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O andar de Giacometti

Pela primeira vez o público brasileiro terá contato direto com a obra de Alberto Giacometti, o artista plástico suíço mais importante do século XX.

Alberto e Annette Giacometti em Varangeville,
visitando Georges Braque, 18 de agosto de 1950
Cinco anos. Foi o tempo que durou a negociação e o planejamento para a realização da retrospectiva Alberto Giacometti: Coleção da Fondation Alberto ET Annette Giacometti, Paris, já considerada a mais importante exposição artística do Brasil em 2012. A abertura será no dia 24 deste mês, na Pinacoteca do Estado de São Paulo, e depois segue para o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM), e para a Fundación Proa, em Buenos Aires.
O nariz, 1947 (Versão 1949) Bronze, 80,9 x 70,5 x 50,6 cm
A mostra contará com cerca de 280 obras, entre pintura, escultura, desenho, gravura e artes decorativas, realizadas entre os anos 1910 e 1960, provenientes da referida fundação, e a obra Quatre Femmes sur Socle, do MAM (RJ), a única que pertence a uma coleção pública no país. A curadoria é de Véronique Wiesinger, diretora da Fondation Alberto et Annette Giacometti, de Paris.
O escultor, pintor e desenhista Alberto Giacometti (Borgonovo di Stampa, 10 de outubro de 1901 - Coira, 11 de janeiro de 1966) é um dos artistas mais importantes do século XX, sendo sua obra considerada como um dos fundamentos do Modernismo. Esta mostra configura-se numa oportunidade única para conhecer sua trajetória artística. A seleção dos trabalhos expostos foi feita pela própria curadora, que procurou apresentar todas as linguagens do percurso artístico de Giacometti ao longo de meio século, com destaque para a influência da escultura africana e da Oceania, que marcam o início da sua obra madura.
O casal, 1927 - Bronze, 58,30 x 37,40 x 17,50
Disposta em ordem cronológica e temática, a mostra ocupa todo o primeiro andar da Pinacoteca onde são apresentados desde os retratos do artista executados por seu pai e por seu padrinho, ambos pintores, até as esculturas monumentais concebidas para Nova York. A seleção de obras também ressalta os laços de Giacometti com escritores e intelectuais parisienses como André Breton e o surrealismo, ou Jean-Paul Sartre e o existencialismo.
Todas as salas expositivas se articulam em torno de obras emblemáticas. Entre os destaques Mulher-colher e Casal (ambas de 1927), que evidenciam o impacto da escultura "primitiva" na sua obra, mais à frente Bola suspensa (1930-31), considerada por Breton como o exemplo, por excelência, do que deveria ser uma escultura surrealista. Em seguida, a mostra aborda o tema da cabeça humana, questão central na obra de Giacometti, que realizou centenas de estudos sobre a cabeça e sobre os olhos do ser humano. A sala seguinte tem como centro as esculturas A gaiola (1949-50) e A floresta (1950), e a curadoria chama atenção para o espaço da representação: as figuras são inscritas em "gaiolas" que configuram um espaço virtual. A sala seguinte é dedicada aos bustos, pintados ou esculpidos, que exemplificam a impossibilidade de retratar, na íntegra, as emoções e as expressões do modelo. Destaque para os retratos de sua esposa Annette e de Rita, a cozinheira de sua mãe. Neste mesmo espaço será apresentado o filme "O que é uma cabeça? Ou a passagem do tempo" (2001) que narra a trajetória de Giacometti.
L'homme qui marche, 1960. Bronze, 180,50 x 27,00 x 97,00 cm
Nos corredores do museu serão exibidas esculturas de grandes dimensões como Mulher de Veneza (1956). E finalmente, no Octógono, espaço central da Pinacoteca, o visitante poderá ver a monumental escultura Homem caminhando, que integra o importante conjunto concebido para o projeto do Chase Manhattan Plaza, em Nova York, em 1960. As esculturas da célebre série em bronze "L'Homme qui Marche" são as mais conhecidas de Giacometti pelo grande público. Faz parte desta série a escultura L'Homme qui marche I (que não fará parte da exposição), a mais cara do mundo, que foi arrematada em fevereiro de 2010 pela colecionadora brasileira Lily Safra - viúva do banqueiro libanês Edmond Safra - por US$ 103,4 milhões durante um leilão em Londres.
A mostra Alberto Giacometti: Coleção da Fondation Alberto et Annette Giacometti, Paris também terá um ciclo de palestras (22/03, 26/4, 10/5 e 14/6), abrindo com Véronique Wiesinger, diretora da Fundação Giacometti, que falará sobre a mostra e a trajetória artística de Alberto Giacometti. Além disso, na loja da Pinacoteca o público encontrará diversos produtos como canecas, camisetas, papelaria e bolsas, desenvolvidos especialmente para a exposição.
Personnage accroupi, Bronze circa
1926 28,20 x 18,50 x 9,40 cm
Como novidade, esta retrospectiva de Giacometti não terá o tradicional catálogo da mostra, será substituído por um "livro de referência" sobre a obra do artista, escrito pela historiadora de arte italiana Cecilia Braschi e intitulado apenas "Alberto Giacometti". São mais de 300 páginas, com ilustrações da maioria das cinco mil peças que compõem o acervo da Fundação Alberto e Annette Giacometti.
Orçada em R$ 4 milhões, inteiramente captados junto a empresas brasileiras através da Lei Rouanet, a mostra é fruto de um trabalho de cinco anos de contatos internacionais e realizada em parceria com a Fondation Alberto et Annette Giacometti de Paris e com a Pinacoteca do Estado de São Paulo, estando a organização e produção a cargo da Base7 Projetos Culturais e coordenação de produção na Europa de Elise Jasmin. As peças já começaram a chegar a São Paulo em três aviões vindos da França, em aeroportos e datas não reveladas por questões de segurança.

