o diretor da Tate Chris Decon, afirma que Edvard Munch: Um olhar moderno "propõe uma releitura do trabalho do artista, examinando o diálogo entre suas pinturas, desenhos e gravuras feitas na primeira metade do século XX e seu interesse crescente no aparecimento de outras mídias, incluindo fotografia, filme e teatro". E explica: "Munch tem sido prioritariamente apresentado como um pintor do final do século XIX, como um simbolista ou um pré-expressionista, mas esta exposição mostra, entretanto, como ele se engajou enfaticamente na modernidade dos primórdios do século XX. Os novos aspectos vantajosos oferecidos pelo cinema, fotografia e a introdução da iluminação nos palcos dos teatros aparecem na pintura de Munch, e seu trabalho nessas áreas mostram sua aceitação da modernidade. Esta exposição questiona alguns clichês que algumas vezes são apontados no trabalho de Munch, obscurecendo um completo entendimento sobre ele - como, por exemplo, o artista como um torturado introspectivo - mas na realidade, existia um vivo interesse de Munch pelo mundo que o cercava".
Autorretrato, óleo sobre papel, 26 x 19 cm
1882. Museu Munch - Oslo
A exposição foi organizada pelo Centro Pompidou, Museu Nacional de Arte Moderna de Paris, em cooperação com o Museu Munch, de Oslo, em associação com a Tate Modern. Está organizada em onze seções, cada uma correspondendo aos sinais da modernidade identificados na obra do pintor: sala 1 - Meio como Musa, sala 2 - Reelaborações, sala 3 - Autobiografia, sala 4 - Espaço Ótico, sala 5 - No Palco, sala 6 - Compulsão, sala 7 - Fotografia e Retrato, sala 8 - Desmaterialização, sala 9 - Cineasta Amador, sala 10 - O Mundo lá Fora, sala 11 - O Olho Evitado e sala 12 - Olhar Inabalável.
Sobre a exposição Edvard Munch - Um olhar moderno escreveram Ângela Lampe e Clément Chéroux: "Uma monografia sobre a história da arte geralmente começa com uma data de nascimento. Esta começa com a data de uma morte: o pintor norueguês Edvard Munch faleceu em 23 de janeiro de 1944, em Oslo. Este mesmo ano marcou as mortes de dois outros grandes pintores: Vassily Kandinsky e Piet Mondrian. Munch foi assim contemporâneo desses dois pintores modernistas que deixaram uma marca indelével na arte do século XX. Ele é, entretanto, considerado um artista do século XIX, um simbologista ou proto-expressionista, que mais facilmente encontra seu lugar na cronologia da arte ao lado de Vincent van Gogh e Paul Gauguin.
The Sick Child, ost 118 x 121, de 1907. Segundo o diretor da Tate Chris Dercon, é a obra da coleção Tate mais amada pelos visitantes 
Munch nasceu em 1863 e começou a pintar na década de 1880, mas três quartos de sua produção datam de 1900 em diante. Seu amigo Rolf E. Stenersen afirma que "o período mais próspero em sua vida foi sem dúvida o intervalo entre 1913 e 1930". Com exceção de uma exposição no High Museum of Art em Atlanta, em 2002, a maioria das retrospectivas dedicadas ao artista, desde sua morte, focalizaram sua obra durante os anos 1890, predominantemente mostrando óleos como O Grito, O Beijo, Vampiro, e assim por diante."
Edvard Munch - The Modern Eye está concentrada em sua obra depois de 1990. Objetiva mostrar que Munch foi mais um pintor do século XX. Os especialistas em Munch vêem que o princípio do século foi uma marca divisória no trabalho do pintor, citando o ano de 1902, época das brigas mais violentas com Tulla Larsen. O Munch do século XX não é radicalmente um novo pintor comparado àquele do século XIX. Ele retorna a alguns de seus temas favoritos e modelos de composição que já havia explorado e faz novas abordagem a outros temas. "A perspectiva de suas pinturas, os contornos das formas são menos distintas, efeitos dinâmicos se multiplicam e as cores se tornam mais intensas. O princípio adotado nesta exposição focaliza a evolução da obra de Munch menos em termos de aprofundamento do que de intensidade. Mais do que ser novo, é o efeito cumulativo dessa intensidade imprimida nos contornos".

