Em 2012 se completa 30 anos da reabertura do MAM - Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, após o incêndio que destruiu 90% de acervo da instituição, queimando obras de Picasso (Cabeça cubista e um Retrato de Dora Maar), Miró, Salvador Dalí, Max Ernst, René Magritte, Ivan Serpa, Manabu Mabe, entre muitos outros, além de todos os trabalhos de uma retrospectiva de Joaquin Torres García.
Inaugurado em 1948, o
museu ardeu em chamas no dia 8 de julho de 1978, num incêndio
provavelmente causado por um curto-circuito. Após exaustivos
trabalhos de restauração, em 1982 o Bloco de Exposições volta a
funcionar. Entre 1993 e 2002, o museu recebeu doações de coleções
particulares, de artistas, instituições e mesmo de governos, e
passou a abrigar, em regime de comodato, a Coleção Gilberto
Chateaubriand, com cerca de 4.000 obras, incluindo telas de Cândido
Portinari, Di Cavalcanti , Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Lasar
Segall, Ismael Nery, Vicente do Rego Monteiro, Pancetti, Goeldi e
Djanira, entre outras, que se juntaram a obras que escaparam do fogo,
como Mademoiselle Pogany, escultura de Constantin Brancusi de 1920 e
Number 16, de Jackson Pollock, de 1950.
Uma das obras que não
escapou do fogo foi A Explicação, de René Magritte, num incêndio
que, ironcamente, até hoje não tem explicação. O quadro de
Magritte, que estava na Alexander Iolar Gallery, de Nova York, foi
adquirido, em março de 1958, pelo Museu de Arte Moderna do Rio de
Janeiro, com recursos captados através de doações particulares
(entre outras obras importantes compradas naquela época, Niomar
Moniz Sodré Bittencourt, então diretora do museu, teve a
sensibilidade de incluir A Explicação, que mais tarde - exatamente
20 anos depois - foi destruída no incêndio que devastou grande
parte do acervo do MAM).
Sobre a obra de René
Magritte, em 1924 pintou o quadro que ele mesmo considerou o ponto de
partida de seu trabalho: uma janela, vista do interior, que se abre
para uma mão tentando agarrar um pássaro em pleno vôo. Outra obra,
executada pouco depois, representa uma mulher com uma rosa no lugar
do coração.
O artista criou um
repertório de problemas em que se incluem lições de coisas - como
afirma S. Alexandrian no livro Surrealismo -, explorando combinações
que dão ao familiar um aspecto estranho. Nas telas que, com seus
objetivos insólitos, produzem um efeito inquietante, Magritte
aplicava os seguintes princípios: a ampliação do pormenor (uma
maçã ou uma rosa imensa que enche totalmente o espaço de uma
sala); a associação de complementares (uma folha-pássaro ou uma
folha-árvore, uma montanha-águia); a animação do inanimado (um
olho numa fatia de presunto); a abertura misteriosa (uma porta aberta
para um panorama inesperado); a transformação material dos seres
(um personagem de papel recortado, um pássaro de pedra voando sobre
os rochedos de uma praia, uma garrafa cujo gargalo se transmuta numa
cenoura); e suas surpresas anatômicas (uma mão cujo punho é uma
face de mulher).
Na linha destas
concepções é que se situa seu quadro de 1951, A Explicação, uma
natureza-morta que apresenta a fusão de dois objetos bem distintos,
quanto à natureza pelo menos: uma garrafa e uma cenoura.
S. Alexandrian explica
em sua análise: "Magritte soube aproximar dois objetos
semelhantes fazendo sobressair suas diferenças, provocando no
espectador uma sensação que poderia ser chamada de
choque-revelação. Assim, sua pintura, que exclui os símbolos e os
mitos, não é uma prospecção do invisível. Ele transmite
fielmente o que lhe revela sua observação atenta da realidade.
Mesmo quando lhe muda o sentido, apóia-se solidamente no objeto que
o inspirou".
Sobre esta obra de
Magritte, disse André Breton: "Comparar dois objetos tão
afastados quanto possível um do outro, ou, utilizando outro método,
reuni-los de uma forma brusca e impressionante, continua a ser a
tarefa mais elevada a que a poesia pode aspirar".
Museu de Arte Moderna
Atualmente, com cerca
de onze mil obras, o MAM dispõe de esculturas e pinturas de artistas
de renome internacional como Fernand Léger, Alberto Giacometti,
Henry Moore, Jean Arp, Barry Flanaghan, Bourdelle, Poliakov, Henri
Laurens, Lipchitz e Carlo Carrà. Além da coleção internacional,
há um grupo notável de artistas latino-americanos, entre eles
Joaquin Torres García, Cruz Díez, Jorge de la Vega, Romulo Macció,
Xul Solar, Antonio Seguí e Guillermo Kuitca, além de brasileiros
como Bruno Giorgi, Maria Martins, Di Cavalcanti e, naturalmente,
representantes do neoconcretismo como Lygia Clark, Helio Oiticica,
Franz Weissmann, Amílcar de Castro e Wyllis de Castro.
Já em 2005, o Museu de
Arte Moderna teve o prazer de receber, em regime comodato, grande
parte da coleção do diplomata Joaquim Paiva. A Coleção Joaquim
Paiva teve seu início em 1981 quando o diplomata começou a adquirir
sistematicamente fotografias brasileiras contemporâneas. No museu
estão depositadas aproximadamente 1090 obras que registram o que há
de mais representativo na fotografia brasileira de nosso tempo. Desde
retratos e paisagens à experimentos fotográficos dos anos 1990.
Entre os nomes mais representativos da coleção estão: Pierre
Verger com a sua preciosa documentação sobre a cultura
afro-brasileira; Geraldo de Barros e seus experimentalismos técnicos;
Miguel Rio Branco que busca a intensidade das cores no universo mais
dura da realidade brasileira, o fotojornalismo ligado à temática
social e bem brasileira de Walter Firmo, a atitude questionadora
sobre o ato de fotografar da artista Rosângela Rennó entre outros.
Nesse sentido a Coleção Joaquim Paiva representa no toda a
qualidade e a pluralidade de trabalhos e tendências que a fotografia
contemporânea brasileira pode nos oferecer.
Somado a esta coleção
por si só impressionante, o Museu de Arte Moderna abriga, ainda, um
terceiro conjunto igualmente expressivo, com cerca de quatro mil
obras de fotógrafos brasileiros, que compõem um terceiro acervo,
adquirido em parte graças a uma doação especial da White Martins.
Mas continua, para
sempre, sem A Explicação.
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