A arte do Azulejo

As mais antigas peças de azulejos conhecidas, datam de cinco mil anos a.C. e foram encontradas em escavações no Egito. Sabe-se também que os assírios e babilônios usavam revestimentos semelhantes. Mas foram os árabes que levaram a arte do azulejo para a Espanha e de lá se difundiu por toda a Europa. Também dos árabes provém a origem do nome azulejo, derivado do termo "azuleicha" - que significa "pedra polida".

Os egípcios das primeiras dinastias, cerca de cinco mil anos a.C., já usavam azulejos murais. Essas peças, com a manipulação do cobre pelo seus alquimistas, já apresentavam duas tonalidades, o azul turquesa e o verde Nilo, os primeiros esmaltes a serem revelados na busca dos coloridos do arco-íris. Os assírios e babilônios do século XIII a.C. ao século VI d.C., fabricavam azulejos e tijolos pintados com modelos de figuras coloridas com esmaltes. Os persas copiaram esses processos de 221 a.C. a 640 d.C. Os árabes, em 632 da nossa era, adotavam também tais métodos, ampliando-os ainda com uma nova técnica que era a aplicação do lustre, de aspecto metálico e de diferentes cores.


Grande panorama de Lisboa, séc. XVIII

No século XIV d.C., porcelanas chinesas monocromáticas, chamadas "céladons", e as azul e branco, chegam em grande quantidade à Pérsia e ao Oriente Próximo. Isto fez com que se tornasse comum copiar os modelos chineses, os oleiros islâmicos adotando, também, a técnica de aplicar o azul sob o vidrado, principalmente porque o azul de cobalto era encontrado no Oriente Médio, de onde era exportado para a China. Egito (Fosfat), Síria (Damasco) e Turquia (Izmik e Kutaya) seguiram a moda do azul e branco, sendo que as inúmeras fabricas turcas também produziram belas peças policromadas.
Os gregos e depois os romanos, na expansão dos seus domínios, plantaram os marcos das suas civilizações por onde passaram, deixando no mundo ocidental, na Gália, na Ibéria e na Germânia, o gosto pelo mosaico. Carlos Magno (séc. IX ) trouxe artistas de Ravena (cidade italiana) para colocar os mosaicos em Aix la Chapelle.
Em 711 a.C., data de grande importância na história da arte, o exército do Califato de Damasco, comandado por Muza bem Nosair, atravessa o Canal de Gibraltar e penetra na Península Ibérica, conquistando a maior parte do território espanhol. Durante 700 mil anos os árabes dominariam a região. A influência dos árabes na Cerâmica peninsular e depois na européia, foi enorme, pois eles trouxeram novas técnicas e novos estilos de decoração, como a introdução dos famosos arabescos e das formas geométricas que os islâmicos desenvolveram a fundo, já que o Alcorão não lhes permitia reproduzir seres humanos. Foi tão forte a influência árabe, que mesmo depois da reconquista do território pelos cristãos, ela permaneceu. Disso resultou o chamado estilo hispano-mourisco.
No ocidente, a história da cerâmica e do azulejo em particular, pode ser dividida em três partes: a pré-mourisca, a hispano-mourisca e a européia. Esses três períodos abarcam, em relação aos movimentos de arte no Ocidente, o Gótico, o Renascimento, os estilos do final dos séculos XVIII e XIX, e o Art-Nouveau. As categorias de cerâmicas correspondentes àquelas três fases, tiveram longa predominância no domínio da terra, do fogo e da química: o da terracota, o da faiança e o da porcelana.
No começo, o azulejo ou ladrilho usado no piso ou como adorno mural, consistia apenas de pedaços de terracota lisa, monocromática, sem vidrado, que os espanhóis denominavam de "loseta". Na Europa Medieval, na metade do século XIII, surge na Inglaterra o uso do azulejo decorado, sendo empregado em palácios reais e nos templos religiosos. Os ingleses introduziram algumas inovações, fabricando-os policromados. Inspiraram-se na composição estrutural do mosaico antigo aplicado ao piso, às paredes, às colunas e abóbodas, como complemento ambiental arquitetônico, que antes da era cristã já vinha descrito por Plínio no teatro romano construído por Marcus Scaulus.

