Por Tais Luso de Carvalho
Dora Maar
|
Picasso nasceu em Málaga, cidade de Andaluzia, sul da
Espanha, em 25 de outubro de 1881. Mais tarde preferiu usar o sobrenome da mãe:
Picasso - e não o do pai, Ruiz. Picasso se parecia com a mãe, Maria Picasso
Lopez, uma pequena andaluza, de olhos e cabelos negros. Seu pai José, um homem
alto e ruivo foi quem encorajou Picasso a pintar desde cedo. Era professor de
desenho numa escola de arte local e completava o salário modesto com outros
empregos, como curador do museu da cidade e restaurador. Pablo tinha duas irmãs
mais novas, Lola e Concepción - esta morreu de difteria aos oito anos.
Quando Picasso estava com 10 anos o museu fechou; seu pai
conseguiu o cargo de professor na Escola de Belas-Artes no porto atlântico de La Coruña. Mudou-se
com toda a família. Pouco depois José reconheceria o talento do filho para a
arte e decidira desistir ele próprio da pintura para dedicar-se a desenvolver a
carreira artística de Pablo.
Garota com pés descalços – 1895
|
O jovem Picasso
Picasso foi à Paris em outubro de 1900, com seu amigo Carlos
Casagemas. Foram morar em Montmartre no estúdio do artista espanhol Isidro
Nonell, que decidira retornar à Espanha. Lá, permaneceu apenas o tempo
suficiente para encontrar um marchand que se oferecesse para vender seu
trabalho. Após, voltou à Espanha para passar o natal com a família.
Retrato de Olga – 1917
|
Picasso pintou Garota com pés descalços em 1895, aos 14
anos. A modelo é desconhecida, mas claramente uma garota de seu tempo. Uma
pintura surpreendente para alguém de sua idade, uma das preferidas de Picasso.
Pode ser que lhe recordasse sua irmã, Concepción, que morreu naquele ano.
A arte na época de Picasso
Em sua primeira visita à Paris em 1900, Picasso penetrou
numa cidade povoada de artistas à procura de novas e diferentes concepções para
a pintura. O impressionismo já era bem conhecido, e um de seus expoentes,
Claude Monet, já tinha prestígio internacional. Grupos dissidentes, como os
pontilhistas - uma forma de pintura em que pequenos pontos de cores primárias
são usados para gerar as cores secundárias - competiam com os impressionistas.
Marie Thérèse Walter – 1939
|
Edgar Degas e Auguste Renoir seguiam caminhos próprios.
Solitários como Paul Gauguin e Vincent van Gogh haviam desenvolvido estilos
bastante individuais. Picasso fez experiências a partir de todas estas novas
tendências, mas rapidamente fixou um padrão próprio de pintura que logo
conquistaria seguidores conhecidos.
Por volta de 1905 um novo estilo chamado “fauvismo”
desenvolveu-se, liderado por Henri Matisse - o principal objetivo do fauvismo
era usar a cor como meio de expressão. Matisse e Cézanne influenciaram
enormemente o curso da pintura no começo do século XX, mas nenhum contribuiu
tanto quanto Picasso, que sempre manteve sua individualidade, mesmo trabalhando
paralelamente a movimentos como o cubismo, o surrealismo, o expressionismo, o
futurismo e muitos outros 'ismos'.
Suas mulheres...
Françoise Gilot com Paloma e Claude – 1954
|
Parecia impossível a Picasso ser fiel a uma mulher. Depois
que Fernande o abandonou, em 1911, ele começou a cortejar uma amiga dela,
Marcelle Humbert a qual chamava de Eva, querendo dizer que era seu primeiro
grande amor. Foi nessa época que começou a aparecer em seus quadros as palavras
Ma Jolie (minha bela), que apareciam em quase todos seus quadros. Porém Eva
morreu, tragicamente de uma doença em 1915.
Em 1918 que ele casou-se com Olga Khoklova, filha de um
general russo e uma das dançarinas do famoso balé russo. Nasceu Paulo em 1921.
Por algum tempo, Picasso foi um pai dedicado e sempre se deliciava em fazer
esboços e pinturas do filho. Porém a estabilidade não durou muito, em poucos
anos estavam separados.
Mesmo não obtendo o divórcio de Olga, Picasso conhece - em
1927, nas ruas de Paris - Marie-Thérèse Walter, uma garota de dezessete anos.
Nasce a filha Maya. Em 1936 a
Guerra Civil eclodiu na Espanha. O retrato da filha de três anos parece quase
sinistro. É como se o trabalho de Picasso fosse assombrado pelos horrores da
guerra, tivesse se tornado incapaz de recuperar a inocência da infância.