Trabalhadores em seu caminho para casa, ost 201 x 227, 1913-14
O público em geral tende a ver Munch como um solitário e depressivo artista. Desde a sua morte, o discurso dominante tem tentado evitar o clichê atribuído às origens do artista e a abordagem psicológica do seu trabalho. De alguma forma uma certa melancolia escandinava, o seu temperamento associado às terras nórdicas, e de outro lado, a doença, dramas emocionais e os problemas com o alcoolismo e a depressão que marcaram a vida do artista inspiraram estudos seguidos por uma abordagem psicanalítica da arte. Munch teve uma vida, no mínimo, difícil. Entretanto, sua obra não é somente fruto dessa ambivalência. Ele teve muitas influências. Durante as primeiras décadas do século XX, ele foi ao cinema, ouviu rádio, leu a imprensa internacional e se interessava por assuntos econômicos e políticos, assim como àqueles ligados à guerra que se alastrava pela Europa. Ele estava totalmente ligado à sua época e é exatamente isso que a exposição Edvard Munch - The Modern Eye também procura mostrar. 

Vampiro na floresta, ost 150 x 137 cm, de 1916-18.
Museu Munch - Oslo
Edvard Munch
Edvard Munch (Loten, 12 de Dezembro de 1863 - Ekely, 23 de Janeiro de 1944) foi um pintor norueguês, considerado um dos precursores do expressionismo. Ele frequentou a Escola de Artes e Ofícios de Oslo, vindo a ser influenciado por Courbet e Manet. Os pensamentos de Henrik Ibsen e Bjornson marcou o seu percurso inicial, numa época em que a arte era considerada como uma arma destinada a lutar contra a sociedade. Os temas sociais estão assim presentes em O Dia Seguinte e Puberdade, de 1886.
Com A Menina doente (Das Kränke Mädchen, 1885) inicia uma temática que surgiria como uma linha de força em todo o seu caminho artístico. Fez inúmeras variações sobre este último trabalho, assim como sobre outras obras, e os seus sentimentos sobre a doença e a morte, que tinham marcado a sua infância (sua mãe morreu quando ele tinha 5 anos, a irmã mais velha faleceu aos 15 anos, a irmã mais nova sofria de doença mental e uma outra irmã morreu meses depois de casar; o próprio Edvard estava constantemente doente), assumem um significado mais vasto, transformados em imagens que deixavam transparecer a fragilidade e a transitoriedade da vida. Edvard Munch descobre em Paris a obra de Van Gogh e Gauguin, e indubitavelmente o seu estilo passa então por grandes mudanças.



Vampiro na floresta, ost 150 x 137 cm, de 1916-18. Museu Munch - Oslo

Em 1892 um convite para expor em Berlim torna-se num momento crucial da sua carreira e da história da arte alemã. Inicia um projeto que intitula O Friso da Vida. Aos trinta anos ele pinta O Grito, considerada a sua obra máxima, e uma das mais importantes da história do expressionismo. O quadro retrata a angústia e o desespero, e foi inspirado nas decepções do artista tanto no amor quanto com seus amigos. É uma das peças da série intitulada O Friso da Vida. Os temas da série recorrem durante toda a obra de Munch, em pinturas como A Menina Doente (1885), Amor e Dor (1893-94), Cinzas (1894) e A Ponte. Rostos sem feições e figuras distorcidas fazem parte de seus quadros.
Em 1896, em Paris, interessa-se pela gravura, fazendo inovações nesta técnica. Os trabalhos deste período revelam uma segurança notável. Em 1914 inicia a execução do projeto para a decoração da Universidade de Oslo, usando uma linguagem simples, com motivos da tradição popular.
Munch retratava as mulheres ora como sofredoras frágeis e inocentes (ver Puberdade e Amor e Dor), ora como causa de grande anseio, ciúme e desespero (ver Separação, Ciúmes e Cinzas). As últimas obras pretendem ser um resumo das preocupações da sua existência: Entre o Relógio e a Cama, Autorretrato de 1940. Toda a obra está impregnada pelas suas obsessões: a morte, a solidão, a melancolia, o terror das forças da natureza.
A obra mais famosa do artista, O Grito, não está em exibição na Tate. A exposição Edvard Munch: um olhar moderno, que se encerra em outubro, faz uma releitura da obra do pintor, mostrando um lado de Munch pouco conhecido, de um artista antenado com as transformações do século XX, em especial no aparecimento de novas mídias. Esta exposição questiona os clichês apontados no seu trabalho e apresenta Edvard Munch como um modernista do século XX.



O editor de A Relíquia, Litiere C. Oliveira, na exposição da Tate, ao lado de
Ashes (Cinzas) ost 139 x 200 cm (1925). Acervo do Museu Munch – Oslo

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