Painel reproduzindo a pintura "Fado" de José Malhoa - Portugal

Antes de chegar à Renascença, ainda no Gótico medieval, surgem na Europa novas técnicas na fabricação de azulejos, como o encavado (embutido ou embrechado) chamado pelos ingleses de "inlaid" ou "encaustic", que consistia em inserir argila branca na peça moldada de barro vermelho para destacar o desenho e a técnica do moldado, com contornos dos desenhos em alto ou baixo relevo.
Companheiro de Raphael, o pintor florentino Domênico-Chirlandaio declarou: La vera pittura per l'eternitá essere il mosaico, para demonstrar o que o azulejo representava no extenso campo da decoração, prestando-se a composição de caráter mitológico, cenas de guerra, cópias de quadros célebres, representação de personagens históricos, divindades pagãs e iconografia cristã.
As técnicas usadas com referência ao fabrico do ladrilho, mais particularmente do azulejo, englobando as medievais, as européias, as mouras e ibero-mouriscas, e as invenções inglesas de diferentes tipos, podem ser as seguintes: 1. o mosaico (pedaços de argila colorida), 2. o embutido ou embrechado, 3. o engrafitado, 4. o esculturado, 5. o moldado (alto e baixo relevos), 6. o alicatado, 7. o corda seca, 8. o cuenca ou de arestas, 9. o plano pintado e esmaltado em terracota, em maiólica, estanífero, 10. o plano pintado e esmaltado, em louça vidrada, porcelana, faiança fina, plumbífero, 11. o litográfico, 12. o decalcado, 13. o estampilhado, entre outros.
É importante destacar que no Extremo Oriente também se fabricavam azulejos. Na China, em diversos reinados, aparecem eles com decoração Família Rosa e outras de diversos tamanhos. O seu uso parece que era restrito e eram peças maiores, empregadas como descanso de bules e recipientes quentes.

