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Sukhothai e Bangkok


A antiga e a atual capital da Tailândia

Cinco séculos separam a mudança da capital da Tailândia de Sukhothai para a Bangkok. Nesse período, enquanto a primeira, abandonada, se transformava em ruínas, a segunda, conhecida como a cidade dos 400 Santuários, florescia e se modernizava. Sukhothai está completando 720 anos de sua fundação e Bangkok comemora 230 anos como sede do governo.

Vista da Sukhothai, antiga capital da Tailândia, fundada em 1292
Mais de setecentos anos depois de fundada, Sukhothai, a primeira capital do povo thai independente, após séculos de abandono, foi restaurada e recuperou sua importância como centro cultural e religioso. Resgatada do abandono e da pilhagem pela abnegação de arqueólogos, a primeira capital do Sião, atual Tailândia, revelou-se um dos mais importantes conjuntos arquitetônicos antigos do Oriente.
Inteiramente dedicada ao budismo, a cidade hoje atrai turistas e peregrinos e mostra a cultura de um povo para o qual arte e religião são duas coisas que não podem ser separadas. Restaurada e parcialmente reabitada, Sukhothai voltou a representar um dos mais importantes centros religiosos da Tailândia. Os monges budistas realizam novamente suas cerimônias nos templos da antiga cidade sagrada. Entre os rituais budistas que são de novo ali praticados está a Loy Krathong, a Festa das Luzes.

Abrigado pelo complexo de Wat Si Chum, fora das muralhas da cidade,
a gigantesca estátua do Buda sentado. Durante o reinado de Ram Khamhaeng
 no final do século XIII, a cidade atingiu seu apogeu cultural, com a
construção de magníficos palácios e templos de rara beleza
Sukhothai foi fundada no ano de 1292, tornando-se a capital do primeiro reino do povo thai verdadeiramente independente. Os thais são originários do vale do Yang-tze, na China, do qual partiram, por volta do século XII, em direção à Indochina, onde foram dominados pelo povo Khmer, do Camboja. A dominação durou até meados do século XIII, quando o líder thai de Chiangrai iniciou uma revolta contra os senhores khmers. Depois da vitória, o comandante assumiu o título de Sri Indraditya e proclamou-se rei dos thais, iniciando a construção de sua imponente capital. Sukhothai foi erguida nas partes baixas do norte do atual território tailandês, na margem oriental do rio Yon, a 450 quilômetros da atual capital, Bangkok.
O período de glória do reino de Sukhothai - cujo nome significa Aurora da Felicidade - começou realmente com a ascensão ao trono do terceiro filho de Indraditya, Ram Khamhaeng - Rama, o Grande -, que concluiu a cidade. Preocupado com a grandeza de seu reino, ele estendeu seus domínios até a baía de Bengala, na Índia, e a península Malaia. Procurou também estabelecer boas relações com os poderosos senhores mongóis que dominavam a China, recebendo embaixadores de Kublay Khan e mandando ricos presentes ao soberano de Pequim. Essa habilidade diplomática valeu-lhe um reinado de paz que durou até 1317.

Elefantes do Wat Khungwai restaurados
Ram Khamhaeng pretendia que seu país fosse mais que uma potência política. Ele queria transformar o seu reino num grande centro de cultura. Para isso, procurou atrair artistas, sábios e religiosos para viverem em sua magnífica cidade, além de incentivar a assimilação de culturas estrangeiras. O budismo Theravada e sua arte, por exemplo, foram trazidos do Ceilão. A estrutura governamental e os rituais ligados à realeza eram uma herança dos dominadores khmers. A escultura e a pintura vieram da Índia, enquanto a requintada arte da cerâmica chegou numa das missões diplomáticas chinesas. Foi em Sukhothai que nasceu o idioma tailandês e seu alfabeto, segundo a lenda inventado pelo próprio Ram Khamhaeng. Outro aspecto civilizador do rei era a sua preocupação com a justiça.
Porém, como aconteceu em tantos outros reinos da antiguidade, a idade de ouro em Sukhothai não resistiu muito à morte de seu soberano, que aconteceu em 1317. Ainda que o rei Li Thai também tivesse sido um importante patrono das artes, o poderio do país começou a decair, até que, na segunda metade do século XIV, o reino de Sukhothai tornou-se vassalo de seus vizinhos de Ayutthaya. A acelerada decadência que atingiu a cidade fez com que mesmo sua antiga família real a abandonasse, passando a viver em Phitsanolok, onde a dinastia terminou, em 1438. Com a instalação da capital em Bangkok, em 1782, Sukhothai tornou-se desabitada, sendo engolida pela floresta e lembrada apenas nas lendas.

Wat Phra Kaeo, o templo do Buda de Esmeralda com seus exóticos telhados
Essa situação durou até 1978, quando o arqueólogo tailandês Nikom Moosigakama chegou à antiga capital para resgatar o patrimônio do seu país, encontrando um ambiente desolador: fazendeiros instalados dentro da área de preservação, ruas invadidas pela vegetação, edifícios apodrecidos, torres em ruínas, pilares derrubados e estátuas decapitadas por ladrões, pois as cabeças de muitas das estátuas eram feitas de ouro e marfim com pedras preciosas incrustadas. Havia tantos bandidos na região que foi preciso a presença de guardas armados. Nikom comandou uma equipe de 500 especialistas espalhados pelos 70 quilômetros quadrados que formam toda a área preservada. Em 1988 o governo da Tailândia criou oficialmente o Parque Histórico de Sukhothai e a UNESCO incluiu a cidade na lista de patrimônios culturais da humanidade. Uma parte do material arqueológico (estatuetas e objetos utilitários) está hoje exposta no Museu Nacional de Bangkok. Dentro da área da cidade foram contabilizados 76 monumentos, havendo outros 50 do lado de fora. Entre essas construções dentro das muralhas, a mais impressionante é, sem dúvida, o palácio real. Com 160 mil metros quadrados, ele abriga em seu interior o Wat Mahathat, o maior templo da cidade. Do lado de fora, o Wat Si Chum, situado a 1.500 metros do complexo palaciano, maravilhou os arqueólogos: o templo abriga um Buda sentado na posição de lótus, com onze metros de joelho a joelho. O resultado final da restauração pode ser apreciado hoje, tanto pelos tailandeses, como pelos turistas do mundo todo que visitam Sukhothai.

