A arte da fotografia

A Arte da fotografia nasceu em 1826, quando o físico francês Nicéphore Niepce (1765-1833), eternizou a primeira imagem da realidade em uma chapa de metal. Logo depois, uma coincidência: o francês Louis Daguerre (1787-1851) e o britânico William Henry Talbot (1800-1877), anunciaram, separadamente, em janeiro de 1839, suas descobertas sobre engenhocas que tiravam fotos de pessoas, cenas e paisagens.
Sempre houve polêmica em torno da paternidade das grandes invenções e com a fotografia não poderia ser diferente. Os ingleses, que reivindicam a invenção da máquina fotográfica, argumentam que o processo "negativo-positivo" criado por Talbot foi o único que atravessou os anos, tornando-se a base da moderna fotografia. Foi de Talbot a primeira foto reproduzida em papel (talbótipo), em 1834.

Para colocar mais calor na discussão, alguns historiadores brasileiros garantem ter provas irrefutáveis de que a fotografia foi inventada no Brasil, em 1833, por outro francês, Hercule Florence, que se utilizou de uma câmara escura. D Pedro II, o nosso Imperador fotógrafo, deu à fotografia o status de arte, sendo ele o responsável pela preservação de grande parte de nossa memória visual do século XIX.

A primeira fotografia do mundo, feita em 1826 por Joseph Nicéphore Niepc

Absurdo ou não, alguns pesquisadores foram muito mais longe, até um tempo coberto pelas brumas do passado, afirmando que a história da fotografia pode ser contada a partir das experiências executadas por químicos e alquimistas desde a mais remota antiguidade. Por volta de 350 a.C., aproximadamente na época em que viveu Aristóteles na Grécia antiga, já se conhecia o fenômeno da produção de imagens pela passagem da luz através de um pequeno orifício. Alhazen, em torno do século X, descreveu um método de observação dos eclipses solares através da utilização de uma câmara escura.
Em 1525 já se conhecia o escurecimento dos sais de prata, e no ano de 1604 o físico-químico italiano Ângelo Sala estudou o escurecimento de alguns compostos de prata pela exposição à luz do Sol. Até então, se conhecia o processo de escurecimento e de formação da imagens efêmeras sobre uma película dos referidos sais, porém havia o problema da interrupção do processo. Em 1725, Johann Henrich Schulze, professor de medicina na Universidade de Aldorf, na Alemanha, conseguiu uma projeção e uma imagem com uma duração de tempo maior. O químico suíço Carl Wilhelm Scheele, em 1777, também comprovou o enegrecimento dos sais devido à ação da luz. Thomas Wedgwood realizou no início do século XIX experimentos semelhantes. Colocou expostos à luz do sol algumas folhas de árvores e asas de insetos sobre papel e couro branco sensibilizados com prata. Conseguiu silhuetas em negativo e tentou de diversas maneiras torná-las permanentes. Porém, não tinha como interromper o processo, e a luz continuava a enegrecer as imagens.
Schulze, Scheele, e Wedgewood descobriram o processo onde os átomos de prata possuem a propriedade de possibilitar a formação de compostos e cristais que reagem de forma delicada e controlável à energia das ondas de luz. Entretanto, foi o francês Joseph-Nicéphore Niépce que obteve, em 1817, imagens com cloreto de prata sobre papel. Em 1822, conseguiu fixar uma imagem pouco contrastada sobre uma placa metálica, utilizando nas partes claras betume-da-judéia. A primeira fotografia conseguida no mundo foi tirada no verão de 1826, da janela da casa de Niepce, e encontra-se preservada até hoje. Esta descoberta se deu quando o francês pesquisava um método automático para copiar desenho e traço nas pedras de litografia.
A invenção da fotografia não é obra de um só autor, mas um processo de acúmulo de avanços por parte de muitas pessoas, trabalhando juntas ou em paralelo ao longo de muitos anos.
Discussões à parte, não se pode contestar a criação de Niepce nem a importância de Daguerre, este considerado por muitos o precursor da fotografia, que se associou ao mesmo Niepce para aperfeiçoar a invenção. No ano de 1833 Niepce morreu e Daguerre continuou sozinho. Em 1838, obteve os seus primeiros "daguerreótipos". Em Paris, no dia 19 de agosto de 1839, foi feita a comunicação da invenção da daguerreotipia pelo físico e político François Arago (secretário perpétuo da Academia de Ciências da França) em sessão conjunta das Academias de Artes e de Ciências, realizada no Institut de France. Este dia ficou conhecido como "Dia Mundial da Fotografia".