Azulejo alicatado em El-Hedine, Marrocos

Estilos
Além do estilo hispano-mourisco, que é a mescla de duas correntes formais de influência ornamental, e dos estilos ingleses, existem diversos e importantes estilos na arte do azulejo. Os grandes centros cerâmicos, Sevilha, Triana, Valência, Málaga, Talavera de La Reyna, etc., produziram azulejos de estilo gótico, muçulmano, hispano-mourisco e renascentista. Sevilha e Talavera produziram belos azulejos na técnica "Cuenca", ou de arestas, que consistia na impressão de moldes no barro mole, criando espaços limitados por paredes delgadas (arestas) para isolar as cores na queima. Outra técnica importante é a conhecida como maiólica (ou Pisana), originária de Maiorca, que produzia uma louça vidrada multicolorida. A mesma técnica usada nas cidades italianas de Pisa e Faenza, dessa última se originando a palavra "faiança".
O estilo egípcio teve inicialmente a predominância de desenhos lineares e geométricos, passando aos motivos florais e da fauna. Também os hierógrifos representaram um grande repertório de ornatos. O estilo assírio-babilônio possui ornatos de roseta, palmitos, grifos, etc. Eles inventaram a escrita com signos impressos no barro e empregavam o baixo relevo.
O estilo persa acompanha a técnica dos esmaltes assírios, mas já se utiliza dos ornatos geométricos, revelando o aproveitamento de motivos florais. O estilo romano baseia-se em elementos ornamentais etruscos e gregos, sobressaindo-se o uso do acanto e da oliveira. O estilo bizantino apresenta duas fases: a 1ª baseada na escola clássica helênica e a 2ª puramente bizantina. Um bom exemplo da sua arte está na Igreja de Santa Sofia.
O Estilo hindú é produto de um complexo de contribuição de raças e de religiões: ários, dravídios, árabes, mongóis, afeganes e persas constituem a formação étnica e o budismo, o bramanismo e o islamismo compõem a filosofia e mística espirituais.
O estilo chinês abarca numerosas dinastias, sendo a decoração inspirada nas crenças religiosas, na adoração das forças naturais, culto aos antepassados, o mundo animal, seres sobrenaturais, etc. Com o bramanismo (séc. I d.C.) aparecem a figura humana e a galeria de personagens divinos e heróicos. A chegada dos mongóis (séc. XIII d.C.) faz a China entrar em contato com as artes persas e árabes. Com a chegada dos lusitanos no século XVI, entra em contato direto com a arte européia e parte de sua produção é destinada à exportação, no período das famosas Companhia das Índias e sofre a influência ocidental. O estilo japonês calca-se no coreano, que por sua vez, deriva do chinês.
O estilo árabe desenvolveu-se no território europeu a partir do século VII até o X, e depois até o século XV. Sua bagagem de arte inclui até parte do estilo bizantino. Na Espanha formaram-se diversas escolas artísticas. No começo a decoração se limitava a árvores, flores, objetos e versetos contendo pensamentos e sentenças do alcorão, uma decoração chamada de epigráfica. Em seguida passaram a usar muito as combinações geométricas e os arranjos conhecidos por "arabescos". Com a reconquista do território pelos católicos, muitos artífices árabes preferiram ficar e passaram a combinar os elementos de arte cristã, românica e gótica com os árabes, criando um novo estilo chamado mudéjar.
O estilo românico, de feição monástica, caracteriza-se preferencialmente por sua decoração geométrica: losangos, denteados, pontas de diamantes, besantes, cravos, bastões e outros de inspiração oriental: leões e quimeras. Também é comum o uso da folha de acanto.
O estilo gótico medieval, atinge o seu apogeu no século XI, na França. É o triunfo da ogiva sobre o arco. Utiliza as formas naturais (flores, a vinha, a hera, os cardos, etc.), elementos antropomorfos e zoomorfos e o grotesco (demônios, águias, rosetas, etc.). Nesse período a heráldica se desenvolve e vem acrescer o repertório decorativo com incontáveis ornatos que compõem os escudos e brasões de armas.
O Renascimento italiano apresenta variantes de estilo a partir do século XV. Em seu primeiro período, de 1400 a 1500, são renovadas as tradições sóbrias da Grécia. No segundo, de 1500 a 1600, passa à inspiração greco-romana com a introdução de novos elementos: figuras humanas, animais, máscaras, armas, emblemas, vasos, candelabros, coroas, arranjos com folhas de palmeira, de acanto, da vinha e do louro. Apresenta o apogeu. O terceiro período é representado pelo Barroco, que de 1600 se estende até 1800, com a intercalação do Rococó a partir de 1700. Estes estilos aproveitam os elementos da segunda fase renascentista dando-lhes mais vigor, expressão, harmonia e movimento. O Barroco mantém simetria de volumes e delineamentos, e o Rococó, nos seus desdobramentos lineares, uma elegante assimetria. O Renascimento italiano teve seu desdobramento em Portugal com o Manuelino, que põe em evidência certos ornatos que simbolizam a epopéia dos descobrimentos. E na Espanha esse desdobramento se processa através do estilo plateresco do qual José Churriguera é magistral intérprete, inspirando-se na delicada decoração da ourivesaria para aplicá-la na arquitetura.