Bangkok, a cidade dos 400 Santuários

Vista do Palácio Real em Bangkok
Na Tailândia existem milhares de templos budistas e uma boa parte deles fica na capital, Bangkok. Suntuosos e cheios de colorido, os mais belos templos ficam à margem do Rio Menam. Todos levam nomes dos mitos budistas e são guardados por figuras de vigilantes, com fisionomia demoníaca. Há cerca de 32 mil Wats no país, construção que é um misto de templo e monastério e local para a realização das cerimônias religiosas budistas. Num país de natureza paradisíaca, os locais de meditação da Tailândia também são atração imperdível para turistas do mundo inteiro.
O maior e mais antigo templo de Bangkok é chamado Wat Phra Jerupon, sendo mais conhecido como Wat Po. Construído no século XVI, foi restaurado durante 12 anos, de 1789 a 1801, pelo Rei Rama I. Sua principal atração é o Buda Deitado. Impressionante por sua grandeza, a estátua possui 46 metros de comprimento e 15 de altura, feita com tijolos e concreto e totalmente folheada a ouro. Wat Po também é cercado por belíssimos pagodes adornados por mosaicos pintados à mão, representando a postura do Buda em oração. A princípio, o templo pode parecer um imenso labirinto, mas sua estrutura arquitetônica é simples. No centro de uma praça fechada está a Bot, uma capela central. Esta praça é cercada por um pátio que abriga longas filas de estátuas de Buda sentado, como medida de proteção, formando galerias que só são interrompidas pelas Phra Chedis, pequenas capelas que também guardam imagens do líder espiritual e são ótimos exemplos da arquitetura tailandesa.

Buda Deitado. Impressionante por sua grandeza, a estátua possui 46 metros de
comprimento e 15 de altura, feita com tijolos e concreto e totalmente
folheada a ouro.
Os pés do Buda
Outro ponto importante na cidade é o Grande Palácio Real, uma verdadeira cidade murada, cujas salas de audiência despertam grande curiosidade, que abriga ainda o Wat Phra Kaeo, templo do Buda de Esmeralda. A utilização oficial do Grande Palácio Real só é feita em ocasiões solenes, como cerimônias de coroação ou funerais de membros da Família Real. A visita ao Wat Phra Kaeo é parada obrigatória no roteiro de qualquer turista que esteja em Bangkok, por motivos que impressionam à primeira vista, como os grandes telhados com torres douradas e mosaicos de um sem fim de cores que o tornam o templo mais exótico da devoção budista.
Mas não é só isso, o Templo do Buda de Esmeralda também impressiona pela magnífica riqueza que lá é guardada: uma imagem de Buda esculpida em uma única peça de Jade, sendo o mais famoso e reverenciado objeto religioso da Tailândia.
A relíquia tem apenas seis centímetros de altura e a cabeça é feita de uma gigante esmeralda. É tradição o Rei entrar três vezes por ano no templo para mudar as roupas sempre enfeitadas por jóias que revestem a pequena estatueta. As trocas são feitas na chegada do inverno e do verão e no princípio da estação das chuvas. Neste, que é o período da fertilidade, o Buda é vestido com um traje confeccionado em tecido de ouro puro, que deixa livre apenas um dos ombros.
O Buda de jade
O Templo de Mármore é uma verdadeira obra de arte tailandesa, tendo sido construído em mármore de Carrara italiano e decorado com mosaicos chineses. A entrada principal do Wat Benchamabopit, construído em 1899 pelo Rei Rama V, se dá por um portão em forma de serpente, uma inspiração na arte Khmeriana. Há ainda o Wat Traimit, ou Templo do Buda de Ouro, que apresenta uma estátua de Buda construída em ouro sólido, pesando 5,5 toneladas. Esta imagem é um raro exemplo da arte Sukhotahi que foi encontrado ocasionalmente em escavações durante as obras de construção do templo.
Uma das principais tradições no budismo tailandês constitui um ritual. Socialmente, espera-se que todo tailandês de sexo masculino torne-se um monge, ao menos uma vez na vida, por um período de três meses, para estudar o budismo e viver em um monastério à maneira budista. O atual Rei Bhumiphol Adulyadej tornou-se monge em 1965 e estabeleceu residência no Wat Bovornivet. O filho único do Rei, o Príncipe Vajiralongkorn, foi ordenado monge em 1978.
Não é só nos templos sagrados ou monastérios. A imagem de Buda está em todos os lugares e todas devem estar em perfeito estado de conservação, pois só assim servem como símbolos de devoção. Como uma das principais características do budismo é a crença na reencarnação, a possibilidade de reencontrar um ente querido mesmo após sua morte, faz com que se redobrem os esforços para manter viva a memória daqueles que tiveram boas ações em suas vidas anteriores.

Detalhe do maior Buda em ouro maciço do mundo.
Data do século XIII e possui cinco toneladas de ouro

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