Rara câmara "Hare Sliding Box", fabricada por George Hare em Londres, 1875, com caixa original, 3 lentes e chapas

O sistema criado por Daguerre constava de uma fotografia, que era revelada sobre uma placa de cobre polida e que, depois de certo tempo, perdendo sua coloração, ficava brilhante, dando a impressão de ter sido revelada sobre uma lâmina de espelho. A primeira impressão que se tem ao olhar pela primeira vez para um daguerreótipo, parece ser uma obra inacabada, assim como um negativo comum de filme.
O daguerreótipo caiu em desuso em 1854, quando o inglês Frederic Scott Archer inventou as placas de vidro recobertas por uma película transparente de colódio com iodeto, banhadas com nitrato de prata. Em 1864, B. J. Sayce e W. B. Bolton descobriram a preparação de uma emulsão de brometo de prata em colódio, o que representou um grande passo à frente nas pesquisas, com maior avanço na mesma década, quando C. Russell produziu as placas secas de brometo de prata.
Foi impressionante a evolução tecnológica das câmaras fotográficas. Desde o primeiro daguerreótipo, onde a chapa era batida e revelada dentro da máquina, até chegar às câmaras digitais de hoje, houve grande avanço industrial. Depois do daguerreótipo, surgiram as câmaras de Bertsch (1860), a Express Detective - câmara de reportagem usada por Félix Tourmachou Nadar, em 1890. Foi Nadar quem fez as primeiras fotos aéreas da história. Em 1870, surge o melanocromoscópio de Louis Ducos de Hauron, que inaugurou a fotografia a cores. Os irmãos Auguste e Louis Lumière, inventores do cinematógrafo (1895), foram também os criadores da placa autocromo, em 1903, o que fez surgir o primeiro processo comercial da foto a cores. Em 1914 a Eastman Kodak fabricou o primeiro filme pancromático, de emprego generalizado a partir de 1925.
A evolução das câmaras não parava e logo o alemão Hans Hass criou uma máquina estanque e inaugurou a fotografia submarina. A barreira da transmissão foi vencida em 1930, quando foram inventados os belinógrafos portáteis que permitiram o envio das radiofotos. Não demorou muito a ciência passou a se utilizar da fotografia em suas pesquisas, o que aconteceu na mesma década de 1930, quando a luz negra, também conhecida como luz de Wood, foi inventada pelo físico norte-americano Robert Williams Wood (1868-1955).
Desde que foi inventada, a fotografia tornou-se responsável pela documentação e conseqüente memória de muitos acontecimentos e fatos históricos, registrando imagens importantes para a humanidade ou mesmo guardando os momentos felizes da família comum.

Alguns modelos antigos de câmaras: 1. Câmara de turista fabricada por Nadar em 1860. 2. Câmara de fole francesa, de 1880. 3. Estereóscopo Velocigraph. 4. Câmara amadora, de 1880. 5. Câmara Zion (1890). 6. Estereóscopo Sigriste (1897). 7. Câmara Sigriste para captar movimentos. 8. Fotosfera de explorador (1888). 9. Câmara a colódio úmido com 12 lentes, de 1870. 10. Câmara tipo binóculo com focagem

Foi longo o caminho percorrido desde a foto em preto e branco da natureza morta "Mesa Posta", na década de 1850, por Nadar, até a foto colorida dos sapatos de J. R. Duram. Enquanto a foto de Nadar, obtida em positivo, teve que esperar mais de 8 horas para ser revelada numa solução de betume-da-judéia com óleo animal, sobre uma base de vidro, a fotografia de Duran foi revelada em poucos minutos, graças ao sistema Polaroid criado em 1948. Hoje, micro câmaras revelam segredos do interior do corpo humano, satélites orbitando nos planetas do nosso sistema solar mandam imagens instantâneas e nítidas do espaço para a Terra e as modernas câmeras digitais mostram as fotos um segundo depois de serem tiradas. Mas, isso já não é mais história...
A evolução tecnológica das câmaras fotográficas foi impressionante. Dos primeiros daguerreótipos, verdadeiros fósseis da era pioneira, às sofisticadas câmaras digitais, o avanço foi extraordinário. Nas fotos, alguns modelos de máquinas: 1 - Cópia de uma Cherry 1904, por Minolta. 2 - A primeira Polaroid 80, 1948. 3 - Polaroid. 4 - Foca, 1948. 5 - Canon. 6 - Leica, 1925. 7 - Leica, 1945. 8 - Speedógrafo, 1945. 9 - Rolleiflex, 1937. 10 - Rolleiflex, 1970. 11 - Sempley, 1958. 12 - Hasselblad, 1970. 13 - Olympus. 14 - Olympus X-A1, 1982. 15 - Olympus, 1988.

