Paço Imperial reabre com exposição



1911-2011 - Arte brasileira e depois, na coleção Itaú

Depois de oito meses fechado, período em que passou por uma grande reforma estrutural e modernização dos seis mil metros quadrados do prédio, o Paço Imperial reabre suas portas ao público com uma importante exposição: 1911-2011 - Arte brasileira e depois, na coleção Itaú, um recorte da produção artística realizada no país nos últimos 100 anos.
Localizado na Praça XV, no centro da cidade do Rio de Janeiro, o Paço Imperial testemunhou importantes episódios da história brasileira, destacando-se o "Dia do Fico", em 9 de janeiro de 1822, quando D. Pedro I comunicou, de um de suas janelas, sua permanência no país; e o anúncio da Abolição da Escravatura, em 13 de maio de 1888, pela princesa Isabel, numa de suas sacadas.
A mostra escolhida para a reabertura do seu espaço expositivo é composta por 186 obras de 137 artistas, selecionadas da importante coleção da família Setúbal (Banco Itaú), reunindo obras de arte datadas de 1911 (A pequena aldeã, de Lasar Segall é a mais antiga), até 2011 (Vermelho Grace Jones, de Rodolpho Parigi é a mais recente), de grandes artistas da arte brasileira, entre os quais nomes como Cândido Portinari, José Pancetti, Di Cavalcanti, Iberê Camargo, Vicente do Rego Monteiro, Clóvis Graciano, Alberto da Veiga Guignard e Rubens Gerchman.
Com curadoria de Teixeira Coelho, crítico de arte e curador-diretor do Museu de Arte de são Paulo (Masp), a mostra foi aberta no dia 17 de novembro passado, em coquetel para convidados. Daniela Thomas e Felipe Tassara assinam a expografia, e Carlito Carvalhosa a programação visual. A organização e realização são do Núcleo Artes Visuais e Acervo do Itaú Cultural. Todas as obras fazem parte da Coleção Itaú, que começou a tomar forma no início da história do grupo há mais de 60 anos. Atualmente esse acervo contém cerca de 3.600 peças representativas de todos os movimentos da história da arte nacional. Somado às mais de 6.800 peças da Coleção Numismática, com moedas, condecorações em medalhas, e aos mais de 2 mil itens da coleção Brasiliana, totaliza mais de 12 mil peças.
"Esta mostra faz parte do esforço permanente do Grupo Itaú para que o grande público tenha acesso aos diferentes recortes de sua coleção", observa Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural.
Logo na entrada da mostra, uma obra de arte: Iole de Freitas, 1991 - aço inox, ferro, cobre e latão. 400 x 300 130 cm
 Vicente do Rego Monteiro - Sem Título, déc. 1950, óleo sobre madeira

  Lasar Segall - A Pequena Aldeã, 1911-  óleo sobre cartão

José Pancetti - Autorretrato, 1938, óleo sobre madeira



Da marca humana a outras mídias
Diante da tamanha diversidade contida no acervo da Coleção Itaú, Teixeira Coelho optou por criar uma série de seis módulos que funcionam como fio condutor para o visitante. Eles tanto podem ser compreendidos isoladamente, como, se seguidos de ponta a ponta, traçam com definição o caminho percorrido pela arte brasileira desde as primeiras décadas do século passado até hoje.
Começa por A Marca Humana, que, como o curador observa, traz a primeira modernidade brasileira ainda amplamente representacional. Nela, a figura humana ainda é central, como nas obras Autorretrato, de José Pancetti, Seringueiros, de Cândido Portinari, a já citada A Pequena Aldeã, de Segall, ou o óleo sobre madeira Sem Título, de Vicente Rego Monteiro, entre as obras que compõem esse módulo. Vale destacar aqui a série de maquetes para a pintura mural Ciclo Econômico, também de Portinari, que não entrou na mostra exibida em Belo Horizonte.  Trata-se de estudos feitos para este mural sobre o ciclo econômico instado no Salão de Audiências do Palácio do Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro.
Em seguida o visitante entra no módulo Irrealismos. Embora a figura humana e a paisagem ainda apareçam nessa etapa da produção brasileira, o registro é de composições que remetem a si mesmas entre o sonho incontrolado e o imaginário construído. "O tom vai do poético mais lírico, como em Cícero Dias e Sandra Cinto, ao surrealismo incisivo de uma verdadeira 'peça de museu' como O Impossível, de Maria Martins, e à ordem diversamente metafísica João Câmara e Leonilson", observa o curador.

