Por Cláudio B.
Curiosa estória verdadeira, não esquecida pelos registros históricos
Ele nasceu do útero de uma virgem e seu nascimento foi anunciado por um anjo. Reuniu ao seu redor um grupo de leais seguidores a quem transmitiu uma avançada mensagem de igualdade e fraternidade. Foi um agitador das massas e suas palavras tanto desagradaram aos romanos que acabaram por conspirar para matá-lo. Em vida fazia inúmeros milagres: curava inválidos, anulava pragas, expulsava o demônio das pessoas e certa vez até ressuscitou uma menina.
Mas o maior dos seus feitos foi sua própria ressurreição: uma vez completada sua missão, tomou seu lugar ao lado de seu Pai, do Espírito Santo e de sua própria mãe, também alçada aos céus.
Sim, esqueci de dizer que não estou falando de Jesus Cristo. Falo de Apolônio de Tiana.
Filósofo neo-aristotélico nascido na Capadócia no século I, um dos muitos profetas de seu tempo que, apesar das semelhanças no curricullum, não teve a sorte de se tornar tão famoso quanto seu colega de messianato. Apolônio era basicamente um Cristo com maiores e melhores poderes: além de fazer enxergar os cegos e andar os mancos, transmutar água em vinho e outros milagres usuais, podia estar em dois lugares ao mesmo tempo, era capaz de ler pensamentos e falava línguas que nunca tinha aprendido. Certa vez, aprisionado pelo imperador romano, que o acusou de traição, escapou, milagrosamente é claro. Mas nem só de poderes mágicos se constrói um Messias. Um autêntico, precisa de um plano de salvação espiritual, de uma mensagem revolucionária de paz e amor. Ele tinha isso também. Como Jesus, Apolônio permaneceu celibatário e deu tudo o que tinha aos pobres, que não era pouco, pois seus pais lhe deixaram uma polpuda herança ao morrer. Igualmente Cristo, se opunha às danças, aos prazeres carnais e aos violentos espetáculos dos gladiadores (Jesus não fez uma menção específica a isso, descrita nos testamentos, embora suponha que ele teria algo a dizer sobre o assunto se alguém tivesse perguntado).
Contrariamente a Jesus, no entanto, Apolônio era vegetariano e condenava os sacrifícios animais, tão freqüentes em seu tempo. Orava, porém desprezava a idéia de que Deus pudesse ser demovido de Seu supremo propósito para atender as súplicas mundanas. Seres com quem se podiam fazer pactos, pregava Apolônio, não eram deuses, eram menos do que homens. Fato que me fez entender porque a audiência de Apolônio tornou-se tão menor que a do Jesus: quem ia querer saber de um deus que não atende pedidos em plena Copa do Mundo?!
Tinha um jeito com as palavras; quando, dias antes de ser morto, avisou aos seus apóstolos onde estaria depois de ressuscitar, um deles lhe perguntou: “você estará vivo ou o quê?” ao que Apolônio respondeu: “Do meu ponto de vista estarei vivo, do de vocês estarei revivido”. Como convém aos verdadeiros profetas.. se ele soubesse a confusão que isso poderia causar alguns milhares de anos depois entre seus seguidores, teria sido mais objetivo. Mas, nem por isso devo recriminá-lo, afinal um de seus grandes méritos era o de ser muito popular em seu tempo; foi saudado por centenas ao adentrar os portões da cidade grega de Alexandria, assim como Jesus o foi ao chegar a Jerusalém. Sua partida para o reino dos céus parece ter sido mais teatral, entretanto: após entrar em um templo grego, Apolônio simplesmente desapareceu, enquanto um coro de virgens entoava cânticos em sua homenagem!
O que a Igreja Cristã (Católica, Ortodoxa e Protestante) diz sobre Apolônio? O argumento mais freqüente é que a história de Apolônio não foi escrita por testemunhas oculares. Bem, até aí nada, já que a de Cristo também não foi. Aliás, se há algo sobre o qual concordam todos os historiadores modernos é que nenhum dos evangelhos do novo testamento foi escrito por alguém que tenha pessoalmente conhecido Jesus (sobre isso recomendo duas fontes sérias: “Jesus e Javeh” de Harold Bloom, um renomado intelectual judeu e “A História do Cristianismo” de Paul Johnson um dos maiores historiadores vivos). Pelo contrário: é aceito que os evangelhos foram escritos baseados em tradições orais quase meio século depois da morte de Jesus.
Já de Apolônio quase tudo o que se sabe foi escrito pelo filósofo ateniense Flavius Philostratus entre os anos de 205 a 245 D.C baseada nos escritos de um dos discípulos contemporâneos de Apolônio: Damis de Nineveh. Philostratus foi instruído a escrever a biografia de Apolônio por Domna Julia, esposa do imperador Septimius Severus, uma amante da filosofia que tinha em seu templo particular estátuas de alguns grandes homens sábios, como Orpheus e o próprio Apolônio. Da biografia escrita por Philostratus nasceu o culto Apolônico, que durou muitos séculos, mas como se sabe, nunca foi tão bem sucedido quanto o cristianismo, que sufocou igualmente outros importantes da Antiguidade, como o Culto de Mitra, o qual sincretizaram a imagem de Mitra e o menino salvador a Mãe Maria e o menino Jesus. Mas, isso já é outra estória, da história.
Cláudio B. é Cientista, Pesquisador, Historiador, Editor e Autor da prestigiada série de livros sci fi Project Messiah (no Brasil, Projeto Messias), representando a nova corrente literária nacional.
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