O design do mobiliário nacional foi influenciado pela arquitetura do movimento modernista no Brasil. Para harmonizar os móveis com os edifícios projetados pelos arquitetos, designers e artistas foram levados a criar e redesenhar mesas, cadeiras, sofás e outras peças do nosso mobiliário. Um panorama geral na história do design de móveis do Brasil é o que pretende mostrar o recém-editado livro
Móvel brasileiro moderno.
|
Gregori Warchavchik -
Revisteiro Leque 1930. Madeira certificada 46 x 45 x 73 cm
|
Organizado por Marcelo Vasconcellos e Maria Lúcia Braga, com direção editorial de Paulo Herkenhoff, e pesquisa de Alberto Vicente, Gleyce Kelly Heitor e Juliana Gagliardi, a qual também assina o texto, o livro é uma realização da Fundação Getúlio Vargas (FGV Projetos). Com 300 páginas, a publicação conta a história do móvel moderno no Brasil a partir da década de 1920, até quase a contemporaneidade.
|
Lucio Costa -
Poltroninha 1960, madeira de jacarandá, estofamento em couro 72 x 57
x 65 cm
|
Para viabilizar a produção do livro, Marcelo e Alberto, sócios da loja Mercado Moderno - Memo, especializada em móveis de design, contam como saíram em busca de peças originais junto aos designers, seus familiares e amigos, colecionadores e marchands: "O avanço nas pesquisas, as entrevistas com os designers e o acesso a informações inéditas geraram a necessidade de associar a identidade dos designers aos seus trabalhos e a imagens documentais que corroborassem os dados que estávamos levantando. Além disso, percebemos que seria importante mostrar móveis cujos originais estavam indisponíveis ou inacessíveis para nós, mas que não poderiam ser esquecidos. Saímos, então, em busca de reedições autorizadas."
|
Joaquim Tenreiro -
Cadeira Três Pés 1947. Cinco espécies de madeira: jacarandá,
roxinho, pau-marfim,
imbuia e mogno. 54 x 65 x 66 cm
|
No prefácio do livro, Maria Helena Estrada afirma que "
Móvel brasileiro moderno mapeia e analisa os pontos mais importantes de nosso percurso do design e se torna indispensável no momento em que vemos surgir o novo projeto brasileiro, de multifacetas, vocabulários diversos, e sempre enraizado no presente." E informa: "Eram europeus, ou de formação européia, os primeiros designers brasileiros. Criaram uma nova estética, modernista, e essas primeiras expressões, surgidas no início do século XX, são agora decodificadas em todo o seu valor e ressurgem como importante patrimônio cultural."
|
Flávio de Carvalho -
Cadeira Flávio de Carvalho,1950
|
E, de fato, o primeiro designer relacionado no livro, é o ucraniano Gregori Warchavchik (1896-1972), seguido por Lucio Costa, que embora seja filho de pais brasileiros, nasceu em Toulon, na França. Gregori completou seus estudos no Instituto Superior de Belas Artes, em Roma. Tomou contato com a estética emergente, sendo influenciado por Le Corbusier (1887-1965). Emigrou para o Brasil em 1923 e sua residência em São Paulo foi uma das primeiras casas modernas em estilo racionalista internacional construídas no país. Com Lucio Costa, projetou no Rio de Janeiro a primeira habitação coletiva moderna do Brasil. Os móveis criados por Warchavchik tinham influência do estilo
art déco.
|
Lina Bo Bardi -
Poltrona Tripé 1948, Ferro e manta de couro sola. 63 x 78 x 80 cm
|
Lucio Costa (1902-1998) formou-se em arquitetura em 1922, recebendo influências de Le Corbusier e Frank Lloyd Wright, que estiveram no Rio em 1929 e 1931, respectivamente. Criou, com a ajuda de colegas, o mobiliário do Ministério da Educação e Cultura no Rio de Janeiro, o Palácio Capanema. No Parque Guinle, integrou arquitetura e meio ambiente e em 1957, venceu o concurso para o Plano Piloto de Brasília. No mobiliário sua produção ficou restrita a móveis autorais.
|
Oscar Niemeyer -
Espreguiçadeira Rio 1977-78, Design Anna Maria Niemeyer.
60 x 170 x 87 cm
|
O arquiteto
Oscar Niemeyer (1907-) trabalhou no escritório de Lucio Costa, onde tomou contato com a obra de Le Corbusier e com os conceitos da arquitetura moderna. Nomeado arquiteto-chefe da nova capital federal, desenhou os edifícios públicos de Brasília. Sua primeira experiência com móveis industrializados ocorreu em 1971, quando lançou na França a linha On, desenhados em parceria com a filha Anna Maria Niemeyer, com a finalidade de criar peças que dialogassem com sua linguagem arquitetônica.
Em seguida vem Flavio de Carvalho (1899-1973), carioca que cursou o Liceu Janson de Sailly na França e a Escola de Belas Artes Rei Edward VII, na Inglaterra.
|
Giuseppe Scapinelli -
Poltrona 1950, Madeira de caviúna, estofamento em chenile 70 x 86 x
88 cm
|
Sua arquitetura era arrojada e apresentava tendências futuristas e expressionistas. Criou a poltrona FDC1 nos anos 1950.