Zanini e Volpi, composição com 4 azulejos, década de 40 - Osiarte – SP

O azulejo na Europa
Como já foi dito, coube à Espanha receber o legado oriental várias vezes milenar que o estilo muçulmano concentrava, adotá-lo através do hispano-mourisco, transmiti-lo e divulgá-lo no Ocidente. A Itália também desempenhou um papel importante, principalmente na técnica da maiólica e mais restrito na divulgação do novo gênero decorativo renascentista que impunha à cerâmica a expressão de suas manifestações artísticas.
Coube principalmente a Espanha, Portugal e Holanda o mérito de usar o azulejo como veículo de expressão ornamental na Europa, fazendo-o concorrer na disputa do espaço mural com o afresco, o mosaico, a pintura sobre tela e a tapeçaria. Mais que Portugal, a Holanda assimilou os reflexos da Renascença italiana trazidos pelos navegantes venezianos. A Holanda representava no Leste europeu um importante polo de cultura de que a Escola Flamenga é um expressivo testemunho nas artes plásticas.


Painel da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1931) de Rossi Osir – Osirarte

Os ladrilhos de Delft
Na mesma época em que os italianos iniciavam a fabricação de ladrilhos em Faenza, os flamengos também começaram a produzir faianças, na parte setentrional de Flandres, de onde emigraram para a Holanda, em 1600, onde essa arte se expandiu. A Holanda soube manter, do século XVI ao XVII, o seu esplêndido padrão artesanal. Os primeiros locais de fabricação - no começo os ladrilhos policromados e depois os famosos "azuis e branco" - eram Haarlem, Roterdão, Amsterdão e Hoorn. Na província da Frísia, as fábricas eram em Leewarden e Harlingen. Os holandeses produziram azulejos que foram importados por vários países da Europa, inclusive Portugal e França. Versalhes ainda no século XVII foi com eles decorado. No século XVI os ladrilhos coloridos tinham como ornatos os arabescos e desenhos geométricos emprestado dos árabes e os arranjos florais tipo "foglie e frutti" dos italianos, as cores mais usadas eram o azul escuro, o laranja e o amarelo. No século XVII os motivos aumentam com laranjas, romãs, tulipas, cacho de uvas, cruzes, arranjo de flores no gênero Imari e pratos com frutas. Destaque para os ladrilhos que reproduzem cenas de guerra inspiradas em gravuras de J. de Gheyn e Goltzius, extraídas do livro de armas do príncipe Maurício de Nassau. A decoração dos azulejos em "azul e branco", muito em voga a partir de 1625, foi influenciado pelo Extremo-Oriente, mas além dos motivos chineses, os ornatos reproduziam paisagens, pequenas casas às margens de um canal, barcos, etc. Foi também a partir de 1625 que iniciaram em Delft a fabricação dos azulejos que ficaram conhecidos como "ladrilhos de Delft".

Painel de azulejo policromado - Portugal


O azulejo em Portugal
Portugal começou a fabricar azulejos na Segunda metade do século XVI, e o fez brilhantemente. Mas o uso dos ladrilhos naquele país remonta ao século XV, quando peças de cerâmica de origem desconhecida revestiram a antiga igreja de Santo André de Alfama, e peças provenientes da Espanha decoraram o Paço Real, em Sintra e a Sé Velha, em Coimbra. Se na Holanda os quadros feitos com os azulejos são às vezes limitados em suas dimensões, em Portugal o azulejo é rei, aparecendo nas casas, ruas, praças, monumentos, igrejas, palácios, em toda parte.
Portugal teve um artista notável, Francisco de Matos, que deixou painéis assinados e datados. São dele os azulejos policromados em arabescos da Igreja de São Roque em Lisboa, datados de 1584 e as peças dos pavilhões conhecidos por Casa das Águas, na Quinta da Bacalhõa de Afonso de Albuquerque. No entanto, no século XVI, ainda era grande a importação de azulejos. A produção de Portugal é assinalada em Lisboa por volta de 1560, sendo exercida por ceramistas flamengos usando a técnica da maiólica. Ficavam eles no antigo bairro das Janelas Verdes e eram conhecidos por "malegueiros" porque produziam a chamada Málaga de Flandres. No final do século aparecem em Portugal os azulejos históricos e os de repetição, e mais tarde, no século XVIII, amplia-se o emprego da figura avulsa ou o motivo isolado, mas sem interromper o fabrico de painéis. O século XVII ficou caracterizado pela policromia cedendo lugar ao azul e branco que iria predominar nas grandes composições setentistas.
A partir de 1691 surgem em Portugal grandes mestres, como o espanhol Del Barco, casado com uma portuguesa, Antonio de Oliveira Bernardes, considerado o maior azulejista do seu tempo, que deixou a arte com seu filho Policarpo, assim como numerosos discípulos, entre estes André Gonçalves, Teotônio dos Santos e Bartolomeu Antunes. Este mestre é de muito interesse para o Brasil, pois executou em 1737 os magníficos painéis da Capela-mor de São Francisco, na Bahia. No final do século XVIII volta a predominar a policromia. A Real Fábrica do Rato, em Lisboa e a de Juncal, em Alcobaça, fundadas em 1770, produziram esplêndidos azulejos. Importante também a fábrica de Louça Santo Antônio da Piedade, a de Sacavém, a de Devezas e a do Carvalhinho que marcava suas peças com F.C. Destaque também para a fábrica de Bordallo Pinheiro, que no final do século XIX e começo do XX, produziu azulejos no estilo "Art Nouveau", a fábrica Santo Antônio do Porto de J. Valente. A partir da metade do século XIX o processo artístico de execução é substituído pelo de estampagem, surgindo o chamado azulejo estampilhado.