Jacqueline Roque - 1954
|
Desde o rompimento com Olga, Picasso viveu sozinho, passando
apenas os finais de semana com Marie-Thérèse e pequenos períodos com Dora Maar.
Com Françoise Gilot o pintor sentiu-se diferente; conheceu-a na Paris ocupada
pelos nazistas em 1943. Quando a guerra terminou, Picasso aos 64 anos e
Françoise 40 anos mais nova, eram amantes. Foram morar juntos em Antibes, onde
em 1947 Françoise teve um filho chamado Claude. Pouco tempo depois tiveram uma
filha a quem deram o nome de Paloma.
Jaqueline Roque tornou-se a segunda esposa de Picasso. A
morte de Olga, em 1955, deu a Picasso a liberdade de casar-se. A casa onde
moraram, em Cannes, era ampla, com imensos ambientes e vista para a baia de
Cannes, tornou-se um enorme estúdio onde Picasso prosseguia com sua imensa
produção de pinturas e de esculturas. Jaqueline tornou-se os temas de suas
pinturas assim como de todas as mulheres de sua vida. Ele a pintou
obsessivamente, reduzindo a forma a contornos e cores, linhas e texturas. A
vida em La Californie
era agitada e diversificada. Interessado em política, Picasso atiçou o debate
quando os tanques soviéticos invadiram a Hungria.
Jacqueline tornou-se secretária, agente, enfermeira e
protetora do pintor. Era obcecada pelo marido, afastando-o um pouco dos amigos
e da família. Foi a mulher, a musa mais pintada por Picasso. Embora o artista
tenha deixado uma fortuna ao morrer, isso não a poupou de suicidar-se em 1986
com um tiro na cabeça. Deixou dito que a vida não tinha sentido sem ele.
Marcelle Humbert – 1913
|
Fontes:
título
original- Picasso Breaking the Rules of Art
Trad. Luiz Antonio Aguiar / Marisa Sobral
Cia Melhoramentos de São Paulo
Grandes Pintores / Paulo Ramos Derengoski
A visão de Picasso
É necessário conhecer bem a arte de Pablo Picasso para
assimilar toda a extensão da importância de sua obra no mundo, a partir do
século XX. Na realidade, Picasso nos ensinou a "ver" a realidade. Ao
desfocá-la, ao buleversá-la, ao misturar traços e formas, levou-nos a
reconhecer que temos necessidade de, para entender uma realidade, penetrar-lhe
os traços e laços através de um movimento visual que separe suas partes e nos
faça conscientes de seu significado, diria mesmo, de sua "alma".
Claro que, no começo, acharam-no louco. Então mulher era
aquele conjunto aparentemente sem sentido, em que seios e sexo pareciam estar
nos lugares errados? Como podiam os olhos apresentar aquele aspecto de
estranhos bichos, ou de ovos jogados numa frigideira? Não foi com muita rapidez
que o mundo ultrapassou o espanto inicial e passou a "ver", naquela
espécie de confusão, um significado maior e uma liberdade que nos obrigava a
não só "ver", mas "saber" e "pensar".
A influência que a "visão" de Picasso teve no
mundo foi muito forte, não só sobre os pintores de seu tempo e os artistas em
geral, mas também sobre o homem comum, o que sai de manhã e não sabe se uma
bomba do estilo Hiroshima cairá sobre sua cidade, ou se existe um animal
escondido em jardim ou numa sala de moça bonita ou mesmo não-bonita porque a
boniteza de ontem não vale mais, exatamente por causa de Picasso, e não pode
ser aceita sem análise.
Mas não foi só isso que ele nos ensinou a ver quando olhamos
um de seus quadros. Provou-nos também que nós, cada um de nós, somos aquele
homem, aquela mulher, aquela criança, que aparecem no meio de objetos, ou sem
eles, dando-nos a certeza de que, somente através de sua "visão",
podemos alcançar vislumbres de entendimento sobre o que somos e como somos.
(LCO)
Garota com pés descalços
ResponderExcluirEm um casebre qualquer da Espanha;
Com profundeza no olhar e melancolia no rosto.
Talvez pelo árduo labutar nas hostis fazendas da Andaluzia...
...Pés feridos, por estarem sempre descalços.
Cansaço no corpo;
Um surrado vestido vermelho e uma toalha encardida nos ombros...
Traços fortes de Concepcion que traz ao futuro o enigma da inocente infância...
...Produzido pela arte sem ignorância.
De. Paulo de Tarso
Século XXI