Museu do Urinol


Tudo o que sai das mãos do homem pode ser pura  
Fachada principal do Museu do Urinol na cidade de Rodrigo, 
Salamanca – Espanha
arte,  incluindo estas engenhocas chamadas "urinol".  

A história e a estética, utilizando o coletor de um dos objetos mais íntimos da vida cotidiana, são apresentadas neste museu único na cidade de  Rodrigo, Salamanca, na Espanha, e já considerado o maior do mundo, de propriedade de José María del Arco "Pesetos" e família.
Trata-se de peças recolhidas ao longo de muitos anos, com a ajuda de sua família e de inúmeros amigos, que visitaram lojas, mercados de pulga, sótãos, casas de campo, armazéns, hospitais e outros lugares, procurando peças para engradecer esse museu, que tem uma coleção constituída por cerca de 1.320 peças, todas singulares e de diferentes  tamanhos, formas, materiais e épocas, provenientes de 27 países, sendo a mais antiga um urinol islâmico do século XIII de barro, com oito pinceladas de óxido de cobalto em estado puríssimo, e assim por diante, até o século XX.
Alguns são feitos de lata, madeira, bronze, porcelana, cerâmica, cobre, alumínio, pedra, argila, vidro, ferro, esmalte, ouro, prata; o menor é como um grão de bico, feito por um joalheiro sueco em platina, e o maior tem 45 centímetros de altura, é de barro e vem da Cidade de Rodrigo (Salamanca).
Esse museu é um das mais inusitados e sua inédita coleção não havia sido catalogada ainda. Essa bela e por vezes estranha seleção de utensílios conhecidos como urinol ou "penico" encerra dentro de si objetos  do cotidiano mais íntimo de seus proprietários e jamais falados ou mostrados. Essa exposição nos envoca, através de suas origens e de sua própria história, as utilizações conhecidas, e recupera peças esquecidas por personagens das mais variadas situações sociais. É por isso que a oportunidade única de examinar esses aparelhos curiosos nos faz conhecer uma faceta da arte baseada em nossa condição mais humana. Através desse museu, nos ilustramos sobre tantos majestosos exemplares, recordando a história de nossas mais íntimas e intrínsecas tradições.
Fazendo um breve histórico, diremos que o penico foi mudando de forma com o tempo, pois na antiguidade foi oblongo, mais tarde escafoide (lembrando a quilha de embarcação), e nos  séculos XIII e XV, como os hispano-árabes, em argila. Os cilíndricos, de estanho. Os redondos, os mais comuns, existem desde o século XVII, em todos os materiais. É uma peça que tem sido utilizada por milênios, já que há relatos de sua necessidade  desde as primeiras dinastias dos egípcios. A partir do século XIX seu uso  começou a desaparecer completamente, devido ao progresso, sendo utilizados nos hospitais para os enfermos, em aço inox, ou feito desse material que está em todo lugar, chamado plástico.
Os gregos o chamavam de "amigo" e os romanos de "matula", ou "metella", e ele fazia parte do mobiliário, sendo geralmente de bronze. O imperador Petrônio (III a.C.) e o historiador grego Juvenal (II a.C.) dão notícias do urinol, e San Clemente, no século I d.C, relatou sobre peças refinadas , feitas de prata. O imperador Heliogábalo superou a todos no luxo, pois sentava-se entre as flores frescas de seus jardins em um penico de ouro. Em Roma, passou a ser usado a partir do século III, com o imperador romano  Diocleciano. Posteriormente, nos castelos e mosteiros, foram dispostos nos cantos das escadas, por um canal que desembocava  no fosso. Charles V da França alertou em 1374, em Paris, que as casas tinham de ter latrinas suficientes. No século XVII fabricavam-se penicos de faiança em grande escala e, no século XVIII, de todos os materiais.
A "galanga" é um penico do tipo garrafa que aparece em 1800 e, logo depois, o urinol chato para enfermos, com pescoço e funil curvo. A "comadre" é utilizada sendo colocada entre a cama e a parte de trás do paciente, e em geral com duas alças para crianças. Há também os "dompedros", que são móveis (cadeiras, poltronas) de madeira nobre, como mogno, jacarandá, carvalho, castanheiro, cerejeira etc., e os "aparadores" , alguns deles de marfim, porcelana ou folha de ouro, como os penicos escondidos que enchem as salas das casas senhoriais, palácios e castelos. Um modelo menor, de couro ou madeira, era levado durante as viagens.
Há muitas coisas que se poderiam comentar sobre essa parte da história, e de que os escritores de todos os tempos quase nunca falam, mas eles existiram e estão aí expostos. O primeiro penico inodoro e com água corrente foi inventado por Sir John Harrington, em 1596, para sua prima, a rainha Elizabeth I da Inglaterra, mas não conseguiu prosperar. Louis XIV, o Rei Sol, que governou a França entre 1643 e 1715, tinha em seu palácio os "limpadores oficiais", trabalho muito bem remunerado. Por volta de 1700 o local  ideal para os penicos era na sala de jantar, escondidos em armários, cadeiras e poltronas. Em 1775 Alexander Cummings inventou a válvula para o banheiro, e o primeiro banheiro com água corrente em 1850 parece quase perfeito. O papel higiênico apareceu em 1857, vendido atrás de balcões e em caixas planas. O rolo apareceria em papel macio em 1932, mas não foi muito bem aceito na época, e em 1957 surgiu o papel colorido.
Todos os nossos idosos usaram penico até muito recentemente. Essas peças estavam em quase todas as casas do mundo e, como sempre, tudo dependia do poder de compra de cada um. Primorosos e  requintados artesãos de todo o mundo usavam de todo conhecimento e perícia para realizar essas joias, sendo muitas delas verdadeiras obras de arte, que hoje podem ser vistas neste museu e são notícia para vários jornais regionais e nacionais, assim como comentado por todas as estações rádio e TV, que têm lhe dedicado boa e extensa reportagem.

O grande escritor e Prêmio Nobel de Literatura, D. Camilo José Cela, em sua época, dedicou-lhe uma página inteira, publicada no jornal diário ABC , falando sobre este museu único, como também o fez a revista O Antiquário  na sua edição de nº 260, dedicando-lhe cinco páginas centrais com boas fotos em cores. Este museu a cada dia torna-se mais conhecido e visitado por milhares de pessoas, de todas as classes sociais, sendo surpreendido com a quantidade e a qualidade das exposições e do estado de conservação dessas peças.




Dompedros - cadeiras/poltronas com aparadores 
de marfim ou porcelana, com os penicos escondidos
 


                                                        











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