Daguerreótipos no Brasil
As primeiras fotografias que apareceram no Brasil foram os daguerreótipos, segundo o processo inventado por Louis Daguerre. Surgiram no país na época do nosso Segundo Reinado e muitos fotógrafos ou daguerreótipos, fizeram retratos por aqui. Eles faziam viagens periódicas ao interior do país, fotografando os senhores de engenho, fazendeiros de café acompanhados de suas famílias e endomingados nas suas melhores roupas e joias. Este trabalho muito contribuiu para um melhor estudo da vida, hábitos, indumentária e tipos de figuras do Segundo Império. Os daguerreótipos, depois de revelados para melhor proteção ao sol, eram guardados em estojos feitos de couro ou materiais resinoso, fabricados na Inglaterra e na Alemanha. Esses estojos, às vezes duplos, ao guardar os retratos, transformavam-nos em pequenos álbuns de viagens, semelhantes a pequenos livros de missa. Depois de colocados nos seus estojos, os daguerreótipos eram protegidos por um vidro plano, de espessura muito fina, e debruados às vezes com filetes de ouro ou de metal dourado, semelhante aos usados nas miniaturas antigas.
No Rio de Janeiro, ficaram famosos os daguerreótipos (fotógrafos) Inslei Pacheco, estabelecido na Rua do Ouvidor, 102 e Stahl e Wahnschaffe que ficavam no número 117 da mesma rua. Pacheco tinha na fachada do seu ateliê, não só seu nome, mas também: “Fotógrafo da Casa Imperial” e, mais abaixo, “Cavaleiro da Ordem de Cristo premiado na Exposição Nacional de 1861; Academia de Belas Artes de 1864. Iº Prêmio na Exposição Portuguesa de 1865.”

Fonte: texto de Hélio Carneiro; KOSSOY, Boris. Fotografia
e História; BERNIER, Jules. 200 assuntos fotograficos;
Kodak/A História da Fotografia; Wikimedia Foundation


Fotografia: arte e técnica - imagens de 170 anos de história
A 17ª edição do Salão de Arte na Hebraica, em São Paulo, ocorre na semana que compreende o dia 19 de agosto, conhecido como o "Dia mundial da Fotografia". Uma semana, portanto, mais do que oportuna para celebrar essa invenção que mudou a forma de relacionamento do ser humano com o mundo a ponto de Bachelard ter denominado o século XX de "século da imagem" e nosso tempo ser conhecido como "a civilização do olhar".
O corrente ano de 2010 assinala o centésimo septuagésimo aniversário da introdução da daguerreotipia no Brasil, feita em 17 de janeiro de 1840 pelo abade francês Louis Compte (amigo pessoal de Daguerre), na cidade do Rio de Janeiro. O que fez do Brasil um dos primeiros países do mundo a conhecer o processo e a ingressar na era fotográfica.
A proposta do 17º Salão de Arte foi montar uma espécie de Gabinete de curiosidades fotográficas a partir da Coleção Daniel Karp Vasquez, retraçando a evolução técnica da fotografia desde os primórdios (com os processos geradores de imagens únicas, como a daguerreotipia, a ambrotipia e a ferrotipia), até a atual fase de transição para a imagem digital, enfatizando o papel do livro não só como elemento de difusão fotográfica mas também, e principalmente, como meio de expressão artística e/ou pessoal para os fotógrafos. A curadoria da mostra é de Max Perlingeiro

Sala Especial do Salão de Arte
Visitação: de 17 a 22 de agosto de 2010
Local: Clube A Hebraica - Sala Marc Chagall
Rua Dr. Alberto Cardoso de Mello Neto, 115
Jardins São Paulo (SP) - Tel.: (11) 3088-2625
Horários: Terça à sexta, das 15h às 22h;
Sábado e domingo, das 13h às 21h



Para ver mais imagens, acesse o álbum de fotos do Jornal A Relíquia.

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