Joaquim Tenreiro (1906-1992) nasceu em Meio, Portugal, e começou a fazer móveis muito cedo, com o pai e o avô, que eram marceneiros. Mudou-se para o Brasil em 1928, empregando-se na fábrica de móveis e ateliê de decoração das firmas Laubisch & Hirth e Leandro Martins. Produziu seus primeiros móveis em 1942, por encomenda de Oscar Niemeyer, para a casa da família Peixoto, em Cataguases - Minas Gerais. A oficina Langenbach & Tenreiro, fundada em 1943, deu origem à Tenreiro Móveis e Decorações, onde produziu seus melhores móveis.
|
Michel Arnoult -
Poltrona Peglev 1968. Madeira maciça e couro, 62 x 72 x 74 cm
|
A italiana
Lina bo Bardi (1914-1992) veio para o Brasil em 1946 e logo depois fundou, com Giancarlo Palanti (1906-1977), a fábrica de móveis Pau-Brasil. Desenvolveu projetos arquitetônicos para museus e centros culturais, entre eles Masp, o MAM-BA e o SESC Pompéia. Criou a poltrona Bardi's Bowl em 1951.
|
Abraham Palatnik -
Buffet 1950. Ferro, madeira e vidro. 54 x 214 x 84 cm
|
Outro europeu,
Giuseppe Scapinelli (1911-1980) também nasceu na Itália, em Modena, onde foi professor de arquitetura. No Brasil, fundou a Fábrica de Móveis Giesse e, também, a loja Margutta, onde possuía ateliê. A Revista Casa e Jardim, onde Scapinelli assinava uma coluna, assim definiu o seu móvel: "Scapinelli é um clássico que se lembra de ser moderno ou - se preferem - um moderno que não esquece de ser clássico".
|
Geraldo de Barros -
Estante MF 710 1954. 156 x 42 x 200 cm
|
Zanine Caldas (1919-2001) nasceu em Belmonte, na Bahia, mas veio para o Rio de Janeiro, onde teve um ateliê de maquetes que atendia, entre outros arquitetos, a Lucio Costa e Oscar Niemeyer.
Produziu, desde 1948, móveis desmontáveis ao gosto modernista. Recebeu o título de arquiteto honoris causa do Instituto de Arquitetos do Brasil. No mobiliário desenvolveu um estilo todo próprio.
|
Zanine Caldas -
Espreguiçadeira 1949. Compensado 20mm e couro, 58 x 108 x 80cm
|
O livro
Móvel brasileiro moderno interrompe a seqüência de mestres moveleiros e abre espaço para a loja de móveis
Branco & Preto, que funcionou em São Paulo entre os anos 1952 e 1965. Criada por ex-alunos da Universidade Mackenzie, a loja marcou o ambiente paulistano. Seus móveis combinavam madeiras de lei com ferro, vidro, mármore e tecido.
|
Sergio Rodrigues -
Poltrona Moleca 1963. 84 x 76 x 74,5 cm
|
O paulista
Geraldo de Barros (1923-1998) foi fotógrafo, pintor e designer gráfico. Fundou o Grupo Ruptura, marco do rompimento da arte concreta, em 1952 e dois anos depois, foi co-fundador da Unilabor, cooperativa produtora de móveis. Na sua empresa Hobjeto fabricou mobiliário residencial e de escritório.
|
Jorge Zalszupin -
Carrinho de chá JZ 1950
|
Natural do Rio Grande do Norte,
Abraham Palatnik (1928-) emigrou com a família para Tel-Aviv, onde estudou mecânica, desenho e pintura. Retornando ao Brasil em 1948, juntou-se a Ivan Serpa e Almir Mavignier (1925-), dedicando-se à arte abstrata. Ao lado de Lygia Clark (1920-1988), Franz Weissmann (1911-2005), Lygia Pape (1927-2004) e outros, expôs com o grupo Frente. Abriu a loja Arteviva em 1954, no Rio de Janeiro, onde produziu peças em madeira ou ferro acopladas com chapas de vidro.
|
Zanine Caldas -
Namoradeira, 1949. 130 x 58 x h75cm
|
Sérgio Rodrigues (1927) nasceu no Rio de Janeiro, graduando-se em Arquitetura e Urbanismo. Em 1953 inaugurou a Móveis Artesanal Paranaense, em sociedade com os irmãos Carlo e Ernesto Hauner. Em 1955 fundou a Oca, loja que comercializava mobiliário genuinamente brasileiro, difundindo a ideia do móvel como objeto de arte. Sua Poltrona Mole de 1957 ganhou o Primeiro Prêmio num concurso internacional de móveis na Itália. Criou o mobiliário para a sede da Editora Bloch no Rio de Janeiro.
|
Bernardo Figueiredo -
Cadeira Arcos 1965 - Madeira maciça de jacarandá, estofamento em
veludo. Criada o salão de banquetes do Palácio dos Arcos,
Itamaraty, Brasília. 46 x 58 x h97 cm
|
Jorge Zaliszupin (1922) é polonês, vindo para o Brasil em 1950. Fundou em 1955 a firma L'Atelier, onde inicialmente fabricou móveis artesanais de escritório. Utilizava madeira, estofado e metal, introduzindo depois o plástico como matéria-prima nos seus móveis.
|
Joaquim Tenreiro -
Cadeira com Braços 1960. Madeira de mogno e malha trançada
50 x 45 x h79,5 cm
|
Outros
designers de móveis são destacados pelo livro
Móvel brasileiro moderno: Michel Arnoult (1922-2005), Carlo Hauner (1927-1997), Martin Eisler (1913-1977), Jean Gillon (1919-2007), Ricardo Fasanello (1930-1993), Bernardo Figueiredo (1934) e Paulo Mendes da Rocha (1928-).
Ficha Técnica
Móvel Brasileiro Moderno
Realização: FGV Projetos.
Organização: Marcelo Vasconcellos e Maria Lúcia Braga.
Direção Editorial: Paulo Herkenhoff.
Texto: Juliana Gagliardi.
Pesquisa: Alberto Vicente, Gleyce Kelly Heitor.
Fotografia: André Nazareth.
Nenhum comentário:
Postar um comentário