Serviço
Alberto Giacometti: Coleção da Fondation Alberto et Annette Giacometti, Paris
Pinacoteca do Estado de São Paulo - Praça da luz, 02
Tel. (11) 3324-1000. 24 de março até 17 de junho de 2012.
Aberta de terça a domingo, das 10h às 18h - R$ 6,00 e R$ 3,00 (meia). Grátis aos sábados

Alberto Giacometti


Le Palais à 4 heures Du matin, 1932 óleo sobre cartão, 49,30 x 55,10 cm
Artista plástico suíço nascido em 10 de outubro de 1901, em Borgonovo, bem perto da fronteira com a Itália, Alberto Giacometti é o mais famoso nome dentre os escultores surrealistas, criador de uma obra plástica que percorreu a escultura, a pintura e a cenografia, sempre próximo dos cubistas e dos pós-cubistas. Filho de Giovanni Giacometti, um pintor pós-impressionista que o estimulou em sua inclinação para as artes e o matriculou na Escola de Artes e Ofícios de Genebra, onde iniciou a sua formação. Mudou-se em 1923 para Paris, onde estuda com Antoine Bourdelle. Nessa época conheceu alguns dos principais pintores dadaístas, cubistas e surrealistas que influenciaram o seu início de carreira. Adere ao movimento surrealista entre 1930 e 1934, período em que produziu algumas obras fundamentais para a caracterização da escultura surrealista, como L'Heure des Traces (1930), O Palácio às Quatro da Manhã (1932) e Mãos Sustentando o Vazio (1934). Esta última escultura valeu-lhe a admiração de André Breton, o autor do Manifesto Surrealista.
Paysage aux maison, Stampa (1959) óleo sobre tela, 61 x 49,5 cm
Rompeu com o surrealismo (1935) e começou a se concentrar em obras baseadas em modelos humanos. Durante a Segunda Guerra Mundial, refugiou-se e conheceu sua futura esposa, casando-se em 1949. Depois da guerra (1947), vem a fase mais produtiva de sua carreira. Adotou um estilo que o tornou famoso, de figuras magras, alongadas e afiladas, e esculpindo a maioria das obras dessa fase em miniaturas. Também escreveu versos, e passou a dedicar-se também à pintura.
Nos trabalhos realizados depois da Segunda Guerra Mundial, onde a figura humana protagoniza as suas pesquisas plásticas, Giacometti recupera a capacidade expressiva da imagem e do objeto, acompanhando a tendência neo-figurativa que, nestes anos, marca o percurso criativo de vários artistas plásticos. Esta representação do corpo humano marca o período mais original de Giacometti.

Nu debout sur socie cubique (1953)
gesso pintado. 43,5 x 11,7 x 11,18 cm
A recorrência dos temas e das soluções plásticas adotadas resulta de um posicionamento teórico identificado com a filosofia existencialista, como o testemunha a amizade entre Giacometti e Jean-Paul Sartre. O existencialismo na obra de Giacometti traduz-se numa essencialidade e numa repetição dos meios expressivos e dos gestos formais, que imprimem à figura humana uma significação fundamental: uma linha vertical confrontando com a horizontalidade do mundo. A deformação dramática das proporções, o alongamento das formas e a manipulação da superfície e da textura acentuam a materialidade dos objetos e a capacidade expressiva e poética da obra de arte. As personagens, isoladas ou em grupos, exprimem um sentido de individualismo e de descontextualização, acentuado pela própria escala das esculturas. Destacam-se, entre as inúmeras obras executadas durante o final da década de 40 e da década seguinte, as esculturas L'Homme qui marche I (1949) e La Femme au Chariot (1950). A obsessão pela representação da figura humana revela-se também na sua produção pictórica e nos seus desenhos, onde a linha assume uma grande expressividade e liberdade na caracterização das formas e dos volumes.
Embora seja possível enquadrar as primeiras produções artísticas em correntes como o impressionismo, o cubismo e o surrealismo, torna-se difícil a classificação ou a inserção da obra tardia de Giacometti num movimento artístico definido, de onde ressalta o caráter marcadamente pessoal do seu percurso criativo. Entre um trabalho e outro, recebeu o grande prêmio para escultores na bienal de Veneza (1962) e morreu em Coira, de uma doença cardíaca, em 11 de janeiro de 1966.

Composição surrealista (1933)- gravura 19,00 x 14,40 cm
Fonte: Fondation Alberto ET Annette Giacometti / ufcg.edu.br/biografias

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