Painel com o plano da Rede Ferroviária de Beira Alta – Portugal

O azulejo na França
A fama dos ladrilhos de faiança holandesa chegou à França e em1630, quando reinava Luís XIII, o proprietário do Castelo de Beauregard, Paul Ardier, encomendou azulejos holandeses para pavimentar uma galeria. O ornato destas faianças tem muito a ver com o cargo exercido na época por Ardier, o de "Controlador Geral das Guerras". Sendo assim os azulejos mostram todo um exército em marcha, incluindo mosqueteiros, lanceiros, cavaleiros, porta-bandeiras e artilheiros. O primeiro prédio inteiramente revestido com ladrilhos, na França, foi o Palácio Trianon, no parque de Versalhes, construído em 1670 e destruído em 1687. Luís XIV tentou instalar uma fábrica de azulejos em Saint-Cloud, na França, e a missão coube ao exportador de ladrilhos de Delft Claude Révérend que não chegou a concluir o projeto.
No século XVI dois ceramistas franceses, Masseot Abaquesne, em Ruão e Joaquim Vattier, em Lisieux, produziram bons azulejos para vários locais, inclusive para Versalhes. Ainda neste século, em 1578, surge em Nevers um centro de produção dirigido pela família dos Conrados. No século XVIII a azulejaria francesa passa a receber influência da Holanda, os centros de produção se localizando em Vron, St. Omer e Desvres. Um importante período dessa arte na França é caracterizado pelos Art-Nouveau e a variante do Art Déco, surgindo o processo industrial que finalmente se impõe.

Capela de Ericeira – Portugal

O azulejo na Inglaterra
Foram os ingleses que estabeleceram a linha divisória entre a era dos processos artesanais e semi-artesanais dos industriais. Revolucionaram os ingleses a execução da decoração com o princípio, até hoje em uso, do "transfer-printing" e o do decalque, inventado por John Sadler em 1758. Essa descoberta colocou a produção cerâmica, da noite para o dia, em produção industrial. Depois os ingleses descobriram outro processo de estampagem utilizando chapas de cobre e em 1830 começaram a aplicar o processo litográfico. Em 1870 passam a utilizar o processo fotográfico para estampar a imagem na cerâmica. Mas o azulejo ainda era cortado e modelado a mão e levado ao fogo exatamente como faziam os egípcios há 4000 anos a.C. Foi quando Herbert Minton e Samuel Wright lançaram os fundamentos da fabricação mecânica e automática do azulejo, reduzindo a mão-de-obra operacional e eliminado a participação artesanal na fabricação da peça. O que a gravura revela sobre o cobre, a litografia e a fotografia podiam revelar sobre o papel, os ingleses o faziam sobre a superfície da cerâmica e ainda com o vidrado protetor que conferia durabilidade ao produto. Esses inventos surgiram em um momento quando a produção artesanal decaía em qualidade e esmero, e já não satisfazia a demanda crescente requerida por uma sociedade enriquecida pelo comércio, pela indústria e pelo tráfego com os novos mercados coloniais, americanos e orientais.


