“Desconstruindo” a 29ª Bienal – SP

A hora é agora


Demasiadamente desgastada na tentativa de submeter o mercado de arte brasileiro, esses movimentos insólitos de arte contemporânea começaram a patinar, afinal, ninguém consegue enganar todo mundo o tempo todo, e a hora é agora, de promover um amplo debate, onde participem pessoas de notório saber para discutir sobre o tema, e posteriormente transmitir para a sociedade, a maior interessada no assunto. Não é mais possível tolerar que o tema se torne, cada vez mais, fruto exclusivo de manipulação, exercido somente por grupos que detenham o poder financeiro ou da mídia, ou ainda, de ambos. Uma vez que não possuamos críticos competentes e independentes, a participação de figuras formadoras de opinião, como por exemplo, Affonso Romano de Santana, Arnaldo Jabor e Ferreira Gullar, entre outros de igual expressão, serão convidados a participar do Fórum que será promovido por A Relíquia em data a ser marcada brevemente, onde serão também convidados a participar profissionais do mercado de arte e colecionadores. A motivação a tal movimento deve-se as constantes transgressões aos conceitos fundamentais que foram os pilares de nosso mercado, ora ridicularizados diante ao cenário patético imposto aos simpatizantes desse assunto.
O fato culminante é a última Bienal de São Paulo: é fato digno de nota o desprezo explícito manifestado pelos que se aventuraram comparecer, na esperança de encontrar algo que dignifique a figura do artista na concepção de sua criação. Aquilo lá se tornou a reedição da Torre de Babel, onde ninguém se comunica; onde ninguém se entende. Com exceção de 20% das obras ali expostas, mesmo assim algumas passíveis de contradições, o resto é literalmente lixo; aliás, a foto acima, tirada na lateral da saída do pavilhão do Ibirapuera, onde está instalada a 29ª Bienal, poderia perfeitamente estar exposta lá dentro, junto com as demais obras que classificam como arte. É uma composição (podemos chamar assim) que mostra uma lata de lixo orgânico, pequena demais para caber os dejetos classificados como obra de arte na Bienal; e outra lata de lixo reciclável, também pequena, mas com melhor finalidade, pois poderia receber algum material utilizado em muitos trabalhos da mostra, que seria distribuído a verdadeiros artistas plásticos para, aí sim, ser transformado em verdadeiras obras de arte. Note-se que a composição da foto, bem elaborada, ainda apresenta uma bicicleta simbolizando o transporte alternativo não poluente, tornando maior o seu significado, importante para a ecologia e o desenvolvimento sustentável. Essa foto é o símbolo do escopo que poderia definir em que se transformou esse evento.
Como atenuante ao desastre cultural promovido, quem visitou a Bienal na sua abertura, e viu a manifestação de artistas de todo o Brasil no entorno do pavilhão, apreciou mais obras de arte dignas desse nome do lado de fora do que dentro do pavilhão.
O movimento "Mitos Vadios II", com site e página no Facebook, fez a seguinte declaração: "a exemplo do movimento "Mitos Vadios de 1978" convocamos artistas a pacificamente contestarem sobre o conceito, ou a falta dele, de uma Bienal de política obscura, que deturpa a arte e manipula conceitos."

Ricardo Kimaid e Litiere C. Oliveira
rkimaid@uol.com.br/litiere@areliquia.com.br

Um comentário:

  1. Concordo plenamente com vc. Aliás, eu também estive lá, do lado de fora, e acho um absurdo o tanto de lixo que vemos nas últimas bienais. Os nossos bons artistas ficam escondidos, ninguém sabe como estes artistas que expõem são selecionados, qual critério o curador usa. Acho que a Bienal deveria ter inscrição, os artistas mandariam seus trabalhos para os críticos avaliarem antes de entrar. O que vc acha?

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