São Paulo: Arte & Estilo

Plegaria Muda na Pinacoteca

Até o dia 3 de março a Pinacoteca do Estado de São Paulo apresenta, na Estação Pinacoteca, a exposição Plegaria Muda (2008-10) da artista colombiana de Doris Salcedo (Bogotá, 1958). Exibida pela primeira vez no Brasil, Plegaria Muda, é um ambicioso projeto da artista, formado por 120 mesas de madeira (que correspondem a diferentes tamanhos de caixões funerários) e que se relaciona fortemente com episódios de violência política, debruçando-se sobre algumas tragédias públicas e chamando a atenção para os traumas pessoais das vítimas. Na última década, Doris Salcedo desenvolveu instalações de grande escala e intervenções arquitetônicas para museus, galerias e espaço urbano.
Para Doris Salcedo, a violência é um fenômeno universal; um padrão humano, ameaçando o tecido social. "Em Plegaria Muda procuro articular diferentes experiências e imagens que fazem parte da natureza violenta do conflito colombiano. Também pretendo conjugar uma série de eventos violentos que determinam a imparável espiral de violência mimética e fratricida que caracteriza os conflitos internos e as guerras civis em todo o mundo. Plegaria Muda procura confrontar-nos com o pesar contido e não elaborado, com a morte violenta quando reduzida à sua total insignificância e que faz parte de uma realidade silenciada como estratégia de guerra. Considero que a Colômbia é o país da morte insepulta, da vala comum e dos mortos anônimos. É, por isso, importante distinguir cada túmulo de forma individual, para assim articular uma estratégia estética que permita reconhecer o valor de cada vida perdida e a singularidade irredutível de cada túmulo. Cada peça, apesar de não estar marcada com um nome, encontra-se selada e tem um caráter individual, indicando um ritual funerário que aconteceu. A repetição implacável e obsessiva do túmulo enfatiza a dolorosa repetição destas mortes desnecessárias, além de enfatizar o seu caráter traumático, considerado irrelevante pela maioria da população. Ao individualizar a experiência traumática através da repetição, espero que esta obra consiga, de alguma forma, evocar e restituir a cada morte a sua verdadeira dimensão, permitindo assim o retorno à esfera do humano destas vidas dessacralizadas. Espero que, apesar de tudo, e mesmo em condições difíceis, a vida prevaleça…"

Exposições "Retratos sem paredes" e "Iconografia paulistana"
As Exposições "Retratos sem paredes" e "Iconografia paulistana"ficam em cartas no Museu Afro Brasil, em São Paulo,  até 2 de junho de 2013.
Este é o resultado de achados e procuras, na tentativa de fazer uma coleção de retratos e representações de personagens esquecidos pelo tempo e por seus detentores, simbolizando esse sentimento de esquecimento e constituindo uma quase iconografia de brasileiros afrodescendentes.
Quando dos 500 anos do Brasil, a exposição "Negro de Corpo e Alma" teve a intenção de descobrir artistas,alguns até muito conhecidos da arte brasileira (a exemplo de Di Cavalcanti, Portinari, Tarsila do Amaral, Lasar Segall) e outros também reconhecidos (Aldo Bonadei, Carlos Prado, Joaquim Tenreiro, Manoel Santiago, Oscar Pereira da Silva, Ismailovitch, Bernardelli, Eugênio Latour, Pedro Campofiorito e seu filho Quirino Campofiorito, Rossi Osir, Celso Antônio, Percy Lau, Angelina Agostini), artistas modernos e acadêmicos, que lançaram seus olhares oblíquos sobre a figura do povo afrodescendente. São fragmentos da vida, são retratos, são testemunhos de promessas de homens, mulheres, crianças e velhos. Eles estão representados dentro de suas circunstâncias material e social. São resquícios de um tempo perverso, que resvalam em históriasde sofrimento e até de alegria, tangendo a dor que os alimentou.
Vale ver aqui o retrato do grande engenheiro, pensador e geógrafo Teodoro Sampaio, nesse carvão de outro baiano,o pintor Presciliano Silva - e dele também é a caricatura do famoso professor baiano Philomeno Cruz.
"Esses retratos são, simbolicamente, a reprodução da grandeza das nossas almas. Esta exposição também é uma doação minha para o Museu Afro Brasil, por achar que aqui ela eterniza esse significado". (Emanoel Araujo)

4 Artistas Espontâneos: Aurelino, Nino, Paulo de Jesus e Manuel Graciano
Também no Museu Afro Brasil, a exposição 4 Artistas Expontâneos:
Aurelino (1942 - Salvador - BA)
"No universo de nosso pintor, a palavra comparece, sem lei, e o pincel sem amarras desliza sobre as telas, construindo formas simbólicas, nas quais se misturam homens, máquinas e natureza: ônibus-homens, avião- coqueiro, navio-peixe, formas nunca vistas antes. E ele explica: 'ônibus é capa de gente, avião tem coqueiro embaixo, navio é peixe', construindo assim sua teoria. Letras e números também povoam seus quadros e com sabedoria, afirma: 'A letra é que faz o mundo'". (Urania Tourinho Peres, Psicanalista).
Nino (1920 - 2002 - Juazeiro do Norte - CE)
"Calado quase mudo. Seu corpo franzino movimenta-se lentamente em gestos precisos. Tudo nele é contenção. Os olhos distantes, como sempre à espreita, contemplam algo visível só para si, lá no infinito".
"Vendo o toco eu dou fé logo do que assenta naquele pedaço de pau; corto até deixar no jeito. Primeiro desenho com a tinta as figuras, depois cavo com o escopo. Vou fazendo e reparando, às vezes tem uma falha, aí vou ajeitando. Do mesmo jeito é pra pintar; vejo a tinta que mais assenta a qualidade. Quero que o povo ache bonito' Nino por Nino. Acrescenta: 'Se a pessoa não está satisfeita eu trato de ir ajeitando, aí se tornar a dizer não, eu digo que não tem jeito não, tem que ir procurar outro. A peça pode ficar porque logo chega outra que se agrada. As coisas que eu tenho feito não empancam'".(Dodora Guimarães).
Paulo de Jesus: Carrinhos de Café (Salvador, BA)
Na cidade de São Salvador, tudo é original. O trabalho urbano dos escravos de ganho, com suas negras quituteiras e meninos-barbeiros, marcaram a identidade de uma cidade voltada para a rua. Ecos modernos desta tradição, estes pequenos carrinhos de café fundem imagens, significados, máquinas, cheiros e sons. Como pequenos carros alegóricos, são a expressão da criatividade lúdica do artista popular, interessado em ganhar o seu pão, sem perder a poesia. O artista Paulo César de Jesus, autor dos carrinhos aqui expostos, foi o precursor desta arte, tendo inclusive alugado suas obras para a filmagem do filme Ó paí, ó.
Manuel Graciano (1923 - Santana do Cariri - CE)
"Sua escultura em madeira vai ganhando em pouco tempo a liberdade da forma própria, autoral. Manuel Graciano compõe grupos com vários personagens que formam um verdadeiro conjunto escultórico, com a possibilidade da permutação das figuras. É parcimonioso nas cores, que integra com grande domínio à forma esculpida. No seu Presépio, tons de terra, verdes e rosa predominam com pequena, mas segura, inclusão do azul nos trajes dos anjos. Graciano tem um veio de humor que pode crescer até o mais flamejante expressionismo em muitos de seus trabalhos."(Lélia Coelho Frota).

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