O Azulejo no Brasil
O primeiro registro da azulejaria no Brasil data de cerca de 1620-1640, quando peças de cerâmica vidrada vieram de Portugal para ornamentar o Convento de Santo Amaro de Água-Fria, do Engenho Fragoso, em Olinda, hoje expostas no Museu Regional de Olinda-PE. Segundo o historiador João Miguel dos Santos Simões, "é durante a segunda metade do século XVII que intensifica-se a construção de templos, sobrador, engenhos e palácios, e só excepcionalmente essas edificações são desprovidas de azulejos e estes continuam a vir da Metrópole" (Lisboa).
Em 1737 chegam de Portugal os magníficos painéis da capela mor do Convento de São Francisco, na Bahia, "o mais vasto repositório de azulejos portugueses existentes sob um mesmo teto, depois do de São Vicente-de-Fora, em Lisboa". Durante o século XVIII e todo o século XIX, os azulejos continuam chegando ao Brasil, usados principalmente na decoração de igrejas e posteriormente na proteção das fachadas dos prédios urbanos. Essa nova moda acaba repercutindo em Portugal, gerando, ainda segundo Santos Simões, "um curioso fenômeno de inversão de influências, extraordinário exemplo de comunhão cultural".
Depois da abertura dos portos, os azulejos holandeses e de outros países começaram a chegar ao Brasil. Salvador, Rio de Janeiro, Recife, São Luís e outras cidades mostram, em construções históricas, toda a beleza da azulejaria portuguesa, holandesa e até francesa.
O azulejo começou a ser fabricado no Brasil no século XIX. Existe referência de azulejos de boa qualidade produzidos em Niterói por Antônio Survílio & Cia, que teriam sido expostos na I Exposição Nacional, em 1861. No Rio de Janeiro dois fabricantes, José Botelho de Araújo e Rougeot-Ainé, participaram da II Exposição Nacional realizada em 1866. Existem registros de trabalhos de faianças, ladrilhos e de outros produtos cerâmicos nas exposições 1873, 1875 e na Exposição da Indústria Nacional de 1881.
Mas a produção regular de azulejos só iria ocorrer no início do século XX, inicialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo e depois em outros estados. Uma das pioneiras foi a Fábrica Santa Catarina, de Romeu Ranzine, instalada em São Paulo em 1912. Em 1919 apareceu no Rio de Janeiro a Manufatura Nacional de Porcelana, produzindo inicialmente louça doméstica e isoladores elétricos de porcelana, passando a fabricar azulejos em linha depois de 1931, quando foi comprada pelo Grupo Klabin. Novas indústrias apareceram no correr do século, com destaque para as fábricas Matarazzo, Schimidt, Mauá, Incepa, Iasa e Steateta. Até 1973 o azulejo era fabricado no Brasil no formato 15 por 15 centímetros. A partir dessa data criou-se um novo padrão, de 15x20 e em 1979 apareceu a bitola 11x11cm para atender ao mercado dos Estados Unidos. O padrão de 20x25cm apareceu em 1982, com novas técnicas e logo a seguir a forma simétrica de 20x20, 25x25 e 30x30 centímetros. Os formatos maiores permitiram uma criatividade maior de artistas e designers.

Painel historiado do cerco ao castelo de Torres Novas


Fonte: Tile-Mosaic (England) e Mosaik Platton (Germany).
Azulejos no Brasil, de Mário Barata; Joaquim Cardoso; Azulejaria Contemporânea no Brasil, de Frederico Morais e Azulejos da Bahia de Udo Knoff.

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