Guignard - Paisagem, 1952 - óleo sobre madeira

Rodolpho Parigi - Magenta Grace Jones, 2011 - lápis de cor sobre papel


 Daniel Senise - O Beijo do Elo Perdido, 1991- acrílica e óleo sobre cretone

Beatriz Milhazes - Menino Pescando, 1997 - acrílica sobre tela



Modos de Abstração é o próximo módulo, que também apresenta esculturas. De Alfredo Volpi a Abraham Palatnik, passando por Sérgio Fingermann, Hélio Oiticica, Lygia Pape, Amílcar de Castro, entre outros, mergulha nos anos 50 quando, em decorrência da I Bienal de São Paulo (1951), a arte brasileira passou a se concentrar em temas interiores, livres de uma referência imediata ao mundo exterior - transitando gradualmente do figurativismo para a abstração. Os concretos dominaram a cena, seguidos dos neoconcretos, abstracionistas informais ou expressionistas e começaram um diálogo em pé de igualdade com a arte internacional.
O mergulho seguinte é em A Contestação Pop, cujas obras trazem a arte pop que se inspira na releitura de imagens de outros meios como os quadrinhos, a fotografia de jornal, as embalagens dos produtos comerciais e objetos da cultura de massa. É o que se vê, de modo claro, em obras como Passeata de Protesto, técnica mista sobre papel de Antonio Dias; Che Guevara, acrílica sobre papel de Rubens Gerchman, ou Protetor para Identidade, serigrafia e colagens de Paulo Brusky. 
Na Linha da Ideia, mais um módulo, é dividido em seis subgrupos: Arte e Anti-arte, O Juízo Jocoso, Palavra Imagem, A Arte como Arte, Pintura Pós Pintura, Não Objetos e Anti Forma. Segundo Teixeira Coelho, eles correspondem a um vasto e aberto período da arte identificado como pós-moderno, iniciado no mundo na década de 60, e no Brasil na seguinte, apesar dos traços precursores de Oiticica ou Lygia Clark.
É um período, de acordo com o curador, em que toda funcionalidade e finalidade da arte são ignoradas. "O experimental parece ser a regra e não a exceção e mesmo quando uma proposta se assemelha exteriormente a algo do passado, o gesto do artista que comanda a ação é outro", explica ele. "A arte tornou-se aquilo que Da Vinci queria que fosse: uma coisa mental, que ocorre mais na cabeça de quem a faz e vê do que no suporte físico exterior de que se serve". Entre os artistas que assinam as 56 obras desse conjunto, estão de Julio Plaza a Tunga e Iole de Freitas, passando por Mario Ishikawa, Evandro Carlos Jardim, Amélia Toledo, Regina Silveira, Leda Catunda e Nelson Leirner.
Por fim, o grupo Outros Modos, Outras Mídias reúne obras em diversos suportes e com propostas distintas - desde a ação sobre o corpo à interação com a obra, permitida pelas experimentações digitais. Esse núcleo apresenta os audiovisuais Marca Registrada e Coletas, respectivamente de Letícia Parente e Brígida Baltar; a holografia O Arco-Iris no Ar Curvo, de Julio Plaza e Moysés Baumstein; "Memória" Cristaleira, vídeo-instalação de Eder Santos; Reflexão #3, software customizado, com trilha e teclado interativos de Raquel Kogan, e a instalação (Op_Era) HapticInterfac, de Rejane Cantoni e Daniela Kutschat.
Recortes da Coleção Itaú: o Itaú Cultural tem organizado diferentes exposições com recortes do acervo de obras de arte do grupo para dar acesso ao grande público em São Paulo e em outras cidades do Brasil.



Serviço
1911-2011 Arte Brasileira e Depois, na Coleção Itaú
Até 12 de fevereiro de 2012 - De terça-feira a domingo, 12h às 18h
Centro Cultural Paço Imperial - IPHAN/MinC
Praça XV, 48, Centro - Rio de Janeiro – RJ, Entrada Franca - Fone.: (21) 2215 1195

Nenhum comentário:

Postar um comentário